Pergunta de leitora – Meu marido saiu de casa e está com a ex. O que fazer?

“Dr. Douglas, gostaria de uma orientação, por favor. Sou casada e tenho 01 filho do meu primeiro relacionamento. Meu marido tem 02 filhos de relacionamentos anteriores. Quando nos conhecemos, ele ainda morava com a companheira. Pedi que ele resolvesse a questão com ela antes de nos relacionarmos. Ficamos aproximadamente um ano juntos e logo nos casamos. Já se passaram  02 anos e 04 meses de casamento. Brigamos diariamente. Além disso, não ocorreu nenhuma aproximação dos nossos filhos, ou seja, eu não conheço os filhos dele e ele nunca quis se aproximar do meu. Ele saiu de casa por 03 vezes e, sempre que o fazia, ia pra casa da ex. e voltava depois. Ele bebe muito; acho que é alcoólatra. Quando digo que está doente com relação à bebida, ele fala que a doença dele sou eu. Perdemos o emprego juntos, ainda nos encontramos nessa condição e, em nenhum momento, mostra preocupação com isso. Hoje ele saiu de casa, levou todos os objetos pessoais e falou que não dava mais. Não sei se ele esta na casa da ex que, que para mim, virou amante. Estou sozinha, recém operada, sem trabalho e sem saber o que fazer, pois não tenho condições de manter minhas despesas. Que postura adotar nessa situação de sofrimento? Vejo que não conseguimos demonstrar em nenhum momento que nos gostamos, mas percebo também que não conseguimos ficar separados”.

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Resposta:

Querida leitora, quando optamos por casar, o mínimo que podemos esperar, é que o nosso parceiro (a), além de nos amar, tenha atitudes de respeito, companheirismo e sensatez. Pela experiência clínica que tenho, penso que, sem esse mínimo, dificilmente as relações tem bom prognóstico. Ou seja, sem esses requisitos, acontece uma das duas coisas: vive-se um casamento de qualidade bastante questionável ou o rompimento acaba se tornando uma consequência inevitável. O seu relato aponta uma série de posturas, por parte do seu companheiro, que são bastante ofensivas e desrespeitosas.

Vocês se conheceram enquanto ele ainda era comprometido. Isso pode acontecer com qualquer um de nós. O que eu achei muito inteligente de sua parte, foi não ter aceitado a condição amante e ter pedido para ele terminar com a pessoa à qual ainda estava atrelado. Essa sua atitude me passou uma primeira impressão muito boa: a de que você tinha boa auto-estima e que sabia o que queria em termos afetivos. Acontece que, depois que vocês foram viver juntos, essa mulher forte, que sabia o que queria, parece ter desaparecido. Mas, como assim, desaparecido?

Observe bem: inicialmente, ele não queria que o seu filho tivesse contato com os filhos dele. Sinceramente, não consigo entender no que isso seria prejudicial para as crianças ou para vocês. Em seguida, você diz que ocorrem brigas diariamente e que ele faz uso excessivo de álcool. Quando você questiona o tanto que ele bebe, recebe como resposta que “a doença dele é você”. Por fim, o sujeito briga com você, vai pra casa da ex-mulher várias vezes, depois volta pra casa e você ainda o aceita? Onde está sua dignidade e seu auto-respeito? Isso, sem mencionar o fato dele estar desempregado e não estar nem aí pra isso. Puxa vida, será que você não passou dos limites da tolerância? A história fica ainda mais complexa porque a ex. também aceita esse tipo de situação. Ou seja, um cenário muito nocivo para você, concorda?

Dicas pra você: tudo na vida tem de ter um limite. A falta de limites pode fazer com que nossa existência se torne caótica e você precisa aprender urgentemente a não ultrapassar mais os seus. Passou da hora de resgatar aquela mulher com boa auto-estima e que não está disposta a ficar com alguém, simplesmente por estar. Que coisa mais estranha você dizer que ambos não conseguem mostrar que gostam um do outro! O que existe de tão difícil nisso? Aliás, será que é difícil dizer e demonstrar o quanto amamos a pessoa com a qual escolhemos nos casar? Penso que não exista nada misterioso nisso. Se não acontece, é porque aí tem alguma coisa muito séria e que impede tais manifestações. Além disso, essa conversa de “não conseguimos ficar separados” é muito perigosa e requer bastante cuidado. Esse tipo de fala, acaba justificando a permanência em relacionamentos, muitas vezes adoecidos, e que, via de regra, não acabam bem. Antes do outro tem de estar você. Ser feliz afetivamente envolve competência na escolha do nosso parceiro (a) e na manutenção da relação. E, mesmo quando somos competentes, e o outro não o é, atritos e turbulências tornam-se mais constantes.

Você está recém-operada e em condições financeiras ruins. Agora é momento de cuidar bem de si mesma. Hora de pensar em rever/diminuir os gastos e, sendo necessário, recorrer a ajuda de algum amigo ou familiar mais próximo, provisoriamente, é claro. A partir do restabelecimento de sua saúde, seria importante colocar todo o seu foco na procura por um novo trabalho ou, no mínimo, fazer algum tipo de “bico”. Infelizmente, milhões de brasileiros têm recorrido a isso, até as coisas melhorarem um pouco em termos econômicos. Por fim, fique atenta ao movimento dele. A história de vocês apresenta muita inconstância e, pra ele aparecer aí na sua casa novamente, custa pouco. Se isso acontecer, pense bem se é isso o que deseja para sua vida. Gostar da pessoa é muito importante, sem dúvida. Porém, nem de longe, é o único requisito pra se construir um relacionamento saudável. Desejo melhoras e boa sorte!

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

www.douglasamorim.com.br

Instagram: @douglasamorimpsicologo