Novas séries são derivadas do Cinema

por Marcelo Seabra

Minority Report

No Cinema, o número de sequências, remakes e outros diversos tipos de obras não originais já é grande há algum tempo. E o fenômeno da repetição tem chegado forte à TV também, com séries baseadas em conceitos anteriormente desenvolvidos em filmes. Dois exemplos recentes são Minority Report e Limitless,  que partem de onde seus irmãos mais velhos pararam, tentando manter o interesse mesmo que sobre algo que já conhecemos. Ambas têm tramas que se passam após os eventos conhecidos, procurando expandir seus universos.

Baseado num conto de 1956 de Philip K. Dick, o filme Minority Report (2002) chamou bastante atenção não só por seu ótimo elenco, capitaneado por Tom Cruise, mas pelas ideias apresentadas. A polícia daquele futuro conseguia prender os criminosos antes do crime acontecer, apoiando-se nas previsões de três jovens videntes – os PreCogs – que eram mantidos presos e sedados. A série acompanha exatamente esses três, que foram libertados em segredo após o fim do programa de prevenção, sem qualquer registro, documento ou ficha policial.

Minority Report coupleDash (Stark Sands, de Inside Llewyn Davis, 2013) era tido como o PreCog menos poderoso, aquele que pegava as peças que passaram direto nas visões dos outros dois, complementando. E ele é o nosso protagonista, alguém que não consegue ficar longe sabendo que pode ajudar (como Agatha, vivida por Laura Regan) e muito menos pensa em lucrar com seu talento (como Arthur, interpretado por Nick Zano, de 10 Anos de Pura Amizade, 2011). Como ele não consegue todas as informações necessárias, está sempre chegando atrasado em alguma cena de crime. É aí que entra a policial Lara Vega (Meagan Good, de Tudo por um Furo, 2013), que tenta alistar Dash em sua luta contra o crime (na foto acima, Good e o colega Wilmer Valderrama).

Como não há nenhuma novidade realmente importante que a série possa trazer, a impressão que fica é que o bando de roteiristas inventa o crime da semana a ser resolvido enquanto pensa em inovações tecnológicas para manter o interesse do público. Afinal, a ação se passa cinquenta anos no futuro, é preciso inventar muita coisa. Quando isso falha, ou não é o bastante, sempre pode-se apelar aos atributos físicos de Good, colocando-a em roupinhas apertadinhas, como se isso fosse o suficiente para manter a audiência. No fim, é apenas mais uma série de procedimentos policiais, com investigações, crimes escabrosos e uma subtrama que vai se arrastar até o final da temporada, quiçá da série.

Limitless

Melhor sucedida foi Limitless, que conseguiu usar o NZT-48 para criar mais personagens. Não se trata mais do “crime da semana”, mas de descobrir quem criou essa fantástica droga e tudo o mais que a envolve. Eddie Morra, que Bradley Cooper viveu no longa Sem Limites (2011), agora é senador, e não é ele que acompanhamos, mas Brian Finch (Jake McDormand, de Sniper Americano, 2014), um sujeito normal que ganha um comprimido de NZT-48 de um amigo e se vê envolvido em assassinatos. Ele precisa provar sua inocência e conseguir mais comprimidos, já que ninguém que experimenta esse nível de consciência quer voltar para trás.

Limitless MorraAssim como em Minority Report, temos o cara se unindo a uma autoridade feminina, no caso uma agente do FBI (Jennifer Carpenter, nossa eterna Debra Morgan de Dexter). Ele pretende usar a ajuda do bureau, que por sua vez vai manipulá-lo para chegar ao que estão buscando. Morra, que pode vir a ser o próximo presidente dos Estados Unidos, também tem seus planos para Finch, que fica no meio desse fogo cruzado, o que pode levar a disputas interessantes.

Há um aplicativo que faz o celular atuar como controle remoto, o Peel Smart Remote App, que capta quanto tempo a pessoa insistiu em determinado programa. Na temporada passada de estreias, os seriados que conseguiam segurar os espectadores por um mínimo de 15 minutos tiveram sucesso. Essa passou a ser mais uma ferramenta para medir níveis de audiência, e ela já indica a superioridade de Limitless em relação a Minority Report, que não deve sobreviver para uma próxima fornada. E nem precisava de muita tecnologia, essa é a conclusão que chegamos ao assistir aos primeiros episódios de cada uma.

O elenco de Minority Report promoveu a série na Comic Con

O elenco de Minority Report promoveu a série na Comic Con

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Mais uma possessão dá errado

por Caio Lírio

The Possession of Michael King posterO que é preciso para levar ao público um filme de terror de sucesso? Bons efeitos visuais? Uma história inovadora e envolvente (muitas vezes vendida como fruto de acontecimentos reais)? Uma fotografia soturna, precisamente prejudicada pelo já famoso e exaustivamente utilizado formato “found-footage” (filmagens encontradas dando à produção falso aspecto de veracidade)?  Bom, em A Possessão do Mal (The Possession of Michael King, 2014), o diretor e roteirista estreante David Jung parece atirar para todos esses lados, mas em poucos momentos consegue acertar ou convencer, nos oferecendo um longa que, além de ser mais do mesmo, mergulha em clichês do gênero, como o título nacional já indica.

Na história, Michael King (Shane Johnson) é um documentarista extremamente cético, que não acredita em espiritismo, religião, muito menos em paranormalidade. Mas, com a morte trágica da sua esposa, Samantha (Cara Pifko), ele decide realizar seu novo projeto relacionado à busca da existência de forças ocultas e sobrenaturais. Michael, então, vai atrás de vários “especialistas” no assunto e ele mesmo se oferece como cobaia para diversos rituais pagãos na intenção de provar a todos que tudo aquilo não passa de mentiras. A coisa sai do controle (claro) quando aquilo que ele menos acredita acontece e uma força maligna se apodera do seu corpo, provocando graves consequências.

The Possession of Michael King scene

A princípio, o argumento é bastante interessante e renderia ao expectador uma história instigante, mesmo já tendo sendo vista em várias outras tramas. Um ateu convicto que não acredita em Deus ou qualquer força sobrenatural, mas que vai buscar respostas justamente na figura do demônio para superar a morte da esposa. Porém, parece que Jung não se deu ao trabalho nem de criar tensão ou fator surpresa. Ao invés de mostrar a gradual possessão de Michael ou simplesmente deixá-lo mais tempo em tela para entrevistar outros especialistas e, assim, mostrar pontos de vista interessantes entre opiniões de religiões diferentes sobre o assunto, logo no início, mal dá tempo pro público perceber se o protagonista foi realmente subjugado por algo ruim ou simplesmente está sob efeito das drogas utilizadas nos rituais macabros aos quais ele se submete.

Claro que a intenção não é dar uma aula sobre ateísmo ou ocultismo, mas uma mera desculpa para mostrar o documentarista gritando em frente às câmeras e se transformando num assassino em potencial. A partir daí, uma chuva de clichês recorrentes em filmes de possessão demoníaca aparece, o que diminui ainda mais a promessa de um filme inovador. Acordes altos surgem do nada para fazer os mais desavisados pularem de susto nas poltronas – um recurso barato e infelizmente ainda usado à exaustão e de maneira gratuita nessas projeções. O cineasta também não se dá ao trabalho nem de inovar nos movimentos de câmera para criar a tensão e suspense que todo filme de terror deve fornecer. Shane Johnson se mantém até convincente em mostrar a transformação física e psicológica de Michael, tendo em vista que está em quadro em quase todo o filme, mas não é suficiente para mascarar os defeitos do longa.

O que mais chama atenção negativamente na projeção – e que deveria ser um trunfo de renovação do gênero, tendo em vista que Michael é documentarista e, portanto, especialista na criação de imagens – é justamente a estética pseudo-documental que o filme deseja passar (e não consegue). Em alguns momentos, parece que o Jung esquece que o filme é feito pelas lentes e equipamentos de Michael, transformando tudo em uma produção convencional. São personagens que não indagam a presença das câmeras em momento algum, como se estivessem realmente encenando para elas (algo impossível no mundo real), além de takes e planos meticulosamente trabalhados para captar convenientemente o que se quer mostrar. Por que, por exemplo, mesmo no auge da sua possessão, o protagonista ainda se preocupa em filmar tudo o que acontece (inclusive empunhando a câmera na mão em tomadas subjetivas)? Tudo isso tira o fator surpresa, a estética suja, despretensiosa e caseira que filmes como A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999), que reinventou o formato depois da sua criação em Holocausto Canibal (Cannibal Holocaust), em 1980, e Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007), que tornou isso tudo modinha, fizeram tão bem. Não foi dessa vez para Jung, que assim como Michael em boa parte do filme, faz muito barulho por nada.

"Michael não está, deixe seu recado após o bip"

“Michael não está, deixe seu recado após o bip”

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Polanski filma A Pele de Vênus

por Marcelo Seabra

Venus in fur

Dois ótimos atores, um teatro vazio e um texto instigante. Isso é tudo que Roman Polanski precisou para fazer um filme interessante, de várias camadas. A Pele de Vênus (Venus in Fur, 2013) tem seu roteiro baseado numa peça de David Ives, que partiu do famoso livro de Leopold von Sacher-Masoch, trazendo para o presente a história do sujeito que inspirou a invenção do termo masoquismo. O diretor ainda trouxe aspectos autobiográficos para o texto, chegando ao cúmulo de usar um ator que lembra ele próprio e uma atriz que é ninguém menos que sua esposa.

Não é segredo que Mathieu Amalric (de O Grande Hotel Budapeste, 2014) tem um tipo físico estranho como Polanski e ainda se inspira nele para criar o personagem, um diretor de teatro à procura de sua protagonista. Ele precisa de uma mulher forte, de classe, e se queixa com a noiva, ao telefone, de que todas as atrizes testadas eram inadequadas. E as descreve praticamente chamando-as de vagabundas, colocando opiniões que o caracterizam como um babaca machista. Nisso, entra Emmanuelle Seigner (de Dentro de Casa, 2012), um furacão em cena que de cara causa um tumulto interno em Thomas. Vanda é aparentemente rude e sem modos, e chega tarde para sua audiência. Sem dar muita brecha para negativas, ela consegue fazer um trecho do diálogo com Thomas.

Venus in fur Polanski

Com o roteiro escrito a quatro mãos, Polanski pôde fazer alterações e adições nos diálogos de Ives, colocando muita coisa pessoal. Algumas falas fazem parecer que ele está à frente das câmeras – e Amalric ajuda muito – e é possível perceber referência até ao arrastado caso de estupro que faz com que o cineasta continue sendo procurado em alguns países. Polanski primeiro estabelece as similaridades do personagem com ele para depois começar a brincar com isso, levando Thomas a caminhos inusitados na relação com Vanda. É como se ele brincasse com a impressão que as pessoas têm dele e usasse a peça de Ives (e o original) para levar as coisas a um outro nível de exagero.

O jogo entre os personagens já é apimentado o suficiente. Vanda faz questão de lembrar que o texto de Sacher-Masoch – e não de Lou Reed, como ela pergunta jocosamente – é decadente, datado, e aponta alguns de seus problemas morais. O fato da atriz ser esposa do diretor transforma a experiência quase que em voyeurismo, assistimos a uma longa discussão do casal. E Polanski é esperto o suficiente para inverter os papéis, como em seu longa anterior, Deus da Carnificina (Carnage, 2011), que tem muitas características em comum com A Pele de Vênus. A vítima logo toma o poder, como se atualizasse a história para os tempos mais igualitários em que vivemos – ao menos na teoria, infelizmente.

O diretor  Roman Polanski levou seus atores a Cannes

O diretor Roman Polanski levou seus atores a Cannes

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X Company acompanha espiões na Segunda Guerra

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

X Company

Aproveitando a proximidade do aniversário de 70 anos da Segunda Guerra Mundial, os produtores Mark Ellis e Stephanie Morgenstern (ambos da série Flashpoint) finalmente resolveram apresentar um projeto no qual estavam trabalhando há mais de 12 anos ao canal canadense CBC. Levemente baseada em fatos reais, X Company mostraria as atividades do Camp X – um campo de treinamento de espiões localizado no Canadá, fundado em dezembro de 1941, um dia antes dos Estados Unidos entrarem no conflito, cujo objetivo inicial era estabelecer comunicação entre a Inglaterra e os E.U.A. – na coordenação de ataques realizados por uma pequena equipe de agentes atrás das linhas inimigas.

Lançada em fevereiro no Canadá, a primeira temporada da série, a exemplo da grande maioria das produções do gênero, mostra a equipe liderada pela sargento Aurora Luft (Evelyne Brochu, de Orphan Black) executando missões diferentes a cada semana, enquanto uma história maior se desenvolve ao fundo. Muito dela se foca em Alfred Graves (Jack Laskey, de Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras), um homem que se juntou ao exército para lutar nos bastidores, trabalhando basicamente com fluxo de informações, mas que acabou sendo obrigado a ir para o campo de frente devido a suas habilidades únicas. Alfred é dono de uma memória eidética, ou seja, não esquece nada do que vê, o que o torna uma peça valiosa dentro de um grupo de espiões que precisa agir na surdina e da maneira mais rápida e discreta possível. Em uma época em que não existiam celulares com câmeras, ter uma memória fotográfica era uma vantagem gigantesca nesse tipo de trabalho. Completam o time de Aurora o ex-policial Neil Mackay (Warren Brown, da série Luther), o engenheiro Harry James (Connor Price, do remake de Carrie, A Estranha) e o publicitário Tom Cummings (Dustin Milligan, da nova versão da série Barrados no Baile).

XCompany

Ao longo da primeira temporada de X Company, vemos a equipe conduzindo missões de contra inteligência, sabotagens e resgates exclusivamente na França, ao mesmo tempo em que tentam recrutar mais e mais civis para a Resistência, como ficou conhecido o grupo de civis franceses que se uniu para lutar contra as forças de ocupação alemã. Seu principal inimigo é o responsável pelas tropas alemãs na França, o tenente Franz Faber (o alemão Torben Liebretch), que, apesar de nazista e ser retratado de uma maneira relativamente estereotipada, tem uma profundidade pouco esperada de personagens desse calibre nesse tipo de produção, o que é um ponto positivo aqui. Outros pontos a serem elogiados são a reconstituição de época e a forma como os roteiros – especialmente dos primeiros episódios – foram bem amarrados, criando bons climas de tensão.

Seguindo uma tendência da dramaturgia mundial que aborda a Segunda Guerra Mundial, nem todo nazista é retratado como um monstro sem alma (ainda que eles existam), da mesma forma que nem todo aliado é um herói do estilo clássico, ou seja, uma pessoa segura de si o tempo todo. Todos os personagens têm suas inseguranças, hesitações e arrependimentos, o que os torna mais humanos e, consequentemente, mais atraentes ao público. A forma como muitas vezes aliados espionavam aliados também é mostrada aqui, retratando algo que era bastante comum naquela época.

Apesar de não ser nada que mude a história da televisão, X Company é uma série bem legal para quem é fã de histórias de espionagem escritas de maneira competente. A primeira temporada da série é curtinha, são apenas oito episódios, e teve estreia por aqui no dia 19 de setembro, no History Channel. A segunda, com dez episódios, já está sendo produzida, mas ainda não tem uma data de lançamento definida.

XCompany camp

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Maze Runner 2 não engrena e aborrece

por Marcelo Seabra

Maze Runner Scorch Trials

Produzida a toque de caixa, a sequência de Maze Runner: Correr ou Morrer (2014) já está em cartaz no Brasil. Prova de Fogo (The Scorch Trials, 2015) ocupa atualmente a primeira posição nas bilheterias, aqui e nos Estados Unidos, e prepara terreno para a conclusão da trilogia. Bebendo em várias fontes da ficção-científica e até do terror, indo de A Ilha (The Island, 2005) a The Walking Dead, o roteiro é confuso e o resultado não empolga, chegando inclusive a dar sono em algumas passagens.

No primeiro filme, Thomas (Dylan O’Brien) chega a uma clareira onde vivem outros garotos e descobre a existência do labirinto, o obstáculo entre eles e a liberdade. Como eles conseguem fugir, já se esperava que essa segunda aventura começasse nos corredores da maligna empresa que os detinha, a CRUEL (ou WCKD). Mais informações são dadas e entendemos melhor o que está havendo. Thomas, que continua à frente do grupo, agora conta com a ajuda de Aris Jones (Jacob Lofland, de Amor Bandido, 2012), um menino estranho que teve alguns dias a mais para analisar a estrutura onde são mantidos enquanto aguardam uma espécie de sorteio para a terra prometida.

Maze Runner Scorch Trials kids

Thomas, Aris e os demais logo descobrem do que se trata aquilo tudo e dão um jeito de fugir. O encarregado, Mr. Janson (Aidan Gillen, de Game of Thrones), coloca sua tropa na rua e as coisas se tornam bem cansativas a partir daí. Os humanos contaminados lá fora são zumbis velozes mortos de fome. A fuga é bem repetitiva, entram outros personagens na história e, em determinado ponto, já não sabemos quem é quem ou o que está havendo. E nem importa. Rosa Salazar (de A Série Divergente: Insurgente, 2015) e Giancarlo Esposito (de Breaking Bad) vão ajudá-los a chegar na resistência; Alan Tudyk (de Suburgatory) é quem deve dar as direções; e Barry Pepper (de O Cavaleiro Solitário, 2013) e Lili Taylor (de Invocação do Mal, 2013) são os líderes do movimento. Patricia Clarkson continua sendo a grande vilã, a Dra. Ava Paige.

A inventividade do primeiro Maze Runner, com todo o conceito do labirinto e a tensão bem construída, se perde nesse caldeirão de apropriações e repetições. A cópia de A Ilha é clara e óbvia, e olha que nem se trata de uma obra muito original. Se Michael Bay e companhia foram acusados de plagiar outros autores, imagina esse James Dashner, autor da série? O diretor Wes Ball e o roteirista T.S. Nowlin só têm no currículo, nessas funções, as duas adaptações de Dashner, e seguem para a terceira, A Cura Mortal. Vem mais pastiche por aí.

Aiden Gillen é um dos atores de Game of Thrones no filme

Aiden Gillen é um dos atores de Game of Thrones no filme

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Jake Gyllenhaal encarna boxeador campeão

por Marcelo Seabra

Southpaw

Como já vem demonstrando há bastante tempo, Jake Gyllenhaal (de O Homem Duplicado, 2013) se tornou um ator para se acompanhar. Cada projeto é mais interessante que o outro e, se o texto não ajudar, ao menos temos a certeza de uma interpretação apaixonada, de muita entrega ao personagem. Dessa vez, ele vive um boxeador em Nocaute (Southpaw, 2015), novo trabalho do diretor Antoine Fuqua (de O Protetor, 2014). Se reforça alguns estereótipos do mundo do boxe, por outro lado o filme mostra os ringues com bastante veracidade.

Uma opção para filmes sobre esportistas é mostrá-los começando de baixo e tentando alcançar o sucesso, como o já clássico Rocky: Um Lutador (1976). Outra é encontrá-los num ponto alto de suas carreiras apenas para vê-los cair, interessando então acompanhar a redenção. Essa segunda possibilidade é o caso aqui: Billy Hope (Gyllenhaal) está no auge, detentor do título mundial da categoria, até que uma fatalidade acontece. Sem rumo, ele logo perde o cinturão e vê sua vida desmoronar, perdendo tudo o que construiu.

Alguns retratos pintados pelo roteiro de Kurt Sutter (de Filhos da Anarquia) são exagerados e apelam a lugares comuns que frequentam a cabeça de quem não é familiarizado com o mundo do boxe. Como o próprio campeão Oscar De La Hoya escreve ao Hollywood Reporter, produtores que compram resultados e atletas que agem de forma violenta em casa podem até existir, mas hoje são casos muito raros para serem mostrados como corriqueiros. Lutadores não necessariamente são pessoas de estopim curto que reagem a qualquer provocação, como mostrou o pacato professor de Guerreiro (Warrior, 2011). Muito menos saem enchendo todos à sua volta de presentes caros.

SOUTHPAW

Além dessa visão rasteira dos atletas e o que os rodeia, o outro problema do texto de Sutter é a total previsibilidade. A todo momento, é fácil saber o que acontecerá adiante. A fórmula segue certinha, totalmente linear, até o final que adivinhamos aos vinte minutos de projeção. Não que não seja empolgante, só não há tensão ou suspense. Se o resultado não desanima, dois são os fatores principais. A já citada interpretação de Gyllenhaal é forte, dedicada, calculada, começando pelo físico que apresenta, que convence como o de um lutador peso leve. A outra grande qualidade é a fotografia de Mauro Fiore (de Gigantes de Aço, 2011), que capta cenas fantásticas nas lutas, nos ginásios e até nas ruas. De uma casa enorme a um quarto apertado, ele faz muito bom uso do espaço interno.

A explicação do título original, Southpaw, vem do personagem de Forest Whitaker (de Busca Implacável 3, 2014), que vive um treinador experiente procurado por Billy. Trata-se de um golpe no qual o lutador deixa o pé e a mão direita à frente, reservando a potência do soco de esquerda para um possível nocaute. Whitaker está um pouco menos caricato do que o usual e não chega a comprometer. Rachel McAdams (de Sob o Mesmo Céu, 2015) não tem muito espaço e deixa as atenções para a jovem Oona Laurence, que convence como a filha do casal. Além de alguns outros nomes famosos, como Naomie Harris e os cantores 50 Cent e Rita Ora, o elenco conta com gente do universo do esporte, como os lutadores Victor Ortiz, Aaron Quattrocchi e Rayco Saunders, o árbitro Tony Weeks e os narradores Jim Lampley e Roy Jones Jr., o que traz mais veracidade às cenas de lutas.

Com alguns filmes ruins no currículo e outros apenas fracos, Antoine Fuqua continua dependendo de Dia de Treinamento (Training Day, 2001) para ter uma boa apresentação – e mais pelo roteiro de David Ayer que por seu talento. Nocaute fica no meio do caminho, subaproveitando o esforço dos envolvidos e uma das últimas trilhas compostas por James Horner, morto em junho num acidente de avião. Tratando-se de boxe, mais aguardado é o novo episódio da franquia Rocky, agora protagonizado pelo filho de Apollo Creed.

Whitaker vive o veterano treinador

Whitaker vive o veterano treinador

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A U.N.C.L.E. agora ataca no Cinema

por Marcelo Seabra

The Man From U.N.C.L.E.

Já imaginou uma aventura de espionagem com os intérpretes de O Homem de Aço (Man of Steel, 2013) e O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger, 2013) nos anos 60, em lados diferentes, sendo obrigados a se unirem? É mais ou menos o que acontece em O Agente da U.N.C.L.E. (The Man From U.N.C.L.E., 2015), mais um longa a levar uma série de TV ao Cinema. Guy Ritchie, mais lembrado pelos dois Sherlock Holmes, comanda o show com muita classe, humor e ação. Se a história não é das mais originais, o carisma e a química dos personagens compensam. Isso e a primorosa recriação da época.

Os protagonistas antagonistas que se tornam parceiros, o espião americano e o espião russo, são vividos por Henry Cavill e Armie Hammer, o atual Super-Homem e o quase Batman do projeto de George Miller. Brigando ou agindo em conjunto, eles funcionam muito bem juntos, buscando desbaratar um grupo particular que sequestrou um cientista para construir uma bomba atômica. Os dois lados da Guerra Fria decidem se unir pela causa e recrutam a filha do tal cientista (vivida por Alicia Vikander, de Ex-Machina, 2015), formando um divertido triângulo amoroso. Hugh Grant (de A Viagem, 2012) e Jared Harris (o Moriarty de Sherlock Holmes) são os outros nomes famosos do elenco, interpretando figurões de seus governos.

Trio

O ianque é um charmoso ex-ladrão condenado que precisa trabalhar para a CIA para pagar sua dívida. O soviético é o protótipo do soldado dedicado, com suas qualidades e defeitos – ele tem um gênio difícil de controlar. Cada um tem seus pontos fortes e fracos e o outro acaba sendo um complemento, com a balança pendendo um pouco mais para o americano, já que o russo tem métodos um pouco antiquados. O roteiro, de Ritchie e do produtor Lionel Wigram, é bem simples e convencional, mas cria boas situações para explorar as diferenças entre os dois e acompanha a gradual aproximação deles de maneira bem crível.

A série de TV O Agente da U.N.C.L.E. foi produzida e exibida entre 1964 e 1968, criada por Sam Rolfe com contribuições criativas de outros profissionais, como Ian Fleming, criador de James Bond. Napoleon Solo seria o personagem principal, mas a participação do russo Illya Kuryakin chamou tanta atenção que o programa passou a focar a relação entre eles, tratando-os com igual importância. Robert Vaughn e David McCallum viviam os agentes, e havia poucos personagens recorrentes, o que levava a diversas participações ao longo das quatro temporadas – William Shatner e Leonard Nimoy, por exemplo, dois anos antes de Star Trek. Há inclusive uma citação a Sherlock Holmes, já que a organização criminosa T.H.R.U.S.H. teria sido criada após a morte do Professor Moriarty, que caiu das cataratas de Reichenbach junto com o detetive. A U.N.C.L.E. é criada para combater a T.H.R.U.S.H. e a periculosidade dos vilões é tamanha que os países tradicionalmente inimigos se veem obrigados a se unirem.

Ritchie mantém a classe da série, com piadas de alto nível, e fica só nas insinuações de cunho sexual, sem de fato mostrar nada, nem sangue. Isso segura a indicação etária em PG-13, o que permite a entrada de adolescentes de 13 anos em diante. A bilheteria já chegou a 90 milhões de dólares, batendo o custo de 75 milhões. A preocupação com a censura muitas vezes influencia o que aparece na tela, já que ninguém está interessado em restringir o público e ganhar menos dinheiro. Felizmente, isso não foi um problema para O Agente da U.N.C.L.E., que consegue divertir mesmo segurando as rédeas quanto a sexo, violência ou qualquer coisa mais pesada.

A série de TV contava com essa dupla

A série de TV contava com essa dupla

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Novos Griswolds voltam a ter Férias Frustradas

por Marcelo Seabra

Vacation banner

A nostalgia começa junto com o filme, com os créditos ao som da clássica Holiday Road, de Lindsey Buckingham. A música é o tema recorrente da franquia Férias Frustradas (Vacation), aparecendo em três dos quatro primeiros filmes. Agora, na nova jornada dos Griswolds, temos basicamente a mesma premissa da primeira, mas com o filho do casal, já crescido e na pele de Ed Helms (da trilogia Se Beber, Não Case). O adulto Rusty decide levar a esposa e os filhos ao Wally World, o mesmo lugar onde foi com os pais e a irmã quando eram mais novos.

O cartaz do longa pergunta o que pode dar errado. Claro que se trata de uma brincadeira com o óbvio: tudo vai dar errado na viagem dos Griswolds. Mas a pergunta pode ser levada ao lado de cá da tela: o que pode dar errado quando se pega personagens criados pelo amado John Hughes e se requenta a história filmada por Harold Ramis em 1983 – e que ainda deu frutos em 1985, 1989 e 1997? Pra quem é fã de Chevy Chase e seu Clark Griswold, é quase um desejo que o filme seja bom. Mas o resultado é um amontoado de situações exageradas misturadas com as mesmas trapalhadas já vividas pela família, com pequenas variações.

Vacation scene

É claro que as gerações mais novas nunca nem ouviram falar dos personagens, o que torna compreensível aproveitar as velhas piadas de Hughes. Para os mais velhos, há metapiadas muito espirituosas, como quando Rusty está explicando que estas serão férias diferentes das que teve quando pequeno, apontando algumas diferenças entre os filmes. Ele chega a afirmar que estas férias se sustentarão sozinhas, como se estivesse anunciando o início de uma nova franquia. E não é que falte humor, dá para rir um pouco. Mas pouco mesmo! Muito tempo sem acontecer nada de mais e piadas criadas em cima de situações muito irreais afastam o público, que não consegue se envolver com seus heróis. O que é, por exemplo, que viram de engraçado com aqueles recursos do carro?

Depender demais das referências e da memória afetiva do público não basta. E um bom elenco é desperdiçado. Helms e Christina Applegate (de Passe Livre, 2011) vivem o casal protagonista, a quem cabe a maioria das apelações dos roteiristas e diretores estreantes, John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein (que escreveram os dois Quero Matar Meu Chefe). A participação de Chris Hemsworth (mais conhecido como Thor) chega a extremos desnecessários, enquanto Charlie Day (de Quero Matar) é o irritante de sempre. Leslie Mann vive a irmã de Rusty, Audrey, e tem poucos e repetitivos diálogos. Há algumas pontas, como Colin Hanks, Michael Peña, Norman Reedus e Regina Hall, umas ainda mais fracas que outras. E o que dizer do suposto vilão (Ron Livingston, de Invocação do Mal, 2013), um babaca com o poder de aparecer em momentos improváveis?

Qualquer fã dos Griswolds esperaria mais desse novo Férias Frustradas. Como o orçamento ficou relativamente pequeno, na casa dos US$ 31 milhões, e a arrecadação mundial já alcança os US$100 milhões, não é difícil prever uma continuação. A torcida é por um produto melhor, mais criativo, que não se contente com um punhado de releituras e que tenha graça. Tocar Holiday Road no começo, meio e fim, inclusive com versões diferentes, não é suficiente.

Família unida para mais trapalhadas

Família unida para mais trapalhadas

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Série alemã traz novo olhar sobre a Segunda Guerra Mundial

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Generation War

Lançada na Alemanha em 2013, Os Filhos da Guerra (Unsere Mütter, Unsere Väter), que estreou no dia 31 de agosto na Globo no belo horário conhecido como “depois do Programa do Jô”, ou seja, bem tarde da noite, merecia um tratamento melhor no que diz respeito à sua exibição, pois se trata de uma série bastante interessante. Dividida em três episódios de aproximadamente 90 minutos cada (que serão divididos em 5 episódios de aproximadamente uma hora cada na emissora carioca), ela mostra a Segunda Guerra Mundial da perspectiva de um grupo de amigos alemães e como o conflito alterou suas vidas.

A série começa em julho de 1941, quando o quinteto formado pelos irmãos Wilhelm (Volker Bruch, de O Leitor, 2009) e Friedhelm Winter (Tom Schilling, de A Dama Dourada, 2015), Viktor Goldstein (Ludwig Trepte), Greta Del Torres (Katharina Schüttler) e Charlotte (Miriam Stein) se reúne no bar onde Greta trabalha, em Berlim, para uma despedida. Wilhem, tenente do exército alemão, e seu irmão, o soldado-pacifista Friedhelm, irão se juntar ao esforço de guerra no leste, na malfadada tentativa alemã de invadir a Rússia e dominar o país pela tomada de Moscou. Charlotte também se envolverá nessa operação, trabalhando como enfermeira no hospital militar que dá apoio ao exército alemão nessa missão. Já Greta e Viktor, ainda que não se envolvam diretamente no conflito, terão seus problemas pela frente já que são um casal e ele é um judeu vivendo na Alemanha nazista quando a perseguição a seu povo se torna cada dia mais intensa. Na festa de despedida, o quinteto faz um pacto de se reunir naquele mesmo local para comemorar o natal dali a seis meses quando, todos acreditam, a guerra já terá terminado e a Alemanha sairá vitoriosa da guerra. A partir daí, a série acompanha a vida dos cinco protagonistas – e ainda que de maneira menos profunda, a do major da SS Dorn (Mark Waschke) – durante todo o período em que estão envolvidos na guerra, ou seja, até seu derradeiro final, em meados de 1945 e um pouco após.

Generation War scene

Os Filhos da Guerra foi bastante premiada desde seu lançamento na TV alemã, levando inclusive um Emmy internacional. A série foi bastante aclamada em sua terra natal ao mostrar ao público um olhar diferente do povo alemão durante a guerra, onde nem todo soldado nazista era um ser desalmado – ainda que haja a cota de desalmados aqui – nem tampouco toda a população do país apoiava a crença de Hitler sobre a superioridade dos arianos nem que isso os levaria à inevitável vitória. Ela também foi bastante criticada tanto dentro quanto fora da Alemanha, especialmente na Polônia e em Israel, por praticamente não tocar na ferida do Holocausto, não mostrar os campos de concentração e de extermínio e na forma como retratou parte da resistência polonesa à ocupação alemã.

Isso, no entanto, não tira os méritos de sua proposta, até porque já há inúmeros filmes e séries cujo foco é justamente mostrar as atrocidades cometidas pelos alemães – ou, pelo menos, seus soldados, oficiais e políticos – durante a guerra. Para aqueles interessados por histórias da Segunda Guerra Mundial, vale à pena dar uma conferida na série, mesmo no horário horrível em que está sendo transmitida.

O elenco de cara limpa

O elenco de cara limpa

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O ursinho Ted agora quer um filho

por Marcelo Seabra

Ted2

Já nem me lembrava bem de Ted (2012), aquele longa engraçado e esquecível sobre um ursinho de pelúcia que cria vida e, depois de alguns anos, passa a beber, se drogar e arrumar mulheres. Eis que chega aos cinemas Ted 2 (2015), sequência que consegue ser mais nonsense que o primeiro. E a boa notícia é que também chega mais longe, emendando uma piada na outra e sacaneando a todos, esquerda e direita, brancos e negros, nerds e burros e, como não poderia deixar de ser, sobra até para o Flash Gordon! A sensação que fica é que o diretor, roteirista, produtor e ator Seth MacFarlane está se desculpando por Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (A Million Ways to Die in the West, 2014), aquela horrenda paródia de westerns.

Repetindo o papel de John Bennett, Mark Wahlberg se mostra muito à vontade como o sujeito que não amadureceu como a esposa gostaria, e está separado há algum tempo – ou seja, nem sinal de Mila Kunis, decisão aparentemente tomada pelos roteiristas. John e Ted (voz de MacFarlane) seguem fazendo nada, ou ao menos nada de útil. Continuam indo a festas e se recusando a crescer. Ted, no entanto, se casou e agora pretende ter um filho. Mas como um ursinho de pelúcia conseguiria engravidar uma mulher? E adotar também não será fácil, já que não se trata de um casal convencional.

Ted2 couple

Vários personagens do primeiro filme estão de volta, como a esposa de Ted (Jessica Barth), Donny (Giovanni Ribisi), Guy (Patrick Warburton) e Sam Jones, o Flash Gordon, como ele mesmo. E há novidades, que respondem pelos nomes de Amanda Seyfried (de Um Milhão de Maneiras), John Carroll Lynch (de Belas e Perseguidas, 2015), John Slattery (o Howard Stark da Marvel) e Morgan Freeman (de Transcendence, 2014). E ainda tem uma ponta engraçadíssima que não vale a pena estragar. Todo esse pessoal foi reunido por um simples motivo: fazer o público rir. O que, sabemos, não é fácil. Mas a missão de MacFarlane é bem sucedida, com piadas que vão do mais chulo (com fluídos corporais, por exemplos) ao mais elaborado, que depende de referências pop para compreender, como acontece em Family Guy.

Sem entrar em detalhes, para não estragar as surpresas, o terceiro ato do filme se passa em uma convenção e traz uma sequência interminável de gags. Warburton é um dos grandes responsáveis, a fantasia que ele usa vai matar de rir os mais aficcionados por heróis. MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild, parceiros em Family Guy, não se preocuparam em criar uma história elaborada ou mesmo crível, mas uma desculpa para despejar uma sequência de piadas, críticas e homenagens. John tem um novo interesse romântico, uma advogada linda, esforçada e um tanto lesada (Seyfried), mas é Ted quem rouba a cena. O urso está mais engraçado do que de costume e já podemos esperar por outra de suas aventuras. Com um custo de 68 milhões de dólares e um faturamento internacional que já bate os 180 milhões, isso é certo.

Seyfried é o novo par romântico de Wahlberg

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