por Marcelo Seabra
Bohemian Rhapsody é o filme que conta a história do Queen e do Freddie Mercury, com muita música boa na trilha, que o Programa do Pipoqueiro traz mesclando com vários comentários de gente bacana! Aperte o play abaixo e se divirta!
por Marcelo Seabra
Bohemian Rhapsody é o filme que conta a história do Queen e do Freddie Mercury, com muita música boa na trilha, que o Programa do Pipoqueiro traz mesclando com vários comentários de gente bacana! Aperte o play abaixo e se divirta!
por Marcelo Seabra
Um sujeito carismático, perigoso e mal-intencionado vai reunindo seguidores para liderar um levante, enquanto cumpre uma agenda secreta. Não se trata do crescimento da extrema direita no mundo, mas do novo Animais Fantásticos. Conhecemos melhor o personagem de Johnny Depp, revelado no final do filme anterior, e Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald, 2018) gira em torno das ações dele.
Depois de comandar os quatro últimos filmes da série de Harry Potter, David Yates se tornou o diretor oficial dessa nova franquia, que tem as partes 3, 4 e 5 já anunciadas. Como ele, J.K. Rowling também está de volta como roteirista, adaptando sua própria obra. O elenco, que ganhou reforços, também está lá novamente, com Eddie Redmayne à frente. Com tantos retornos, uma coisa se foi: a novidade. O frescor do primeiro filme, onde tudo era inovador e criativo, ficou lá, com a fórmula sendo repetida aqui.
Tudo parece no lugar esteticamente, e até o efeito 3D funciona bem. Mas a sensação que dá é que passamos mais de duas horas sendo enrolados, esperando por uma revelação que chega no final e é isso. Resta aguardar o próximo. Na aventura anterior, Newt Scamander (Redmayne) vai a Nova York comprar um presente, se vê envolvido em situações perigosas e acaba proibido de viajar. O que, claro, ele fará de qualquer forma. Scamander volta a afirmar que não existem animais estranhos ou feios, o que existe é gente preconceituosa. Essa defesa da diversidade continua, e ainda há a luta entre os dois lados dos magos, um que defende a paz com os não magos e outro que se julga superior, algo que já vimos acontecer até com os mutantes de X-Men.
Para tentar fugir dessa sina de “mais de mesmo”, Rowling joga mais um punhado de personagens na cena, sem se aprofundar em nenhum. Para os fãs de Potter, são dadas várias piscadelas com referências, o que deve satisfazê-los. Mas deixa os demais entediados, e o sono fica rondando, esperando para fincar pé. Quem ganha um pouquinho de profundidade é Alvo Dumbledore, que aparece em uma versão bem mais jovem, vivido por Jude Law (de Rei Arthur, 2017). A sexualidade do professor levantou polêmica, já que mais nada no filme o fez. Mas fica bem claro que ele teve uma forte relação com outro personagem masculino. Para ficar mais claro que Dumbledore é gay, só tocando I Will Survive.
Assim como no episódio anterior, sabemos pouco do jovem Credence (Ezra Miller), e todo o mistério do filme gira em torno dele – o que deixa claro que nesse mato tem cachorro. E a história dele, como também a de Grindelwald (Depp), não parece caminhar para lugar nenhum. E onde estariam os tais crimes de Grindelwald? Outra pergunta sem resposta. O mago é muito malvado, como as expressões exageradas de Depp e todos os diálogos tornam óbvio, mas só o vemos maquinando e fazendo discursos. E de onde tiraram de misturar Nicolau Flamel nesse caldo?
O começo promissor da franquia Animais Fantásticos acabou não se sustentando, mesmo que Rowling continue trazendo assuntos espinhosos para discussão. Quanto Scamander diz, por exemplo, que não vai optar por um lado, a metáfora política é óbvia: se você não escolhe um lado numa batalha, um será escolhido para você. Mas boas intenções não sustentam um projeto. Se não teve mais sucesso, não foi por ter sido ofuscado pelas acusações de violência doméstica contra Depp. Foi por ser vazio mesmo. E se Rowling e Yates não conseguem entregar um bom filme do Universo Bruxo, quem conseguirá?
por Marcelo Seabra
Você chega ao cinema esperando ver um filme de guerra. Começa tudo de forma tradicional, ainda que muito bem feito. Cenas realistas, você fica até com vertigem enquanto nossos heróis são atacados e acabam pulando do avião. Fica aquela sensação de O Resgate do Soldado Ryan (1998), com a violência da guerra ganhando contornos palpáveis, o sangue quase espirrando da tela. De repente, as coisas começam a tomar outro rumo e Operação Overlord (Overlord, 2018) mostra a que realmente veio.
Os eventos que precederam o famoso Dia D, também conhecidos como Operação Netuno ou o desembarque na Normandia, envolviam cortar as formas de comunicação dos nazistas, impedindo que eles se reorganizassem ou chamassem reforço. A Operação Overlord foi essencial para o sucesso da empreitada dos Aliados. Mas, para todos os efeitos, tratou-se apenas de um esforço de guerra normal, com tiros e explosões definindo quem seriam os vencedores.
O longa, já em exibição nos cinemas, leva essa passagem histórica em outra direção, acrescentando camadas que nunca imaginaríamos. Para não estragar nenhuma surpresa, pode-se dizer apenas que o horror da guerra nunca foi tão terrível. Temos um elenco bem equilibrado de quase desconhecidos, sendo o principal nome o sargento vivido por Bokeem Woodbine (de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, 2017). Conhecido dos fãs de The Leftovers, Jovan Adepo é o cadete novato que nos conduz pela história, quase como o Chris de Platoon (1986).
Depois de saltar do avião, Boyce (Adepo) busca se reencontrar com seu pelotão para poderem levar a missão adiante: derrubar uma torre de comunicação nazista. O especialista em explosivos Ford (Wyatt Russell, de Shimmer Lake, 2017) é o responsável pela execução do plano e um trio de outros soldados os acompanham. É interessante perceber como o roteiro (de Billy Ray, de Capitão Phillips, 2013, e Mark L. Smith, de O Regresso, 2015) trata os personagens de maneira equilibrada, com tempo de cena e importância bem divididos entre eles. Logo, passamos a nos importar com todos eles, mesmo sabendo pouco do histórico de cada.
A imagem calculada de filme B pode ser responsabilidade do produtor, um certo J.J. Abrams, que já fez o mesmo em outras oportunidades (como no ótimo Super 8, 2011). Se bem utilizado, o dinheiro do orçamento, nada menos que US$38 milhões, pode passar a imagem de algo mais barato, mas muito bem cuidado. Essa é a definição perfeita para Operação Overlord: um filme B bem feito e divertido. Ponto para o diretor Julius Avery, que até então só tinha Sangue Jovem (Son of a Gun, 2014) no currículo. A arrecadação está na casa dos US20 milhões. Vamos torcer para que se pague, e Avery tenha novas oportunidades de se destacar.
por Marcelo Seabra
A edição 35 do Programa do Pipoqueiro apresenta a trilha sonora de Nasce Uma Estrela, com suas principais músicas, além de diversos comentários sobre filmes e séries de TV atuais. Aperte o play abaixo e se divirta!
por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Antes de começar esta resenha, fica aqui um aviso: este texto contém spoilers relacionados à primeira temporada de Os Defensores. Caso você não tenha assistido à série e prefira manter as surpresas, pare a leitura por aqui.
A última cena da primeira temporada de Os Defensores encheu os fãs dos quadrinhos do Demolidor de esperança. Afinal, ela fazia referência à Queda de Murdock (Daredevil: Born Again, 1986), a mais importante e clássica história do personagem. Dados todos os limites envolvendo direitos autorais e escolhas dos roteiristas e produtores não só da série do Demolidor como, principalmente, de Jessica Jones, uma adaptação fiel da história jamais seria possível. Ainda mais quando levamos em conta a situação dramática dos principais coadjuvantes do Demolidor (especialmente Karen Page, Franklin “Foggy” Nelson e Wilson Fisk). Mesmo assim, A Queda de Murdock, sem sombras de dúvidas, serviu de base para a nova temporada da série do personagem.
Quando a terceira temporada de Demolidor começa, os personagens ainda estão lidando com as consequências dos eventos em Midland Circle. Foggy Nelson (Elden Henson) aceitou a suposta morte de seu amigo Matt Murdock (Charlie Cox) e continua seu trabalho em um conceituado escritório de advocacia e a relação amorosa com a advogada Marci (Amy Ruthberg). Já Karen Page (Deborah Ann Woll) acredita que Matt, de alguma forma, sobreviveu à queda do prédio e continua pagando as contas do apartamento do amigo. Enquanto isso, Matt Murdock passou os últimos meses na igreja onde fora abrigado no final de Defensores, se recuperando dos ferimentos sem dar notícias a seus amigos. Finalmente, temos Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio – abaixo), que continua cumprindo pena pelos crimes pelos quais fora condenado ao final da segunda temporada de Demolidor.
Permanecer preso não é bem um dos planos de Fisk. Depois de meses se recusando a fazê-lo, ele propõe uma espécie de delação premiada ao FBI. Em troca de prisão domiciliar e alguns outros benefícios, ele delataria os principais criminosos de Nova York, o que economizaria anos de trabalho ao Bureau. E o acordo, intermediado pelo agente Ray Nadeem (Jay Ali, de The Fosters), acaba saindo.
Quando Fisk está sendo transportado do presídio para seu local de prisão, o comboio do FBI é atacado e restam apena três sobreviventes: Fisk, Nadeem e Ben “Dex” Poindexter (Wilson Bethel, de How to Get Away With Murder), um nome muito conhecido dos fãs dos quadrinhos que, a partir daqui, já começam a imaginar como este personagem, fundamental na mitologia do Demônio, seria retrabalhado na telinha.
Livre da prisão, mas detido em uma luxuosa suíte em um dos mais reservados hotéis de Nova York, Wilson Fisk coloca seus planos em prática. Seu objetivo é claro, ainda que ele manipule o FBI de tal forma que os membros do Bureau sequer desconfiem: Fisk pretende reconstruir seu império criminoso, fazendo jus ao seu apelido de Rei do Crime. Paralelamente, ele tem o objetivo destruir tanto Matt Murdock quanto o Demolidor.
A terceira temporada de Demolidor é, basicamente, uma luta entre Matt Murdock e seus fiéis escudeiros contra Wilson Fisk. Digo basicamente porque é bem mais do que isso. Para derrotar Fisk, Matt precisa se recuperar não só fisicamente, mas, principalmente, espiritualmente, dos eventos mostrados tanto na série dos Defensores quanto nas temporadas anteriores de sua própria série. Nessa recuperação, lenta principalmente na parte espiritual, ele contará não só com o apoio de Foggy e Karen, mas também da Irmã Maggie (Joanne Whalley, de The Borgias – acima), outra personagem que também tem um papel significativo em A Queda de Murdock e que foi muito bem adaptada para a telinha.
Tecnicamente falando, a terceira temporada de Demolidor mantém a qualidade das anteriores. Tanto os atores que repetem seus personagens quanto os novatos estão bem em seus papéis, com o grande destaque para o Wilson Fisk de D’Onofrio. Hoje pode-se dizer sem dúvidas que ele está para o Rei do Crime como Robert Downey Jr. está para Tony Stark/Homem de Ferro. D’Onofrio tem o porte, a presença, o ritmo de fala e até mesmo a entonação ideais para encarnar a maior nêmesis do Demolidor. Será difícil arrumar outro ator para encarnar o personagem no futuro.
É claro que Demolidor tem seus defeitos, pequenos furos de roteiro e situações previsíveis, como interromper a história principal e dedicar boa parte do episódio seguinte a uma trama para humanizar mais este ou aquele personagem antes de retomar o fio da meada. Isso, no entanto, não afeta em absolutamente nada a qualidade da série, ainda mais quando ela não só é fortemente embasada no mais cultuado arco de histórias da personagem, como também faz referência a outras, especialmente Diabo da Guarda, minissérie escrita por Kevin Smith no final do século passado.
Com os treze episódios usuais, a terceira temporada de Demolidor tem tudo para agradar não só os fãs dos quadrinhos do personagem, quanto aqueles que o descobriram graças à Netflix. E, como a Disney está em vias de inaugurar seu próprio serviço de streaming, não duvido nada que esta seja a última temporada do Demônio de Hell’s Kitchen na Netflix. Se assim for (e os cancelamentos recentes de Punho de Ferro e Luke Cage indicam que sim), não poderia haver uma despedida melhor.
por Marcelo Seabra
Freddie Mercury foi o maior artista da música de todos os tempos. Juntando-se carisma, potência vocal, versatilidade, criatividade, presença de palco, talento para compor… Não existe um nome à altura. Bohemian Rhapsody (2018) é o longa que pretende contar um pouco da história desse ídolo que misteriosamente não havia ainda ganhado uma cinebiografia. Em meio a uma produção turbulenta, o projeto sofreu alguns baques. Mas, entre erros e acertos, o resultado é muito positivo e vai fazer muito marmanjo fã do Queen chorar como uma criança.
A ideia de levar a vida de Freddie ao Cinema estava sendo trabalhada há algum tempo. Sacha Baron Cohen, o Borat, ficou à frente do projeto até que “diferenças criativas” acabaram trazendo Rami Malek a bordo. O ator, que despontou com a série Mr. Robot, assumiu uma grande responsabilidade e sentiu o peso, como contou em diversas entrevistas. Com uma dentadura especial, que fazia sua arcada ficar pronunciada como a do cantor, Malek também buscou o figurino adequado e começou a entrar no personagem mesmo fora dos sets, para se ambientar. Tamanha dedicação é vista no longa. Malek encarna Freddie no nível de intérpretes como Val Kilmer (Jim Morrison) e Jamie Foxx (Ray Charles).
Além de um protagonista fantástico, o longa tem todo um elenco primoroso. Brian May (Gwilym Lee), Roger Taylor (Ben Hardy) e John Deacon (Joseph Mazzello) devem ter ficado assustados ao verem suas contrapartes no palco – ao menos May ficou, já que externou esse sentimento a jornalistas. Em outros papéis, temos gente do nível de Tom Hollander (de Missão Impossível: Nação Secreta, 2015), Aidan Gillen (de Game of Thrones) e até uma rápida participação de Mike Myers, o eterno Wayne Campbell, que diz que “não vê jovens balançando a cabeça no carro ouvindo uma música de seis minutos” – em referência clara a Quanto Mais Idiota Melhor (Wayne’s World, 1992).
A trilha sonora, recheada de canções de Freddie e companhia, ganha o espectador logo de cara. Além de Queen, que era óbvio, ela traz faixas curiosas como uma do Smile, a banda anterior de May e Taylor, além de outras que marcaram época – como Super Freak, de Rick James. Ter Brian May (ao lado, as duas versões do guitarrista) como produtor executivo musical faz toda a diferença: além de ter acesso aos direitos das músicas, o filme usa áudios originais de shows, o que traz ainda mais veracidade. Conhecendo a banda, já sabemos que se trata de um grupo de pessoas muito criteriosas, e May os representa bem. Ele e Taylor entram também como produtores, além de Jim Beach, advogado e empresário deles (vivido na tela por Hollander).
A produção do longa, capitaneada por Bryan Singer, é primorosa em sua reconstituição de época. Singer, envolvido em um escândalo sob acusação de estupro de um menor, acabou alegando razões pessoais e se afastando, com o produtor Dexter Fletcher (de Voando Alto, 2015) assumindo a cadeira. O roteiro original de Peter Morgan, especialista na “Rainha” (de The Crown e A Rainha, 2006), acabou nas mãos de Anthony McCarten (de O Destino de Uma Nação, 2017), que mexeu o suficiente para ganhar o crédito. O roteiro, talvez, tenha sido a maior falha do filme. A cronologia dos fatos, como a composição de certas músicas e a realização de shows, não é respeitada e causa confusão nos mais atentos, provavelmente alterada para fins dramáticos. We Will Rock You, por exemplo, teria sido gravada nos idos da década de 80, quando na verdade é de 1977.
Ainda entre os problemas do roteiro está a necessidade de criar vilões, caso do assessor promovido a secretário particular/amante de Freddie (Allen Leech, de O Jogo da Imitação, 2014). O pai (Ace Bhatti), um rígido parsi zoroastriano, acaba bebendo um pouco nessa fonte, mesmo erro observado em Johnny e June (2005), sobre Johnny Cash. O início da carreira de Mercury e do Queen poderia ter sido melhor abordado, mostrando os percalços pelos quais passaram, os shows que abriram (para, por exemplo, Mott the Hoople) e outros desafios já como celebridades, como compor trilhas sonoras para filmes. É opção dos envolvidos simplificar essas partes.
No entanto, Bohemian Rhapsody se preocupa mais em focar na solidão que Freddie vivia mesmo cercado por milhares. E, aí, reside uma das maiores críticas que tem sido feita ao filme: a suposta suavização da homossexualidade do cantor. Muitos têm apontado o problema, que a questão da sexualidade é deixada de lado para obter uma censura mais leve e, assim, atingir maior público.
O que os detratores se esquecem é que Freddie mantinha sua vida pessoal para si. As duas décadas em que ele viveu mais intensamente, os anos 70 e 80, foram marcados por forte homofobia. A AIDS, quando ficou conhecida, era chamada de doença de gays. Talvez por tudo isso, ele tenha tentado manter as aparências. E sempre considerou como o amor de sua vida Mary Austin (Lucy Boynton, de Assassinato no Expresso Oriente, 2017 – acima), com quem morou por seis anos e seguiu como sua melhor amiga até o fim. Mesmo assim, o filme deixa claro, com olhares num primeiro momento e depois com uma conversa e até um beijo, que Freddie era gay e parecia lutar com isso antes de conseguir se aceitar.
Que o cantor viveu loucuras regadas a drogas e sexo, ninguém tem dúvida. Se Bohemian Rhapsody não entra a fundo nesse ponto, é questão de foco. A história de Freddie se confunde com a história da AIDS, e isso fica muito claro. O roteiro pode buscar saídas fáceis, com alguns diálogos expositivos e simplificações. Mas ver a banda se apresentando no Live Aid, frente a milhares de pessoas indo à loucura, com tudo reconstituído à perfeição, supera qualquer coisa. Muitos dirão que poderia ter sido um filme melhor. Mas, ainda assim, o resultado não vai sair tão cedo da cabeça de quem assistir. E, porque não, ficamos na expectativa de uma continuação: The Show Must Go On.
por Marcelo Seabra
Segurando firme entre os filmes mais vistos no Brasil, Nasce Uma Estrela (A Star Is Born, 2018) ocupa a terceira posição no ranking e já entra em sua terceira semana de exibição. A nova versão da história originalmente lançada em 1937 marca as estreias de Bradley Cooper na direção e de Lady Gaga como atriz em um longa-metragem. A bem-sucedida empreitada ainda originou uma ótima trilha sonora, para ser ouvida em qualquer ocasião.
Oscarizada em 1938, com o prêmio sendo dividido pelos roteiristas William A. Wellman e Robert Carson, desta vez a história nos apresenta a um músico bem estabelecido que luta secretamente contra o vício em álcool e drogas no momento em que ele descobre uma aspirante a cantora e a ajuda a despontar. Esta é a quarta versão americana (além de uma de Bollywood) a chegar às telas, cada uma com pequenas alterações e adaptações para se encaixar melhor em sua época.
Lembrado como o cabeça do “bando de lobos” da trilogia Se Beber Não Case (The Hangover), Cooper deixou um pouco de lado as comédias para desenvolver o projeto que herdou do amigo Clint Eastwood. Com vários atores passando pelos papéis principais, como Will Smith, Leonardo DiCaprio, Christian Bale e Tom Cruise no masculino e Beyoncé no feminino, Cooper abraçou a oportunidade e, desde que viu Lady Gaga cantando num evento particular, entendeu que ela era sua protagonista.
Num festival de música no deserto californiano, Cooper conheceu Lukas Nelson (abaixo), filho da lenda da música Willie Nelson e líder da Promise of the Real, banda que tem servido de apoio para Neil Young. Nelson ajudou a treinar Cooper como um roqueiro experiente, além de produzir a trilha, aparecer no palco e compor várias das faixas, ao lado de Cooper e Gaga. A trilha, é bom reforçar, chama bastante a atenção. A carreira de Jackson Maine (Cooper) tem uns rocks bem interessantes, que flertam com o country, e Ally (Gaga) adiciona uma pegada mais pop.
Além de Cooper ser bem convincente no papel, esforçando-se inclusive para sua voz criar uma ponte para a de Sam Elliott (de Sem Proteção, 2012), seu irmão na ficção, é Lady Gaga a grande surpresa. A cantora, habituada a interpretar em seus clipes e shows, encarou de frente a tarefa e não deixa a desejar ao lado de colegas veteranos, como o ótimo Elliott, Andrew Dice Clay e Dave Chappelle. Na hora de cantar, então, ela se sente em casa, e a satisfação da dupla no palco é palpável. A química entre eles, imprescindível para o sucesso do filme, funciona perfeitamente.
Como diretor, Cooper não demonstra estar em seu primeiro trabalho. Com muita segurança, ele faz boas escolhas, da fotografia de Matthew Libatique (de Venom, 2018) à montagem de Jay Cassidy (de Joy e O Lado Bom da Vida, ambos com Cooper). Ele dá ao resultado uma fluidez de fazer inveja a muito cineasta calejado. Não será surpresa se alguns prêmios vierem pela frente. Um Oscar de Melhor Canção para Shallow é praticamente certo.
por Marcelo Seabra
Era de se esperar que a luta do país contra a corrupção da classe política gerasse um anti-herói para combatê-la. Não um mito, mas uma boa ficção. Ele é o protagonista de O Doutrinador (2018), longa nacional que chega aos cinemas essa semana com muita ação, adaptando a história em quadrinhos de mesmo título. Não bastaria ter um adolescente picado por uma aranha, ou um cientista atingido por um raio. Trata-se de um personagem genuinamente brasileiro, que surge do nosso contexto com características muito específicas nossas.
Outras histórias em quadrinhos já chegaram ao nosso Cinema, como O Menino Maluquinho, de Ziraldo, e a Turma da Mônica, que estreia com a adaptação live-action da belíssima Laços. O Doutrinador é o primeiro filme nos padrões de Marvel e DC, e lembra muito os personagens mais marginais das editoras, como o Justiceiro. A terceira temporada de Demolidor, que mostra que o Rei do Crime tem a cidade toda no bolso, vem muito à mente durante a sessão. Mas o longa consegue ter sua dose de originalidade e tudo flui muito bem, mostrando que o Cinema nacional não é só drama e comédia ruim.
Com várias alterações na criação de Luciano Cunha, cujo trabalho foi adaptado por Gabriel Wainer, o Doutrinador do Cinema surge quando um policial altamente qualificado de uma divisão especial sofre uma tragédia pessoal e vê na corrupção seu grande inimigo. Por causa das circunstâncias, Miguel vê a possibilidade de fazer justiça com as próprias mãos e não deixa barato. Logo, perseguir corruptos se torna a sua missão. Com uma máscara de gás e um capuz, ele se torna um assassino de colarinhos brancos, tentando equilibrar sua vida dupla e escondendo suas atividades ilícitas de seus colegas.
Na webcomic de Cunha, o Doutrinador é um ex-soldado da época da ditadura que aplica bastante crueldade em suas execuções. E as vítimas era políticos reais, como a ex-presidente Dilma Roussef e o senador Renan Calheiros. Para evitar processos, tudo no roteiro virou fictício, dos políticos, como o governador Sandro Corrêa, à cidade onde tudo se passa, Santa Cruz. A força policial da qual Miguel faz parte, ao invés de ser o BOPE ou o GATE, é a DAE: Divisão Armada Especial. Mas é muito fácil ver o Brasil ali, e alguns diálogos parecem diretamente inspirados em fatos. Temos até um sujeito de mais de 30 anos sendo chamado de “garoto” para justificar seus atos irresponsáveis e imaturos.
No papel principal, muito seguro e competente, está Kiko Pissolato, ator, escritor e empresário já visto diversas vezes na telinha, entre novelas e séries. Em sua grande oportunidade, Pissolato não deixa a desejar, respondendo bem nos aspectos talento e físico, mostrando um ótimo preparo. Ele inclusive dispensou o trabalho de dublês na maioria das cenas perigosas. Tainá Medina vive a hacker que acaba ajudando Miguel, além de trabalhar em uma loja de revistas em quadrinhos, numa meta-referência ao material-base. Pissolato e Medina lideram um grupo bem interessante que ainda inclui Samuel de Assis, Eduardo Moscovis, Tuca Andrada, Natália Lage, Eucir de Souza, Helena Ranaldi e Marília Gabriela, entre outros.
Tratando-se de um policial bem treinado, não é difícil aceitar as peripécias de Miguel. Tecnicamente, tudo funciona, da fotografia urbana aos efeitos especiais. Eticamente, muito deve ser discutido, mas não o é, e muita gente deve sair do cinema se sentindo vingada. Mesmo com soluções tão superficiais. Cenas convencionais do gênero, como o Doutrinador desviando de balas, não faltam. E nunca descobrimos o porquê do nome do personagem, atribuído pela mídia. Mas o filme é bem-sucedido o suficiente para nos fazer aguardar com ansiedade pela série que o canal Space filmou simultaneamente e que estreia na TV no segundo semestre de 2019.
por Marcelo Seabra
É bem comum que as pessoas saibam o nome do primeiro homem a pisar na Lua. Mas as circunstâncias que o levaram a isso não são tão conhecidas. Quem era Neil Armstrong? Por que ele foi o primeiro? Por que o projeto Apollo depositou tanta confiança nele? Isso é o que descobrimos assistindo a O Primeiro Homem (First Man, 2018), nova parceria de dois dos responsáveis pelo premiado La La Land (2017).
O diretor e roteirista Damien Chazelle se reuniu com o ator Ryan Gosling para contar a história de Armstrong, mostrando o astronauta como alguém bem normal, como qualquer um de nós. Mais ou menos como o Rocketman de Elton John: um sujeito que tem um emprego cinco dias na semana, que cumpre sua carga horária. Só tem algo de extraordinário: ele se prepara para sair do planeta. E não faltam riscos.
Como o forte do filme é humanizar o herói, sua família tem papel importante, e sua esposa é essencial. Claire Foy, mais lembrada como a Elizabeth II de The Crown, faz um ótimo trabalho, mas o roteiro não lhe reserva uma importância do tamanho de seu talento. Quando outros astronautas se ferem ou morrem em missões malsucedidas, há uma esposa em casa, sofrendo à espera de um sinal do marido, e Janet Armstrong acompanha o drama das amigas com o receio de um dia chegar a sua vez.
Tecnicamente, O Primeiro Homem é perfeito. Não deve ter competição à altura nas categorias técnicas do Oscar, como design de som. A claridade na tela cansa, com momentos em que é preciso fechar os olhos, mas o realismo impressiona. Nas cenas em que os astronautas estão na nave, sentimos junto com eles a apreensão. Afinal, qualquer coisa que dê errado pode colocar fim naquelas três vidas. E é interessante saber como a NASA chegou aos três.
O roteiro, baseado no livro de James R. Hansen, é assinado pelo oscarizado Josh Singer (de Spotlight, 2015). Por focar muito em Armstrong, ele deixa claro fatos a respeito do astronauta, como seus dias como engenheiro e a sua chegada na agência espacial. Mas acaba passando por cima de outras informações, que ficam faltando. Michael Collins (Lukas Haas, de O Regresso, 2015), por exemplo, parece surgir do nada, ao contrário de Buzz Aldrin (Corey Stoll, o vilão de Homem-Formiga, 2015), mostrado como um chato desde sempre.
A interpretação de Gosling, que não é lembrado por sua riqueza de emoções, torna o personagem um tanto frio, e esse sentimento acaba perpassando por toda a película. É difícil para o espectador se conectar, se importar genuinamente. É mais fácil se afeiçoar a Janet, devido ao trabalho de Foy. Com todas as qualidades mencionadas, O Primeiro Homem acaba sendo prejudicado por essa frieza, e fica até cansativo em certas passagens.
por Marcelo Seabra
Lá se vão 40 anos do novo clássico Halloween (1978), pai dos slasher movies que fez uma fortuna nas bilheterias e compreensivelmente fundou uma franquia, além de originar diversos curtas baseados nos personagens. John Carpenter dirigiu, produziu e escreveu o longa, além de compor várias músicas para a trilha. Algumas delas podem ser ouvidas em Halloween (2018), novo capítulo da série que curiosamente opta por desconsiderar todos os outros para ser a continuação direta do primeiro.
Não deve ter sido difícil tomar a decisão de esquecer as sete sequências e os dois de Rob Zombie, que recontam tudo. Carpenter escreveu o segundo e produziu o terceiro, que nem envolve o assassino Michael Myers – e que ganha uma menção neste novo através das máscaras da morte. Agora, ele ganha crédito como produtor e compositor, além de ser o criador dos personagens. Mas temos uma história 100% nova, respeitando o clima do primeiro. E com a mesma máscara.
No filme de 78 (acima), o pequeno Michael, de seis anos, mata a facadas a própria irmã adolescente e é internado. Quinze anos depois, antes de uma audiência, ele consegue fugir e seu psiquiatra sai em seu encalço. O psicopata volta à sua pequena Haddonfield e, por algum motivo, inventa de perseguir Laurie Strode, outra adolescente que trabalha como babá – o que parece se tornar a obsessão do sujeito. O final mostra o Dr. Loomis alvejando Michael e salvando Laurie, mas o corpo desaparece. No segundo filme, descobrimos que Laurie é irmã de Michael, daí a obsessão, mas isso é descartado.
De alguma forma, 40 anos depois, Michael reaparece em um hospício, onde passou todo esse tempo em silêncio e aparentemente catatônico. Misteriosamente, ele está em forma e é assustadoramente forte. Mas esse é apenas um dos mistérios que logo aprendemos a relevar. Um aluno do falecido Dr. Loomis, o Dr. Sartain (Haluk Bilginer, de Shelter, 2017), é agora o guardião de Michael e vai acompanhá-lo numa transferência de clínicas. No outro extremo, temos a incansável Laurie Strode esperando a volta de seu algoz.
O grande chamariz desse Halloween é trazer de volta Jamie Lee Curtis (acima), a grande rainha do terror norte-americano. É verdade que isso já tinha acontecido em Halloween H20 (1998), além de uma ponta no seguinte, o horroroso Halloween: Ressurreição (2002), mas nenhum dos dois teve sucesso em levantar a bola da franquia. David Gordon Green, diretor cujos últimos cinco filmes foram solenemente ignorados por crítica e público, entrou a bordo. Ele é mais lembrado pela comédia escrachada Segurando as Pontas (2008) e pelo drama familiar Contra Corrente (2004).
Além do diretor, outra surpresa é ter o comediante Danny McBride entre os roteiristas. Ele e Gordon Green são parceiros de longa data e trouxeram ainda o colaborador Jeff Fradley para escrever – os três estiveram juntos recentemente na série da HBO Vice Principals. E o trio consegue algo que parecia impossível: homenagear o original e conseguir seguir adiante ao mesmo tempo. Fãs do trabalho de Carpenter vão se deliciar com as várias referências, começando pelo letreiro de início. Mesmo marcada pelos assassinatos, Haddonfield continua aquela cidade pacata de interior, onde todos deixam portas e janelas abertas, e a fotografia de Michael Simmonds (de Nerve, 2016) quase nos leva de volta a 1978, com poucas alterações trazidas pela modernidade. Nick Castle, que deu vida à “Forma” (como Michael é citado) em 78, está de volta, além de outras participações especiais, como PJ Soles.
As inconsistências desse tipo de filme estão presentes. Primeiro, é complicado aceitar que Michael, um ser humano fisicamente normal, tenha tanta tolerância para dor. Ele toma um tiro e continua em frente. Segundo, temos algumas decisões burras sendo tomadas, como sair correndo quando se tem um revólver em punho, apenas para atender o roteiro. A lista poderia continuar, mas felizmente nada disso atrapalha a experiência de quem tem o clássico guardado com carinho na lembrança. Não significa dizer muito, mas essa conseguiu ser a melhor sequência do original.