Os Defensores chegam à Netflix hesitantes

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Em 2012, o Marvel Studios lançou Os Vingadores, filme que reunia os heróis que haviam tido filmes solo lançados pelo estúdio nos anos anteriores – Homem de Ferro (2008 e 2010), Hulk (2010), Capitão América (2011) e Thor (2011) – em um único longa para “enfrentar uma ameaça que nenhum deles poderia derrotar sozinho”. Seguindo essa mesma tendência, mas em uma dimensão bem menor, chega a vez da Netflix disponibilizar Os Defensores (Defenders, 2017), uma série que reúne sob o mesmo título Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Todos eles tiveram séries solo no serviço de streaming com resultados variáveis.

Os Defensores segue a mesma fórmula consagrada pela Marvel e reúne seus quatro protagonistas de maneira quase – mas não muito – casual para enfrentar uma ameaça que nenhum deles poderia encarar sozinho. Quando começamos a série, Danny Rand (Finn Jones) segue usando todos os recursos financeiros dos quais dispõe para, aliado a Coleen Wing (Jessica Henwick), realizar a missão de destruir o Tentáculo, organização criminosa milenar infiltrada em Nova York.

Paralelamente, vemos Matt Murdock (Charlie Cox) em sua nova função, realizando trabalhos pro bono após o fim da parceria com Foggy Nelson (Elden Henson); Luke Cage (Mike Colter) deixando a cadeia e tentando retomar sua vida e ajudar a colocar o Harlem nos eixos e Jessica Jones (Krysten Ritter) recebendo o pedido de uma esposa que a ajude a encontrar seu marido desaparecido. Inicialmente, Jessica recusa o caso, mas, como não poderia deixar de ser, certas circunstâncias fazem-na repensar sua decisão. Aos poucos, fatos envolvendo as vidas de cada um deles isoladamente fará com que se unam, ainda que de maneira bastante relutante, para ajudar Danny a cumprir sua missão e destruir o Tentáculo antes que a organização realize seus planos para a cidade.

Com a adição de Sigourney Weaver (de Chappie, 2015 – abaixo) como Alexandra, a principal chefe do Tentáculo, praticamente todos os principais coadjuvantes das séries anteriores voltam, como Clair (Rosário Dawson, o elo entre as séries da Marvel), Misty Knight (Simone Missick), Stick (Scott Glenn), Madame Gao (Wai Ching Ho), Karen Page (Deborah Ann Woll), Trish Walker (Rachael Taylor), Elektra (Elodin Yung) e Jeri Hogarth (Carrie-Ann Moss), entre outros. Defensores tem alguns dos mesmos defeitos de praticamente todas as séries do tipo, assim como seus méritos. Existem personagens que tomam decisões que não fazem muito sentido, a não ser para estender mais a história, e coisas que desafiam a suspensão de descrença, como um personagem sofrer um ferimento relativamente grave em um episódio e, horas depois, se envolver em uma luta como se nada tivesse acontecido.

Apesar disso, Defensores acerta em muitos pontos. O principal deles é o fato de os produtores terem optado por uma série com oito episódios ao invés dos treze habituais. Isso faz com que a trama seja mais ágil e não haja momentos arrastados nem subtramas criadas simplesmente para encher o tempo pré-determinado para a produção. Além disso, houve mais tempo para os atores se prepararem para as cenas de luta, o que melhorou bastante as sequências de pancadaria na série, especialmente no que diz respeito ao Punho de Ferro de Finn. Agora, ele parece mais um artista marcial do que em sua série solo.

Outro fator positivo se dá na atuação dos protagonistas, que estão bastante confortáveis em seus papéis. A interação entre eles flui de maneira bem natural. Os roteiristas também tiveram o cuidado de dar bom tempo de tela para todos os protagonistas, ainda que, em muitas vezes, por motivos que ficam óbvios à medida em que a série progride, o foco maior caia em Danny. Por outro lado, se Matt Murdock/Demolidor pareça um pouco apagado nos episódios iniciais, ele se torna um destaque nos episódios finais. Isso traz bastante equilíbrio. As sequências de luta, se não são um primor – nenhuma delas alcança o impacto da cena do Demolidor lutando no corredor na primeira temporada –, estão bem coreografadas e fazem sentido dentro do universo ali apresentado. Há uma falha aqui e ali, inclusive relativo ao CGI em uma das sequências finais, mas nada comprometedor.

Fãs de longa data dos quadrinhos ficarão satisfeitos tanto com uma cena envolvendo Misty Knight quanto a última delas, que faz referência a um dos gibis mais clássicos do Demolidor e deve – esperamos – definir o tom da terceira temporada solo do Demônio de Hell’s Kitchen. Defensores é um final satisfatório para a primeira fase dos heróis da Marvel na Netflix. Apesar das falhas, o produto, como um todo, funciona bem e cria diversas expectativas para o que vem a seguir.

Weaver foi ovacionada na Comic Con

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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