O ator é outro, mas a fórmula de Spartacus permanece a mesma

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Sucesso no canal Starz em 2010, a série Spartacus, agora com o subtítulo de Vengeance (Vingança), estreou  no último sábado, dia 10 de março, no canal a cabo Globosat HD, pouco menos de dois meses após o  primeiro episódio ter ido ao ar nos Estados Unidos.  A série traz uma nova abordagem à história do escravo que se torna gladiador e, rebelando-se contra seus mestres, foge, organiza uma espécie de exército e ameaça a hegemonia romana por quase dois anos.

Vengeance é sua segunda temporada oficialmente, e chega cercada de expectativas, principalmente depois das turbulências que enfrentou no ano passado. Após sete episódios exibidos nos Estados Unidos, podemos perceber que algumas das mudanças – sendo a principal delas a substituição do protagonista, Andy Whitfield, morto ano passado devido a um câncer, por Liam McIntyre – não alteraram as características mais marcantes da série. A mudança de foco nessa temporada, no entanto, pode pegar alguns dos fãs de surpresa.

NOTA: A partir daqui, há spoilers para aqueles que não assistiram à temporada anterior, Blood and Sand, ou à minissérie Gods of the Arena.

Se a primeira temporada da série, Blood and Sand, teve seu foco principalmente nas lutas nas arenas, enquanto também abordava as incessantes tentativas de Quintus Batiatus (John Hanna – ao lado) e sua esposa Lucrecia (Lucy Lawless) de deixarem seu papel de coadjuvantes na sociedade romana e ocuparem um lugar de destaque no Senado Romano, Vengeance é uma história de fuga e captura. Guardadas todas as devidas proporções, há, aqui, uma certa semelhança com a segunda temporada de Prison Break.

Ao final de Blood and Sand, Spartacus e seu séquito estão livres. Pelo menos, livres do ludus de Batiatus, deixando uma trilha de sangue e corpos atrás de si. Os escravos estão escondidos nos esgotos de Cápua, realizando ataques aqui e ali para obter comida e novos recrutas, enquanto rechaçam repetidamente as tentativas de captura pelos romanos.

Logo de cara, vê-se que o grupo de Spartacus tem uma cisão. Uma parte do exército é liderada pelo trácio e seu braço direito, Agro (Daniel Feuerriegel), além da amante de Spartacus, Mira (Katrina Law). A outra, composta majoritariamente por gauleses, se agrupa ao redor Crixus (Manu Bennet – ao lado). Os grupos têm objetivos, inicialmente, diferentes: Spartacus quer levar os escravos fugitivos para as montanhas do leste, encontrar navios e se livrar dos domínios romanos, onde, aí sim, poderiam conquistar sua liberdade; já Crixus quer ir para o sul, em busca de Naevia (Cynthia Addai-Robinson, de Flash-Forward, substituindo Lesley-Ann Brandt, que viveu a personagem nas duas temporadas anteriores), escrava pela qual se apaixonara e da qual foi afastado quando Lucrecia descobriu o romance, quando ela costumava usar o gladiador como seu brinquedo sexual.

Paralelamente, vemos a disputa entre aqueles que querem a glória da captura de Spartacus para si. O agora Pretor Claudius Glaber (Craig Parker), responsável pela captura do futuro Spartacus em Blood and Sand, quer o direito da captura para si, visando subir no Senado de Roma. No entanto, ele enfrentará a concorrência de Varinius (Brett Tucker) e, principalmente, do jovem Seppius (Tom Hobbs), ambos com mais recursos e homens do que Claudius. O pretor, no entanto, terá ajuda para compensar essa desvantagem, como Ashur (Nick Tarabay), antigo intendente de Batiatus, um ex-gladiador que culpa Crixus por sua falta de glórias na arena.

Todos os elementos que tornaram Spartacus uma série de relativo sucesso estão lá: as conspirações, a nudez, o sexo, o sangue. Aqueles que já acompanhavam a série verão poucas novidades. Causa estranheza ver McIntyre em cena, no lugar de Withfield, mas até o momento ele vem dando conta do recado. Até porque seu papel exige mais esforço físico do que mental, por assim dizer. Nos primeiros episódios há uma certa falta de cenas nas arenas, se compararmos com as temporadas anteriores. A ação e as conspirações, no entanto, continuam lá e espera-se que façam com que a série renda mais algumas temporadas, ainda que não haja a possibilidade de um final feliz para Spartacus e seus companheiros, caso os produtores decidam se ater ao destino final que foi reservado à figura história real que lhes serviu de inspiração.

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O poço de Nicolas Cage é bem fundo

por Marcelo Seabra

Imagine misturar o clássico Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951) com o dramalhão A Corrente do Bem (Pay It Forward, 2000). Daria um longa onde um personagem mata quem causa problema para outro e a dívida passa adiante, com todos ao mesmo tempo sendo beneficiados e tendo um dever a cumprir, dificultando o trabalho da polícia por não terem ligação alguma entre si. Eu assistiria a este filme. E é o que parecia ser O Pacto (Seeking Justice, 2012). Mas, ultimamente, um filme com Nicolas Cage nunca é o que parece – é sempre pior.

Alguns atores podem ser acompanhados de perto por seus fãs, já que dificilmente fazem um trabalho muito ruim. Há poucos dias, um amigo observou esse fato a respeito de Denzel Washington, cuja presença sempre o motiva a conferir uma obra. Nicolas Cage já foi um destes profissionais inspiradores de tal confiança. Já foi. Há muito tempo. Depois de assistir, em um curto período de tempo, a O Pacto, O Motoqueiro Fantasma 2, Reféns, Fúria Sobre Rodas, Caça às Bruxas e Aprendiz de Feiticeiro, não há quem resista.

Demonstrando claramente, mais do que nunca, que tem muitas contas a pagar, Cage encarna um pacato professor de literatura de uma escola pública – nada mais longe do que esperamos dele. Até aí, uma escolha corajosa. Não é todo mundo que toparia declamar Shakespeare em frente a uma turma de jovens que, parece, não querem nada com nada. Para que isso fique ainda mais claro, em um roteiro óbvio, mal escrito e inconsistente, esses jovens são vistos brigando constantemente. E o professor é o cara centrado que busca trazer a eles a salvação através do estudo.

Há apenas uma pequena demonstração do maníaco que Cage guarda em si. O único indicador dos famosos chiliques do ator acontece na boate, rapidamente. Tudo corre bem até que a esposa é atacada. Depois do estupro e agressão, na sala de espera do hospital, o professor é abordado por um sujeito misterioso que se mostra solidário à dor de ter um parente agredido dessa forma e faz uma oferta tentadora. Bastaria um sim para que ele mobilizasse sua organização para fazer o que as autoridades dificilmente fariam: punir o agressor. Cage ficaria apenas devendo um favor, que viria no momento necessário. Nada que a máfia já não faça há décadas.

Após uma premissa interessante, começa o festival de estranhezas e percebemos ser este um filme comum na carreira de Cage, mesmo que ele esteja mais contido. É algo que outros atores devem ter dispensado e que acabou chegando em suas mãos. Nem Liam Neeson, que anda provando ser capaz de fazer ações medianas, não aceitaria isso. E a companheira de Neeson em Desconhecido (Unknown, 2011), January Jones (acima), prova novamente que é apenas um rostinho bonito, o que já dava para concluir assistindo à série Mad Men ou a X-Men: Primeira Classe. Ela vive a esposa rasa e estereotipada, indo do modelo de perfeição à vítima que terá mania de perseguição até o fim de seus dias. Algumas das piores falas saem de sua boca.

O vilão de O Pacto, Simon, é claramente um psicopata disfarçado de benfeitor. Sabemos de cara que sua oferta não sairá de graça, pelo contrário, e a transformação do personagem é tão esperada quanto exagerada. Guy Pearce (ao lado), que se mostrou um fantástico intérprete em diversos trabalhos, como Los Angeles – Cidade Proibida (L.A. Confidential, 1997) e Amnésia (Memento, 2000), não tem o que fazer como o tal misterioso líder da organização que pretende limpar a Louisiana. Outro desperdício é Jennifer Carpenter, lembrada como a Tenente Debra Morgan ou a exorcizada Emily Rose, que apenas mostra a cara e não diz a que veio.

O diretor Roger Donaldson conduziu filmes famosos dos anos 80, como Sem Saída (No Way Out, 1987) e Cocktail (1988). Apesar dos pesares, teve altos nas décadas seguintes, como A Experiência (Species, 1995) e Treze Dias que Abalaram o Mundo (13 Days, 2000). E assinou em 2008 o interessante Efeito Dominó (The Bank Job). Mas Donaldson não anda em boa forma, entregando uma obra enfadonha e previsível onde nada funciona. Não chega a ser o pior trabalho de Nicolas Cage – o que não significa muito. Para Donaldson, no entanto, este é um sério candidato.

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Aventura à moda antiga leva o homem a Marte

por Marcelo Seabra

Apesar de ter criado diversos personagens e escrito inúmeras histórias, seja de ficção ou não, Edgar Rice Burroughs é sempre lembrado por seu livro mais famoso: Tarzan dos Macacos, publicado em 1912. Chegou a hora de um outro herói de Burroughs ganhar destaque e o aventureiro John Carter estreia nas telas em um longa caro, bem feito e divertido. O que todo arrasa-quarteirão deveria ser, nada mais que bom entretenimento.

Depois de ter passado pelas mãos de Robert Rodriguez, Kerry Conran e Jon Favreau, este projeto parecia destinado ao engavetamento. Quando a Paramount abriu mão dos direitos de adaptação para se dedicar ao reinício da franquia Star Trek, a Disney não perdeu tempo e garantiu o sinal verde, escalando o diretor Andrew Stanton. Depois de animações elogiadíssimas como Wall-E (2008) e Procurando Nemo, Stanton decidiu partir para o live-action – mesmo que usando o fundo verde e uma grande quantidade de efeitos especiais. Todos muito dignos, diga-se de passagem. O 3D não chega a fazer uma diferença gritante, mas enriquece algumas tomadas e não escurece a tela.

A projeção começa e somos apresentados a Marte, planeta conhecido por seus habitantes como Barsoom. Após termos uma amostra de como anda a situação política por lá, voltamos à Nova York de 1881, onde John Carter (Taylor Kitsch, o Gambit de Wolverine, de 2009) é seguido e tem que despistar seu desconhecido seguidor. O sobrinho de Carter, Edgar Rice Burroughs (Daryl Sabara, da franquia Pequenos Espiões, em uma homenagem ao escritor), é chamado para cuidar do espólio do falecido tio. No diário que ele recebe está a história completa do ex-capitão do exército dos confederados.

Carter é um veterano da Guerra Civil que busca ouro no velho oeste e se cansou de guerras. Enquanto luta contra oficiais norte-americanos e índios, ele descobre um artefato que magicamente o leva a Marte. Lá, por uma diferença na gravidade, ele precisa dominar o simples ato de caminhar, já que é capaz de pulos gigantescos. Em pouco tempo, Carter conhece três sociedades diferentes que precisam viver em harmonia para o bem do planeta, mas estão longe disso. Claro que, mesmo que ele não queira tomar partido, isso acaba acontecendo.

O roteiro, escrito por Stanton e pelo colega Mark Andrews e revisado pelo novelista Michael Chabon, não é a coisa mais original que já se viu. Ele se baseia basicamente no livro Uma Princesa de Marte, publicado originalmente numa revista pulp em seis fascículos mensais com o título Sob as Luas de Marte. A história é um pouco previsível e até piegas, com a batida figura do herói relutante que é obrigado a vencer seus traumas e lutar numa batalha honrada. Mas a forma como é contada é contagiante e acabamos perdoando alguns furos e o fato de não haver um vilão realmente interessante. Dominic West (de 300, 2006) e Mark Strong (de O Espião que Sabia Demais, 2011) ocupam esses papéis, mas não convencem. O elenco ainda conta com participações de James Purefoy, Ciáran Hinds e Bryan Cranston em formas humanas e Samantha Morton, Thomas Haden Church e Willem Dafoe como criaturas irreconhecíveis. A bela princesa de Marte é vivida por Lynn Collins (também de Wolverine) com a força necessária, nunca se relegando ao papel de mocinha em perigo.

O protagonista, Taylor Kitsch, foi descoberto na série de TV Friday Night Lights e vem tendo uma carreira tímida. Este é o seu primeiro papel de grande destaque e ele tem uma interessante combinação de sex appeal e humor que contribui bastante com o papel, além de não se levar tão a sério. Seu figurino lembra um pouco Charlton Heston em O Planeta dos Macacos (1968), e este é apenas um dos filmes que passam pela cabeça durante os 132 minutos de exibição. Entre os lançamentos mais recentes estão Cowboys & Aliens (2011) e Avatar (2009), mas não se trata de uma cópia, apenas de referências.

John Carter – Entre Dois Mundos não parece ter criado muita expectativa nos Estados Unidos, muito menos no Brasil. E o orçamento anunciado de algo em torno de US$ 250 milhões será difícil de cobrir, o que pode transformar o longa em um fracasso retumbante. As poucas críticas já disponíveis, publicadas após a permissão da Disney, estão bem divididas, indo desde elogios ao grande filme-pipoca do ano a críticas a um pastiche que agradará apenas o público infantil. Não vamos a extremos, não é onde o filme está. Apesar de ter um final que fura sua própria lógica, trata-se de uma boa aventura, à moda antiga, que vale a conferida.

O diretor Stanton dá instruções a Kitsch

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Comédia brasileira aposta em porco mal animado

por Marcelo Seabra

Nem sempre Selton Mello escolhe bem. Tido como um dos grandes atores de sua geração, ele anda trabalhando muito e acaba fazendo escolhas duvidosas. Esse é o caso de Billi Pig (2012), comédia sem pé nem cabeça – nem graça – que está em cartaz no país. A ex-modelo e ex-BBB Grazi Massafera fez dessa produção a sua estreia no cinema, mas não foi dessa vez que a atriz fez barulho.

Como de costume, Mello interpreta ele mesmo. Com frequência, isso tem funcionado,  mas não foi o caso. E Grazi faz o mesmo, evitando muito esforço na composição da personagem. A mesma coisa que vemos nas novelas, vemos em Billi Pig. E é exatamente essa a impressão que dá: que o filme poderia ter sido um especial da Globo de 30 minutos. Talvez, se condensado, funcionasse melhor, valorizando as poucas piadas aceitáveis que apresenta.

A trama – sem o menor sentido – começa com um traficante figurão (Otávio Müller) procurando o milagre que tiraria sua filha do coma. A menina foi baleada pela “concorrência” e o vendedor de seguros e pilantra Wanderley (Mello) vê aí uma oportunidade de ganhar um bom dinheiro. Ele envolve o padre Roberval (Milton Gonçalves), suposto milagreiro, no golpe e aproveita para, de quebra, oferecer um pouco de luxo para a bela esposa (Grazi), uma aspirante a atriz bem canastrona.

A ideia era fazer uma comédia escrachada, quase uma chanchada, algo a que José Eduardo Belmonte não estava acostumado. O diretor vinha dos dramas densos Se Nada Mais Der Certo (2008) e Meu Mundo em Perigo (2007) e se perdeu com um roteiro cheio de personagens dispensáveis, números musicais completamente equivocados e interpretações que beiram o ridículo, com sotaques inexplicáveis, maneirismos exagerados e fora do tom e um quê teatral que talvez funcionasse melhor em palcos. Ou não.

O tal porco Billi (por que Billi Pig?) é um brinquedo que serve como conselheiro para a desvairada Marivalda. Por pior que possa parecer, o porco começa realmente a falar, deixando de ser apenas a imaginação da aspirante a atriz e chega até a fazer uma ligação telefônica – sempre com aquele defeito especial mais ordinário. Toda a concepção do filme já começou errada, já que ele foi construído em cima do tal porco, um péssimo ponto de partida. E o milagre, tão aguardado, pode ou não acontecer, de acordo com a conveniência do roteiro.

Milagre, mesmo, seria essa sucessão de equívocos agradar a alguém. No meio de tanta gente deslocada e participações especiais que não mostram a que vieram (o que a cantora Preta Gil e o competente Milhem Cortaz estavam fazendo ali?), quem se salva é o veterano Milton Gonçalves, que consegue ter uns poucos momentos inspirados em meio à mediocridade geral. Mas não é nem perto do suficiente para garantir o preço do ingresso – ou o tempo perdido.

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Grandes poderes fazem personagens bem interessantes

por Marcelo Seabra

Filmes sobre pessoas com poderes sobrehumanos costumam tratar temas semelhantes, como exclusão social, solidão, inadequação em geral. As franquias dos X-Men e do Quarteto Fantástico são bons exemplos. Agora, imagine cruzar esse filão com a interminável moda dos “filmes compostos por filmagens perdidas (e achadas)”. Pode-se dizer que Homem Aranha mais A Bruxa de Blair é igual a Poder Sem Limites (Chronicle, 2012). E a soma, assim como as parcelas, é positiva.

O inconveniente desse tipo de filme permanece, apesar de não incomodar o tempo todo: a necessidade de se ter sempre uma pessoa filmando acaba ficando irritante, para não dizer inverossímil. Por que alguém simplesmente decide começar a filmar sua própria vida? Por que alguém dentro de um carro despencando continuaria a filmar? O diretor estreante Josh Trank até arruma algumas boas saídas, como cortar em certos momentos e deixar o público entender as cenas seguintes sem precisar necessariamente vê-las. E passar a utilizar também as cenas filmadas por outros personagens e figurantes, como se a edição final dependesse de todos eles para existir. Como já foi dito, é inverossímil, mas não deixa de divertir.

Um belo dia, como quem prevê que algo extraordinário está para acontecer, Andrew (Dane DeHaan (das séries True Blood e Em Tratamento) decide comprar uma câmera e sair filmando tudo à sua volta, para desgosto de Matt (Alex Russell). Eles sempre vão juntos para a escola, mas Matt tem vergonha e evita aparecer em público com seu estranho primo. Se os estudantes fossem divididos em três grupos de acordo com a sua popularidade, Andrew estaria no pior, Matt seria um intermediário e Steven (Michael B. Jordan, de Friday Night Lights) seria o popular.

Do lado de fora de uma festa à qual todos acabaram indo, os três personagens são reunidos em torno de um brilho misterioso que, após um simples toque, confere poderes a eles. Logo, Andrew, Matt e Steven descobrem ter graus de potência e capacidade de controle diferentes. Com exercícios frequentes, eles vão adquirindo prática e logo veem a necessidade de estabelecer regras, para que a situação não saia do controle ou ganhe publicidade.

O que mais funciona em Poder Sem Limites é o fato de cada um ter uma personalidade bem específica e de o roteiro se preocupar em proporcionar um desenvolvimento a eles, e não correr logo para o que importa. Também novato, o roteirista Max Landis, filho do lendário diretor John Landis (de “clássicos” como Um Lobisomem Americano em Londres e Os Irmãos Cara de Pau) deixa pequenos buracos, mas cria situações que fazem o público se identificar com os garotos e se preocupar com seus destinos, o que é fundamental para o sucesso de qualquer filme, série, peça ou livro.

Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, como diria o saudoso Tio Ben Parker. Se a cabeça não está preparada, o corpo pode fazer estragos memoráveis, e adolescentes imaturos não são exatamente o que se pode chamar de preparados. Andrew, Matt e Steven terão um longo caminho não só para aprenderem a dominar seus poderes recém-adquiridos, mas para terem sabedoria ao usá-los.

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Ryan Gosling é quase um super-herói em Drive

por Marcelo Seabra

Tido, lá fora, como um dos melhores filmes de 2011 – até o melhor, para alguns -, Drive finalmente chega aos cinemas brasileiros, com alguns meses de atraso. E, estranho, sem título nacional ou subtítulo, como manda a moda atual. Exageros à parte, realmente trata-se de um filme diferente do usual, e bom. Muito bom! Só mantenha distância do trailer, que entrega demais e não faz jus à obra.

Um nome que ainda será muito ouvido é o de Nicolas Winding Refn (Bronson, Valhalla Rising), diretor, produtor e roteirista cult dinamarquês. Como diretor, ele faz sua estreia no cinema americano com Drive, e chamou ninguém menos que Ryan Gosling para estrelá-lo. Gosling, só este ano, foi indicado a Melhor Ator nos Globos de Ouro nas duas categorias possíveis: Drama (com Tudo Pelo Poder) e Comédia (por Amor a Toda Prova). Esta dupla só poderia mesmo fazer barulho. Se a Academia esnobou o longa, pior para ela. Winding Refn foi o melhor diretor em Cannes.

Quando o longa começa, somos apresentados a uma figura um tanto enigmática, um sujeito caladão que trabalha como piloto de fuga sob contratos rápidos. Ele não se envolve, garantindo apenas tirar os criminosos que o empregam da cena do crime. Durante cinco minutos, ele faz o que for necessário, levando os cliente aonde precisarem, e desaparece com a mesma facilidade. De dia, ganha dinheiro honestamente como dublê em filmes para cenas com veículos e como mecânico na oficina do amigo Shannon (Bryan Cranston, de Breaking Bad). Como o próprio Gosling disse, este é o seu filme de super-herói, ou o mais próximo que chegará de participar de um.

Como acontecia em filmes noir, os problemas do piloto sem nome começam quando ele se deixa envolver por uma mulher. A doce Irene (Carey Mulligan, de Não Me Abandone Jamais) começa a ficar próxima, assim como seu filho, mas a saída do marido (Oscar Isaac, de Robin Hood) da prisão é iminente. Num ato benevolente que só os cavaleiros solitários são capazes (como fazia Clint Eastwood), o motorista decide ajudar o ex-presidiário em um golpe que o deixaria livre dos antigos comparsas. Como dá para prever, muita coisa vai dar errado.

Na turma do suporte, chama a atenção a atuação de Albert Brooks, ator que sempre me faz lembrar do “clássico da sessão da tarde” Um Visto para o Céu (Defending Your Life, de 1991). Ele foi indicado nos Globos de Ouro como melhor coadjuvante e realmente está muito seguro no papel de golpista mor. Pena que a Academia o tenha ignorado. Acompanha-o Ron Perlman (o próprio Hellboy) e há ainda uma pequena participação de uma quase disfarçada Christina Hendricks (a principal atração feminina de Mad Men).

É interessante perceber que, em pleno 2011, Refn tenha optado por uma estética oitentista. Das roupas do protagonista à trilha sonora, passando pelas tomadas gerais de uma grande metrópole (no caso, Los Angeles), tudo remete à década e a filmes como Viver e Morrer em Los Angeles (To Live and Die in L.A., de 1985), Chuva Negra (Black Rain, 1989) ou mesmo aos livros de Bret Easton Ellis (como Abaixo de Zero ou Psicopata Americano, ambos já adaptados ao cinema).

Talvez numa tentativa de ser um novo Steve McQueen, Gosling mantém uma atitude cool e uma aura de mistério. Poderia parecer forçado, mas cai como uma luva para o personagem. O motorista faz o que precisa fazer e vai até onde deve, o que traz ao filme um toque de violência. O Chevy Impala modificado que ele dirige é o carro ideal: discreto e possante. Bem como o próprio filme. Para o fim, não espere shows com espetáculos pirotécnicos. Um final simples e direto pode ser ainda mais poderoso.

Who's gonna drive you home... tonight?

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A Cobertura Completa do Oscar 2012

por Marcelo Seabra

Às 22h30, horário de Brasília, começa a 84ª edição dos prêmios da Academia. Isso, depois de uma longa cobertura da chegada dos astros ao teatro antes conhecido como Kodak. A empresa faliu, foi desobrigada pela Justiça a honrar o patrocínio da casa e o novo nome do teatro é Hollywood and Highland Center. Uma palhaçada com Sacha Baron Cohen, ou “O Ditador”, chamou atenção, tudo claramente combinado previamente – não sei se o apresentador do canal E! sabia, já que parece não ter gostado nada da pegadinha. Isso, além do tradicional desfile de vestidos e cabelos espalhafatosos, nem todos de bom gosto.

Os campeões de indicações são O Artista e A Invenção de Hugo Cabret, mas vai ter oportunidade para muitos longas. Para vários dos concorrentes, já é ótimo ter sido indicado. Quem, por exemplo, havia ouvido falar em Demián Bichir, o ator lembrado por um belo trabalho em Uma Vida Melhor?  Chegando direto em DVD no mercado nacional, o filme certamente vai sair bastante das prateleiras. Bichir, famoso em seu México natal, já havia sido Fidel Castro nos dois Che, mas nada como uma indicação ao Oscar.

Pontualmente, entra Morgan Freeman no palco para uma rápida introdução à cerimônia. E entra o tradicional video de Billy Crystal (ao lado) interagindo com alguns dos filmes indicados da noite. É a nona vez que ele apresenta e temos que aguentar uma longa música que menciona os nove indicados a Melhor Filme. E é ressaltado que a noite será para um, enquanto todos os demais ficarão tristes. Aquela história de diminuir o peso da competição foi pro espaço.

A primeira categoria da noite, apresentada por Tom Hanks, é Melhor Fotografia. Hugo começa bem, com a estatueta careca para um figura de cabelão e barba brancos, praticamente o Gandalf – Robert Richardson. E Hugo leva outra em seguida, para Melhor Direção de Arte: Dante Ferretti e Francesca Lo Schiavo. O primeiro bloco é encerrado com dupla premiação para Hugo.

A Academia sempre tenta cortar tempo, mas outro clip desnecessário é apresentado. E seguem com Melhor Figurino, em que O Artista emplaca seu primeiro prêmio, para Mark Bridges. Jennifer Lopez e Cameron Diaz continuam no palco para Melhor Maquiagem. E nada como Meryl Streep como propaganda: A Dama de Ferro ganha, com Mark Coulier e J. Roy Helland. Outro clip – sobre as primeiras impressões sobre cinema – e outro comercial.

Sandra Bullock, em uma fantástica fala em chinês com leve sotaque alemão, chama a categoria de Melhor Filme Estrangeiro, exaltando a diversidade. E se dá o que todos esperavam, o único dos indicados que chegou aos cinemas brasileiros é premiado: A Separação, do Irã. Christian Bale, vencedor no ano passado por O Vencedor, apresenta a Melhor Atriz Coadjuvante. Como essa Melissa McCarthy conseguiu uma indicação? Como o filme dela foi lembrado? Não deve levar nada. E dá outra barbada: Octavia Spencer, do fraco Histórias Cruzadas. Em meio a choro, Octavia agradece ao estado do Alabama, ao elenco, a Deus e a todos mais que ela lembrou.

Billy Crystal chama um engraçado video sobre as pessoas que eram contratadas para assistirem os filmes e darem opiniões, as platéias-teste. Muitas obras foram alteradas por este tipo de prática. No trecho, a turma de Christopher Guest protagoniza o momento após a sessão de O Mágico de Oz, dando um retorno esdrúxulo. A próxima categoria é com Tina Fey e Bradley Cooper, Melhor Edição. Recebem os Oscars Angus Wall e Kirk Baxter, de Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres. A seguinte é Edição de Som e fica com A Invenção de Hugo Cabret: Philip Stockton e Eugene Gearty. E a Melhor Mixagem de Som também fica para Hugo, com Tom Fleischman e John Midgley.

Comprovando um certo favoritismo na canção, os Muppets Caco (ou Kermit) e Piggy aparecem para chamar uma apresentação de acrobacias do Cirque du Soleil que homenageia o cinema, reforçando o tema da noite: o saudosismo, o cinema antigo e básico. “Agora sim, isso é uma festa”, brinca Crystal. Robert Downey Jr. finge estar participando de um documentário, discute com Gwyneth Paltrow e eles chamam o Melhor Documentário: Undefeated, de T.J. Martin, Daniel Lindsay e Richard Middlemas. Chris Rock faz graça sobre a suposta facilidade que é trabalhar com dublagem e chama o Melhor Longa de Animação: Rango, de Gore Verbinski, no primeiro ano sem a Pixar na disputa. Também, o que esperar de Carros 2?

Uma alta e maravilhada Emma Stone entra, com o baixinho Ben Stiller, e ela comemora a primeira apresentação de um prêmio de sua vida. A categoria é Melhores Efeitos Visuais e os candidatos são bons, mas a noite é de Hugo. Infelizmente, em especial para o macaco César. É mais um grupo que agradece a Martin Scorsese: Robert Legato, Joss Williams, Ben Grossmann e Alex Henning. Bom que Transformers não ganhou nada. Melissa Leo, também de O Vencedor (como Christian Bale), vai anunciar o Melhor Ator Coadjuvante, que parece estar entre Christopher Plummer e Max von Sydow. Plummer leva, como esperado, diz que tem seu discurso de vencedor do Oscar desde que saiu do útero da mãe e aproveita seu tempo ao máximo. Toda Forma de Amor (ou Beginners) é um filme discreto, bem simples, e nem por isso desinteressante. E Plummer, aos 82 anos, é o ator mais velho a ganhar um Oscar (é dois anos mais novo que o careca da Academia).

O presidente da Academia, Tom Sherak, faz um merchandising rápido, para em seguida Crystal chamar Penélope Cruz e Owen Wilson, dois atores de Woody Allen, para Melhor Trilha Sonora. Como alguém poderia bater O Artista? O maestro autodidata Ludovic Bource indica que Hugo já levou o que podia, agora é com O Artista. Will Ferrell e Zach Galifianakis fazem bagunça com címbalos para chamarem a Melhor Canção Original, acabando com a alegria do Brasil. Rio não venceu, deixando para Man or Muppet, de Os Muppets, composta por Bret McKenzie.

Angelina Jolie, “a garota original com a tatuagem do dragão”, aparece, se achando muito sexy, para apresentar o Melhor Roteiro Adaptado. Era esperado, mas não muito merecido, que Os Descendentes levasse, e é o segundo prêmio de Alexander Payne (de Sideways), e recebem também Nat Faxon e Jim Rash. O Melhor Roteiro Original também era certo, para Woody Allen, que nunca vai à festa. Meia Noite em Paris ganha, e Allen recebe depois, em casa.

Milla Jovovich lembra os técnicos que levaram os prêmios em uma cerimônia à parte. Inovações como as vistas em A Árvore da Vida não passaram em branco. Depois, sobe o elenco do horroroso Missão Madrinha de Casamento, com piadinhas óbvias de tom sexual, para coroar o Melhor Curta MetragemThe Shore – e Melhor Documentário em Curta MetragemSaving Face. E ainda o Melhor Curta Animado, que ficou para The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore.

O prêmio que Michael Douglas anuncia é um dos mais esperados: Melhor Diretor. Entre cinco grandes nomes, Michel Hazanavicius (ao lado) é ovacionado, mais uma consagração para O Artista. De suas três indicações (Edição e Roteiro Original também), Hazanavicius ficou com a principal. A mais que consagrada Meryl Streep conta quem foram os honrados na Governor’s Award, a festa que acontece na véspera do Oscar. Os prêmios honorários foram para o ator James Earl Jones, a empresária e filantropa Oprah Winfrey e o maquiador Dick Smith.

No bloco seguinte, foi o momento de lembrar dos profissionais falecidos neste último ano. O clip é acompanhado por uma singela interpretação ao vivo de What a Wonderful World e saúda nomes como Cliff Robertson, Sidney Lumet, Farley Granger, Laura Ziskin e Whitney Houston. Para encerrar, ninguém melhor que a Cleópatra Elizabeth Taylor. O bloco seguinte volta com mais um clip com atores falando sobre o que faz um filme ser inesquecível.

Natalie Portman recita sobre cada um dos indicados a Melhor Ator. Demián Bichir é o imigrante ilegal que luta por uma vida melhor; George Clooney é o sujeito normal numa situação inusitada; Jean Dujardin faz o astro que tinha que se adaptar ao som; Gary Oldman tem surpreendentemente sua primeira indicação como o icônico espião George Smiley; e Brad Pitt é o gerente do esporte que fez milagre com pouco dinheiro e levou vitória a um time azarão. Entre Clooney e Dujardin, ganhadores do Globo de Ouro, o prêmio ficou para Dujardin, que havia levado o prêmio do sindicato dos atores. Seu discurso, lido, homenageou até Douglas Fairbanks, o primeiro apresentador do Oscar, e se encerrou com um alto merci beaucoup.

Colin Firth vai chamar a Melhor Atriz, e apresenta: Glenn Close, o sr. Albert Nobbs; Viola Davis, a empregada nos Estados Unidos racistas da década de 60; Rooney Mara, a hacker investigadora, que teve sua estrela em ascensão em tempo recorde; Meryl Streep, a dama de ferro recordista de indicações; e a experiente Michelle Wiliams, a nova Marilyn do cinema. A aposta parecia certa, mas poderia dar uma zebra, algum tipo de compensação ou jogada politicamente correta. No fim, deu Meryl, em seu terceiro Oscar, sua 17ª indicação, iniciando sua quinta década de trabalho.

Para finalizar, passando de 1h30 da manhã, Tom Cruise apresenta nove razões para que gostemos de ir ao cinema. Uma montagem reúne imagens e sons dos indicados a Melhor Filme e Cruise, depois de parabenizar a todos, conclui: O Artista! O produtor Thomas Langmann agradece, Billy Crystal encerra e O Artista e Hugo saem empatados, cada um com cinco vitórias. Claro que as categorias do francês são tidas como mais importantes. E trata-se do primeiro longa mudo a ganhar o Oscar de Melhor Filme desde 1929 – o segundo da história (depois de Asas, em 1928).

De uma forma geral, os prêmios foram bem distribuídos, com poucas injustiças. A discussão, como de costume, está aberta.

O produtor Langmann e a equipe de O Artista

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Oscar 2012 – Os Indicados a Melhor Filme

por Marcelo Seabra

Amanhã, dia 26/02, teremos a 84ª edição dos prêmios da Academia, mais conhecidos como Oscars. A categoria tida como principal, por julgar os méritos do longa como um todo, é a de Melhor Filme. Não é a toa que é a última a ser anunciada.

Abaixo, segue a lista com os nove indicados este ano. Clique no título para ler mais a respeito:

O Artista

A Invenção de Hugo Cabret

Os Descendentes

Meia Noite em Paris

A Árvore da Vida

O Homem que Mudou o Jogo

Cavalo de Guerra

Histórias Cruzadas

Tão Forte e Tão Perto

A ordem da lista acima já indica quais filmes foram mais apreciados. A torcida do Pipoqueiro segue por O Artista, seguido bem de perto por A Invenção de Hugo Cabret. Qualquer outro resultado será uma baita zebra.

Confira, na segunda-feira, a cobertura completa da cerimônia!

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Outra escorregada da Marvel enterra o Motoqueiro Fantasma

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Criado na década de 1970, o Motoqueiro Fantasma foi um dos precursores dos anti-heróis que começariam a aparecer nas páginas de quadrinhos da Marvel Comics, a exemplo de personagens como Wolverine e Justiceiro. Durante duas décadas, o personagem foi um coadjuvante de luxo com uma história bem simples: para evitar a morte de seu pai devido ao câncer, o motociclista acrobata Johnny Blaze faz um acordo com o demônio: seu pai não seria vitimado pelo câncer em troca de sua alma. Como não poderia deixar de ser, o diabo trapaceou, o pai de John morreu por causas não-naturais e ele foi amaldiçoado com a possessão de um demônio devorador de almas que, inicialmente, tomava o corpo de John quando o sol sumia. Representado por uma caveira flamejante, assim como sua moto, o Motoqueiro representava o “Espírito da Vingança”, distribuindo sua justiça àqueles que cometiam o mal. Solitário por natureza, ele chegou a fazer parte de grupos como Os Defensores. Em algum momento, Johnny se livrou de sua maldição.

Depois de enfrentar uma época de baixa na década de 1980, o Motoqueiro foi trazido de volta do limbo nos anos 1990. A Marvel decidiu, então, reformular o personagem. Dessa vez, o receptáculo para o demônio devorador de almas seria o jovem Danny Ketch, que também passou por uma situação traumática envolvendo a morte de um familiar. Naqueles anos, anti-heróis com um visual apelativo estavam em alta e o personagem obteve uma popularidade nunca vista antes. A popularidade começou a cair e tudo ficou bastante confuso, na medida em que Johnny Blaze – que havia se livrado do demônio – voltou a ser amaldiçoado, a Marvel decidiu ficar com dois Motoqueiros. Descobriu-se que Danny era irmão de John e que na verdade um dos motoqueiros estava possuído por um demônio e outro, por um anjo, e por aí vai…

O fato é que o apelo visual do personagem fez com que a Marvel decidisse investir em uma produção cinematográfica estrelada por ele em 2007. Com Nicolas Cage e dirigido por Mark Steven Johnson, o filme foi um fiasco. Uma história rasa, um Nicolas Cage mais canastrão do que o normal e clichês em cima de clichês fizeram com que a produção afundasse em todos os aspectos, obtendo uma péssima recepção de crítica e público. Os fãs da Marvel, no entanto, viram algo de bom ali: depois de cometer Demolidor (e criar o embrião de Elektra), era a hora de Mark Steven Johnson se afastar dos personagens da editora. Dois filmes, dois fracassos. Chega, né? Infelizmente, não.

Johnson saiu da cadeira de diretor, mas se envolveu na produção de Motoqueiro Fantasma: O Espírito da Vingança (Ghost Rider: Spirit of Vengeance, 2011) e percebe-se seu dedo no desenvolvimento do filme (por falta de descrição melhor): não é tão ruim quanto seu predecessor, mas não fica muito acima dele. A dupla de diretores Mark Neveldine e Brian Taylor, dos dois Adrenalina (de 2006 e 2009), não atinge muita coisa, o que já demonstraram que fariam quando roteirizaram Jonah Hex, aquela monstruosidade de 2010. Apenas adicionaram uma linguagem dita jovem, com referências pop desnecessárias. Nem a história de David Goyer (da trilogia de Batman) conseguiu salvar o personagem.

A trama aqui é um pouco menos rasteira que a do filme anterior. O demônio (Ciarán Hinds, do vindouro A Mulher de Preto – ao lado) caminha entre os homens e, de tempos em tempos, precisa fazer acordos para se apoderar de corpos humanos. Depois de algum tempo, esses corpos se deterioram e ele precisa fazer uma troca. Cansado disso, ele se aproveita de um momento de desespero de Nadya (Violante Placido, de Um Homem Misterioso) para fazer um acordo com ela. Em troca de sua vida, ela geraria seu filho. Quando chegasse aos 13 anos, Danny (Ketch? – vivido por Fergus Riordan) passaria por um ritual, no qual sua alma seria substituída pela do demônio. É aí que entra uma ordem religiosa misteriosa, que se propõe a proteger o menino. Para isso, o monge Moreau (Idris Elba, de Thor, 2011) precisa recrutar Johnny Blaze para a sua causa. Como recompensa, a ordem promete livrar Blaze de sua maldição. Dizer mais estragaria as (poucas) surpresas que o filme reserva.

Motoqueiro Fantasma 2 tem muitos defeitos e o principal deles é justamente Nicolas Cage. Famoso por sua canastrice, aqui Cage abusa em todos os sentidos. Não há um momento no filme em que sua atuação não soe deveras exagerada e desproporcional ao que o roteiro pede. Este, por sua vez, é outra complicação, principalmente pelo fato de não tentar criar uma empatia entre personagens e audiência. Sinceramente, em nenhum momento dá pra se preocupar com os destinos de Danny ou de Blaze. Os efeitos especiais estão bem decentes e as cenas do Motoqueiro são interessantes, mas nada que encha os olhos, até porque são apenas uma evolução do que vimos no longa de 2007.

Finalmente, se em Imortais (Immortals, 2011) o 3D acrescia pouco ao filme, em Motoqueiro Fantasma: O Espírito da Vingança ele não faz nada além de tornar o ingresso mais caro e o filme mais escuro. Fora uma cena em que ele dá uma profundidade maior ao esconderijo de Blaze, um cinza voadora aqui e ali e uma gota de sangue mais definida, o fato é que a conversão do 2D para o 3D aqui não trouxe nada a mais ao filme. Um desperdício, já que os efeitos pirotécnicos que o personagem exige poderiam ter sido muito bem trabalhados nessa nova tecnologia. Que, repito, já está sendo banalizada por ser usada por profissionais que não sabem desfrutar de seu potencial.

Nota do Pipoqueiro: as salas Cinemark estão exibindo, junto com a cópia de Motoqueiro Fantasma 2, o clip da música Presença, primeiro trabalho em 3D do Skank.

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Nem todo indicado a Melhor Filme é ouro

por Marcelo Seabra

Da longa lista de nove indicados ao Oscar de Melhor Filme de 2012, alguns são altamente dispensáveis, caso de Histórias Cruzadas. Na última semana, mais dois exemplos puderam ser conhecidos: Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close, 2011) teve pré-estréia, enquanto O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011) entrou em circuito comercial.

Alguns filmes parecem ter sido feitos para arrancar lágrimas da platéia. Juntando o diretor Stephen Daldry, o roteirista Eric Roth e os astros Tom Hanks e Sandra Bullock, um outro objetivo se revela: ganhar Oscars. Alguma coisa deu errado no meio do caminho e Tão Forte e Tão Perto deu muito errado. Daldry, indicado três vezes (por Billy Elliot, As Horas e O Leitor), resolveu adaptar o livro de Jonathan Safran Foer (autor do também filmado Uma Vida Iluminada), com roteiro de Roth (vencedor por Forrest Gump e indicado por O Informante, Munique e O Curioso Caso de Benjamin Button), e o resultado é sacarose pura.

Um garoto (o novato Thomas Horn) perde o pai (Hanks), a quem era muito próximo, e tem que se adaptar a viver só com mãe (Bullock). O relacionamento entre os dois não é muito fácil e o menino prefere conversar com a avó (a vencedora de quatro prêmios Tony Zoe Caldwell), que mora no prédio ao lado. Ao encontrar uma chave nos pertences do pai, ele decide entrar em uma jornada para descobrir para que ela serve, acreditando ser aquela a última “missão” (depois de muitas outras) que o pai havia deixado. Aparece, então, um idoso desconhecido (Max Von Sydow, o Padre Merrin de O Exorcista) que se junta à busca.

É engraçado o fato do personagem de Tom Hanks já começar o filme morto, só aparecendo em flashbacks. O 11 de setembro serve como pano de fundo, mas não é um filme sobre a tragédia: segundo o cartaz, é sobre o que se segue à tragédia. E cabe a Sandra Bullock chorar metade do tempo em que está em cena. Max Von Sydow, sempre fantástico, entra mudo e sai calado (literalmente), aparece por pouco tempo e ganhou uma indicação como ator coadjuvante, a outra das duas que o longa conseguiu. Completam o elenco principal, com pequenas participações, John Goodman (de O Artista), Viola Davis (de Histórias Cruzadas) e Jeffrey Wright (de Contra o Tempo).

A identidade do idoso é óbvia desde o primeiro momento, sua função na trama é uma incógnita e muita coisa fica sem encaixar. A resolução do caso é insípida e já não importa mais, contanto que as relações em torno do menino se resolvam. Tudo é muito pré-fabricado, calculado milimetricamente para que as lágrimas rolem, e os mais de 120 minutos de projeção custam a passar.

Com O Homem que Mudou o Jogo, a situação é outra. Trata-se de um filme correto, baseado na história real de um treinador que inovou ao conseguir, com um orçamento pequeno, montar um time de beisebol com bons resultados. O elenco está bem, o roteiro tem momentos interessantes e é só. Nada muito memorável, digno de entrar para a história da Academia.

Bennett Miller não dirigia nada desde 2005, quando foi indicado ao Oscar por Capote – e Philip Seymour Hoffman foi consagrado o melhor ator. Ele convocou o amigo novamente, agora como coadjuvante, e escalou Brad Pitt como o protagonista Billy Beane, o gerente do Oakland A. No Brasil, seria um provável ocupante de estantes em locadoras, mas as indicações e a presença de Pitt conseguiram garantir a ele um lugar entre os muitos filmes em cartaz.

Beane inovou ao buscar um bom resultado apostando em talentos individuais. Alguns jogadores eram mal vistos por determinadas falhas, mas tinham outras boas características que passavam despercebidas. O beisebol é diferente de esportes em que o jogador se vê em várias posições no mesmo jogo, tendo que desempenhar vários papéis. Basta você colocar o sujeito para rebater, por exemplo, e depois tirá-lo. Logo, se ele não é um profissional completo, não há problema – e você ainda paga menos pelo passe.

Com a ajuda de um nerd das estatísticas (vivido por Jonah Hill, o gordinho desbocado de Superbad), Beane consegue aplicar a pouca verba que tem de forma mais eficiente, emplacando várias vitórias seguidas. O suspense quanto ao sucesso da empreitada não existe, já que fizeram um filme sobre isso. E o roteiro, escrito por dois dos melhores profissionais do mercado, Steven Zaillian (de Os Homens que Não Amavam as Mulheres) e Aaron Sorkin (de A Rede Social), traz uns diálogos um pouco confusos para quem não é do ramo, com termos e práticas bem específicos.

Brad Pitt parece não estar lá, Beane tem sempre cara de quem está preocupado com outra coisa qualquer, ou com coisa alguma. E dizer que Jonah Hill está muito bem apenas por evitar as caras e bocas e exageros que marcaram seus trabalhos até hoje é um equívoco. Imagino que assistir a O Homem que Mudou o Jogo deva suscitar as mesmas emoções que uma partida de beisebol. Tem momentos interessantes, mas a maior parte não atrai muito e, quando termina, você desliga a televisão e vai cuidar da vida sem nem lembrar o que estava fazendo antes.

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