Colin Farrell é um homem morto!

por Marcelo Seabra

Dead Man Down

Colin Farrell continua trabalhando como sempre, mas anda aparecendo menos. Os últimos filmes que escolheu não eram dos mais badalados, alguns com rápidas passagens pelos cinemas (como Sete Psicopatas e um Shih Tzu, 2012) ou indo direto para as locadoras. Sem Perdão (Dead Man Down, 2013) se encaixa nessa última categoria, mesmo tendo um elenco interessante e o diretor do Os Homens que Não Amavam as Mulheres original (The Girl with the Dragon Tattoo, 2009), Niels Arden Oplev. A fraca recepção no exterior pode ter sepultado a carreira do longa, que teria arrecadado alguns reais se entrasse em cartaz.

Como o título nacional genérico já indica, Sem Perdão não é nada memorável, fica bem em cima do muro entre o bom e o ruim. Os protagonistas são construídos decentemente e o ritmo lento, que pode ser interpretado como aborrecido pelos mais exaltados, é adequado. Mas o problema vem no trecho final: apesar de previsível, surpreende negativamente quanto ao extremo que chega. De repente, o filme é outro e todas as pontas se amarram à força. A esta altura, você só quer que tudo termine, independente do que vai acontecer.

Scene

Farrell vive Victor, um capanga entre muitos outros de um gângster de importância média, Alphonse (Terrence Howard, de Sem Proteção, 2012). Alguém está ameaçando o sujeito com cartas enigmáticas e apagando alguns de seus comparsas. O clima crescente de desconfiança deixa todos de sobreaviso. Como se não bastasse essa situação no “trabalho”, Victor ainda se vê em outro aperto: sua vizinha (Noomi Rapace, de Prometheus, 2012) o chantageia para que mate o homem que a desfigurou em um acidente de carro. Os elementos de um bom noir estão aí, e muita coisa ainda vai se revelar.

Rapace, que tem sido contratada para várias produções, despontou para o mundo exatamente em Os Homens que Não Amavam as Mulheres, como a hacker Lisbeth Salander, e reencontra Oplev na estreia do diretor em solo norte-americano. Três veteranos foram chamados para engrossar o caldo: F. Murray Abraham (de Amadeus, 1984), Armand Assante (de O Gângster, 2007) e a francesa Isabelle Huppert (de Amor, 2012). O elenco ainda conta com um mal aproveitado Dominic Cooper (de Dublê do Diabo, 2011), que merecia um destaque maior. O que mais chama a atenção no longa é a seriedade com a qual os atores o tratam, todos parecem estar dando o melhor de si para salvar um texto mais ou menos, cortesia de J.H. Wyman (roteirista da série Fringe). Apesar desse esforço, o resultado não sai do mediano.

Howard, Repace e Farrell lançam o longa em LA

Howard, Rapace e Farrell lançam o longa em LA

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Nova série do AMC merece uma chance

por Marcelo Seabra

Low Winter SunO canal americano AMC tem produzido ótimas séries de televisão e batido recordes de audiência sucessivamente. A nova atração, Low Winter Sun, é mais uma aposta dos executivos para ter vida longa na programação, mas há um porém: a série já estreia com um sentimento negativo em torno dela. O AMC tem associado LWS ao fim de Breaking Bad, este um sucesso como poucos, como se uma fosse a sucessora da outra. Resultado: o público rejeita sem nem ter conferido, por pura raiva de ser forçado a gostar de algo.

Uma situação parecida aconteceu recentemente com Ray Donovan, nova série do Showtime, mesmo canal que produz Dexter, programa que chega ao fim este ano em sua oitava temporada. Só falta dizer, na publicidade, que o público não ficará órfão porque uma substitui a outra em seus corações. Comparações geralmente são um tiro no pé, o programa deixa de ter uma existência própria para viver em função do outro. Como as táticas do Showtime foram um pouco mais discretas que as do AMC, Ray Donovan não foi tão prejudicada e não perdeu tantos pontos de audiência após a estreia. Mas é isso que vem acontecendo com LWS, já em seu terceiro episódio nos Estados Unidos.

Colocar trechos de uma série durante a exibição da outra é um golpe baixo, o sujeito que acompanha as desventuras de um grupo de personagens é obrigado a conhecer o outro. Essa amostra atrasa o que ele realmente quer, e começa aí o fracasso da novidade. LWS teve 2,5 milhões de espectadores em seu primeiro episódio, e caiu para 1,46 milhão já no seguinte. De acordo com a mídia especializada estrangeira, muito disso não é culpa da série propriamente, mas dessa estratégia agressiva e inconveniente do AMC. É o mesmo que vender Equilibrium (2002) como “o novo Matrix”, o produto já chega devendo.

Low Winter Sun

Low Winter Sun, seguindo a moda sombria das séries atuais, tem como protagonistas dois policiais que, logo de cara, cometem um crime. Com o andar da carruagem, descobrimos as circunstâncias que os levaram àquele ato e os acompanhamos enquanto tentam se safar. O nome mais famoso do elenco é o de Mark Strong, que costuma ser escalado como vilão (caso do Lorde Blackwood de Sherlock Holmes, 2009), mas mostra ser muito mais que um ator de um papel só. Ele inclusive viveu o mesmo personagem na série original escocesa, cujos dois episódios foram exibidos em 2006. Seu colega, Lennie James, é um coadjuvante freqüente, daqueles que conhecemos, mas não sabemos de onde – talvez, de The Walking Dead, ou 72 Horas (The Next Three Days, 2010), ou…

Se as tentativas do AMC de equiparar Frank Agnew (Strong) a Walter White (de Breaking Bad) puderem ser relevadas, a série se mostrará um passatempo interessante. Um canal que tem, além de The Walking Dead e BB, Mad Men, Hell on Wheels e The Killing não precisa desse tipo de subterfúgio para conseguir chamar público. A qualidade de seus programas está mais do que comprovada, e Low Winter Sun está aí para manter a tradição.

O elenco principal posa para foto

O elenco principal posa para foto

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Mostra Hitchcock É o Cinema: ainda dá tempo!

por Marcelo Seabra

Hitchcock

A Mostra Hitchcock É o Cinema segue lotando sessões no Cine Humberto Mauro. Para quem está em Belo Horizonte e região, é um evento obrigatório, e oportunidade não falta. De 31 de julho a 5 de setembro, há filmes do mestre inglês o dia todo, em horários variados, que cabem em qualquer rotina apertada. Se o nome Hitchcock já não fosse chamariz suficiente, há muitos outros motivos para comparecer, começando pela sala, que acaba de ser reformada.

Filmes restaurados, difíceis de serem encontrados, até uma rara produção em 3D: Disque M Para Matar (Dial M For Murder, 1954). E a programação não fica apenas nos longas mais famosos, traz também os trabalhos do diretor na Inglaterra natal e episódios dirigidos e apresentados por ele na TV americana, além de palestras, cursos e debates. A mostra incluiu os chamados “Hitchcock 9”, os primeiros, mudos, tendo tido sessões acompanhados por música ao vivo, composta especialmente para cada um. Olhar para a tela e ver o pianista ao lado, acompanhando as cenas, é no mínimo uma divertida volta no tempo.

Hitch

Esta semana é a derradeira, mas ainda tem muita coisa boa. O encerramento, por exemplo, é com Janela Indiscreta (Rear Window, 1954), um dos maiores clássicos, com James Stewart e Grace Kelly, dois nomes recorrentes na filmografia de Hitch. No mesmo dia, é possível conferir o primeiro trabalho em longa-metragem do cineasta, O Jardim dos Prazeres (The Pleasure Garden, 1925), em sessão com execução musical ao vivo. E, caso isso esteja pesando, a Mostra é gratuita, basta chegar uns minutos antes e retirar o ingresso na bilheteria.

Confira mais informações sobre a mostra clicando aqui.

E baixe a programação completa aqui.

E você pode ouvir o 100º podcast da equipe do site Cinema em Cena, sobre ninguém menos que Hitch, aqui.

Cine Humberto Mauro

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Músico uruguaio estreia como ator na Argentina

por Marcelo Seabra

La Suerte en Tus Manos

Famoso como músico, o uruguaio Jorge Drexler resolveu atacar como ator e se mostra a melhor coisa de A Sorte em Suas Mãos (La Suerte en Tus Manos, 2012). A produção argentina finalmente chega ao Brasil e podemos conferir Drexler em sua primeira atuação, e já como protagonista. Claro que as coisas ficam mais fáceis quando se tem Valeria Bertuccelli e Norma Aleandro como colegas de elenco. Só o roteiro não ajuda muito, caindo no lugar comum e perdendo o tom que estabeleceu na primeira metade de projeção.

Drexler dá certa simpatia a Uriel, um sujeito que beira o detestável. Ele mente descaradamente até para os filhos, exibe uma simpatia pré-fabricada e se orgulha de, depois do divórcio, ser o terror da mulherada. Exatamente para ter mais tranquilidade em suas conquistas, ele procura um médico para fazer uma vasectomia. No mesmo dia do procedimento, numa dessas coincidências que só acontecem no Cinema, ele reencontra uma antiga namorada, a mais marcante de um extenso rol (Bertuccelli, de Clube da Lua, 2004). Outras coincidências depois e eles engatam uma nova tentativa de romance, mas o caráter de Uriel pode colocar tudo a perder.

La Suerte en Tus Manos casal

É interessante o fato de o protagonista ser construído como um sujeito falho, que está sempre inventando verdades e se complicando para acobertá-las. É como se tivéssemos uma versão menos confiável do alter ego de Woody Allen falando espanhol – há inclusive uma referência visual a Allen. Apesar de tudo, o apego dele aos filhos é sincero, mesmo que os dispense sempre que julga necessário. A afeição a Gloria também parece ser honesta, mas o relacionamento começa fundado em mentiras e fica cada vez mais difícil consertar. Ainda mais quando a mesa de pôquer é uma grande tentação para Uriel.

Quando ganhou o Oscar de Melhor Canção Original com Al Otro Lado Del Río (de Diários de Motocicleta, 2004), Drexler apareceu para o mundo e seguiu compondo para diversas produções. Para estrear como ator, nada melhor que trabalhar com o experiente Daniel Burman, diretor de O Abraço Partido (2004) e Ninho Vazio (2008). Um dos nomes mais freqüentes do Novo Cinema Argentino, Burman diz se preocupar mais em contar uma boa história que com os recursos cinematográficos em si. Por isso, seus filmes não costumam ter grandes arroubos técnicos, mas os personagens são geralmente bem construídos – e muitas vezes têm traços autobiográficos.

Outra estreia em A Sorte em Suas Mãos é a do co-roteirista, Sergio Dubcovsky, irmão do produtor Diego Dubcovsky, sócio de Burman. Sergio consegue construir bem a premissa e os personagens, ao lado de Burman, mas eles se perdem ao definir o último ato. A presença de rabinos e de outras figuras ligadas à religião judaica não se justifica, nunca chegando a lugar algum. O mesmo pode se dizer da presença de Norma Aleandro (de O Filho da Noiva, 2001), que é uma coadjuvante de luxo invocada quando conveniente. O grande trunfo da produção é mesmo o casal de protagonistas, que consegue levar o público ao final sem se cansar.

Norma Aleandro faz participação especial

Norma Aleandro faz participação especial

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The Fall é outra boa produção da BBC

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

The Fall

Famosa como a maior rede de notícias da Inglaterra, a BBC há alguns anos vem diversificando suas atividades. Hoje, além de seus documentários primorosos e sua massiva e eficiente cobertura jornalística, a rede vem, aos poucos, conseguindo notoriedade graças ao investimento na produção de séries dramáticas voltadas para o público britânico, que graças aos seus temas universais, acabam sendo atraentes também para aqueles que não são súditos da rainha. A série The Fall, recentemente exibida na Inglaterra, é mais um exemplo dessa boa safra.

A premissa não é das mais originais, mas seu andamento é bastante interessante. Uma mulher é encontrada morta dentro de seu apartamento em Belfast, capital da Irlanda do Norte. Sabe-se apenas que ela foi estrangulada. Os motivos para o assassinato, as circunstâncias nos quais ele ocorreu e tudo o mais que pudesse levar a uma solução está envolto em mistério. A vítima, Alice Monroe, é ex-esposa do filho de uma figura pública ligada ao departamento de polícia da cidade, que demanda uma solução rápida – ainda mais quando o ex-marido da vítima está no topo da lista de suspeitos. No que a investigação emperra, o chefe de polícia local, Jim Burns (John Lynch, de Morte Negra, 2010 – abaixo), decide que o melhor curso de ação para que as coisas voltem a andar é importar da Inglaterra uma especialista nesse tipo de situação. Entra em cena a detetive superintendente Stella Gibson (Gillian Anderson, a eterna Dana Scully de Arquivo X). A  chegada de Stella coloca a investigação nos trilhos, mas, claro, as coisas se complicam na medida em que novas mulheres aparecem mortas e, contra a vontade de seus superiores, logo Stella conclui que tem nas mãos um assassino serial. Como sempre, agora tudo se resume a uma corrida contra o tempo para encontrá-lo e prendê-lo antes que ele faça sua próxima vítima.

The Fall

Ao contrário do que acontece em muitas das séries do gênero, não demoramos muito a conhecer a identidade do assassino de Alice. Não deixa de seguir uma tendência, da qual se aproveitaram produções como The Following e Hannibal. Ao contrário de Joe Carroll e seus seguidores e do Dr. Lecter e seus peões, aqui o assassino não é uma pessoa extremamente carismática ou inteligente. Na verdade, Paul Spector (Jamie Dornan, da série Once Upon a Time) é uma pessoa bastante “normal”, ainda que o uso da palavra para qualificar um assassino serial não seja a melhor escolha. Paul trabalha como uma espécie de psicólogo especializado em ajudar pessoas que passaram por tragédias envolvendo a perda de entes queridos, é casado com uma enfermeira (Bronagh Waugh) que atua na área neonatal de um hospital local e tem um casal de filhos pequenos. Ou seja, tudo bastante comum e sossegado. Fora, claro, sua tendência de sair à noite e assassinar um tipo específico de mulher.

The Fall chama a atenção pelo fato de se focar muito em criar uma atmosfera adequada, enquanto sua trama – e histórias paralelas – se desenvolve. A investigação do caso de Alice, ainda que seja o catalisador da história, logo assume um segundo plano, na medida em que a investigação deriva para as novas mulheres assassinadas nas mesmas condições da primeira. Muitas vezes o caso é todo deixado de lado para que o foco se dê na rotina dos personagens – especialmente Stella, Paul e sua esposa. É aí que a força da atuação de Anderson aparece, ao construir uma personagem sobre a qual muito pouco do passado é revelado, mas que se mostra uma mulher forte, fria, determinada e que pouco se importa em irritar aos outros. Alguns dos melhores momentos são justamente os confrontos entre Stella e Jim Burns, nos quais os questionamentos dele são sempre respondidos de forma direta e, muitas vezes, brutal. Esses momentos de foco no personagem também colaboram muito para construir Paul Spector, que se mostra uma figura bastante diversa da maioria dos assassinos seriais que aparecem nas telas de cinema e TV regularmente.

A primeira temporada de The Fall já está disponível na versão norte-americana do Netflix e desde o último dia 13 de agosto vem sendo transmitida no Brasil pelo canal por assinatura GNT (todas as quartas-feiras, às 23h30). Ela tem apenas cinco episódios – a segunda temporada está em fase de pré-produção, ainda sem data de estréia. A série vai agradar bastante aos apreciadores de histórias policiais, especialmente aquelas que saem, nem que seja um pouco, do convencional.

Quem diria, sr. Spector...

Quem diria, sr. Spector…

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Bernie traz uma atuação única de Jack Black

por Marcelo Seabra

Bernie

Uma detalhada construção de personagem infelizmente chega direto nas locadoras: Bernie (2011), do diretor Richard Linklater, não ganhou uma oportunidade em cartaz, apesar dos atores famosos. Talvez, eles não sejam célebres o suficiente. O filme é baseado em uma história real e aparentemente não teria material suficiente para um longa-metragem, mas acabou chegando às vias de fato e o resultado ficou curto, com meros 104 minutos, mas o suficiente para ser interessante. E ganhou um subtítulo desnecessário: Quase um Anjo.

O argumento para Bernie foi retirado de um artigo de uma revista mensal do Texas, assinado por Skip Hollandsworth. O jornalista retratou um fato notável em uma pequena comunidade do estado. Os habitantes de Carthage tinham Bernie Tiede em alta consideração, ele era praticamente um popstar na cidade. A amizade dele com uma viúva idosa de humores contrários aos dele deixaram todos perplexos, e os desdobramentos são ainda mais surpreendentes. O papel principal ficou com Jack Black, que havia trabalhado com Linklater em Escola de Rock (School of Rock, 2003), e se mostrou uma escolha formidável. Black não era o sujeito que você pensaria para viver um diretor assistente de funerária extremamente amável, prestativo, simpático e culto, visto por muitos como homossexual, mas, para todos os efeitos, assexuado.

Bernie duo

Para conseguir um fôlego maior com uma história simples, Linklater e seu co-roteirista, Hollandsworth, desenvolvem muito bem não só o personagem-título, mas toda a comunidade. Podemos conhecer Carthage em detalhes e vários cidadãos da cidade que conviveram com o verdadeiro Bernie dão depoimentos, concedendo ao longa um ar ainda maior de veracidade. Bernie tinha muito jeito com as pessoas e estava presente nos momentos mais difíceis, em enterros e missas, e dava mais do que o suporte necessário. No caso de Marjorie Nugent (vivida pela veterana Shirley MacLaine), ele acabou desenvolvendo uma amizade que logo passou a funcionar mais para ela que para ele. A possessiva senhora passa a tratá-lo como uma propriedade e a vida do pobre Bernie vira um inferno.

O trio principal, completo por um inspirado Matthew McConaughey, é o grande chamariz do longa. Black consegue evitar os maneirismos habituais de trabalhos como As Viagens de Gulliver (Gulliver’s Travels, 2011) e passa longe de ser inconveniente ou exagerado, vivendo um sujeito que conseguiria vender um caixão caro para um indigente, mas ficaria com pena e o ajudaria a pagar. MacLaine usa toda sua experiência para criar uma milionária detestável com um traço de carência, já que a cidade não faz muita questão da presença dela, nem mesmo a família a atura. E McConaughey emenda uma sequência de bons trabalhos (como O Poder e a Lei, Killer Joe e Magic Mike) e parece finalmente ter se cansado de comédias românticas bestas que não aproveitam o potencial dele.

Bernie é uma boa diversão e uma ótima oportunidade para ver Jack Black trabalhar bem, o que não é muito comum. Ele deveria fazer um pacto de parceria com Linklater, diretor que parece saber como aproveitá-lo. Como bônus, ainda observamos características de uma pequena cidade texana e os hábitos de seus habitantes, que podem ser tão peculiares quanto o próprio Bernie.

Nada mais americano que Bernie Tiede

Nada mais americano que Bernie Tiede

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Michael Bay busca o sonho americano

por Marcelo Seabra

Pain and Gain

Se colocarmos um desavisado para assistir a Sem Dor, Sem Ganho (Pain & Gain, 2013), ele pode nem perceber que se trata de um longa dirigido por Michael Bay. Depois de descobrir quem assina, é possível perceber a mão de Bay. Mas, aí, você já foi contaminado. Sem robôs ou grandes explosões, ou mesmo aquela câmera nervosa que é marca registrada do cineasta, sobra a oportunidade de contar uma boa história. Exagerada, mas real. Isso é reforçado em mais de um momento, para não deixar o espectador esquecer que aquelas pessoas tapadas realmente existiram.

Mark Wahlberg mais uma vez mostra que tem carisma para segurar um filme como protagonista. Como é mal aproveitado em bobagens como Atirador (2007) e Max Payne (2008), alguns não têm muita confiança nele, esquecendo de belos trabalhos como em Boogie Nights (1997) e O Vencedor (2010), para ficar em dois exemplos famosos. Ele se mostra em boa forma física para encarar o papel de um professor de academia que se cansa da rotina e decide correr atrás do sonho americano, nem que seja roubando-o. Para isso, ele recruta dois colegas que o têm como um modelo de sucesso e inteligência: um é vivido por Anthony Mackie (de Caça aos Gângsteres, 2013), o outro por Dwayne Johnson (de G.I. Joe: Retaliação, 2013). Juntos, eles mostrarão que a estupidez humana não tem limites.

Pain and Gain

O plano é aparentemente simples: os três fortões seqüestram um cara rico e não muito honesto e apenas tomam posse do que ele tem. É aqui que entra o empresário insuportável de Tony Shalhoub (o detetive Monk, da TV), a vítima. No elenco, servem como um bom reforço Rob Corddry (de Meu Namorado É um Zumbi, 2013), Rebel Wilson (de A Escolha Perfeita, 2012), Ken Jeong (da trilogia Se Beber, Não Case) e Ed Harris (ótimo em Virada no Jogo, 2012). As consequências seguem o estilo Fargo (1996), com pretensos criminosos fazendo burradas que os obrigam a irem mais longe, enfiando o pé mais fundo na lama. Mas não se esqueça: é tudo baseado em fatos, relatados em artigos por Pete Collins para o Miami New Times.

Bay fica no limite entre uma sátira e uma apologia à violência. Mas não deixa de servir como crítica ao capitalismo e ao modo de vida americano, com uma busca cega pelo que supostamente é direito de todos os cidadãos do país. A religião não fica de fora, com espetadas claras que não fogem do crível. Mesmo porque, é bom lembrar, é tudo verdade. Ou quase tudo: alguns personagens são mesclados em um, outros têm o nome trocado por questão de segurança. Justiça seja feita, é o longa mais interessante de Bay – o que não é difícil, numa carreira marcada por Bad Boys, Transformers e grandes destruições cercadas por ação descerebrada. Quem sabe é sinal de um bom (re)começo?

O diretor e o trio principal prestigiam o lançamento do longa

O diretor e o trio principal prestigiam o lançamento do longa

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The Bridge é nova versão de sucesso nórdico

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

The BridgeÉ inegável que a TV norte-americana passa por um momento criativo como poucas vezes visto em sua história. Prova disso é o sucesso de público e crítica de séries como Game of Thrones, Mad Men, Boardwalk Empire e da recém terminada Spartacus, só para citar algumas. Uma das razões dessa criatividade toda pode ser a (r)evolução que a internet proporcionou não só no que diz respeito à forma de transmitir essas séries – tendo a Netflix como exemplo máximo, um canal online que tem investido pesado em produção original e disponibilizado todos os episódios de uma vez só, de forma que o espectador não precise esperar uma semana entre um e outro – mas também com relação ao acesso fácil que roteiristas e produtores têm ao que de melhor se produz fora dos Estados Unidos. Assim sendo, quando a inspiração falta e a originalidade dá uma empacada, repaginar para a realidade dos compatriotas algo produzido em outros continentes – especialmente na Europa – pode ser uma boa solução.

The Bridge é um produto dessa tendência. A exemplo de The Killing, ela é uma adaptação ianque para Bron/Broen, série escandinava produzida em 2011 cuja trama se baseia na descoberta de um corpo deixado na ponte que faz a fronteira entre Dinamarca e Suécia. Exatamente na fronteira, de forma que cabe a um inspetor dinamarquês e a uma sueca dividirem a jurisdição do caso em busca do assassino. Bron/Broen teve uma temporada entre setembro e novembro de 2011 e a segunda deve estrear no próximo mês, de acordo com o site IMDB.  A versão é produzida e exibida pelo canal a cabo FX. No Brasil, ela já está na grade de programação da emissora, sendo transmitida aos domingos, às 23h.

A nova série mantém essa mesma premissa. Um corpo é deixado exatamente na linha que separa El Paso (Texas, EUA) de Juarez (Chihuahua, México), de maneira relativamente interessante: metade do corpo nos EUA, metade no México, em cima de uma ponte. Inicialmente, como o corpo parece pertencer a uma cidadã americana, o caso fica a cargo da divisão de homicídios da delegacia de Crimes Contra Pessoas de El Paso, com a detetive Sonya Cross (Diane Kruger, de Bastardos Inglórios, 2009) liderando as investigações. Não se passa muito e uma descoberta altera os rumos da investigação. Isso faz com que a jurisdição do caso tenha que ser dividida entre EUA e México e obriga Sonya a trabalhar com o detetive Marco Ruiz (Demian Bichir, de Selvagens, 2012).

The Bridge

Como de costume, em The Bridge as coisas logo começam a se complicar e o que parece ser um “simples” caso de assassinato passa a ter ramificações mais profundas e se faz uma crítica, ainda que superficial, à forma como os EUA tratam seus imigrantes. Como a trama do assassino serial seria difícil de sustentar por muito tempo sem se esgotar, os roteiristas adicionaram algumas histórias paralelas, sendo a principal delas aquela que mostra a viúva Charlotte Millwright (Anabeth Gish, de Arquivo X) descobrindo que seu recém-falecido marido, um empresário que seria o homem mais  rico de El Paso, mantinha um túnel ligando os dois países sob sua propriedade. Há, ainda, uma crítica, ainda que sutil, à política de imigração dos EUA, especialmente relacionada aos mexicanos. A cidade de Juarez é mostrada de maneira relativamente estereotipada, como uma terra sem lei onde os cartéis dominam e encontrar um policial honesto é uma tarefa bastante difícil.

O grande atrativo de The Bridge, no entanto, é justamente Diane Kruger, intérprete até surpreendente no papel de Cross, uma detetive que não tem tato social algum, um tipo de característica que em muitas séries é atribuída a personagens masculinos. Sonya costuma ser extremamente objetiva e, aparentemente, não sabe e nem consegue compreender como as pessoas ditas “normais” funcionam em seu dia a dia. E, ao contrário de personagens da mesma estirpe, como o House de Hugh Laurie e o Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch, Sonya não é um gênio, de forma que suas esquisitices acabam se tornando um alívio cômico e facilitam a empatia do público para com a personagem.

Eis a tal ponte da doscórdia

Eis a tal ponte da discórdia

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O terror chega pelos céus

por Marcelo Seabra

Dark Skies

Filmes de baixo orçamento que dão certo e arrastam um público grande acabam virando uma franquia sem sentido, como aconteceu com Jogos Mortais (Saw, 2004). Esse novo Os Escolhidos (Dark Skies, 2013) parece ter sido feito com esse propósito: dar cria e render muito dinheiro. Mas nem por isso trata-se de uma obra ruim. Pouco dinheiro para gastar não significa necessariamente uma produção pobre. Pode ser bem o contrário: sem ter condições de grandes espetáculos visuais, o filme acaba usando mais a sugestão, o que está lá e não vemos. E o resultado disso costuma ser interessante.

O diretor Scott Stewart tem uma carreira que não o credita dar passos largos. Legião (Legion, 2010) e Padre (Priest, 2011) não fazem muito bem a um currículo, e ele deve ter decidido voltar ao básico. Uma casa, luz e sombras, uma família… e a sugestão de alienígenas estarem por perto. Afinal, mesmo o mais cético, vendo tudo o que está acontecendo à volta, começa a dar o braço a torcer. É o caso do casal Lacy (Keri Russell, a eterna Felicity da TV) e Daniel Barrett (Josh Hamilton, de J. Edgar, 2011). Ela começa a ver as evidências, enquanto ele só quer defender a prole. Filmes sobre fantasmas, bem mais comuns, seguem a mesma estrutura. Coisas estranhas começam a acontecer, os personagens passam a aceitar a possibilidade de haver algo sobrenatural, buscam um “perito” (aqui é J.K. Simmons, da trilogia do Homem-Aranha – abaixo) e o ritmo se acelera.

Dark Skies - JK Simmons

Mesmo seguindo uma espécie de fórmula do gênero, Os Escolhidos consegue ser interessante e ter vida própria. A dinâmica familiar é a espinha do filme, e logo percebemos nos importar com aquelas pessoas. É mais ou menos o que acontece com Sobrenatural (Insidious, 2010), outro bom suspense que conta com produtores em comum, assim como A Entidade (Sinister, 2012). Sustos fáceis, que costumam irritar o espectador mais exigente, não acontecem – ou acontecem em um volume aceitável, dependendo do ponto de vista. Fica a sensação de que os agentes Mulder e Scully vão aparecer e enquadrar o caso nos Arquivos X. Para buscar credibilidade, o longa chega a citar tipos de aliens comumente aceitos entre ufologistas, como os greys, que seriam os responsáveis por pesquisas com humanos e sequestros como o retratado em Fogo no Céu (Fire in the Sky, 1993).

Com um quarteto seguro à frente do show, Stewart, que também é o roteirista, dispensa um pouco da ambição dos projetos anteriores e tenta fazer uma mistura de ficção científica e suspense à moda antiga. Alguns vão julgar o ritmo muito lento, outros vão chamar a atenção para os clichês, ou até para a crítica rasteira ao modo de vida norte-americano. Os Escolhidos pode ser um bom divertimento. Não insulta a inteligência de ninguém e não traz grandes surpresas. Fica bem ali, na média. Resta esperar para ver se vai virar mais um Atividade Paranormal, que já tem o quinto episódio programado para 2014.

"Você disse cinco???"

“Você disse quinto???”

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Sequências de Smurfs e RED chegam juntas

por Marcelo Seabra

The Smurfs 2 posterRED 2Em 2011, o longa dos Smurfs fez mais de 500 milhões de dólares nas bilheterias, quase cinco vezes o seu custo de produção. Um ano antes, a adaptação de quadrinhos RED – Aposentados e Perigosos quase realizou a mesma façanha, ficando pouco abaixo de quadruplicar o seu custo. Era de se esperar que ambas as produções tivessem sequências, e foi exatamente o que aconteceu, e em tempo recorde. Em 2013, mais precisamente em agosto, chegaram juntos aos cinemas RED 2 e Os Smurfs 2. O veredicto, para bem ou para mal, é que trata-se de mais do mesmo. Quem se divertiu nos primeiros vai gostar das continuações, e quem não gostou deve manter distância.

Para a direção e roteiro de Smurfs 2, quase tudo permaneceu como estava. Raja Gosnell é o responsável e os mesmos quatro roteiristas (J. David Stem, David N. Weiss, Jay Scherick e David Ronn) assinam, com a inclusão de Karey Kirkpatrick, cujo currículo inclui diversas aventuras juvenis (como As Crônicas de Spiderwick, 2008). A estratégia de não se mexer em time que está ganhando deve funcionar, já que o longa ruma para a mesma direção bem sucedida que o anterior. Mesmo não tendo nada de novo a apresentar, muito menos o frescor e a curiosidade que naturalmente abandonam sequências.

The Smurfs 2 Smurfette

As criaturinhas azuis, invenção do cartunista belga Pierre “Peyo” Culliford, voltam a ter problemas com o mago Gargamel (Hank Azaria), o eterno inimigo delas. No dia do aniversário de Smurfette (voz de Katy Perry), todos se fingem de bobos para preparar uma surpresa para ela, mas a garota acaba acreditando que ninguém gosta dela. É então que somos apresentados à criação dela, já conhecida por quem acompanhava os personagens em outras mídias. Gargamel se aproveita da situação para tentar tirar de Smurfette a essência Smurf que ele tanto busca, que dará a ele poderes inimagináveis. Para isso, ele conta com duas novas criaturinhas, os Danadinhos, versões cruas e más dos Smurfs.

Como Gargamel passou para o mundo dos humanos, Papai Smurf (voz do falecido Jonathan Winters) reúne uma trupe e vai atrás da filha desgarrada. Em Nova York, eles voltam a encontrar com os Winslow, vividos por Neil Patrick Harris e Jayma Mays e o garoto Jacob Tremblay, o filho crescidinho deles. Brendan Gleeson (de Sem Proteção, 2012) engrossa o caldo como o padrasto de Patrick. Piadinhas visuais batidas, uso sem restrições da palavra Smurf e algumas lições de moral são enfiadas goela abaixo do público, que não demora a perceber a Smurf em que se meteu. Talvez agrade os menores, mas os pais ficarão aborrecidos. E nem adianta mencionar o grande número de talentos no time original de dubladores porque encontrar uma cópia com as vozes em inglês é mais difícil que ganhar na loteria.

RED 2 cast

Para RED 2, que traz o subtítulo Aposentados e Ainda Mais Perigosos, algumas modificações foram feitas. O diretor Robert Schwentke dá lugar a Dean Parisot (de As Loucuras de Dick e Jane, 2005), enquanto os roteiristas Jon Hoeber e Erich Hoeber se mantêm. No elenco, as novidades convocadas respondem por Anthony Hopkins (de Hitchcock, 2012), Catherine Zeta-Jones (de Terapia de Risco, 2013), Byung-hun Lee (dos dois G.I. Joe), Neal McDonough (da série Justified) e David Thewlis (de Cavalo de Guerra, 2011). Isso tudo para trazer novo fôlego à ação, mas não se fugiu do esquema do primeiro.

O trio principal, formado por Bruce Willis, Mary-Louise Parker e John Malkovich, volta a se meter em problema quando alguém vaza um documento confidencial para a internet e os ex-agentes Frank e Marvin são citados. Como eles não têm ideia do que está havendo, vai ser necessário correr atrás dos fatos e descobrir quem está atrás deles. Sarah, a namorada de Frank,  aproveita para fugir da rotina e vai junto. No meio do caminho, claro, eles vão se encontrar com Helen Mirren (que brinca com seu papel mais famoso) e Brian Cox (de Coriolano, 2011), seus velhos conhecidos.

Algumas viagens internacionais serão obrigatórias, não vão faltar mortes e explosões e os personagens seguem fazendo piadas com as situações vividas. O bom humor que permeia a produção ajuda a agüentar os longos 116 minutos, que se tornam cansativos com tantas idas e vindas. Muitas pontas são deixadas e leva tempo para resolver tudo. Malkovich rouba a cena com frequência, já que Willis não parece estar muito animado. Byung-hun Lee é um tanto novo para o personagem, teria sido muito melhor chamar um ator mais velho, como Jet Li, Chow Yun-Fat ou mesmo Jackie Chan. Os demais nomes do elenco estão adequados, não há um grande destaque.

RED 2 tem o seu charme, mas Smurfs 2 é difícil de aguentar

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