Grazi e Gianecchini são Uma Família Feliz

Expoente da literatura de terror nacional, Raphael Montes já vendeu estimados 500 mil livros e chamou bastante atenção quando a Netflix anunciou que um deles, Bom Dia, Verônica, coescrito por Ilana Casoy, se tornaria série. Depois, a mesma dupla escreveu os três filmes sobre o assassinato do casal von Richthofen. Agora, Montes chega ao Cinema com um roteiro original seu, que inclusive já virou livro: Uma Família Feliz (2024), suspense atualmente em cartaz.

Com um casal famoso da TV como protagonistas, o longa deve ter um público grande, mostrando que Cinema nacional não é só comédia padrão Globo Filmes (e sim, eles são produtores aqui). Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera vivem um casal que parece de novela: jovens, bonitos, bem sucedidos e com filhas lindas, além de um garoto a caminho. Moram em um condomínio confortável de um bairro chique carioca e são presentes na comunidade. Tudo corre muito bem para quem vê de fora, e até quem está muito perto tem motivos pra invejar aqueles dois. Até o dia em que a esposa é acusada de algo monstruoso.

Montes começa a história pelo final, deixando buracos que só serão preenchidos ao longo da sessão. A história é calmamente construída, com quase tudo fazendo sentido, e o início nos deixa apreensivos, esperando coisa ruim pelo caminho. O escritor e roteirista consegue manter o público no escuro e na ponta do sofá, elevando a tensão até um final nada fácil de engolir. Massafera, sempre com aquele sotaque forte que conhecemos de outros papéis, faz um bom trabalho, exagerando às vezes nas expressões dúbias.

Diretor experiente de filmes e séries, José Eduardo Belmonte tem no currículo boas obras, como Se Nada Mais Der Certo (2008) e os dois Alemão (2014 e 2022). O que pode deixar qualquer um com o pé atrás é o horroroso Billi Pig (2012), também com Grazi. Belmonte parece sabiamente ter desistido da comédia e mostra mão leve para conduzir a trama, deixando a história fluir e conseguindo de todos os envolvidos um bom trabalho. Até as meninas, Luiza Antunes e Juliana Bim, se mostram à altura das exigências.

Alguns assuntos espinhosos são trabalhados em Uma Família Feliz, começando pela dificuldade de se manter uma família realmente feliz, e não só nas aparências. A cultura do cancelamento e a depressão pós-parto também aparecem, nada muito aprofundado. Montes evita os erros cometidos em Verônica, série que já começa mal e termina terrível em sua terceira temporada, e conta uma boa história carregada de tensão. Suspenses não são tão comuns quanto a comédia, por exemplo, mas o nosso Cinema tem diversas ótimas opções.

Belmonte e Montes, diretor e roteirista, posam para foto

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
Esta entrada foi publicada em Adaptação, Estréias, Filmes, Indicações, Nacional e marcada com a tag , , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *