Babilônia é a homenagem de Chazelle a Hollywood

Com La La Land (2016), Damien Chazelle fez uma homenagem a Los Angeles e aos musicais, gênero que tanto gosta. Agora, o diretor partiu para um projeto um tanto mais ambicioso para reverenciar a Hollywood clássica, seguindo os passos de gigantes como os irmãos Coen (de Ave, César!, 2016), David Fincher (de Mank, 2020) e Quentin Tarantino (de Era Uma Vez Em… Hollywood, 2019), para ficar em exemplos recentes. Babilônia (Babylon, 2022) tem tudo em larga escala: grandes astros, muitos figurantes, cenários opulentos, uma extensa duração e um orçamento em torno de US$ 78 milhões.

Inspirando-se em figuras reais, como o ator John Gilbert, Chazelle criou seu roteiro com uma boa dose de ficção, imaginando como era viver na Los Angeles de 1926, na era do Cinema mudo. Numa festa que mais parece filmada por Baz Luhrmann, com um tanto a mais de nudez e drogas, conhecemos nossos personagens principais, todos circulando ao redor do mundo do Cinema: astros, produtores, funcionários e iniciantes sonhando com o estrelato. E sempre ao som da trilha contagiante de Justin Hurwitz, parceiro frequente de Chazelle e vencedor de dois Oscars por La La Land.

Tentando fazer seu nome do zero, temos Nellie LaRoy, vivida por Margot Robbie (de O Esquadrão Suicida, 2021). Nellie pega pequenos papéis e já se considera uma estrela, só o mundo que não sabe disso. Ainda. Diego Calva (de Narcos: México) interpreta Manny, um faz tudo que trabalha para um figurão e sonha em participar de filmes. E o grande nome do Cinema de então é Jack Conrad, feito por um Brad Pitt (de Ad Astra, 2019 – abaixo) especialmente canalha.

Os três protagonistas estão impecáveis, com o menos conhecido Calva despontando para o estrelato – os três foram indicados ao Globo de Ouro, Pitt como coadjuvante. O enorme elenco é cheio de nomes facilmente reconhecíveis, como a ótima Jean Smart, Jovan Adepo, Lukas Haas, Max Minghella, Samara Weaving, Katherine Waterston, Eric Roberts, Patrick Fugit, Ethan Suplee, Olivia Wilde e até o Flea, dos Red Hot Chilli Peppers. Ah, e não nos esqueçamos do Tobey Maguire, mais lembrado como Homem-Aranha e também produtor de Babilônia, que vive um mafioso perigoso.

Falando em Maguire, o longa frequentemente lembra uma outra produção que também contou com o ator em seu elenco: O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 2013), dirigido pelo já citado Luhrmann. Não só eles têm em comum as festas, a ostentação e a megalomania, mas o tema central: o sujeito pobre que quer a todo custo crescer na sociedade, mas teima em colocar como meta conquistar a mulher amada, o que o desvia de seu caminho.

Dentre tantas referências, o aceno a Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952) é o mais óbvio, com várias situações em comum. As gerações mais novas vão entender melhor a chegada do som no Cinema e, quem sabe, se interessar pelos clássicos. Se isso acontecer, a missão de Chazelle foi cumprida com louvor. Os 190 minutos chegam a cansar e o diretor perde um pouco a mão no final extenso, e chegamos a pensar que a projeção nunca vai acabar. Vale a pena insistir. O caos do início se fecha bem e mostra que o também roteirista Chazelle sabia bem onde queria chegar, e acaba o fazendo. Só não precisava demorar tanto!

Spike Jonze faz uma ponta como um cineasta alemão (ao lado de Haas e Pitt)

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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