Com apenas quatro episódios de sua segunda temporada exibidos, The White Lotus já teve sua terceira garantida pela HBO. Trata-se de uma antologia, aquelas séries em que um arco não tem ligação direta com o outro, a não ser por algum elemento periférico. Aqui, esse elemento é um resort caríssimo que recebe milionários em férias, e podemos acompanhar os problemas e as intrigas que eles criam entre si, interagindo com outros hóspedes, com os funcionários e os locais.
A primeira temporada, vencedora de dez Emmys e indicada a outros dez, nos levou a uma praia paradisíaca no Havaí onde um jovem casal foi passar sua lua de mel. Lá, Shane e Rachel Patton (Jake Lacy e Alexandra Daddario) conhecem os Mossbacher, uma família cheia de particularidades, e Tanya (Jennifer Coolidge), uma herdeira meio problemática que acabou de perder a mãe. Eles são recebidos pelo escorregadio Armond (Murray Bartlett), o gerente do White Lotus, e uma grande equipe.
O criador da atração, Mike White, até então era mais lembrado como o professor substituído pelo amigo Jack Black em Escola de Rock (School of Rock, 2003), ou como o diretor de O Estado das Coisas (Brad’s Status, 2017). Usando o seu próprio sobrenome no título, ele não só criou The White Lotus, mas escreveu, dirigiu e produziu todos os episódios. Queira animando ou não o espectador, é inegável que a série é redondinha, dividindo bem o seu tempo entre os personagens e apresentando o suficiente deles para nos interessar. E para nos importarmos com eles.
Na segunda temporada, temos uma mudança de ares. Um outro White Lotus fica na costa italiana na Sicília, um prato cheio para homenagens e referências cinematográficas. Novos personagens são apresentados, encabeçados por dois casais (acima): Cameron e Daphne Sullivan (Theo James e Meghann Fahy) e Ethan e Harper Spiller (Will Sharpe e Aubrey Plaza). Cameron e Ethan foram colegas de faculdade e decidem viajar juntos, levando as esposas. A toxicidade da amizade deles fica clara de cara, com Cameron mostrando ser um manipulador no limite da psicopatia.
Além dos casais, há três gerações dos Di Grasso: Bert (F. Murray Abraham), o avô mulherengo; Dominic (Michael Imperioli), o filho poderoso e viciado em sexo; e Albie (Adam DiMarco), o neto bonzinho que não aceita as escapadas do pai. A única a voltar da primeira temporada é Tanya (Coolidge), que continua complicada e agora arrasta consigo Portia, uma assistente que serve de babá (Haley Lu Richardson). A gerente da vez, Valentina (Sabrina Impacciatore), é um tanto mais exagerada, sem educação e resmungona que Armond. É a única que destoa, já que não duraria no cargo com essas características.
A premissa das duas histórias da série segue uma frase comumente dita na língua inglesa: “white people’s problems”. Ou seja: ela acompanha gente branca e rica e seus problemas e dilemas, enquanto nos mostra outras pessoas que têm de fato suas dificuldades e sonhos, e um grupo apenas usa o outro, que tem como função servir. Na superfície, temos a frivolidade dos ricaços, que se acham modelos para os demais e parecem fora da realidade. Um pouco mais a fundo, temos conflitos de classes e hipocrisias sendo desnudadas.