A necessidade de velocidade não parece ter sido saciada. Os superiores da Marinha se veem obrigados a acionarem seu maior piloto para um ataque suicida. Tom Cruise volta a seu personagem de 1986 para uma missão quase impossível em Top Gun: Maverick (2022). Levando uma vidinha tranquila em seu pequeno hangar, Pete Mitchell nunca se preocupou em ser promovido e continuou batendo de frente com almirantes sempre que pode. Estacionou na patente de capitão, como um incompetente qualquer, apenas para continuar pilotando.
Maverick, codinome do sujeito, é convocado a voltar à escola dos “melhores pilotos do mundo”, como todos se referem à instituição norte-americana mais conhecida como Top Gun. Um país nunca mencionado, apenas descrito como “pária”, estaria preparando o beneficiamento de urânio e cabe aos ases do Tio Sam salvar o planeta. No mesmo tom ufanista do primeiro, este longa conta com uma trama um pouco mais crível. Ao menos, há um inimigo a ser combatido, e não apenas algumas aeronaves que convenientemente cruzam o espaço aéreo americano no dia da formatura dos pilotos.
Na Top Gun, Maverick terá que treinar versões mais jovens de si mesmo para que possam cumprir a missão de explodir a base do tal país pária. Além de ter que se adaptar ao papel de professor, que sabe não dominar, Maverick terá que lidar com o exímio piloto Bradley “Rooster” Bradshaw (Milles Teller, de Whiplash, 2014, e atualmente na ótima série The Offer – abaixo), filho de seu antigo parceiro, Goose, morto em um treinamento que deu errado. Rooster carrega bastante ressentimento e eles precisarão lidar com isso para que a tarefa seja cumprida.
Este novo Top Gun, cuja estreia foi adiada devido à pandemia, traz várias homenagens. De cara, nos letreiros iniciais, lembra do falecido produtor Don Simpson, sócio de Jerry Bruckheimer em diversos blockbusters – incluindo o primeiro Top Gun. Ao final, nos créditos, traz dedicatória a Tony Scott, diretor do primeiro e que também já nos deixou. E durante todo o longa temos referências a Tom “Iceman” Kazansky, piloto vivido por Val Kilmer que serviu como antagonista de Maverick. Kilmer tratou um câncer na garganta em 2017, o que o debilitou, afetou seriamente a fala dele e fez o ator se aposentar.
É bem interessante perceber que Pete Mitchell não amadureceu nada e Tom Cruise volta a ele com uma naturalidade que faz parecer que o primeiro filme foi feito ontem, e não há mais de 35 anos. Os personagens fogem de estereótipos, caso por exemplo do superior feito por Jon Hamm (o eterno Don Draper de Mad Men), que não demoniza Mitchell, apesar de não simpatizar com ele; e da mocinha vivida por Jennifer Connelly (de Alita, 2019), que seguiu sua vida quando o sujeito a abandonou.
O elenco ainda conta com uma pequena participação do veterano Ed Harris (de Tempestade, 2017) e com uma nova geração de rostinhos bonitos interpretando os novos pilotos, repetindo um pouco da dinâmica da aventura anterior. Uma boa fotografia e ótimos efeitos visuais ajudam o público a entender as manobras dos aviões e não ficamos (muito) perdidos. Cruise acertadamente trouxe a bordo seu diretor em Oblivion (2013), Joseph Kosinski, e seu parceiro na franquia Missão: Impossível, Christopher McQuarrie, que ajudou no roteiro. Com rostos conhecidos por perto, o astro e produtor conseguiu atingir onde queria: uma obra que levasse a anterior adiante, não só a homenageando, mas acrescentando àquele universo.
Outro elemento que teria que ser bem cuidado é a trilha sonora, e não poderia estar melhor: além de Lorne Balfe e Hans Zimmer, ela conta com Harold Faltermeyer, do longa de 1986, o que nos traz notas familiares. E outra decisão muito feliz foi começar com Danger Zone, canção marcante de Kenny Loggins para sempre associada a Top Gun. Num bonito aceno ao passado, temos Teller ao piano tocando outra faixa conhecida. A novidade fica por conta de Lady Gaga, que lançou o single que encerra o filme: Hold My Hand, meio que ocupando a vaga de Take My Breath Away.
Não é difícil concluir que o resultado de Top Gun: Maverick é bem superior ao de seu antecessor. Descontadas a nostalgia e a memória afetiva, o original não resiste bem a revisões, com situações (e uma quantidade de suor) exageradas, olhares cheios de luxúria sendo trocados a esmo e desenrolares facilmente previsíveis. Kosinski atinge aqui temas mais relevantes, misturando a ação esperada a discussões sobre amadurecimento, paternidade e relacionamentos muito atuais. O mundo mudou, o futuro chegou e só Maverick continua o mesmo. Para a nossa sorte.
Já estava ansioso pra assistir. Após ler a crítica a vontade aumentou ainda mais.
Valeu Seabra!!
É um prazer, Warley! Obrigado pela visita!