por Marcelo Seabra
Histórias de duelos entre um Davi e um Golias costumam ser interessantes. Produtores de Cinema tendem a gostar da premissa, como provam Erin Brockovich (2000) e A Qualquer Preço (A Civil Action, 1998), para ficar em exemplos mais badalados. O mais recente representante desse grupo a ganhar a tela grande é O Preço da Verdade (Dark Waters, 2019), adaptação de um artigo da revista do New York Times sobre a criminosa poluição causada por uma empresa. Juntar nessa mistura um diretor bem competente e um elenco notável só faz a expectativa crescer.
Mark Ruffalo, que nas horas vagas, quando não está vivendo o Hulk no Universo Marvel, procura projetos mais discretos, foi escalado para encabeçar o projeto. Ele vive Robert Bilott, um advogado que acaba de se tornar sócio em um escritório prestigiado que tem como principais clientes grandes indústrias químicas. Procurado por um fazendeiro vizinho de sua avó, Bilott acaba investigando um fenômeno: os animais da fazenda estão morrendo e tudo leva a crer que o culpado é um riacho onde eles bebem água. E que abastece toda aquela cidadezinha. É lá que a DuPont joga os refugos de sua produção.
A empresa ficou famosa no mundo todo e ganhou bilhões por produzir o teflon que é aplicado em panelas. Uma vez no corpo humano, ele nunca mais sai ou se dissolve, o que pode levar a um câncer ou a outras doenças. E o descarte no meio ambiente causa outra série de catástrofes. Bilott começa a investigar e acaba caçando uma grande briga, enquanto vê suas vidas particular e profissional em perigo. Distante da mulher (Anne Hathaway, de Colossal, 2016) e dos filhos, já que está sempre pensando no trabalho, ele ainda cria problemas com o chefe (Tim Robbins, de Cinema Verité, 2011 – abaixo), que não quer se indispor com os clientes.
Outros nomes que compõem o elenco de O Preço da Verdade incluem Bill Pullman (de A Guerra dos Sexos, 2017), Victor Garber (de Legends of Tomorrow), William Jackson Harper (de The Good Place) e Mare Winningham (de Under the Dome e The Outsider), que formam um grupo realmente interessante. Comandando o show, temos Todd Haynes (de Carol, 2015), diretor respeitado que tem grande diversidade de temas em seu currículo e uma visão bem sensível. Entre os roteiristas, temos uma combinação rica de Mario Correa, cuja experiência remete a documentários, e Matthew Michael Carnahan, de blockbusters como Horizonte Profundo (Deepwater Horizon, 2016). Ou seja: tudo indica um filme redondinho, sem arestas a aparar.
O assunto, no entanto, é pesado e os envolvidos não conseguiram contornar o maior risco que enfrentavam: fazer um filme chato. Os 120 e poucos minutos parecem se arrastar, e há cenas pontuais que exageram um pouco no drama, como quando o irmão de uma vítima aborda a família do advogado em um restaurante. Em uma guerra, há várias batalhas, e custa muito a chegarmos ao final. Por mais que todos sejam ótimos em suas tarefas, há momentos cansativos, o que derruba um pouco o resultado.