por Marcelo Seabra
Tendo passado por várias adaptações para outras mídias desde seu lançamento, em 1897, O Homem Invisível (The Invisible Man), história clássica de HG Wells, ganhou uma nova versão para o Cinema. No entanto, o foco mudou e temos agora uma heroína fugindo do psicopata do título. Ao invés de acompanharmos um cientista em busca de um antídoto para sua invisibilidade, temos a namorada do sujeito em dúvida se está sendo perseguida por ele ou se está à beira da loucura.
A ideia inicial da Universal Pictures era reviver seus monstros clássicos em aventuras solo para, na sequência, reuni-los, criando um universo compartilhado sombrio – o Dark Universe. O fracasso de críticas e de bilheterias de A Múmia (The Mummy, 2017) mudou radicalmente o plano e a primeira providência foi dispensar Johnny Depp, que iria viver o personagem de Wells. O roteiro de David S. Goyer também ficou de lado e o novo produtor encarregado, Jason Blum, chamou Leigh Whannell, um dos criadores da franquia Jogos Mortais (Saw), para repaginar o projeto.
Além da direção, Whannell assumiu também o roteiro e definiu um novo e acertado caminho. Evitando sustos fáceis e carregando na tensão, ele criou a história de uma mulher oprimida pelo namorado poderoso que não tem liberdade nem após a morte do sujeito. Ela foge da mansão, ele se suicida e parece que esse era o fim da relação. Mas coisas estranhas começam a acontecer e ela passa a ter certeza de que ele está por perto. Invisível.
Entre várias decisões felizes, a melhor foi a escolha de Elisabeth Moss para o papel principal. Conhecida por séries como Mad Men, Top of the Lake e The Handmaid’s Tale, ela tem trabalhos interessantes no Cinema e há muito provou sua competência. As expressões da atriz vão de um extremo ao outro, com alívio, medo ou raiva bem visíveis. Moss realmente dá uma aula e merece louros, além de premiações. Se não vierem por esse trabalho, não tardarão.
Outro que brilha, mesmo sem aparecer, é Stefan Duscio. Diretor de fotografia em Upgrade (2018), também de Whannell, ele faz um trabalho brilhante explorando cantos e quartos vazios e nos fazendo crer que de fato há alguém ali. Os enquadramentos são grandes responsáveis pela crescente tensão em O Homem Invisível, complementados por silêncios incômodos e pela bem encaixada trilha sonora de Benjamin Wallfisch (dos dois It, 2017 e 2019). Os efeitos sonoros, apesar de discretos, são marcantes, completando o quadro e a aflição.
Se este O Homem Invisível vai ajudar a compor um universo maior da Universal, só saberemos no futuro. Talvez inicie novas práticas e prove que não é necessário ter um astro envolvido (como Tom Cruise). Por enquanto, é um filme independente de qualquer outro, e um muito bem sucedido em sua missão. Whannell, já envolvido na refilmagem do novo clássico Fuga de Nova York, é um nome que deve aparecer bastante daqui em diante.