Tim Burton nos apresenta a crianças bem peculiares

por Marcelo Seabra

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Entre um filme correto que parece ser de um diretor qualquer (Grandes Olhos, 2014) e umas estranhezas com a cara dele e ruins (Sombras da Noite, 2012), Tim Burton parecia estar acertando apenas com animações (Frankenweenie, 2012), e mesmo assim era material recauchutado do início de sua carreira. Por isso, pode-se dizer que O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children, 2016) representa uma volta à boa forma, com uma história que mistura bem aventura, humor e morbidez, bem o que ele parece gostar.

Coletando fotografias antigas, o americano Ransom Riggs decidiu usá-las para contar uma história, mas foi persuadido por seu editor para usar uma narrativa mais tradicional. As fotos entraram como ilustração e ajudaram a narrar a saga de Jake Portman, um garoto que decide ir atrás das lendas contadas pelo avô falecido e descobre que era tudo real. Fãs do livro têm se manifestado contra as alterações que a obra sofreu ao chegar ao Cinema, mas isso só deve incomodar os mais xiitas. O resultado é algo próximo de um Peter Pan, uma trama infanto-juvenil divertida que nos apresenta às crianças peculiares do título.

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É comum que fábulas tenham um fato triste como pano de fundo. A exemplo das Crônicas de Nárnia, aqui temos a Segunda Guerra Mundial e personagens que se mantêm protegidos dela. Outros temas adultos tratados são a perda, o envelhecimento e a solidão. Jake, o protagonista, é outro ótimo trabalho de Asa Butterfield, mais lembrado como o Hugo Cabret de Martin Scorsese. O garoto fica ainda mais solitário após a morte do avô (Terence Stamp, de Grandes Olhos), e a psicóloga o incentiva a visitar a ilha onde se passavam as histórias contadas pelo veterano. Com o pai (Chris O’Dowd, de Um Santo Vizinho), Jake vai até o país de Gales para descobrir o tal orfanato destruído por um bombardeio.

Não demora até o garoto descobrir que, em uma realidade paralela, ou uma fenda no tempo, a casa está intacta e lá moram todos os personagens narrados pelo avô, e ele sente como se já conhecesse todos eles. E todos já esperavam por ele. Como nem tudo são flores, Jake toma conhecimento dos etéreos, criaturas malignas que se alimentam de crianças peculiares. Valendo-se dos poderes de cada um, ele precisa ajudá-los a vencer a gangue do vilão, Barron (Samuel L. Jackson, de A Lenda de Tarzan, 2016). Claro que essa jornada vai ajudar a fortalecer a personalidade abalada de um jovem ignorado pelos pais e atacado pelo colegas.

Ms. Peregrine Green

Com um elenco que ainda conta com uma bela atuação de Eva Green (de Sin City 2, 2014 – acima) e participações especiais de gente do calibre de Allison Janney (da série Mom) e Judy Dench (a M de Skyfall, 2012), O Lar das Crianças Peculiares é o tipo de longa que agrada aos pais e aos filhos. Ao mesmo tempo em que o lar parece conservado pela fenda, ele não é exatamente novinho ou bem cuidado. Assim como o figurino das crianças, tudo parece levemente deteriorado, equilibrando luz e sombras. E esse é o forte de Burton: escapar dos extremos e circular entre o doce e o assustador. Nada é mórbido a ponto de espantar o público mais novo, mas também não é bonitinho.

Os poderes dos peculiares transitam bem nesses dois lados, e eles são bem desenvolvidos pelo roteiro – algo que a roteirista Jane Goldman tem experiência em fazer (por exemplo, em Kingsman, 2014, e X-Men: Primeira Classe, 2011). A riqueza de detalhes nos cenários é impressionante e a história casa tão bem com o estilo do diretor que parece ter sido escrita pelo próprio, como Burton afirmou em entrevistas no lançamento.

Algumas das fotos usadas no livro

Algumas das fotos usadas no livro

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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Uma resposta para Tim Burton nos apresenta a crianças bem peculiares

  1. laender disse:

    O cinema americano reflete o desenvolvimento tecnológico e intelectual do povo mais criativo e emblemático do planeta.

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