JJ Abrams rejuvenesce outra franquia intergalática!

por Marcelo Seabra

Ver uma nova aventura do universo de Star Wars e concluir que a missão foi muito bem cumprida é um alívio muito grande. Afinal, os três episódios mais recentes desapontaram muita gente. O Despertar da Força (The Force Awakens, 2015) consegue ser feliz ao homenagear a série clássica e também ao inserir novos elementos, agradando a fãs e a novatos e dando continuidade à história. É emocionante ver Han Solo pilotar a Millenium Falcon, ouvir os urros do Chewbacca e conhecer uma riqueza de seres e objetos que não fariam sentido algum em outra situação.

George Lucas, o pai de Star Wars, é conhecido por seus diálogos constrangedores e não é exatamente um gênio atrás de uma câmera. Essa genialidade ele guarda para outros fins, como o comercial, ganhando dinheiro de várias formas em cima do mesmo produto. Por isso, ele foi muito feliz ao passar a direção deste novo episódio para J.J. Abrams, nerd de carteirinha que já havia dado nova vida a outra franquia intergalática: Star Trek, com dois ótimos filmes. Abrams é um cineasta seguro, que sabe utilizar efeitos especiais na medida adequada, evitando qualquer artificialidade. E ele usa emoção e humor sem ser piegas ou infantil, o que traz um equilíbrio à obra, indo facilmente da leveza a um embate de vida ou morte.

Além da qualidade de Abrams como diretor, ele demonstra muita familiaridade com o material. É como um menino que tira seus bonecos da embalagem, brinca a valer e os conserva. O roteiro, que ele escreveu com Lawrence Kasdan (de O Império Contra-Ataca, geralmente apontado como o melhor da série, e O Retorno de Jedi) e Michael Arndt (de Jogos Vorazes: Em Chamas, 2013), trata a mitologia já montada com respeito, repetindo muito da dinâmica original. Conseguimos encontrar várias pontes diretas, tornando esse filme algo muito próximo de uma refilmagem. As referências vão de rimas visuais aos diálogos. Eles chegam a criar uma estação espacial chamada Starkiller – que lembra de cara a grande Estrela da Morte (Death Star), além de adotar o sobrenome originalmente pensado para Luke.

A história, por alto, lembra muito Uma Nova Esperança (A New Hope, 1977), com dois personagens que poderiam ser os correspondentes a Luke e Han, mas com características misturadas. E a grande surpresa: um é negro, a outra é uma mulher. E isso é apenas uma característica de cada um, não é nada definidor. Daisy Ridley, com passagens em várias séries de TV, é a nova guerreira deslocada, como Luke foi, e é o grande destaque do longa. Ela é forte e deixa claro que não precisa da ajuda de nenhum homem para cumprir o que deve. E John Boyega (de Ataque ao Prédio, 2011) é o Stormtrooper que cria consciência e deseja fugir daquilo tudo. É a primeira vez que temos um soldado se tornando protagonista, quando conhecemos um Stormtrooper mais a fundo. Fica claro que ele será advertido pelo simples fato de quebrar o protocolo, tirando o capacete.

A trama começa quando o melhor piloto da resistência, Poe Dameron (Oscar Isaac, de O Ano Mais Violento, 2014 – no alto, no meio da foto), entrega informações confidenciais a um dróide que vai parar nas mãos de uma catadora (Ridley). O tal Stormtrooper fugitivo cruza o caminho da garota e acaba ajudando-a em sua nova missão, chegando a conhecer o lendário Han Solo (Harrison Ford) e o peludo Chewbacca (Peter Mayhew). Depois de um primeiro momento, começamos a encontrar os personagens míticos, o que é sempre emocionante. Sabemos que Darth Vader não aparecerá, mas ele não deixa de ser mencionado, e não falta a música tema. John Williams demonstra estar bem afiado e cria faixas que casam muito bem com a ação, sendo discretas e pontuando bem cada momento.

No papel de vilões, temos dois grandes atores com resultados diversos. Adam Driver (de Girls – ao lado) não é nenhum garotinho, mas seu papel dá a entender que ele traz traumas de criança e não passa de um pós-adolescente mal criado. No entanto, de máscara, como um herdeiro de Vader, ele se mostra ameaçador e perigoso. Já Domhnall Gleeson (de Questão de Tempo, 2013) faz uma versão bem afetada de Hitler, um líder político que depende de táticas de amedrontamento e lavagem cerebral para manter sua equipe. A referência nazista, inclusive, é uma constante, mas a atuação bem exagerada de Gleeson compromete seu resultado. A ideia parece repetir a importância de Peter Cushing no primeiro filme, mas Gleeson parece sempre a ponto de dar um chilique. E isso não é legal para um vilão fodão.

Na resistência, além da General (ex-Princesa) Leia (Carrie Fisher), temos o tal piloto Poe, que o guatemalteco Oscar Isaac vive. Com muita tranquilidade e a segurança que o personagem exige, Isaac é o líder em combates aéreos, e é interessante ver um latino em papel de destaque. A vencedora do Oscar Lupita Nyong’o (de 12 Anos de Escravidão, 2013) faz uma espécie de sucessora de Yoda, uma sábia veterana que aconselha os personagens. E o grande Max von Sydow, o eterno Padre Merrin, faz uma ponta. Nomes importantes não faltam ao elenco, e há outros não creditados. Entre eles, Daniel Craig, Simon Pegg, Andy Serkis, Gwendoline Christie, Thomas Brodie-Sangster, Greg Grunberg, Warwick Davis, Michael Giacchino, Judah Friedlander e Bill Hader, comediante que ajuda a dar personalidade ao simpático robô BB-8. Isso, além dos membros clássicos, os já citados e Mark Hamill.

Star Wars: O Despertar da Força já arrecadou mais de 530 milhões de dólares pelo mundo, sendo o recordista da história em bilheteria no fim de semana de estreia. Da série, já ocupa o sexto lugar em arrecadação nacional, posição que deve mudar radicalmente nos próximos dias, com mais vendas de bilhetes. Dessa forma, a nova trilogia demarca território e já chega com números expressivos, o que vai facilitar o caminho para os novos episódios e para os extras, que contarão histórias paralelas ou prévias. Quem ganha é o fã do universo criado por Lucas.

 

Hamill, Fisher e Ford são a principal atração

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Na boa Seabra, como fã gostei demais do filme, atuações ótimas de Boyega e Ridley (Oscar Isaac ficou um pouco apático na minha opinião, mais por culpa da pouca participação no filme), um enredo bem dinâmico e, claro, bem reverencial ao episódio IV (para mim soou como homenagem e não como plágio como alguns xiitas costumam apontar) e, na boa, empalidece tranquilamente Carrie Fisher e Mark Hamill (que, ao menos para mim, sempre foram fraquinhos) sendo comparáveis ao carisma de Harrison Ford (que estava muito bem no filme também) adorei o filme, para mim está ao lado da Vingança dos Sith e do Império Contra Ataca em termos de qualidade

  • aaa. esqueci do mais importante, boa análise :D haha

    Ps: ainda tenho que assistir o podcast que vocês gravaram sobre a saga para o Cinemaemcena :D

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