por Marcelo Seabra
Misture o consagrado roteirista e diretor Richard Curtis (de Simplesmente Amor, 2003, e Os Piratas do Rock, 2009), um casal de atores em perfeita sintonia e viagens no tempo. Pode parecer loucura, mas o resultado dá muito certo. Questão de Tempo (About Time, 2013) não deixa de ser uma comédia romântica, mas vai mais longe ao misturar algumas questões existenciais encontráveis apenas nas melhores ficções-científicas. Isso, além de ser mais engraçada que a maioria de seus pares, que geralmente ficam apenas no romance água com açúcar.
Apesar de já ter aparecido em vários filmes (como Dredd, 2012, e os dois últimos Harry Potter), Domhnall Gleeson só deve se tornar um rosto reconhecível agora, com o papel do jovem inglês que descobre poder viajar no tempo, dentro de sua própria linha de tempo, e alterar o que julgar necessário. Ele só precisa tomar cuidado com o efeito borboleta, já que cada mínima alteração no passado pode ter conseqüências grandes no futuro. Como todo jovem, ele passa por experiências de crescimento e formação até ir para a cidade grande, Londres, onde vai conhecer a mulher de sua vida. É onde entra Rachel McAdams, atriz que já viveu a esposa de um viajante do tempo em Te Amarei para Sempre (The Time Traveler’s Wife, 2009). Ela é a linda americana por quem Tim se apaixona – apesar daquela franja esquisita.
O relacionamento dos dois realmente funciona, já que as situações vividas são bastante críveis, e Curtis imprime seu humor fino em todo o longa. Outra figura carismática que divide a responsabilidade pelo sucesso da obra é Bill Nighy (de O Vingador do Futuro, 2012), o engraçadíssimo pai de Tim, que possui o mesmo dom que o filho, como todos os homens da família, e o prepara para essa louca verdade. A mãe (Lindsay Duncan, de Alice no País das Maravilhas, 2010) e a irmã (Lydia Wilson, de Não Me Abandone Jamais, 2010) completam o núcleo principal, além do tio abobado (Richard Cordery, de Os Miseráveis, 2012). Toda a família Lake é muito interessante, o que acaba chamando a atenção para o fato de que os pais da garota aparecem apenas uma vez, e nem se fala sobre os irmãos dela, mencionados rapidamente em um momento. Mesmo assim, os protagonistas são desenvolvidos o suficiente para que nos importemos com eles e, mais ainda, para que torçamos por eles.
A magia da história não precisa ser explicada, uma sábia decisão de Curtis. Eles apenas podem entrar num armário escuro, escolher uma época específica de suas vidas e consertar traumas e fracassos. As metáforas que nascem dessa proposta são inúmeras, e Tim acaba se tornando uma pessoa menos insegura e tímida, como qualquer interiorano recém chegado à capital poderia ser. As armadilhas comuns e a conclusão sentimentalóide que costumam marcar este tipo de produção passam longe, mostrando que há vida inteligente no gênero. Curtis conseguiu mais uma vez fazer um filme bonito, inteligente e que te deixa com um sorriso besta no rosto por alguns minutos.