por Marcelo Seabra
Tudo o que Michael Bay e Roland Emmerich tentam fazer há anos, Guillermo del Toro conseguiu: um bom filme com robôs, alienígenas e destruição em massa. Homenageando os clássicos filmes de monstros japoneses (os kaiju eiga), com direito a citação ao final para os mestres Ishirô Honda e Ray Harryhausen, del Toro dirige Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013), longa de ação que consegue ser fantasioso, divertido e ambicioso. Depois de uma rápida contextualização, vamos direto para o campo de batalha, que é nada menos que o mundo todo.
A primeira qualidade da obra que fica clara: não se mostram os americanos como heróis do mundo ou principais vítimas. Temos vários lugares sendo contemplados e, apesar dos personagens se entenderem em inglês, não parecem ser todos do mesmo país. As nações se unem para combater um mal que vem do mar, de uma fenda misteriosa no fundo do Oceano Pacífico. Ela parece ser uma porta para outra dimensão de onde vêm criaturas enormes, chamadas kaiju, que só parecem interessadas em destruir cidades inteiras. Para combatê-las, os humanos criam robôs com aproximadamente a mesma altura, os Jaegers, que precisam ser pilotados por duas pessoas. É feita uma espécie de ligação cerebral entre as duas e o robô ganha vida.
Para o cargo de protagonista, foi convocado Charlie Hunnam, visto em Green Street Hooligans (2005) e mais recentemente em A Fuga (Deadfall, 2012). O ator se mostra uma boa escolha e faz o melhor que pode com o aquele que deve ser o personagem menos desenvolvido de todos, o piloto de Jaegers Raleigh Beckett. O inglês Idris Elba, da série Luther, é o líder que eles precisam na pele do Marechal Pentecost, enquanto a japonesa Rinko Kikuchi, de Babel (2006), está no outro extremo como a bem preparada mas inexperiente Mako Mori. No núcleo mais engraçado, temos Charlie Day (de Quero Matar Meu Chefe, 2011) e Burn Gorman (da série Revenge) como colegas cientistas que se tratam como rivais e querem estar certos, e ainda o Hellboy Ron Perlman como Hannibal Chau, a única figura exagerada do longa. Só conhecemos o necessário de cada um, aquilo que será importante para o roteiro, e até o irritante Day está adequado ao papel.
Algo que pode ser visto como um defeito de Círculo de Fogo (além desse título nacional genérico e repetido) também acontece com produções como The Wolverine (2013) e O Homem de Aço (Man of Steel, 2013): a necessidade de não pegar uma censura alta acaba com a possibilidade de vermos sangue ou cadáveres em cena. Toda aquela destruição fica muito limpa, o que não condiz com o que vemos. No entanto, em momento algum o filme se torna aborrecido como a aventura do Super-Homem, e a destruição tem um porquê. Os monstros a buscam, e eles podem querer ir para o meio de uma cidade. A chuva freqüente até chega a incomodar, mas proporciona belas imagens. E há até uma certa relevância social, já que vemos pessoas aceitando subempregos, mal pagos e perigosos, como numa volta à época da Revolução Industrial, uma discreta crítica aos rumos em que seguimos.
O roteiro, assinado por del Toro e Travis Beacham (de Fúria de Titãs, 2010), baseado numa história do segundo, é bem enxuto, deixando bastante tempo para que os planos sejam executados. No momento em que a trama começa, os Jaegers já não estão dando conta do recado e outra saída é necessária contra os kaijus. A base onde ficam os robôs e toda a equipe envolvida na resistência tem um design fantástico, tudo muito prático e crível, e os próprios robôs são muito bem trabalhados, cada um com uma personalidade, por assim dizer. Os efeitos que dão vida a eles dão também veracidade, já que eles não são ágeis e leves como, por exemplo, os Transformers de Michael Bay. Quando um Jaeger é derrubado, dá para perceber o peso e a dificuldade para se reerguer. Esses detalhes fazem o público se envolver, trazer à tona a criança interior e aproveitar a jornada. No fim, nem parece durar 131 minutos.
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