Ray Donovan é boa novidade na TV

por Marcelo Seabra

A estreia nos EUA foi em 30 de junho e já está em exibição na HBO Brasil. Ray Donovan, nova série do Showtime, bateu recorde de audiência em sua estreia, com 1,35 milhão de espectadores, superando Dexter e Homeland. Quem ganha com isso, claro, é o público, com tantas boas séries em exibição na TV. Difícil é selecionar qual assistir, ou ficar o resto da vida sentado no sofá seguindo tudo. Ray Donovan vem mostrando ser uma das que valem a pena e pode bem ser adotada por aqueles que ficarão órfãos com o fim de Dexter, que está no meio de sua última temporada.

Lembra do Mr. Wolf, personagem de Harvey Keitel em Pulp Fiction (1994)? “Eu sou Winston Wolfe, eu resolvo problemas”. Ele cuidava de situações delicadas, como sumir com um cadáver e limpar a cena do crime, que possivelmente mandariam os envolvidos para a cadeia. Pois Ray Donovan, o protagonista da série homônima, faz exatamente isso, com duas diferenças: ele tem toda uma estrutura legal por trás, atuando como complemento; e ele realmente coloca as mãos na massa, não ficando apenas nas instruções. Ah, e os clientes não são uns criminosos quaisquer, mas gente da alta sociedade de Hollywood. Entre artistas e empresários, acontece muita coisa que o americano médio nem sonha, e isso se deve a Ray e sua turma, que acobertam tudo quando devidamente pagos para isso.

Ray trabalha para uma firma de advocacia muito prestigiada e lidera a divisão não divulgada, mas que todos parecem conhecer. Ele é uma lenda entre as celebridades que costumam se meter em enrascadas, e tem dois colaboradores de confiança para ajudá-lo. Outra característica interessante de Ray é a família: além da mulher e filhos, ele tem um irmão traumatizado que não trabalha (Dash Mihok, de O Lado Bom da Vida, 2012), enquanto o outro é um ex-boxeador com Parkinson que cuida de um ginásio (Eddie Marsan, de Jack – O Caçador de Gigantes, 2013). Mas problemas mesmo ele tem com o pai, o detestável ex-presidiário Mickey, vivido com visível prazer pelo veterano Jon Voight (abaixo), hoje mais lembrado como o pai da Angelina Jolie. Outro medalhão do elenco é Elliot Gould, o pai de Ross e Monica em Friends, que faz o excêntrico e milionário mentor de Ray. E a presença de James Woods (da série Shark) é prometida ainda para a primeira temporada.

No papel principal, Liev Schreiber mostra que tem condições plenas de segurar uma série nas costas. No Cinema, ele costuma ser coadjuvante, como em X-Men Origens: Wolverine (2009), no qual viveu o vilão Victor Creed, e na série Pânico (Scream), em que fazia o assassino condenado injustamente Cotton Weary, além de vários outros. Entre projetos de grandes orçamentos e produções independentes, ele é sempre competente, e merecidamente ganhou mais responsabilidade agora, à frente de um bom elenco.

Muitos elementos da trama serão descobertos aos poucos, os primeiros episódios deixam muitas pontas soltas. Recebemos dicas sobre certos personagens, mas elas chegam cifradas e fragmentadas. O fato de serem muitos personagens também não facilita a compreensão, mas dá veracidade à série. Afinal, Ray encontra muita gente em seu dia a dia, como acontece na vida da gente, e não fica restrito a apenas dois ou três núcleos. Para haver identificação com o público, o protagonista tem profundidade, fugindo do estereótipo do cara durão que quebra tudo e resolve as coisas no braço. Ray tem muito carinho e preocupação por sua família e ainda ajuda alguns pobres coitados que cruzam seu caminho.

Claro que, com números de audiência tão bons e tanta cobertura da mídia, Ray Donovan teria garantida a sua continuidade em 2014. Ann Biderman, a criadora da atração (e roteirista de Inimigos Públicos e As Duas Faces de um Crime), teve a confirmação da segunda temporada menos de um mês depois da exibição do primeiro episódio, o que mostra a confiança que o Showtime está demonstrando. E, como se a série ainda precisasse de mais atenção, o produtor executivo Bryan Zuriff se declarou culpado de comandar uma central ilegal de apostas e de lavagem de dinheiro. Ele teria até ligações com a máfia russa. Enfrentando a possibilidade de pegar até cinco anos de cadeia, ele anunciou estar deixando o programa para resolver seus “problemas pessoais”.

A “família” se reúne para o lançamento em Los Angeles

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Realmente, esta série tem se mostrado uma grata surpresa e merece ser conhecida pelo grande público. Um pequeno problema que se apresenta é a falta de uma trama mais elaborada que funcione através de um arco de histórias. Além do mais, Jon Voight está terrivelmente bem nesta série, quase ofuscando Liev Schreiber em alguns momentos, o que pode ser um sinal de indicações para o próximo ano.
    Por outro lado, os órfãos de Dexter - e eu, incluso - podem voltar suas atenções para outras séries de serial killers, já que neste ano estrearam (e muito bem, por sinal) Hannibal e Bates Motel. É um bom momento para curtir tanto filmes quanto séries.

  • Parece absolutamente fantástico Ray Donovan também muito inovador em relação à série que estamos acostumados

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