Categories: EstréiasFilmes

O Concurso é outra decepção nacional

por Marcelo Seabra

Sempre que uma comédia brasileira chega aos cinemas, torço para que tenha ao menos um aspecto interessante. Tem quem ache que crítico gosta de falar mal, como se alguém gostasse de perder tempo vendo filme ruim. Infelizmente, não foi com a estreia de O Concurso (2013) que a expectativa por um humor nacional bem feito foi saciada. Pelo contrário: clichês, estereótipos e a total falta de graça marcam a produção. Até o cartaz do longa entrega muita coisa, o público já entra na sessão sabendo exatamente o que vai acontecer.

Para que um filme nacional atraia espectadores, é necessário ao menos um nome em ascensão, e este parece ser o de Fábio Porchat, comediante visto em uma penca de séries cômicas de canais globais e em filmes como Vai que Dá Certo (2013) e Totalmente Inocentes (2012). E é logo ele quem parece ter o pior papel: o de gaúcho enrustido filho de um machão linha dura (Jackson Antunes). Como bom carioca que é, Porchat deve fazer os gaúchos de verdade sentirem vergonha alheia – e ele só de vez em quando resolve lembrar do sotaque acentuado do Rio Grande do Sul. O “arco” dramático do personagem é de deixar qualquer um constrangido.

Os outros três candidatos ao concurso do título, além do gaúcho, são: o paulista do interior que é extremamente tímido (Rodrigo Pandolfo, de Minha Mãe É uma Peça: O Filme, 2013); o carioca malandro (Danton Mello, de Vai que Dá Certo); e o cearense ligado a orixás, mandingas e trabalhos espirituais (Anderson De Rizzi, atualmente na novelas das nove). O que pode ser dito de bom é que todos estão igualmente ruins, nenhum se destaca em mediocridade. Mello, irmão financeiramente mais viável de Selton, é um mineiro tentando ter a ginga do trambiqueiro praiano. Além de naturalmente lembrar o irmão com aquele jeito manso e cansativo de falar, ele ainda repete uma fala de Meu Nome Não É Johnny (2008), só para deixar claro o parentesco. Pandolfo, coitado, faz o que o roteiro manda, por mais sem nexo que seja, e é o que mais se expõe. De Rizzi poderia bem ser o novo Bernie de Um Morto Muito Louco (1989), ele parece um cadáver ambulante com prótese nos dentes.

Os quatro vivem várias situações que se atropelam e nenhuma delas tem algo remotamente engraçado, e o roteiro parece não se preocupar com isso – nem com ter nexo. O diretor Pedro Vasconcelos faz sua estreia no Cinema e emprega a experiência que ganhou em programas de televisão e novelas, o que fica claro pela falta de criatividade das cenas e dos recursos empregados. Ah, e ele, ou alguém da equipe, achou uma boa ideia ter Sabrina Sato como atriz, o que certamente não deveria ser repetido. Nem para ser só bonita ela serve. E, caso alguém esteja preocupado, não há baixarias com sexo, o filme realmente não consegue despertar nenhuma emoção. Duro é ter praticamente certeza de que, como várias outras ditas comédias recentes, isso deve arrecadar bastante e garantir uma sequência. Quais estereótipos teremos dessa vez? O mineirinho come quieto? O baiano preguiçoso? Só esperaria que tivesse alguma graça.

Elenco e diretor apresentam a bomba

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Nossa,l assisti esse filme ontem. Fiquei horrorizado pela falta ou preguiça quanto a criatividade. Até eu imaginei um final melhor. O cinema brasileiro é isso ae, una-se a um amigo que conhece a alguém da ANCINE e faça mais de 2 filmes ruins por ano.

Recent Posts

Grazi e Gianecchini são Uma Família Feliz

Expoente da literatura de terror nacional, Raphael Montes já vendeu estimados 500 mil livros e…

3 semanas ago

Oscar 2024 – Indicados e Previsões

Com apresentação de Jimmy Kimmel (abaixo), que exerce a função pela quarta vez, a 96ª…

2 meses ago

Oscar 2024: comentários de um convidado

por Alexandre Marini Marcelo Seabra me convidou para escrever um pouco sobre minha percepção a…

2 meses ago

Família da luta livre tem sua história contada em Garra de Ferro

A partir do final da década de 70 e por todos os anos 80, houve…

2 meses ago

Parte Dois de Duna chega mantendo o nível

Depois das 2h35min da primeira parte, chega aos cinemas essa semana Duna: Parte Dois (Dune:…

2 meses ago

Pacote Oscar 2024

Conheça melhor alguns dos indicados ao Oscar 2024: Maestro (indicado a sete Oscars) Esforço gigantesco…

2 meses ago

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!