A Dona Hermínia do Teatro chega ao Cinema

por Marcelo Seabra

Minha Mãe Peça

Correndo por fora dessa cena atual da comédia nacional, Paulo Gustavo se revela uma boa surpresa – ao menos para o grande público, que não o conhecia. O ator vem fazendo sucesso nos programas que cria e em que atua para o Multishow, além de seguir pelo Brasil com suas apresentações e de aparecer esporadicamente em programas da TV aberta. Depois de muita captação de recursos, ele finalmente conseguiu levar aos cinemas Minha Mãe É uma Peça – O Filme (2013), a adaptação para as telas de sua longeva peça de teatro.

Paulo GustavoComo se tratava de uma comédia de uma personagem só, o texto teve que ser trabalhado para apresentar os personagens que antes eram só mencionados. Paulo Gustavo (ao lado) teve que dividir a cena com outros atores nem tão inspirados, vivendo figuras menos trabalhadas e com menor potencial de humor. Dona Hermínia, claro, rouba a cena, mesmo se mostrando mal humorada, intolerante e até maldosa, como podemos perceber pelos comentários que faz sobre a filha – a maioria na presença da jovem gordinha. Ah, cabe uma explicação para os desavisados: Paulo Gustavo é a Dona Hermínia.

Claramente inspirada pela mãe do criador do texto, e ela ainda aparece no final, a protagonista é uma dona de casa que se preocupa mais do que o suficiente com os filhos, que a vêem como uma chata que os sufoca. O único filho bonzinho é o casado, que mora longe. O pai, uma participação especial de Herson Capri, é o bacana que só aparece nos fins de semana para levar os rebentos ao clube, ao lado da nova esposa, a nojenta vivida por Ingrid Guimarães. Um desentendimento faz Dona Hermínia deixar os dois em casa, por conta própria, e vai pra casa de uma tia (Suely Franco), onde se refugia, mas não deixa de ter vontade de ligar para os pimpolhos. Eles, a esta altura, já estão esfomeados.

Paulo Gustavo, que roteiriza o filme ao lado de Felipe “Fil” Braz, segura as pontas muito bem. Ele consegue manter o nível na maior parte das vezes e cria ótimos diálogos para Dona Hermínia, que usa uma ironia ferina para criticar tudo e todos, não vendo – claro – seus próprios exageros. A proximidade com a tia é a oportunidade que ela procurava para desabafar, e os casos contados reproduzem o esquema de esquetes usado no teatro, amarrando diversas situações sem ligação alguma, a não ser por envolverem os mesmos personagens e terem graça. A maior parte, pelo menos. Muitas das alfinetadas são do tipo que as pessoas têm vontade de falar, mas as amarras sociais (ou o bom senso) impedem. Dona Hermínia, como a Madea do americano Tyler Perry, parece ser uma força da natureza, que passa revolucionando tudo pelo caminho. Um pouco como a minha mãe, e talvez como a sua.

Família reunida!

Família reunida!

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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