por Marcelo Seabra
Uma nova adaptação de contos de fadas consegue chegar mais longe que todas as anteriores. Não que isso seja um grande elogio, tendo em vista o que já foi feito, mas a verdade é que Jack – O Caçador de Gigantes (Jack the Giant Slayer, 2013) é uma aventura bem feita, divertida e, sobretudo, bem atuada. O diretor Bryan Singer escolheu a dedo seus atores e o cargo de protagonista ficou com o “Fera” Nicholas Hoult, que trabalhou com o produtor Singer em X-Men: Primeira Classe (2011) e mais uma vez coloca competência e carisma em seu trabalho.
Depois de constrangimentos como A Garota da Capa Vermelha (2011), A Fera (2011), duas Brancas de Neve (2012), João e Maria (2013) e até Alice no País das Maravilhas (2010), Singer conseguiu levantar este subgênero juntando as histórias de João e o Pé de Feijão e a do outro João, o Matador de Gigantes. O resultado é um João que sobe no pé de feijão para matar gigantes. O argumento de David Dobkin e Darren Lemke foi desenvolvido por Lemke, Dan Studney e Christopher McQuarrie e, ao contrário do que possa parecer, com tanta gente envolvida, o roteiro ficou amarradinho.
Como não foi muito bem de bilheteria nos Estados Unidos, o longa vinha gerando apreensão nos demais mercados. Em terras ianques, esta estreia poderia ter sido segurada para o verão e certamente teria atingido um público bem maior, que estaria em férias e disposto a filmes-pipoca. Há também o problema do público alvo: alguns o consideram muito violento e sombrio para os mais jovens, mas não adulto o suficiente para os mais maduros. Quem iria pagar para vê-lo? É difícil até para o departamento de marketing da Warner acertar no alvo com uma campanha de divulgação. O próprio título foi alterado, seria The Giant Killer – ou O Matador de Gigantes. Preferiram atenuar.
Apesar dessa expectativa pessimista, Jack é uma aventura à moda antiga, que se importa com a história a ser contada, ou recontada, e equilibra momentos engraçados e dramáticos. O jovem Jack se vê obrigado a aceitar grãos de feijão tidos como mágicos como garantia para a venda de seu cavalo. Um desses grãos cai no chão e prova que as lendas que os pais contavam são verdadeiras: há um mundo acima deles onde vivem gigantes que esperam por uma chance de vingança contra os humanos que os dominaram no passado. Cabe a Jack resolver o problema e salvar o dia.
O grupo de coadjuvantes de Jack é nada menos que ótimo. A menos conhecida Eleanor Tomlinson (do já citado Alice) vive a mocinha da trama, a princesa Isabelle. O pai dela, o Rei Brahmwell, ficou com Ian McShane (de Branca de Neve e o Caçador, 2012), que faz um monarca justo e destemido – e engraçado. Stanley Tucci (de Jogos Vorazes, 2012) consegue ser cômico e ameaçador, indo facilmente de um ponto ao outro, como o prometido da princesa. Tem também Bill Nighy (de O Vingador do Futuro, 2012), o ótimo inglês que provê a voz ao líder dos gigantes. E o grande destaque é o tipo Errol Flynn de Ewan McGregor (de O Impossível, 2012), de longe o que parece se divertir mais. Todos os personagens tomam medidas críveis, ninguém precisa fazer nada estúpido apenas para servir ao roteiro, como costuma acontecer.
Nicholas Hoult, visto recentemente no bacana Meu Namorado É um Zumbi (Warm Bodies, 2012), nem parece mais o menino de Um Grande Garoto (About a Boy, 2002). Espichado, uma década mais velho, ele se vira bem nas cenas de ação e se prova versátil e capaz de desafios mais acelerados. Ele é um dos motivos de Jack – O Caçador de Gigantes valer o ingresso e já deixa os cinéfilos ansiosos pelo novo Mad Max: Fury Road, previsto para 2014. E ele ainda deve ter vida longa como X-Man. Só esperamos que essa moda de contos de fadas passe.