Parker é novo veículo para Jason Statham

por Marcelo Seabra

Mais uma vez, Jason Statham prova ser um ator carismático que traz algo a mais a um projeto sem sal. Na linha que o tem consagrado, fazendo o sujeito mal humorado que briga bem e tem um código de ética a seguir, ele estrela o novo Parker (2013), em cartaz nos cinemas. Por algum motivo, julgaram necessário colocar Jennifer Lopez ao lado dele, mas não chega a comprometer. O resto do elenco também não chama muita atenção, deixando o foco do show para Statham.

Parker é um ladrão bonzinho, como fica claro quando ele ajuda uma garotinha a ganhar um bicho de pelúcia e um policial a se recompor de um ataque de nervos. Seus comparsas no próximo assalto, apresentados pelo sogro (Nick Nolte, de Caça aos Gângsteres, 2012, em outra participação pequena), o traem e são incompetentes o suficiente para não eliminá-lo. Claro que ele vai atrás, buscando a parte que lhe cabe do produto do roubo. E é mais óbvio que só o dinheiro não vai satisfazê-lo, a vingança vem junto. Para facilitar achar o bando em outra cidade, Parker usa uma corretora de imóveis (Lopez, de O Que Esperar…, 2011), e encontra logo uma burra, irritante e enxerida. E é uma personagem sem razão de existir, já que sabemos que Parker tem uma namorada (Emma Booth, de Town Creek, 2009). Para piorar, eles não têm nem um pingo de química.

Taylor Hackford, diretor que andava meio sumido, tem bons filmes na bagagem, como Eclipse Total (Dolores Claiborne, 1995) e Advogado do Diabo (The Devil’s Advocate, 1997), mas nunca se mostrou um grande talento. Em Parker, ele faz algumas escolhas estranhas, entre closes e ângulos, e certas cenas têm duração e tom não muito compatíveis com o longa. A “cara” de anos 70 aparece e não se sustenta, é apenas um recurso mal aproveitado. Flashbacks reforçando o que todos já sabem e uma matéria na TV igualmente repetitiva são provas de que esse tempo parado não fez bem para Hackford. E não ajuda ter o roteirista do malsucedido Hitchcock (2012), John J. McLaughlin.

O astro de ação Statham pretende continuar sendo conhecido assim, já que não muda o tipo de filme que estrela. Nas franquias Carga Explosiva e Os Mercenários, em Assassino a Preço Fixo (The Mechanic, 2011) e em O Código (Safe, 2012), entre outros, ele não precisou se esforçar muito, já que faz o personagem padrão ao qual se acostumou. Isso não é necessariamente ruim, apenas um pouco repetitivo, e mostra que Statham tem noção de seus limites. O tipo de história que o falecido Donald E. Westlake costumava escrever se adequa perfeitamente a este tipo. Inclusive, o primeiro filme que vem à cabeça ao ler a trama de Parker é O Troco (Payback, 1999), também de Westlake (sob o pseudônimo de Richard Stark).

Uma premissa minimamente interessante e a presença de Statham parecem ser o suficiente para se ter um filme bacana. Vamos ver até quando essa fórmula vai aguentar. Para variar, o ator estará no sexto Velozes e Furiosos, cujo lançamento está marcado para maio. Uma nova franquia pode trazer mais fôlego – a mesma tática usada pelo colega Dwayne “The Rock” Johnson.

Nick Nolte mostra a cara rapidamente

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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