Norman Bates ganha série de TV

por Marcelo Seabra

Chegou à TV americana esta semana a nova série dramática Bates Motel, levando adiante a fixação atual que produtores têm demonstrado sobre Alfred Hitchcock (veja mais aqui e aqui). O programa usa os personagens criados por Robert Bloch, que Hitch imortalizou em Psicose (Psycho, 1960), e conta a história de Norman Bates antes dos eventos do livro de Bloch. O estranho é que os criadores decidiram trazer a história para os dias atuais, ao invés de ambientá-la nos anos 50, o que seria o lógico. Ou seja: são os personagens que conhecemos, mas em uma situação bem diferente. Mas não deixa de ser uma história de origem de Norman.

Carlton Cuse (de Lost), um dos responsáveis pela série, explicou em coletiva para a imprensa que não via sentido em simplesmente contar a juventude de Norman, tendo que encaixar a nova história em tudo o que já estava estabelecido. Daí, concluímos que os eventos mostrados nas três sequências do clássico devem ser desconsiderados. Em Psicose IV – O Início (Psycho IV: The Beginning, 1990), Norman (Anthony Perkins) conta a história de sua vida em um programa de rádio e descobrimos detalhes de sua relação com a mãe (Olivia Hussey) e de sua adolescência. Esqueça isso tudo! “A ideia de fazer algo contemporâneo deixa claro que estamos fazendo algo inspirado por Psicose, e não uma homenagem”, explica Cuse, segundo o site IGN. E a obra não tem nada a ver com o longa homônimo ruim de 1987, derivado de Psicose.

A série começa com Norma Bates (Vera Farmiga) e o filho Norman (Freddie Highmore), então com 17 anos, se mudando para uma nova cidade para “começar de novo”. Norma é bem impulsiva e decide sozinha a mudança e a compra de um hotel simples de beira de estrada (definição, para americanos, de motel). Norman, claro, acompanha a mãe e não tem muito o que opinar. O primeiro episódio, o único exibido até agora, estabelece essa nova vida da família Bates, mas não é um drama convencional, como se pode pensar. Afinal, convencional é um adjetivo que definitivamente não se aplica aos Bates.

Mais atores de Cinema resolveram fazer a transição para a TV, e essa fronteira está cada vez mais tênue. Vera Farmiga (de Contra o Tempo, 2011) mostra ser uma ótima escolha para o papel. Forte e carinhosa na mesma medida, ela deixa entrever um leve destempero emocional e uma personalidade difícil. Mas, acima de tudo, uma mulher que ama o filho. Cabe ao jovem Highmore (de Em Busca da Terra do Nunca, 2004, e A Fantástica Fábrica de Chocolate, 2005) assumir o peso de viver um dos psicopatas mais famosos da cultura pop universal. Ele começa muito dócil e bonzinho, e a mudança que terá que acontecer (para ele chegar aonde sabemos) será o atestado de qualidade (ou falta de) da série. Os personagens adultos parecem desconfiados em demasia, enquanto as adolescentes são atiradas demais. Vamos acompanhar o desenrolar.

É complicado prever como será a trajetória de Bates Motel baseando-se apenas no primeiro episódio. Para o A&E, que a exibe, já é um sucesso. Na última segunda-feira, às 22h, a atração bateu o recorde do canal, que pertencia a Longmire, e atingiu 4,6 milhões de espectadores. A primeira temporada terá um total de dez episódios e a segunda já é vislumbrada por Cuse. “Acho que é uma história com começo, meio e fim. Não posso dizer exatamente o quanto a nossa história vai durar. Obviamente, há ganchos que espero que nos levem a uma segunda temporada. Não estamos resolvendo um crime, há um grande número de mistérios”, completa o produtor.

Será que Norman conseguirá ter uma namorada?

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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