Pode-se esperar clichês de O que Esperar

por Marcelo Seabra

Depois do dia dos namorados em 2010 (Idas e Vindas do Amor) e do dia de ano novo em 2011 (ou melhor, Noite de Ano Novo), parece que faltou dia comemorativo para servir de desculpa para juntar um bando de gente inocente, que acredita em certos projetos pavorosos. Por isso, mesmo sem a presença de Garry Marshall, a ideia aqui é a mesma: O que Esperar Quando Se Está Esperando (What to Expect When You’re Expecting, 2012) usa mulheres grávidas como desculpa para ter cinco fiapos narrativos, não desenvolver bem nenhum personagem e não ter graça ou drama algum. Tudo “culpa” de Simplesmente Amor (Love Actually, 2003), e é pena que nenhum dos citados chegue aos pés dele.

O longa tenta alternar momentos dramáticos e engraçados, mas não sai do enfadonho. As cinco mulheres que vão ser mães (planejando ou não) podem se encontrar em algum momento (o mesmo vale para os maridos bananas), e cada uma exemplifica uma situação diferente. Se, em Solteiros com Filhos (Friends with Kids, 2011), tínhamos um casal “grávido” em uma situação fora do comum, aqui temos cinco situações banais que mal mal caberiam numa sitcom. A estética é a mesma, mas não teria passado do piloto se fosse na televisão.

Jennifer Lopez quer ter um filho, não é fértil e tem um marido (Rodrigo Santoro) inseguro quanto à paternidade; Elizabeth Banks é especialista em gravidez, não consegue engravidar e, para piorar, tem um sogro (Dennis Quaid) metido a garotão casado com uma supermodelo novíssima (Brooklyn Decker) que insiste em chamar o enteado mais velho que ela (Ben Falcone) de filho; Anna Kendrick tem um caso rápido com um antigo interesse (Chace Crawford) e se descobre grávida; e temos Cameron Diaz como uma apresentadora de televisão que participa de um tipo de Dança dos Famosos e engravida do professor de dança (Matthew Morrison). Junte aí mais uns coadjuvantes, como os pais que se encontram no parque, e pronto! Vários atores e personagens que não destoam entre si, e são prejudicados igualmente pelo roteiro babaca.

O livro de Heidi Murkoff é um grande sucesso editorial, tido como um dos 25 livros mais importantes dos últimos 25 anos (pelo USA Today). Já vendeu mais de 17 milhões de cópias e deu origem a uma série que acompanha o crescimento da criança. Heidi partiu das dúvidas e anseios que ela mesma teve ao dar à luz a primeira vez, e escreveu um manual para ajudar mães de primeira viagem. Coube às roteiristas Shauna Cross e Heather Hach (quem?) condensar esses ensinamentos em personagens de ficção, criando uma obra chata, burocrática e que parece durar uma eternidade. E o pior: não dá para simplesmente pular as páginas mais cansativas.

Levando-se em consideração que Kirk Jones fez sua estreia na direção com o simpaticíssimo A Fortuna de Ned (Waking Ned, 1998), era de se esperar mais desse O que Esperar. Um bando de clichês, músicas sentimentais, atores famosos e personagens rasos feito tábua são reunidos para tentar fazer o público rir e chorar num espaço de 100 minutos. Aposto que tédio e raiva não estavam entre os sentimentos que essa trupe esperava causar em seu público.

Mais um trabalho insípido na carreira internacional de Rodrigo Santoro

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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