por Marcelo Seabra
Os pouco mais de 30 trabalhos de Steven Soderbergh como diretor podem ser divididos em três categorias: os que gostei bastante, os chatos e os que não vi. Voltando a colaborar com o roteirista Scott Z. Burns, com quem fez dupla no divertido O Desinformante! (The Informant!, de 2009), Soderbergh parte agora para uma história muito séria: o antes, o durante e o depois de uma pandemia arrasar o planeta. Contágio (Contagion, 2011), que chega aos cinemas tupiniquins essa semana, faz parte do grupo dos que gostei. E muito!
A exemplo do saudoso Robert Altman, Soderbergh tem bastante facilidade em reunir um grande e estelar elenco. Um exemplo disso é seu Onze Homens e Um Segredo (Ocean’s Eleven, 2001) e as seqüências, além do fato de vários atores trabalharem com ele diversas vezes, em projetos diferentes. Do círculo de amigos de Danny Ocean, por exemplo, temos em Contágio Matt Damon e Elliot Gould, este em uma ponta importante. Damon tem um papel de maior destaque, mas mesmo assim não pode ser chamado de protagonista. O longa tem vários personagens com peso semelhante, cada um ajudando a compor um grande quadro.
O filme começa já deixando claro que uma contaminação está em curso, e vai indicando os dias que se passam desde o início do processo. Gwyneth Paltrow (Oscar por Shakespeare Apaixonado, de 1998 – ao lado) é a primeira contaminada que conhecemos, e a rapidez com que o vírus age é devastadora. A atriz passa por cenas em que ela se despe de qualquer vaidade, e todo o elenco se mostra à altura da empreitada, não há nenhum desequilíbrio. Outros famosos do grupo são Jude Law, Laurence Fishburne, Marion Cotillard, Kate Winslet, Bryan Cranston, Enrico Colantoni e John Hawkes.
Mesmo com esse tanto de estrelas, o orçamento da produção ficou na casa dos US$60 milhões, o que foi pago apenas com a bilheteria do mercado americano. E, por incrível que pareça, os atores conseguem sumir em seus papéis, dando credibilidade às situações vividas e nunca diminuindo o senso de urgência da história. Todos são contemplados na trama: desde um trabalhador humilde até autoridades médicas e militares, já que estão igualmente sujeitos à contaminação. E esqueça a moda atual de zumbis: nenhuma das vítimas aqui volta para assombrar os vivos.
Nunca se teve um retrato tão fiel no cinema do que aconteceria se um vírus começasse a se espalhar tão rapidamente. Descontando toda a ficção de filmes como Eu Sou a Lenda (I Am Legend, 2007) e Extermínio (28 Days Later, 2002) e da série The Walking Dead, sobra o medo de se perder entes queridos, e da própria morte. Outras questões interessantes são levantadas, como as reações que as pessoas têm frente a certas situações extremas, como falta de comida; e o poder da mídia, mesmo que alternativa, de dizer ao público o que pensar, com o blogueiro sensacionalista vivido por Jude Law alcançando o status de referência.
Veículos e jornalistas especializados, além de médicos, elogiam a forma realista com que Soderbergh e Burns tratam as questões que apresentam, elucidando técnicas para desenvolvimento de vacinas, por exemplo, ou os passos que uma pandemia normalmente segue. A revista New Scientist elogiou o fato de o filme ajudar a tornar públicos alguns aspectos importantes da ciência. Com o apoio de centros norte-americanos de controle e prevenção de doenças, fica mais fácil ter tanta precisão. Mais difícil é conseguir agradar a todos, oferecendo informação e entretenimento, e é isso o que Contágio faz.