por Marcelo Seabra
Mais um grande trabalho do ator Wagner Moura (acima), VIPs (2010) já está disponível nas locadoras. Baseado na vida e nos crimes de Marcelo Nascimento da Rocha (ainda bem que eu assino Marcelo Seabra, e não Rocha!), o longa dá uma certa romanceada em algumas passagens, mas não deixa de mostrar os momentos mais tensos, assim como os mais engraçados, da “carreira” do contraventor.
Marcelo é mostrado desde cedo imitando colegas, se mostrando extremamente versátil e passeando entre extremos, do tímido ao extrovertido. A exemplo do pai, ele pretende ser um piloto de avião e, logo que pode, foge de casa e vai buscar a sua educação em um pequeno aeroclube em Cuiabá. Com o passar do tempo, se envolve com traficantes e vai ficando conhecido no meio, ele mesmo alimentando essa fama com as histórias que inventa. Daí para enganar celebridades e freqüentar a alta roda é um pulo. É nesse momento que participa da famosa entrevista no programa de Amaury Jr. (facilmente encontrada no YouTube – clique na figura ao lado para assistir), e o apresentador faz uma participação no longa.
Assim como há uma certa relação entre o recente Assalto ao Banco Central (2011) e o inglês Efeito Dominó (The Bank Job, 2008), ambos sobre roubos extraordinários e reais a bancos, pode-se dizer o mesmo de VIPs e Prenda-me Se For Capaz (Catch Me If You Can, 2002), já que os dois acompanham os golpes de um protagonista que tem dificuldade para ser ele mesmo. Ou talvez prefira ser outro e não ter que lidar com qualquer responsabilidade. E, assim como aconteceu com Meu Nome Não É Johnny (2008), nos vemos torcendo por um pilantra, mesmo sabendo que, mais cedo ou mais tarde, ele será encarcerado.
Para quem quer saber em detalhes como são os fatos, é mais indicado que se procure pelo documentário VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso (2010), escrito e dirigido pela publicitária Mariana Caltabiano. Mais lembrada pelas histórias infantis, Mariana acompanhou Marcelo por um bom tempo e recolheu informações suficientes para o livro de não-ficção (ao lado), que também serve de fonte para o filme de Toniko Melo, outro publicitário que resolveu se enveredar pelo cinema. Com roteiro co-escrito por Thiago Dottori e Bráulio Mantovani (de Cidade de Deus, os dois Tropa de Elite e vários outros), Melo cria uma obra convencional, mas divertida, que tinha tudo para ser bem aceita pelo público, como de fato foi. VIPs ganhou prêmios no Festival de Cinema do Rio 2010, entre eles Melhor Filme e Melhor Ator.
Moura, com a difícil missão de se desvincular do memorável Capitão Nascimento, tira o papel de letra, mudando de trejeitos e de cara a todo momento. Ele traz uma leveza ao personagem que é necessária para acreditarmos em sua cara de pau, mas é igualmente competente nos momentos mais sérios. Lembra outro grande intérprete, John Malkovich, que se passava pelo cineasta Stanley Kubrick em Totalmente Kubrick (Colour Me Kubrick, 2005). Ao contrário de Prenda-me Se For Capaz, ele não tem um antagonista definido, o que pode trazer ainda mais tensão à trama, já que qualquer pessoa pode denunciá-lo, tamanha é a sua ousadia. Afinal, se passar por um rico herdeiro de uma companhia de transporte aéreo é bem arriscado, mesmo que muitos não conheçam o rosto do sujeito.