por Marcelo Seabra & Rodrigo “Piolho” Monteiro
Sir Thomas Malory nasceu entre 1414 e 1420, não se sabe ao certo. Mas permanece atual como se tivesse nascido em Hollywood há poucas décadas, e não no Reino Unido há séculos atrás. Afinal, foi ele quem reuniu e completou as informações principais que temos da lenda do grande Rei Arthur. Seus oito volumes de A Morte de Arthur (ou Le Morte d’Arthur, do francês da época) continuam servindo de fonte para diversas obras recentes. E, em meio a tantas novas versões da história, chegou há pouco no mercado de Blu Ray o já clássico Excalibur (1981), tido como a versão definitiva da história de Arthur para o cinema. Ao menos, definitiva até a próxima.
Dirigido pelo irregular John Boorman (de O Exorcista II, de 1977, e O Alfaiate do Panamá, de 2001), o longa tenta resumir em 2h20 toda a história do Rei Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda. Isso, claro, incluindo Merlin, Morgana e demais figuras já consideradas mitológicas. O elenco, formado por atores predominantemente do Reino Unido, traz os (mais) jovens Helen Mirren (Morgana LeFay), Liam Neeson (Gawain), Patrick Stewart (Leondegrance) e Gabriel Byrne (Uther), dentre os mais famosos. Nigel Terry (Arthur), Nicholas Clay (Lancelote) e Paul Geoffrey (Percival) não chegaram a decolar, apesar da importância de seus papéis, e Nicol Williamson (Merlin) já era bem estabelecido na época. Nota-se constantemente um ar teatral, mas nada que chegue a incomodar muito.
A história, para quem não conhece, começa com o Rei Uther Pendragon tomado pelos encantos de Igraine, e consegue ter uma noite com ela com a ajuda da magia de Merlin, seu conselheiro. A criança que nasce dessa noite é entregue à adoção para vir a assumir, no futuro, o reino da Inglaterra. Quando o país parece perto de se desintegrar, já sem rei, é Arthur quem consegue retirar a poderosa espada Excalibur da pedra e cumprir a profecia, assumindo o trono e tendo devotada a si a confiança dos antigos cavaleiros de Uther.
A partir daí, o filme acompanha a batalha de Arthur para fortalecer seu reinado e enfoca principalmente seu relacionamento com o principal dos cavaleiros, Lancelote, que supostamente tinha um caso com a rainha Guinevere. Detalhes da trama podem variar entre os livros que servem como referência e outros autores da época, o que incentivou Boorman e seu roteirista, Rospo Ballenberg (de A Lenda de um Guerreiro, de 2001), a tomarem também certas liberdades. Em vários momentos, fica clara a impressão que fatos e personagens foram suprimidos para caberem no roteiro, já que seria impossível colocar tudo em apenas um longa-metragem. Algumas imagens fortes aqui e ali causam uma ótima impressão, deixando o resultado acima da média.
Para quem se interessa por épicos de fantasia e não tem muita paciência para desenhos bonitinhos da Disney (A Espada Era a Lei), Excalibur é uma boa pedida. Afinal, deve demorar ao menos até o ano que vem para podermos conferir a adaptação de O Hobbit, e o Rei Arthur serve como aperitivo. Aliás, deve ter produtor realmente pensando que o interesse levantado por Peter Jackson e equipe, além de séries como As Crônicas de Nárnia, Harry Potter, Percy Jackson etc, pode ser estendido a outros produtos tidos como similares. Há duas versões da história do rei bretão sendo desenvolvidas para o cinema: a refilmagem de Excalibur deve sair nas mãos de Bryan Singer (dos dois primeiros X-Men, de 2000 e 2003), enquanto Guy Ritchie (Sherlock Holmes, 2009) deve adaptar a obra do quadrinista Warren Ellis que gira em torno do mesmo assunto. Segundo Ellis, a maior diferença entre a sua visão e as “751 outras existentes” é a forma de contar como se deu a reunião dos cavaleiros. E o interesse existe na televisão, por onde Camelot já passou (tendo sido recentemente cancelada por conflitos das agendas dos astros) e Game of Thrones reina atualmente (leia mais aqui e aqui).
Para aqueles interessados em mergulhar em outras histórias ambientadas no mundo de Camelot, aqui vão dicas interessantes em três mídias diferentes.
Há um sem número de livros baseados nas lendas do Rei Arthur. Alguns sérios, que exploram evidências históricas sobre a figura de Arthur, enquanto outros apelam para seu lado mais fantasioso. Duas séries se destacam em cada uma dessas áreas:
– As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, é uma série de quatro livros – A Senhora da Magia, A Grande Rainha, O Gamo-Rei e O Prisioneiro da Árvore – que enfoca o lado fantasioso e mágico da lenda de Arthur através das vidas das mulheres que o rodearam, principalmente sua meio-irmã, Morgana LeFay;
– Já As Crônicas de Arthur é uma trilogia – formada por O Rei do Inverno, O Inimigo de Deus e Excalibur – de autoria de Bernard Cornwell. Cornwell é um dos mais renomados romancistas históricos britânicos da atualidade e sua trilogia, ao contrário de As Brumas, se baseia muito nas poucas referências confiáveis do cenário político e militar das ilhas britânicas no século VI para traçar um perfil mais realista sobre Arthur. Assim como em As Brumas, no entanto, o protagonista da trilogia não é Arthur e, sim, um de seus homens de confiança, Derfel Cadarn, que, segundo Cornwell, seria uma figura histórica real.
Nos quadrinhos, a obra mais famosa relacionada a Arthur é Camelot 3000. Publicada pela DC Comics nos anos de 1980 – e recentemente republicada no Brasil pela Panini (a primeira edição tupiniquim chegou às bancas através da Abril Jovem) – a série se baseia em uma lenda britânica que reza que, quando a Inglaterra enfrentar sua hora mais negra, seu maior governante – Arthur – voltaria para reconduzi-la à glória do passado. Em Camelot 3000, Arthur e toda a sua Távola Redonda reencarnam para combater uma invasão alienígena liderada por Morgana LeFay. A série tem textos de Mike W. Barr e arte de Brian Bolland.
Na música, há diversas indicações baseadas nos supostos feitos de Arthur, especialmente no mundo do heavy metal. Uma obra que se destaca entre todas elas é Excalibur, da banda alemã Grave Digger. Trata-se de um álbum conceitual onde cada uma de suas faixas ajuda a contar a história daquele que é considerado o maior rei dos bretões que um dia existiu.
Para mim, a trilogia de Cornwell é a versão definitiva para o mito.
Os livros parecem ser bem legais mesmo, o Piolho garante que valem a pena. Abraço!