Produção menor de exorcista se dá melhor

por Marcelo Seabra

Falar sobre produções novas é sempre bom, o que é “quente” no momento, que todos querem conhecer melhor. Mas nem sempre pode-se falar bem. Muitas vezes, o filme não ajuda. Até um grande artista, como Anthony Hopkins, pode participar de uma bomba, caso do novo O Ritual (The Rite, 2011). E temos, então, um problema: quem busca sugestões de filmes para ver acaba descobrindo o que evitar. Mas não sabe o que alugar na próxima visita à locadora.

Já que o assunto era possessão demoníaca, achei oportuno conferir outro longa recente sobre o tema e peguei O Último Exorcismo (The Last Exorcism, 2010), que até menciono no final do texto sobre O Ritual. Mas uma menção apenas não era o suficiente, já que esse filme está a anos luz do blockbuster com Hopkins, que acabou ganhando mais espaço na mídia. Confesso que tive certo preconceito e o evitei à época da estreia porque pode se presumir que o longa pega carona na moda dos falsos documentários, iniciada em A Bruxa de Blair (The Blair With Project, 1999).

OK, não há atores famosos que sirvam de chamariz, o orçamento foi pequeno e O Último Exorcismo realmente utiliza o recurso da câmera na mão acompanhando a ação. Mas isso não é demérito algum se os realizadores seguirem fiéis à proposta até o fim e se os recursos disponíveis forem bem utilizados. E são, começando pelo ator principal, o famoso desconhecido Patrick Fabian (ao lado). Após pequenas participações em diversas séries de televisão, Fabian consegue seu primeiro papel de relevância, vivendo o Reverendo Cotton Marcus. O ator, que tem cara de alto executivo de grande empresa, tem muito carisma e uma presença forte, conseguindo convencer tranquilamente como o pastor evangélico de uma cidadezinha estadunidense do sul.

O Reverendo Marcus já passou do ponto de duvidar de sua fé. Ele já não tem. É tradição em sua família não só ter pastores, como formá-los exorcistas. Desde pequeno, seu pai o inseriu nesse universo e seu primeiro exorcismo foi noticiado pela mídia local, tamanho foi o espanto de ver um garoto de 11 anos lutando contra um demônio. Sabendo do efeito psicológico de um exorcismo, Marcus levava dinheiro dos crentes para realizar farsas e convencer a todos que o espírito mau se foi. Com o passar do tempo, ele começou a ficar com a consciência pesada e decidiu abandonar sua carreira. Para expor a fraude, decide levar uma equipe de filmagem em seu último trabalho.

Uma carta recebida o leva a uma fazenda aonde um pai desesperado pede ajuda para sua filha, supostamente endemoniada. Vários fatores colocam em cheque a ideia de possessão, indicando outros níveis de problemas, chegando até à possibilidade de incesto. Marcus, seu cinegrafista e a diretora do pretenso documentário vão encontrar uma situação um tanto mais complicada do que esperavam.

Para não estragar a surpresa de ninguém, digo apenas que considero o final surpreendente e forte. Mesmo remetendo a outras produções, é original o suficiente para se sustentar e honrar o resto do filme. Buscando opiniões na internet, pude observar que este final dividiu bem o público. Não me arrependo de ter dado uma chance à produção e, devido ao ótimo clima de suspense, confesso que nem percebi um problema técnico ou outro. E os sustos são honestos, sem gatos pulando ou efeitos sonoros apelativos.

Fabian e Ashley Bell, a filha do fazendeiro

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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