E ninguém nos diz ao menos: obrigado

Parafraseando o genial Renato Russo, em sua não menos genial canção “Índios”, gostaria de um simples obrigado de quem vive do meu suor

Um guerreira atazanada pelo Estado

Funcionários públicos de todas as Esferas e Poderes (municipal, estadual e federal; executivo, legislativo e judiciário) gozam de direitos e privilégios muito além da imaginação de qualquer um de nós, pobres mortais da iniciativa privada. Quanto maior o cargo, mais regalia, mai benefício e mais dinheiro. E eles querem que continuemos a bancar tudo isso tal qual como está. Não aceitam perder nada. Nem contribuir com nada. Fim da estabilidade vitalícia, imunidade parlamentar, aposentadoria especial? Sem chance! Vejam a farra dos supersalários dos doutores do Judiciário.

Os sindicalistas, diretores de entidades de classe, executivos de estatais, reitores e pró-reitores, conselheiros de estatais, dirigentes de fundos de pensão de empresas públicas e diretores de autarquias. Pensionistas especiais, aposentados precoces, pescadores, índios, cotistas de toda sorte, deficientes, travestis, drogados, presidiários, imigrantes ilegais e refugiados, invasores de terras e desempregados (que não procuram emprego)

Grandes grupos industriais com reserva de mercado, empresas gigantescas com empréstimos a juros subsidiados, empreiteiras de obras superfaturadas, bancos financiadores de crédito consignado, agências de publicidade e grupos de comunicação abarrotados de propaganda oficial. Artistas de teatro e TV, cantores, cineastas, produtores esportivos e culturais, escritores, pintores e todos aqueles que se socorrem da Lei Rouanet ou de patrocínios estatais…

É um contingente gigantesco de pessoas que orbitam em torno do Estado e do dinheiro de quem trabalha e produz. Toda esta gente tem em comum, além de não saberem ganhar a vida sem um “capital alheio”,  o sentimento que são verdadeiramente merecedores do que recebem – e alguns, obviamente, até que são! – e a mais completa ausência de culpa por sugar de todo o resto da sociedade o dinheiro suado que lhes escorre aos bolsos.

Levam quase 50% do tempo do lazer, do convívio com a família e amigos, do suor do trabalho duro, do dinheiro do pão e do leite, da escola dos filhos, da poupança para a velhice de toda classe produtiva do país. Não querem saber das nossas contas atrasadas, das nossas noites mal dormidas, da ansiedade e do medo de quem lhes provém o sustento. Não estão interessados em descobrir como, com menos dinheiro ainda, seus mantenedores irão se virar daqui pra frente.

Não à privatização. Não ao fim dos subsídios. Não ao corte de despesas oficiais. Não à contenção dos gastos. Não ao combate do desperdício. Não à transparência pública. Não à meritocracia. Não ao rigor da lei para os corruptos. Não à reforma trabalhista. Não à reforma previdenciária. Não à reforma tributária. Não à reforma do código penal. Não ao fim das bolsas. Não ao fim das cotas. Não, não, não e também … Não!

Você atrasou uma conta? O problema é seu, devedor. Não pagou um imposto? Execução fiscal, seu sonegador. Multa por atraso, multa de trânsito, multa por isto, multa por aquilo. Taxa aqui, tarifa ali, fiscal, procurador, promotor, juiz, delegado, guarda de trânsito. Justiça do Trabalho, Receita Federal, Fiscal do INSS, Agente da Anvisa, Fiscal do Meio Ambiente, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei de Acessibilidade, ABNT, Normas Técnicas, INMETRO, CIPA, Corpo de Bombeiros, Ministério Público… Ufa! Um batalhão de gente reunido em siglas burocráticas, em prol de si mesmos e contra a iniciativa privada.

Vejam o caso envolvendo Roberta Sudbrack, no Rio de Janeiro: uma das mais respeitadas “chefs” do mundo. Uma guerreira que trabalha ininterruptamente, dia após dias, desde os seus 16 ou 17 anos de idade. Já cozinhou para as maiores autoridades do mundo. Seus restaurantes sempre foram mundialmente conhecidos e… reconhecidos! Décadas de atividade empresarial sem JAMAIS ter tido um único problema sanitário. Mas eis que… lhe falta um selo. Um SIF da vida! E lá se vai uma (sua) pequena fortuna por conta da burocracia estatal, que persegue quem — ao menos — tenta andar na linha e fecha os olhos para os criminosos espalhados pelas ruas e gabinetes oficiais de todo o país.

Desculpem-me pelo mau humor logo cedo, em plena segunda-feira. Mas sabem o que é, meus amigos? É que ando um pouco cansado de só ouvir: passe-me seu dinheiro! Gostaria, só pra variar, muito de vez em quando ao menos, ouvir também um… obrigado.

** adaptação de um texto meu de 2015, mais atual que nunca.

Leiam mais.

20 thoughts to “E ninguém nos diz ao menos: obrigado”

  1. Absolutamente fantastico seu texto,muito criativo e real.Obrigado por tocar na ferida deste pais maltratado.Continue com o seu belo trabalho Ricardo.You may say i am a dreamer,but i am not the only one(John Winston Lennon)

  2. Olá Inundado, toda generalização deve ser evitada, pois, ela é por si só incoerente e não verdadeira. Essa circunstância uma vez se repete. Falo da questão dos agente públicos. Os privilégios (coisa da monarquia) concedidos à elite do funcionalismo público é intolerável e ofensivo à parcela produtiva da sociedade que não se beneficia de tanta proteção, favores, benesses e penduricalhos. Entretanto, o grosso dos funcionários públicos não se beneficiam desse tratamento tão desigual e insuportável, por isso, penso, devemos fazer a necessária distinção, pois, do contrário estaremos tomando a parte como o todo. Boa semana!

  3. Achei o texto um pouco contraditório pois necessitamos de instituições que estabeleçam normas técnicas que devem ser seguidas pelos mais diversos setores da sociedade, é o que pauta uma boa engenharia por exemplo. Se qualquer produtor rural que passa perrengue produzindo café, queijos, etc sabe que precisa ter a SIF como garantia de qualidade para ser vendido em todo território nacional, por que uma das mais renomadas “chefs” do mundo tem que ter tratamento diferente? O desconhecimento da lei não exime de responsabilidade o infrator. Selo de qualidade para alimentos existe em todos os países sérios do mundo e não é burocracia sem sentido. Existe uma diferença entre o direito público e o privado: no direito público, no caso o fiscal, só pode fazer e tem obrigação de fazer o que a lei manda, no direito privado vc pode fazer tudo que não é proibido. A lei apenas foi aplicada sem o “jeitinho” brasileiro que privilegia quem é renomado em detrimento de quem rala de sol a sol para trazer o alimento do dia a dia para a mesa da maioria das pessoas. O fiscal cumpriu sua função para qual foi designado e a Chef, infelizmente, deu um mole primário na profissão que exerce. Agora ta aí cheia de mimimi como se o ESTADO perverso e corrupto estivesse privando ela do livre empreendimento? Não mesmo, acho melhor ela aceitar que dói menos, dormir e aprender com essa!

  4. Desde guando aval de funcionário público é garantia de alguma coisa a favor de quem realmente trabalha ? Aquela carne com “papelão” por acaso também não tinha o tal carimbo do SIF ? E daí ? Se até bebum dirigindo faz exame na hora para comprovar,ou não, seu estado de embriaguez,porque os produtos que foram jogados fora não foram levados para exame, por parte desses funcionários públicos tão zelosos e competentes,que comprovassem realmente suas condições de insanidade antes de serem simplesmente descartados? Será que alguém que comeu esses produtos teve uma “caganeirasinha” sequer ? E os churrasquinhos de gato vendidos fora do local do evento,esses podem,né?

    1. Se qualquer produtor rural que passa perrengue produzindo café, queijos, etc sabe que precisa ter a SIF como garantia de qualidade para ser vendido em todo território nacional, por que uma das mais renomadas “chefs” do mundo tem que ter tratamento diferente? O desconhecimento da lei não exime de responsabilidade o infrator. Lei aplicada caso encerrado!
      “Aquela carne com “papelão” por acaso também não tinha o tal carimbo do SIF” .
      Foi comprado o selo de qualidade e a lei não foi aplicada, isso é corrupção, isso tem que ser combatido.
      “E os churrasquinhos de gato vendidos fora do local do evento,esses podem,né?”
      Concordo que deveria haver fiscalização, pois alimentos são bastante perigosos quando acondicionados e manipulados de forma inadequada, por isso a necessidade de normas técnicas assim como na engenharia e em vários setores produtivos.
      Agora o que não dá, é reclamar que a lei foi aplicada em um país que se dá jeitinho em tudo. A chef cometeu um erro primário para a profissão que exerce, que é o conhecimento das normas que regem o setor. Deixar passa assim como a JBS seria corrupção, seria a não aplicação da lei.
      E quem fez a lei foi eleito, não foi o funcionário que aplicou!

  5. Uma pena que os demais formadores de opinião, dispersos em todos os ramos da mídia imprensa, falada e televisiva, não usem de seus canais para delatarem – no bom sentido – esses males que nos assolam! Parabéns, Ricardo!!

  6. Belo comentario,mas vamos por etapas.
    1)Sobre os funcionários publicos concordo mas não se esqueça que a grande maioria não tem esses privilegios principalmente nas areas operacionais.
    2)Não entendi porque citou os bombeiros se é sobre a taxa de incendio,desde que foi criada os bombeiros ficaram melhor equipados isso ninguém pode negar e merecem porque arriscam sua vidas para salvar de outras pessoas.
    Sobre multas de transito a pessoa ta errada tem que multar mesmo,ontem um exemplo o cara colocou o carro no passeio e tive que ir para a rua.
    3)Sobre a Roberta,como uma chef experiente como ela erra feio desse jeito?Os fiscais não tem culpa, porque ela não procurou a vigilancia sanitaria antes e verificou os procedimentos necessários para usar o estante?
    O Luke esta certo.

  7. Ricardo, excelente! Mas, você se esqueceu de colocar na lista os Conselhos Profissionais, coisa das mais medievais e inúteis ( a não ser pelos que estão na boquinha ) que ainda existem!

  8. Texto excelente para provar que voce não sabe NADA , simplesmente NADA, do funcionalismo publico.

    Nem se de ao luxo de criticar minha “compreensão de texto”. Muda o disco!!!!

    Pequeno exemplo de cegueira total e absoluta:

    “Os sindicalistas, diretores de entidades de classe, executivos de estatais, reitores e pró-reitores, conselheiros de estatais, dirigentes de fundos de pensão de empresas públicas e diretores de autarquias. Pensionistas especiais, aposentados precoces, pescadores, índios, cotistas de toda sorte, deficientes, travestis, drogados, presidiários, imigrantes ilegais e refugiados, invasores de terras e desempregados (que não procuram emprego)…”

    Mesmo discordando de 99,9% de todos os seus textos (que consegui ter saco pra ler até o final) sempre respeitei as diferenças e a sua defesa daquilo que você acredita, democracia em primeiro lugar, mas me desculpe a opinião contrária, você pode fazer bem melhor que isso.

    Saudações Atleticanas e que venha o Estádio!!!

  9. Ricardo, não cometa os riscos de generalizar, pois assim fazendo perderá a credibilidade. Em qualquer parte do mundo o maior empregador é o serviço público e em qualquer economia o imposto gerado pelos funcionários públicos é o grande alimentador dos seus próprios salários, digo daqueles cuja totalidade do salário é tributada e não daqueles que possuam vários benefícios não incidentes de impostos. O seu nome de família vem da terra que definiu as atribuições de um Estado Mínimo, ratificado em Osnabrück e München, a primeira protestante e a segunda católica os Volken Deutsche, ainda hoje sabem o peso e a responsabilidade dos serviços públicos, não generalize Ricardo, não perca o discernimento pois ao contrário alimentarás os descontentes mas não manterás os sensatos e aqueles que buscamos destruir pela verdade, se contentarão com o seu fracasso. Abraços.

    1. Duas coisas, amigo: em qualquer parte do mundo o maior empregador é o serviço público???? E onde está minha generalização, hein?

      abraço!

  10. Se você não conseguiu interpretar o alcance do seu texto, certamente já perdeu o que eu te disse. Cessa tudo que antiga musa canta, que valor mais se alevanta.

  11. Puxa vida, fiquei totalmente desolado em saber da história da Sra. Sudbrack. Sabe o que significa o selo SIF? Nada mais que , mais uma taxa para o governo, mais um duto para arrecadar milhões, pagos ao custo de muito suor dos produtores que fazem das tripas coração para fazer um queijo. O cuidado com os animais que geram um custo altíssimo, debilitar sua saúde, acordando de madrugada para tirar o leite. Suor em bicas para poder confeccionar o produto e no final quando ele vai para a vitrine, a inspeção sanitária de um lugar igual ao Rio de Janeiro, me desculpem os cariocas, mas o Rio de Janeiro não transmite nenhuma segurança, em nenhum aspecto, vai lá e joga tudo fora? O pior de toda a história, jogam essa quantidade de produtos fora, enquanto milhares vivem abaixo da linha da miséria, lá mesmo no Rio de Janeiro, passando fome, mendigando migalhas? Tem explicação isso? Definitivamente, este país não é sério.

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