Novamente, um presente com considerações e ponderações de um Atleticano da gema. ObriGalo, amiGalo por este brinde pós titulo. Se recomenda o exemplo de Júlio, sugiro que suas palavras sejam seguidas. Assim seja!
Na última quarta-feira, 26 de agosto, dia em que o Galo derrotou o Tombense por 2 a 1, na primeira partida da final do campeonato mineiro deste ano, passou despercebida uma data que deveria ser respeitada por todo atleticano. Completavam-se, ali, os sete anos da morte de Júlio Firmino da Rocha — conhecido da massa como o Mais Amigo. Representante de uma época mais romântica do futebol, Júlio foi um dos responsáveis por manter viva a paixão pelo Galo em momentos que muita gente pensou em abandonar o barco.
Dono de um armazém de secos e molhados na Praça da Rodoviária, Júlio bancou durante anos, sem contar com o apoio de quem quer que fosse, a Charanga responsável pela trilha sonora da paixão pelo Galo. Aquilo não era uma Charanga. Era uma orquestra sinfônica refinada. Mais do que financiar os músicos que alegravam a massa, Júlio não se furtava a socorrer o clube em momentos de aflição. ajudou a por em dia salários atrasados, forneceu alimentos para a concentração quando faltava dinheiro para alimentar os atletas e pagou prêmios aos que mais honravam a camisa alvinegra.
Uma vez, ele soube que o uruguaio Cincunegui, ídolo na massa, pediu um carro como luvas na renovação do contrato. O caixa estava zerado e o clube não tinha dinheiro nem crédito na praça para atender o jogador. Júlio procurou o gringo e, sem prometer nada, o convenceu a renovar. Assim foi feito. No dia seguinte, ao sair de casa para o treino, Cincunegui se espantou ao ver um fusca branco, estacionado na porta de sua casa, com um laço preto para deixar claro que se tratava de um presente. Emocionado com o gesto, o Gringo quis agradecer. “O presente não é meu” disse o Mais Amigo. “É da massa”, desconversou. Esse era Júlio.
Estádio vazio — Fiquei triste por ter deixado de honrar a memória de Júlio na data certa. Fiquei mais triste ainda por perceber que, no dia em que se completava mais um ano da morte desse grande torcedor que fazia questão de animar a massa, o Atlético se apresentou num estádio vazio, embalado por um D.J. Maldita pandemia.
Impossível não lembrar do Júlio e da Charanga em momentos como esse. A conquista do título mineiro, no domingo, dia 30, coincidiu com os 50 anos do primeiro campeonato mineiro levantado pelo Galo no Mineirão, em 1970 — numa vitória por 2 a 0 sobre o Atlético de Três Corações, gols de Waguinho. Eu estava no Mineirão e, ao som dos músicos regidos por Bororó, vibrei com o primeiro título alvinegro que presenciei. No ano seguinte, 1971, estive com meu pai e meus irmãos em todas as partidas que o Galo disputou em Belo Horizonte pelo campeonato brasileiro. Em todas elas, claro, lá estava a charanga para estimular o time.
Fizesse chuva ou fizesse sol, nas más fases ou nos momentos gloriosos, com o Mineirão vazio ou lotado, a Charanga era presença obrigatória, sempre animando o Galo a jogar para a frente. Foi assim na conquista de 1970, na de 1971 e nos anos seguintes, quando os músicos do Mais Amigo sempre escolhiam as músicas que cairiam no gosto da massa Quer um exemplo? O samba “Vou Festejar”, de Jorge Aragão, se tornou um sucesso junto à massa porque a Charanga foi extremamente feliz ao escolhê-lo como tema de uma de vitória que lavou a alma atleticana.
“PODE CHORAR, PODE CHORAR” — “Vou festejar” não caiu no gosto da massa por acaso, ou porque a torcida, de uma hora para outra, se pôs a cantá-la nas arquibancadas. Nada disso. Ela foi uma resposta elegante que a Charanga deu a certa torcida secundária, depois de um momentos de grande infortúnio. Só para recordar: no dia 5 de março de 1978, o Galo foi derrotado pelo São Paulo, na cobrança de pênaltis mais esquisita da história, na final do Brasileirão daquele de 1997. Com um time melhor, e invicto, o Galo perdeu para o time paulista. A torcida rival, por não ter razões próprias para comemorar o que quer que fosse, fez festa para zombar de nossa tristeza. Foi um erro pelo qual pagaria caro pelas décadas seguintes.
Menos de um ano depois, em 18 de fevereiro de 1979, foi decidido o campeonato mineiro de 1978. O título, com certeza, era menos importante do que aquele, perdido para o São Paulo. O adversário também era menos importante: aquele time de torcida vaidosa, que havia zombado de nosso infortúnio. O Galo ganhou por 2 a 1 — gols marcados pelo grande Paulo Isidoro. O segundo foi uma pintura, em que o craque pegou de primeira o rebote de uma pedrada que Dadá Maravilha mandou no travessão. Pois bem. Quando o jogo se aproximava do fim, a charanga começou a tocar “Vou Festejar”.
Era, então, um sucesso recente, lançado no ano anterior, na voz de Beth Carvalho. Diante da derrota inevitável e certamente incomodada pela alegria alvinegra, a torcida vaidosa enrolou sua bandeira, enfiou a viola no saco e foi embora. Enquanto isso, a massa, feliz da vida, acompanhava a Charanga com entusiasmo e sem economizar garganta: “É o seu castigo, brigou comigo, sem ter por quê. Eu vou festejar, vou festejar, o seu sofrer, o seu penar!”
A verdadeira alma alvinegra — Muitas vezes, em partidas menos importantes, com as arquibancadas vazias, era da Charanga o único som de incentivo que se ouvia no estádio. Me lembro do rosto moreno, rechonchudo e sorridente de Júlio Firmino neste momento em que alguns torcedores se mostram esmorecidos depois de dois infortúnios consecutivos no campeonato brasileiro deste ano.
Perder é sempre ruim e deixar escapar classificações fáceis que poderiam nos levar a títulos importantes (como aconteceu duas vezes este ano, na Sul Americana e na Copa do Brasil) é frustrante. Tem hora que ficamos perto de desistir. Isso, claro, já aconteceu comigo. Eu, por exemplo, saí do Mineirão, depois da tragédia do brasileiro de 1977, certo de que nunca mais pisaria num estádio. “Nunca mais!”, jurei. Menos de um mês depois eu já estava de volta — e bastou ouvir a Charanga para entender que ali era meu lugar de torcedor.
Longe de mim achar que o fato de ter frequentado o velho Mineirão me torna mais atleticano do que os torcedores mais recentes. Mas lamento que muita gente não perceba que a verdadeira alma alvinegra é forjada no exemplo de gente como O Mais Amigo. Júlio merece uma estátua no novo estádio. Sua decisão de apoiar o Galo em qualquer circunstância (sem com isso, abrir mão do direito de apontar erros e fazer críticas) deveria servir de inspiração neste momento em que o Galo, mais profissional do que era no seu tempo em que sua Charanga fazia das arquibancadas sua sala de concertos, parece no limiar de um novo período de glórias e conquistas.
O torcedor que superou o trauma da decisão de 1977 e que, depois de sofrer com a ladroagem no brasileiro de 1980 e da Libertadores de 1981, se tornou ainda mais atleticano sabe que nunca deixará de apoiar o time, ainda que o sucesso não venha já. Mesmo assim, ele torce para que venha. Assim como o torcedor mais crítico, ele cobra as conquistas que bem merece. Conquistas que virão, como consequência de um trabalho bem feito. E quando isso acontecer, temos que reservar um pouco da nossa alegria para dedicar àqueles que, nos momentos de dificuldade, ajudaram a manter vivo esse time apaixonante. Entre esses grandes atleticanos, Júlio Firmino da Rocha, o Mais Amigo, sem dúvida, merece lugar de honra
*fotos: 1) site da Rádio Itatiaia; 2, 3 e 4) UAI/EM
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Quem quiser ver é só subir o morro,
o GALO mora no meu barracão.
Como era gostoso cantar a todo pulmão Galo. Mas era um grito forte, vigoroso e não o chororô de hoje que é cópia de todos os times.
Saudades da eterna charanga do Júlio o mais amigo.
Éramos felizes e não sabíamos
Caros amigos,
Dr.Fabio Fonseca,Nelson Campos e o Dr.Joaquim Toia,meu pai,o mais longevo de todos os eternos diretores do CAM,não podem ser esquecidos.
Saudações Atleticanas
Nunca serão. Seu pai, em especial, foi um dos pilares da saga atleticana. Será lembrado sempre.
Caro Ricardo.
Emocionante e pertinente resgate memorial de uma das lendas imortais do CAM, Julio,o Mais Amigo,quando o amor ao clube e à instituição não era somente medida pelo tamanho de sua conta bancária.Abraço Joca Toia
Caros,
Julio, O mais amigo, amava O Clube Atlético Mineiro...
Júlio vivo hj NEGOCIARIA a marchinha do AnoQvem de paixão pela atleticandade ou soltaria a nota olê olá lálá o estádio vem prá qui e vai prá ô, lá lá la, se Deus quiser y blá blá blá...?
Com esse sem propósito, Julio tá revirando do túmulo e vai puxar pelo pé e é hj A PATOTA do P7...segura o pé, Zé!
O mais amigo era GALO?
O mais amigo era GALO!
O mais amigo é GALO SEMPRE!
Parabéns pela excelente lembrança. O " Julio mais amigo " precisa ser resgatado na história do nosso Galão, e seu texto é um " chute inicial "nesse resgate.
O texto, por si só, bem como as manifestações dos amigos do blog, já dão uma noção do que representou "Júlio, o Mais Amigo", para o torcedor atleticano. Além do exposto, o escriba cometeu o desatino de transportar diversos velhinhos, dentre os quais este que escreve, a um passado doce, quase ingênuo, que não volta mais. Puxa-vida, nobre Eduardo, como o tempo pôde ser tão cruel e passar tão rápido...
Aproveito a oportunidade (e o espaço, mesmo que sem autorização) para prestar minhas homenagens a outros ATLETICANOS, para com os quais o nosso GALO tem dívidas impagáveis: Cecivaldo Bentes (o Tite); Marcelo Guzella (o responsável por montar o maior Galo que eu vi jogar, o time de 80/83); Adelchi Leonelo Ziller (mestre sem diploma, responsável por escrever a "Enciclopédia do Atlético", dentre outras coisas) e, por fim, um senhor "chamado" SEMPRE que doou ao Atlético, APENAS, o seu amor.
Abraços!
Caros amigos,
Dr.Fabio Fonseca,Nelson Campos e o Dr.Joaquim Toia,meu pai,o mais longevo de todos os eternos diretores do CAM,não podem ser esquecidos.
Saudações Atleticanas
Que alegria te encontrar aqui, caro Joca. Falamos em vc essa semana.
Caro Ricardo.
Emocionante e pertinente resgate memorial de uma das lendas imortais do CAM, Julio,o Mais Amigo,quando o amor ao clube e à instituição não era somente medida pelo tamanho de sua conta bancária.Abraço Joca Toia
PARABÉNS RICARDO GALLUPO PELO TEXTO ILUMINADO. BELÍSSIMA HOMENAGEM AO ETERNO JÚLIO , O MAIS AMIGO.
JÚLIO FAZ PARTE DA HISTÓRIA DO GALO.
ERA FANTÁSTICO O MINEIRÃO UM MAR DE BANDEIRAS ALVINEGRAS , MUITAS DELAS FINANCIADAS POR JÚLIO , MAIS DE 100.000 ATLETICANOS EMBALADOS PELA CHARANGA DO JÚLIO , UMA APOTEOSE.
INCLUSIVE AQUELA IMENSA BANDEIRA ALVINEGRA ESTENDIDA COBRINDO TODO O GRAMADO DO MINEIRÃO , CONSIDERADA À ÉPOCA A MAIOR DO MUNDO , TAMBÉM FINANCIADA POR JÚLIO.
NO GRAMADO O GALO , CINCUNEGUI , O DEUS DA RAÇA , O MAIOR LATERAL ESQUERDO DO GALO , DARIO PEITO DE AÇO , LÔLA , OLDAIR , LACY , VAGUINHO , GRAPETE , AMAURI , VANDERLEI , UM TIMAÇO , A VERDADEIRA RAÇA ATLETICANA.
BATÍAMOS RECORDES ATRÁS DE RECORDES DE PÚBLICO.
SAUDADES DESSE TEMPO QUE NÃO VOLTA MAIS.
JÚLIO , UM ÍCONE NA HISTÓRIA DO GALO.
Só posso bater palmas pro texto, irreparável. E depois que os jogos já tinham acabado ficávamos dançando ao som da charanga que pra finalizar ia tocando e caminhando pro lado do gol da lagoa. Que saudades!!!
Boa tarde! Fantastica essa lembrança. Onde que eu assino?!
Lindo link entre o passado nostálgico e o futuro promissor.
Alentador ver narradas aqui histórias das quais participei, quando o Mineirão era digno de nota.
Amor incondicional, sim. Apoio incondicional, não.
Não se trata de ganhar ou perder títulos. Só quem não quer ver não enxerga que tantos títulos não perdemos, tiraram de nós.
Agora, apoiar quem deve R$ 14,5 milhões por Maicon Bolt, isso não, né?!
Apoiar mecenas de fôlego curto, que FINGEM ajudar, mas só vão até a página 2, isso não, né?!
Não sou obrigado.
Rubens Menin, Ricardo Guimarães e Sette Câmara NÃO são o CAM. E eu não torço por mecenas, torço pelo Galo.
Um bilionário que rebaixa o clube JAMAIS terá minha admiração.
Uma coisa é o cidadão ganhar um salário à brasileira, e ainda assim tirar uns tostões para ver o Galo.
Outra são bilionários que se beneficiam de sua participação ativa no clube, mas nunca entregam resultados.
R$ 14,5 milhões de indenização pelo Maicon Bolt?!
Se esse não for o segundo pior presidente da história, não sei o que é.
Pior que ele, só RG.
Rapazzzz!!!
Gigante da Pampulha,GALO, Charanga do GALO, Bororó, Júlio, Zé das CAMisas putsss!!!
Lendo a coluna recordo-me de uma passagem q aconteceu num clássico pelo Campeonato Mineiro. No minuto de silêncio pela passagem do jogador Roberto Batata, deixando momentaneamente a rivalidade de lado,um dos integrantes se põe de pé e o toque de silêncio ecoa no estádio oriundo de um trompete Alvinegro. Teve outras,muitas outras,mas esta me marcou e acredito q a muitos q presenciaram este episódio naquele dia. Êiiiiitchaaaaa!!!!
Saudações Atleticanas
Grande texto Ricardo Galuppo! Continuo tão Atleticano, ou até mais, porque esta paixão só aumenta. Inexplicável! Diferente de todas outras, esta paixão nunca cessa e se solidifica, mesmo com todos os Paulos Cury, Nelios Brandt, Zizas, e tantos outros! Mas o romantismo de antigamente não vai ter mais. Quando chegávamos no Mineirão ao meio dia, uma boa resenha lá fora com os amigos, regada a uma gelada, ir no bar 29, encontrar as mesmas caras, ver o símbolo da torcida do Galo que era o SEMPRE, e ver um time que a camisa misturava com o corpo de Cincuneggi, Vander, Vanderlei, Amauri, Dadá, Rei e infindáveis mais! SEMPRE GALO!