Haja coração, haja angústia, haja emoção…

Paulo Peixoto

Faz um tempo que não vivíamos essa experiência de disputar um Brasileirão no topo da tabela sustentando a liderança por muitas e muitas rodadas. Já não me lembrava o quanto é contagiante, mas também sofrido, manter-se no ponto mais alto do topo, ser o alvo da perseguição pelo pelotão da frente, o time a ser batido.

E na medida em que o Brasileirão avança, essa tensão aumenta mais, chega a ser angustiante às vezes. É ruim demais passar anos e anos sem conquistar o principal campeonato nacional, porque as cobranças parecem ser maiores, o peso parece ser maior para toda a comunidade atleticana.

Mas o título será o destino do Clube Atlético Mineiro, e todos nós estamos juntos, com fé e emanando boas energias a esse grupo batalhador e determinado de bons jogadores. Incluo também os integrantes da comissão técnica de Cuca, obstinados e competentes. Esse é o nosso caminho. Então, é como diria José Augusto: “Agora aguenta coração.”

Não é fácil. Contra o Grêmio o nível de ansiedade dos torcedores foi gigante. Achei que apenas eu estava excessivamente nervoso durante aquela partida, a ponto de parar de ver o jogo em alguns momentos intercalados. Que nada. Passado o drama, fui vendo nos comentários e conversas com os amigos e companheiros que eu não estava sozinho nessa super ansiedade. Sempre soubemos que seria assim, mas na hora não adianta…

Contra o América foi menos tenso porque o jogo foi menos intenso em relação ao que vimos contra o desesperado Grêmio. Foi competitivo, mas os times se estudaram mais e, no segundo tempo, o gol trouxe mais tranquilidade. Mesmo assim a ansiedade não cessou. Se existia antes do gol porque o relógio andava e a rede estava vazia, passou a ser, depois do gol, porque o relógio não corria. O apito final demorou. Mas veio. Ufa!

É assim e será assim até o final, duro, muito desgastante e tenso. Mas não é apenas durante a partida que é assim. Tem também a tensão pré-jogo. Contra o Corinthians a coisa tende a ser pior do que foi contra o Grêmio e o América, porque a lista de desfalques para essa importantíssima partida cresceu com as convocações de Alan Franco, Júnior Alonso, Savarino e Vargas para as respectivas seleções nacionais. Tem também os contundidos, os suspensos.

O momento pré-jogo fica cercado de dúvidas sobre como o Galo poderá superar todos essas dificuldades que se apresentam. Os desfalques com as seleções vai se estender ainda para a partida contra o Athetico-PR, fora de casa. É outra partida que temos que vencer. É desfalque demais para essas duas próximas partidas.

Eu me agarro na capacidade do Cuca de enxergar soluções e depois torço demais para que elas deem certo. Vamos com o que temos disponível. Por isso me incomoda saber que tem atleticanos que mesmo neste momento de fim de temporada, de sacrifícios e de esforço redobrado ainda ficam criticando a entrada de Tchê Tchê, Guga e um ou outro mais. Quanta falta de sensibilidade e solidariedade a esses atletas neste momento. Emanar boas energias a esse time é fundamental. Ainda é tempo de rever posições.

Como lembrou Cuca no pós-jogo contra o América, fizemos o jogo 65 do ano e ainda teremos mais dez pela frente, justamente os mais desgastantes, tensos, nos quais os jogadores vão buscar mais gás e energia onde houver e onde puderem.

Tudo isso poderia ser um pouco mais tranquilo se tivéssemos vencido duas vezes o lanterna da competição, se tivéssemos vencido o Ceará em Fortaleza e também o xará goianiense neste returno. Nós estaríamos aqui tranquilos com menos dez pontos perdidos de vantagem. Eu não esqueço isso, mas tenho feito um grande exercício mental para não lamentar o que ficou para trás, porque o campeonato segue e esse time vem nos enchendo de esperança. Então, bola pra frente.

É sempre bom reafirmar que o CAM mudou de patamar, não na grandeza do clube, mas na capacidade que esse clube enorme tem de chegar às fases finais das duas mais importantes copas em disputa pelos clubes brasileiros e ainda se manter no topo do difícil Brasileirão. Isso nunca havia acontecido na nossa história. Isso é um divisor. E se o trabalho administrativo, burocrático e técnico que vem sendo feito continuar assertivo, vamos nos manter nesse patamar por longos anos, assim acredito.

Mas isso depende também, e muito, das conquistas de títulos. Pelo trabalho que vem sendo feito, não podemos fechar o ano sem conquistar nada, seria um drama enorme, seria muito ruim. Ainda faltam muitos e desgastantes jogos nesses meses de novembro e dezembro de 2021.

Não ganhamos nada, ainda, mas estamos no bom caminho. Então, é sustentar os pés no chão, manter o foco, conter a ansiedade e ir com técnica, força e raça. Nessa reta final, muitas vezes o coração terá que estar à frente de tudo isso. Mas é preciso um pouco mais: os olhos devem estar sempre atentos e vigilantes. Entramos na reta final e não podemos deixar que o lado sombrio entre em ação. A nossa história nos ensina a estarmos atentos e fortes. Que o lado luminoso da força esteja com o Clube Atlético Mineiro. Vamos todos juntos, Galo!

*fotos: Atlético