O Quarteto continua longe de ser Fantástico

por Marcelo Seabra

Fantastic Four

A Fox tentou de novo levar o Quarteto Fantástico (Fantastic Four, 2015) às telas, depois dos constrangimentos de 2005 e 2007, ambos dirigidos por Tim Story (quem?). Agora, a jogada foi pegar Josh Trank, que chamou a atenção com sua boa estreia, e colocar sangue novo inclusive no elenco, rejuvenescendo os personagens. É triste constatar que, mais uma vez, o resultado não funciona, mesmo com um time talentoso envolvido. E as bilheterias têm sido tão vergonhosas que a continuação, já prometida, deve estar fora de cogitação.

Poder Sem Limites (Chronicle, 2012), a primeira produção dirigida por Trank, é praticamente uma adaptação de quadrinhos, com o pequeno detalhe de ser uma história original. Está tudo lá: a amizade, a descoberta, os problemas advindos dos poderes, as mudanças, o conflito. Com um orçamento maior, seria ele capaz de dar dignidade a Reed Richards e companhia? Essa era a questão que a Fox, tão bem sucedida com os X-Men, buscava responder, inclusive recrutando um dos roteiristas dos mutantes, Simon Kinberg. A pequena alteração na fonte, colocando Johnny Storm negro e a irmã Sue, loira, adotada, não seria razão por si só para receio, mesmo não havendo nenhuma necessidade disso.

Fantastic Four scene

O fato dos personagens estarem saindo do colégio complica um bocado as coisas. Como, tão jovens, seriam responsáveis por um projeto tão importante e poderiam se arriscar da forma como ocorre? Essas e outras questões vão passando pela cabeça e a conclusão é sempre a mesma: esqueça isso e divirta-se. Porque não era possível pensar em nada melhor. Tendo isso em mente, a primeira metade do longa é bem interessante, com os laços sendo desenvolvidos, mesmo que meio corrido, e podemos conhecer as características básicas de cada um.

Milles Teller, grande descoberta de um dos melhores filmes do ano, Whiplash (2014), é Reed Richards, o cabeça do quarteto. O ator é ótimo, só não tem oportunidade de fazer muito, ainda mais com as falas que lhe cabem. Jamie Bell, o eterno Billy Elliot (2000), entra mudo e sai calado, principalmente quando coberto por tantas pedras. O drama do Coisa é muito mal aproveitado, a sua nova aparência é foco de apenas uma conversa rápida e já se parte pra a ação. Sue Storm, a Mulher Invisível, é vivida por Kate Mara, um dos destaques de House of Cards, e tem menos ainda o que fazer. Ela é uma cientista que fica estudando e ouvindo música o tempo todo e ainda tem sua importância para a missão diminuída, sendo mostrada como apenas a responsável pelos uniformes. E Michael B. Jordan, de Poder Sem Limites, é o esquentado Johnny Storm, um menino mimado que só quer dar dor de cabeça para o pai (Reg E. Cathey, também de House of Cards).

Fantastic Four Doom

Assim como tem acontecido com os filmes dos estúdios Marvel, um dos grandes problemas de Quarteto Fantástico, dentre vários, é o vilão. Toby Kebbell (de O Conselheiro do Crime, 2013) é Victor Von Doom, um gênio rebelde que se deixa dominar pelo desejo por Sue e pelo que todos os malvados padrão buscam: poder. Uma vez que é feita a transição, o personagem se perde totalmente. Não entendemos o que ele busca, suas motivações e nem o que acontece com ele. Tudo é muito conveniente e as resoluções são esdrúxulas. E o outro antagonista cabe a Tim Blake Nelson, que interagiu com o gigante esmeralda em O Incrível Hulk (2008). Aqui, ele é o estereótipo do militar chefe, apenas cobrando e dificultando.

Se Trank consegue criar algo interessante na primeira hora e pouco, ele fica em débito com os vinte ou trinta minutos finais. E o filme fica nessas duas partes apenas, ele pula do desenvolvimento para o ato final e dá um susto no público, que rapidamente percebe que o suplício está perto do fim. O diretor logo contou que a Fox mexeu bastante no filme, desde a concepção até a edição final, que foi tirada de suas mãos. O orçamento foi cortado – percebe-se pelos defeitos especiais – e coube a ele fazer um milagre, o que não aconteceu. Se isso é tudo verdade e se ele teria feito algo superior, nunca saberemos. Mas é possível afirmar que este é o melhor filme já feito com o Quarteto Fantástico. Pena que isso não signifique quase nada.

Um ótimo elenco foi desperdiçado: Teller, Mara, Bell e Jordan

Um ótimo elenco foi desperdiçado: Teller, Mara, Bell e Jordan

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
Esta entrada foi publicada em Adaptação, Estréias, Filmes, Quadrinhos e marcada com a tag , , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

2 respostas para O Quarteto continua longe de ser Fantástico

  1. Fabiano Costa disse:

    oi Marcelo queria muito assistir filme ou series inglês com legenda em inglês, no seu blog tem filme inglês com legenda em inglês?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *