por Marcelo Seabra
Por algum motivo, as ficções-científicas na carreira de Tom Cruise são raras e espaçadas, como Minority Report (2002) e Guerra dos Mundos (2005). É curioso, então, reparar que ele seguiu o interessante Oblivion (2013) com No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow, 2014), repetindo o gênero. Talvez o bom resultado do primeiro o tenha animado a continuar nessa vizinhança. O segundo, no entanto, conseguiu ir bem além, com um roteiro inteligente, engenhoso e, acima de tudo, divertido.
O papel de Cruise parece feito sob medida, e de fato foi. O livro no qual o longa se baseia, All You Need Is Kill, de Hiroshi Sakurazaka, teve características alteradas quando o astro se juntou ao projeto. O resultado é um protagonista confiante, descontraído, quase um canastrão, e um pouco mais velho do que deveria para estas estripulias. Bem como Cruise. E há ainda oportunidade para uma mulher forte ao lado dele, tarefa dada a Emily Blunt (abaixo). Com dois exemplares de linhas parecidas no currículo (Os Agentes do Destino, 2011, e Looper, 2012), a atriz agora conseguiu merecido destaque como uma militar admirada pela cidade como a guerreira que poderá salvar a todos.
Num futuro não muito distante, a Terra é atacada por uma raça alienígena bastante desenvolvida e os países precisam se unir para contra-atacar. Ofensivas são programadas e os ânimos se exaltam após pequenas vitórias. Cruise é o Major William Cage, um assessor de imprensa do exército que se vê no campo de batalha sem ter ideia do que fazer. Como soldados mais experientes não demoram a morrer, não seria diferente com Cage. Mas ele se vê em um processo à Feitiço do Tempo (Groundhog Day, 1993), preso naquele dia por várias vezes e revivendo a sua morte.
No elenco, além de Cruise e Blunt, é justo destacar dois coadjuvantes que roubam momentos. Bill Paxton, visto recentemente em Marvel’s Agents of SHIELD, muito diferente fisicamente, é responsável por cenas engraçadas, mas não deixa de participar da ação. E Brendan Gleeson (de Sem Proteção, 2012) dá o seu peso (sem trocadilho!) a um oficial fundamental à trama. Ambos trazem a autoridade necessária a seus personagens e reforçam um grupo muito heterogêneo, muito competente.
Doug Liman, que deu vida nova aos espiões do Cinema com A Identidade Bourne (The Bourne Identity, 2002), mostra que está afiado quando se trata de ação com conteúdo, comandando o show. Com explicações precisas para tudo que acontece, o roteiro de Christopher McQuarrie (velho conhecido de Cruise, de Operação Valquíria, 2008, e Jack Reacher, 2012) e dos irmãos Jez e John-Henry Butterworth (de Jogo de Poder, 2010, também de Liman) consegue misturar elementos de várias histórias e ainda sair com um ar fresco, de novidade. O fator repetição traz uma cara de videogame, já que o personagem morre e tenta novamente, e isso dá um considerável trabalho ao montador James Herbert (de Caça aos Gângsteres, 2013), que se sai muito bem. Só vemos de novo o que é preciso, pulando as partes que seriam cansativas para ir direto ao assunto. Sobra apenas a diversão.