por Marcelo Seabra
Muitos filmes podem te fazer chorar, a maioria pelos motivos errados. Crianças doentes e gente morrendo são o caminho mais fácil, e mais reprovável. O mais difícil é fazer um filme honesto sobre as dificuldades e o lado bom da vida, em qualquer que seja a etapa. O diretor, produtor e roteirista Stephen Chbosky mostra muita maturidade, apesar da pouca experiência, na condução de As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, 2012), longa interessante, ainda que não muito original, sobre a adolescência de um garoto introvertido.
Baseado no livro semi-autobiográfico de Chbosky (de 1999), o filme nos apresenta a Charlie, um estudante de 16 anos que já mostra de cara ser bem tímido ao escrever cartas a um amigo inexistente que funcionam como um diário. Ele passou por experiências difíceis, que vão se revelando ao longo da projeção, e tenta se encaixar na escola que começa a freqüentar. Mesmo querendo passar despercebido, ele chama a atenção dos veteranos, aqueles atletas babacas que adoram sacanear tipos como Charlie. Com pouco tempo, ele identifica um colega de postura extravagante (Ezra Miller) que pode vir a ser seu amigo e se aproxima, entrando em um mundo novo para ele, com festas e pessoas igualmente à margem no quesito popularidade. Assuntos complicados são abordados, como drogas, abuso infantil e a sexualidade de adolescentes, o que fez o livro ser proibido em algumas escolas americanas.
Logan Lerman é um ator que, apesar de ter apenas 20 anos de idade, já tem uma experiência considerável. Já é protagonista de uma franquia de fantasia, Percy Jackson, viveu D’Artagnan (no Três Mosqueteiros de 2011) e teve até uma série de TV, Jack & Bobby (2004-2005), além de vários outros trabalhos. Desta vez, ele encara uma produção independente bem pé no chão com um personagem um pouco mais novo que ele, que é mais velho do que aparenta. Com um roteiro bem construído, povoado por jovens tridimensionais, fica mais fácil poder mostrar serviço. Lerman vai facilmente do garoto adorável ao nervoso, passando pelo triste, melancólico, solidário, vulnerável e a lista é grande. Com uma atuação discreta, ele mostra que seu Charlie é um ser humano bem crível, daqueles que se pode encontrar facilmente pelas escolas. Dá até vontade de saber como seria se ele tivesse sido o escolhido para ser o novo Homem-Aranha.
No papel de Patrick, o amigo homossexual e ligeiramente histriônico, Ezra Miller mostra mais uma vez porque é um nome em ascensão. Ele recebeu ótimas críticas por Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, 2011) e, aqui, muda radicalmente, como um jovem lidando com questões já complicadas da adolescência, às quais se soma a sua sexualidade, o que não deve ser fácil em nenhuma idade, muito menos nessa. E o outro nome importante do elenco é o de Emma Watson, superando o durável emprego como Hermione, seu primeiro, iniciado em 2001 com Harry Potter e a Pedra Filosofal e concluído no ano passado. Sam fica no limite perigoso entre uma personalidade interessante e uma apenas chata e presunçosa, com uma boa dose de insegurança por trás. Ela vive na mesma casa de Patrick, devido ao casamento dos pais, e os dois se dão muito bem, ao contrário dos usuais clichês do cinema. É na turma de Patrick e Sam que Charlie entra, e ele descobre o que é ter vários amigos, algo que vai moldar o adulto que ele vai se tornar.
A época em que a história se passa não fica muito clara, mas dá para deduzir que trata-se do início da década de 90, quando Chbosky ainda estava no colégio. Ainda era tradição dos mais sensíveis gravar fitas cassete para namoradas e amigos, fazendo aquelas seleções bregas e inesquecíveis que incluíam desde o mais moderno aos clássicos das décadas anteriores, como The Smiths, XTC e David Bowie. Inclusive, a tal música do túnel que passa a ser procurada pelos amigos é tratada como desconhecida e é um dos maiores hinos de Bowie, Heroes: falha perdoada devido ao número de acertos de Chbosky. O elenco de apoio também ajuda, com Paul Rudd e Tom Savini como professores, Dylan McDermott e Kate Walsh são os pais, Melanie Lynskey como a tia Helen e Joan Cusack como a médica. Como pode-se perceber, é um filme que merece ser conferido e lembrado.