por Marcelo Seabra
Quando se reúnem Fernando Meirelles e Peter Morgan, as expectativas crescem. Afinal, trata-se do diretor de Cidade de Deus (2002) e O Jardineiro Fiel (2005) e do roteirista de A Rainha (2006), O Último Rei da Escócia (2006) e Frost/Nixon (2008), entre outros grandes trabalhos. No entanto, o resultado da parceria, 360 (2011), não foi recebido com tanto ânimo. Muito pelo contrário: a crítica estrangeira destruiu a obra. Realmente, não se trata de um ponto alto na carreira de nenhum dos dois, mas não chega a ser uma mancha no currículo.
O filme, que estreia essa semana nos cinemas, é vagamente inspirado na peça La Ronde, publicada em 1900 apenas para os amigos do autor, Arthur Schnitzler. A partir dos anos 20, novas tiragens circularam por Berlim e Viena, causando um certo barulho por abordar hábitos e transgressões sexuais entre várias classes sociais. Muito popular na França, o texto ganhou duas adaptações oficiais ao cinema, por Max Ophuls (1950) e por Roger Vadim (1964), além de várias outras não assumidas.
Meirelles (ao lado), que não comandava um longa desde 2008 (quando lançou Ensaio Sobre a Cegueira), reuniu um ótimo elenco de diversas nacionalidades e filmou em vários países. Não chegam a vir ao Brasil, mas não faltam personagens brasileiros: Maria Flor (de Xingu, 2012) e Juliano Cazarré (o Adauto da novela Avenida Brasil) fazem um casal em crise vivendo em Londres. O roteiro é uma colcha de retalhos sobre várias pessoas que cruzam o caminho umas das outras, e algumas relações são bem construídas e interessantes; outras, nem tanto. Há bons momentos isolados, como o discurso de Anthony Hopkins em um grupo de ajuda, que mostra do que o veterano ainda é capaz (apesar de O Ritual e outras bobagens recentes).
No elenco de 360, os nomes mais conhecidos do público brasileiro, além dos já citados, devem ser Jude Law (o Dr. Watson dos dois Sherlock Holmes), Rachel Weisz (de A Casa dos Sonhos, 2011), Ben Foster (de Assassino a Preço Fixo, 2011) e Marianne Jean-Baptiste (de Ladrões, 2010). Há também as tchecas Lucia Siposová e Gabriela Marcinkova, os russos Dinara Drukarova (ao lado, com as colegas tchecas) e Vladimir Vdovichenkov, o ucraniano Mark Ivanir, o austríaco Johannes Krisch e o francês Jamel Debbouze (de Amélie Poulain, 2001). O fato dos atores terem a nacionalidade que representam dá mais credibilidade ao projeto, já que, por exemplo, os brasileiros falam mesmo português, e não espanhol ou algo parecido.
O grande problema, como apontado por muitos críticos, é a superficialidade com que as histórias são tratadas e a falta de impacto dos momentos que deveriam ser os mais impactantes. Alguns personagens parecem apenas cumprir tabela, já que o roteiro precisava deles para tapar buracos, e certas decisões são tomadas apenas para que tudo dê o resultado que Peter Morgan havia programado e complete o círculo que o título indica. Acaba sendo nada mais que uma produção genérica, como há várias por aí, muito aquém do que Morgan e Meirelles já provaram serem capazes de fazer.