Bons atores e um grande diretor fazem A Casa dos Sonhos

por Marcelo Seabra

Em uma rápida pesquisa, pode-se constatar que a maioria dos críticos viu em A Casa dos Sonhos (Dream House, 2011) um longa lento, confuso e cheio de viradas forçadas e previsíveis. Não tenho interesse algum em levantar polêmicas ou ser do contra. Mas o que assisti foi a um drama com toques de suspense que tem momentos bem interessantes, e que fica acima da média no fim das contas.

Este é um caso de quanto menos se sabe a respeito, melhor. O trailer, dizem, entrega muito. Dei sorte de ser atraído pelo elenco e pelo diretor e ir sem muitas informações, o que não é bem um hábito. Mas, quando se tem o James Bond Daniel Craig e as beldades (e competentes) Rachel Weisz (de Um Olhar do Paraíso, de 2009) e Naomi Watts (de King Kong, 2005), comandados por Jim Sheridan (de ótimos filmes, como Meu Pé Esquerdo, de 1989), dá para arriscar.

Sheridan (ao lado), que sempre trabalhava com temas e elencos ligados à sua Irlanda natal, passou a retratar os Estados Unidos em Terra dos Sonhos (In America, 2002), excelente drama sobre uma família irlandesa que chega ao país em busca de oportunidades. Agora, ele se volta a um pai de família (Craig) que decide deixar seu trabalho em uma movimentada cidade grande para passar mais tempo com a esposa (Weisz) e filhas na ótima casa para onde se mudaram recentemente, numa cidade menor e mais calma.

Os problemas desse quarteto aparentemente perfeito começam quando Will descobre que a família que morava na casa antes deles foi morta. A cidade tem a casa como um lugar maldito e, logo, estranhos começam a serem vistos rondando. Entregar mais do que isso seria estragar a experiência, que foi forte o suficiente para calar todos os imbecis que pareciam estar em um bar e conversavam à vontade. Costumo ter esse tipo de problema (volte, lanterninha!), mas desta vez estava generalizado – até um determinado ponto da exibição, quando todos parecem ter começado a prestar atenção.

Segundo jornais norte-americanos, o diretor e o produtor, James G. Robinson, tiveram várias discussões sobre ajustes no roteiro de David Loucka. Sheridan não ficou muito satisfeito com o resultado e tentou tirar seu nome dos créditos. Os protagonistas, Craig e Weisz, também teriam ficado descontentes. Nenhum dos três fez as habituais divulgações para a imprensa e não houve nem ao menos uma sessão para jornalistas, o que seria esperado. Para os atores, houve um lado bom: o relacionamento iniciado deste lado das telas.

Conferindo algumas listas de melhores filmes de terror em sites em inglês, observamos que o conceito de filme de terror pode ser bem estranho. Considerar, por exemplo, Inverno de Sangue em Veneza (Don’t Look Now, 1973), A Tortura do Medo (Peeping Tom, 1960) ou mesmo O Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter, 1955) obras de terror é o mesmo que dizer que a banda Bon Jovi toca heavy metal. Talvez por isso, tantos críticos tenham se decepcionado: por esperarem sustos, mortes e sangue. Realmente, não é o caso.

Há interpretações fortes, uma ambientação muito adequada, uma trilha sonora na medida (de John Debney), uma fotografia elegante (de Caleb Deschanel)… Vários bons elementos combinados que fazem de A Casa dos Sonhos uma boa pedida. Em um fim de semana com estréias de Almodóvar (A Pele que Habito) e Andrew Niccol (O Preço do Amanhã), a briga promete. Contanto que Terror na Água 3D não vença, está ótimo.

Rachel, Craig e Naomi, o elenco principal de A Casa dos Sonhos

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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