por Marcelo Seabra
Coisa difícil de ser ver é um bom filme de suspense. Quando se trata de um estilo clássico, uma história de fantasmas à moda antiga, é mais difícil ainda. Coincidentemente, tivemos duas estreias na mesma época que mostram que ainda é possível assustar com classe, sem apelar a matanças ou a esguicho de sangue. Para quem perdeu nos cinemas, vale a pena conferir no conforto de casa, no escurinho e debaixo das cobertas: A Mulher de Preto (The Woman in Black, 2012) e O Despertar (The Awakening, 2011).
A exemplo da personagem de Hilary Swank em A Colheita do Mal (The Reaping, 2007), outro bom exemplo de suspense, temos em O Despertar Rebecca Hall (de Vicky Cristina Barcelona, 2008) vivendo uma escritora especialista em desvendar supostos casos sobrenaturais. A Inglaterra estava devastada pela Primeira Guerra Mundial e Florence Cathcart ganha a vida, por exemplo, participando de sessões espíritas e revelando os truques das videntes. É nos momentos mais complicados que as pessoas buscam todo tipo de suporte, até de outro mundo, e vigaristas veem aí uma oportunidade.
Gozando de certa fama trazida pelos livros nos quais descreve casos em que trabalhou, Florence é convidada para um novo trabalho. Robert Mallory (Dominic West, de John Carter, de 2012) é professor em um internato de garotos e está às voltas com rumores de uma assombração, o espírito de um dos alunos que morreu há algum tempo. Assim, Florence acompanha Robert e a trama começa, sempre com um clima de tensão crescente em que vemos muito pouco do que está errado, mas sabemos que há algo lá. E ajuda muito contar com a magnética presença de Imelda Staunton (a Dolores Umbridge de Harry Potter) com a misteriosa criada da instituição.
A Mulher de Preto cria o mesmo tipo de ambientação, também invocando clássicos como Os Inocentes, de Henry James. As paisagens, sempre com chuva e mato, ajudam a aumentar a dose de melancolia do protagonista, um advogado que precisa superar a morte da esposa para continuar no trabalho e sustentar o filho pequeno. Daniel Radcliffe, que vive Arthur Kipps, consegue se desvencilhar de seu personagem mais famoso, ninguém menos que Harry Potter, e mostra que cresceu e tem fôlego para uma boa carreira além da série que o marcou.
Kipps é enviado para uma mansão abandonada em uma pequena cidade inglesa, em um terreno pantanoso que lembra O Cão dos Baskervilles, para dar andamento ao espólio da velha viúva que lá morava. Por ser relativamente hostilizado pelos locais, Kipps já percebe que há algo errado, mas não há opção para quem precisa manter o emprego. O único amigo que faz é o rico Sr. Daily (Ciarán Hinds, de Motoqueiro Fantasma 2, 2012), que conhece bem a história do lugar e, ao lado da esposa (Janet McTeer, de Albert Nobbs, 2011), tem sua dose de traumas para lidar.
O diretor e roteirista de O Despertar, Nick Murphy, faz sua estreia em longas-metragens, advindo da TV, enquanto James Watkins, responsável por A Mulher de Preto, tem uma experiência prévia no currículo: o bom suspense Eden Lake, lançado aqui como Sem Saída (em 2008). Não era esperado que nenhum dos dois fosse conseguir alcançar um resultado tão interessante com tão pouca bagagem. E é verdade que ambos os filmes têm finais questionáveis, que podem desagradar uma parcela do público. Se você levar para casa um dos dois esperando sentir um friozinho na espinha e sabendo que o que é só sugerido tem um efeito muito mais aterorizante, a experiência vai se mostrar bem positiva.