O jogo sujo das eleições proporcionais

De Tiriricas a celebridades instantâneas, o balaio político vai elegendo Jean Wyllys e Renan Calheiros. O resultado está aí

Imagem: EM (reprodução YouTube)

Meu Deus! O país caminha para o fim, ainda que o fim nunca pareça ser o fim, ao menos sob nossos próprios olhos. Explico: quando assistimos àqueles cenas horrendas na Venezuela, de pessoas em filas intermináveis para comprar alimentos, pensamos que aquilo é o fim do mundo. Hoje, ao ver filas iguais, de carro e de gente (sim, de gente, com garrafas PET e galões nas mãos), por quarteirões até um posto de gasolina, não pude deixar de imaginar o que um canadense, um americano ou, vá lá, um italiano não pensa a nosso respeito.

Nosso sistema eleitoral é o fim já há muito tempo, mas a cada eleição nossos políticos o tornam ainda pior. E cada boa proposta no sentido de mudança é tão rechaçada quanto sobremesa depois de feijoada. Pior: a manutenção de certas regras é mero dispositivo de continuidade. Não há renovação quando a situação não permite.

Li que a policial que reagiu a um assalto e matou o ladrão na porta da escola será candidata a deputada federal. Certamente não partiu dela a ideia, mas, sim, de um destes “montadores de chapa”, profissionais altamente remunerados que são responsáveis pelas listas de candidatos de um partido às eleições.

Se eu quiser ser candidato, eu tenho de, antes de qualquer outra coisa, me filiar a um partido. Depois, eu preciso que este partido “me dê a legenda” para que eu concorra. Se o dono deste partido — e todos têm um — não quiser, um abraço. Não serei candidato. É assim que funciona e pronto.

Muito bem. O que faz um “montador de chapa”. Identifica puxadores de voto, que são aquelas pessoas notórias ou conhecidas em seus bairros ou pequenas cidades. Estes puxadores têm de ser bons o suficiente para trazer votos para o partido, mas ruins o suficiente para não ter mais votos que os caciques.

Por exemplo: um PSDB da vida calcula que eu tenho um potencial de, sei lá, 15 mil votos. Isso não é suficiente para que eu seja eleito deputado estadual, mas certamente ajudará a ser eleito um deputado atual (buscando reeleição). É assim que o jogo funciona, meus caros. Ao invés de idiotas úteis, votos úteis.

No caso da policial, devido à notoriedade momentânea, talvez até se eleja. É difícil! Particularmente eu duvido. Mas fará a alegria de um ou dois caciques em baixa do partido. Seus votos os manterão onde não deveriam mais estar se dependessem apenas dos próprios eleitores.

Caso seja eleita, eu pergunto: o que pode esta moça acrescentar de útil ao Congresso? Qual sua vivência política ou mesmo interesse pregresso? Ser policial, honesta e corajosa não a torna, em hipótese alguma, hábil para o exercício parlamentar — ainda que seja melhor uma moça assim que um corrupto qualquer.

Se fosse permitida candidatura independente, ou seja, sem filiação partidária e a policial decidisse concorrer, menos pior. Seus votos não seguiriam para ninguém mais. Mas é justamente o sistema atual, que não só impede novos bons políticos como mantém, e aí reside o grande estrago, os maus no poder.

É ou não é o fim? Pelo visto, achamos que ainda não.

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18 thoughts to “O jogo sujo das eleições proporcionais”

  1. Concordo sobre o funcionamento do sistema. Mas discordo em desacreditar na policial como política. Acho q já tivemos intelectuais e semi analfabetos presidentes, senadores temos Aecio, Serra e cia… Acho q precisamos, antes de tudo, de pessoas honestas. Sem essa base, nunca teremos políticos bons.

  2. Quando Lula voltar, nosso país será respeitado novamente, assim como era. Em sua época de presidente., lembrando sempre o que o ex presidente americano falou, Lula é o cara…..

        1. Agradeço a resposta NM mas perguntei sobre ‘presidente presidiário’.
          Quando Nelson Mandela foi presidente ele não era mais presidiário e nem sei se quando candidatou ainda estava preso mas certamente já devia estar livre!

  3. Prezado.

    Você foi no âmago da reforma política necessária. Não tenha dúvida que ela ganhará as eleições. Já dizia Tom Jobim, o Brasil não é pra principiantes. Um grande reforço para esta candidatura foi o oportunismo barato do governador de SP condecorá-la.

  4. Ela não fez mais que a obrigação, ora, defendeu a mãe e as filhas. Ganha justamente para isso, e ainda tem pensão se morrer. Foi herói, acho que sim: Muito policial de acovarda, trabalhando no administrativo com medo de levar chumbo. Concordo na maior parte do seu artigo… Uma coisa é ser policial, outra é ser o representante eleito pelo povo. Entretanto o povo brasileiro está cansado de roubos, furtos, assassinatos, corrupção, gastos excessivos em todas as esferas, é natural bradar por uma pseudo-solucao como se fosse uma receita de bolo. Infelizmente não é assim, existe um sistema e mecanismo que fazem nossas engrenagens rodar, e não sei como irá mudar esta forma. Infelizmente 94,% dos brasileiros são analfabetos funcionais e COM TODA A CERTEZA irão colocar marionetes do sistema eleitoral no poder, então nada muda. Cara, agradeço a Deus por não nascer na Síria, Somália, mas penso que lá, eu poderia ser melhor que um brasileiro como eu (ao menos, a Europa tá la perto, e aqui, que estamos a mercê de tudo. ) Então, infelizmente não adianta brigar, ensinar, educar, comunicar, etc…. , ainda não perdi a esperança no trabalho, no único país que a corrupção, roubo, furto, crimes imperam, e o trabalhador é apenas um mero burro de carga, e olha que sou um profissional (modéstia parte, um Eng. Competente, casado com um Professora que tem o tesão em ensinar.). Hoje, apenas rezo para não haver guerra (94% despreparados) e trabalho firme.

  5. Gente, gente, vamos entender direito! Não há nenhum problema de se eleger alguém honesto. E como poderia? O texto não trata disso. Ele trata da manipulação de cidadãos desavisados (e talvez com olhos grandes) por caciques políticos corruptos, safados e calhordas para se manterem no poder. O texto trata, por isso, da necessidade de uma reforma político/eleitoral. O exemplo da policial foi usado somente para ilustrar uma situação que certamente está sendo utilizada por algum deles.

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