“Dr. Douglas, bom dia! Tenho 44 anos, sou casado há 20 e tenho 03 filhos. Leio sempre o seu blog. Gosto muito e tenho me interessado por Psicologia, principalmente depois que comecei a fazer terapia. Sempre que leio suas respostas vejo que o fundamental para um relacionamento é o amor. Gosto muito da minha esposa, desejo toda felicidade do mundo a ela, mas, me questiono muito se a amo no contexto conjugal. Sinto meu casamento incompleto. O que significa amar uma pessoa? Será que não gosto dela da mesma forma que gostaria, se tivesse uma irmã? Parabéns pelo belo trabalho e muito obrigado”!
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Resposta:
Querido leitor, antes de mais nada, muito obrigado pelos elogios. São eles que me fazer ter a certeza de estar no caminho certo. Fico feliz por saber que está fazendo terapia. Se estiver sendo assistido por um bom profissional, sem dúvida alguma, você terá muitos benefícios pela frente. Realmente, o amor é fundamental para a construção de um relacionamento afetivo saudável. Sem ele, a relação pode assumir várias feições que, no fundo, pode ter outro nome, mas não, relacionamento amoroso. Entretanto, apesar de ser fundamental para estarmos com alguém, não podemos considerá-lo suficiente para fazer com que o relacionamento seja próspero. Já conheci e atendi centenas de pessoas que eram apaixonadas por seus respectivos namorados (as) e maridos ou esposas e a coisa não foi pra frente.
Portanto, inicialmente é preciso sairmos da fantasia de que, se houver amor, tudo estará resolvido. As coisas não funcionam desta forma e, acreditar nisso, significa ter uma postura bastante ingênua do que verdadeiramente sustenta uma relação. Sempre digo aos meus pacientes e leitores que, além da parte sentimental, precisamos prestar bastante atenção em aspectos objetivos da personalidade do outro. Em síntese, seria fazer uma avaliação mesmo, sobre a forma do outro pensar e se comportar. É claro que não estou pedindo pra que cada pessoa que esteja lendo este texto, dar uma de psicólogo, mas, tão somente, prestar atenção ao temperamento do parceiro no dia a dia. Vou dar um exemplo. Você que está lendo este texto, agora. Imagine que esteja namorando alguém e que o ame. Parta do pressuposto de que esse alguém te ame também, mas, que seja ciumento de forma doentia. Suponha que te persiga na rua, que olhe seu celular diariamente, que abra suas correspondências, que te ligue vinte vezes por dia etc. Possivelmente, por mais que exista amor, o relacionamento seria inviabilizado por tais condutas.
Além disso, outra parte fundamental de ser observada (uma vez que já falamos do amor e da personalidade do parceiro) são as identificações que temos para com ele ou com ela. Mas o que seria exatamente isso? Identificações são afinidades. É muito mais fácil amarmos e nos relacionarmos com uma pessoa que tenha o gosto parecido com o nosso, do que alguém que seja muito diferente. Sugiro ter muito cuidado com a história de que os opostos se atraem. Até penso que, num primeiro momento, isso possa ser verdade, devido à curiosidade e ao encantamento desenvolvido. Entretanto, no dia a dia, casar e conviver com uma pessoa de gostos muito diferentes dos nossos pode ser bastante problemático. Imagine que, nos finais de semana, você goste mais de ficar em casa, vendo filmes, lendo, ou fazendo um jantarzinho romântico. Agora pense que sua esposa/marido goste de ir pra boates, festas e badalações durante a noite. Conciliar as coisas não seria impossível, obviamente. Porém, quanto menos afinidades mais difícil fica o convívio. Negar isso é hipocrisia.
Dicas pra você: como você pôde perceber, querido leitor, existem muitas variáveis importantes, além do amor. Você mencionou que seu casamento é incompleto. Mas, cá entre nós, será que existe algum casamento que possa ser classificado como completo? Ou seja, aquele que é 100% perfeito? Imagino que não. Eu entendo que sempre alguma coisa irá faltar para ambos os parceiros. Um determinado nível de falta é aceitável e administrável. Um nível excessivamente elevado inviabiliza a relação. Lembre-se também, que o amor que sentimos por uma pessoa, principalmente depois de muitos anos de casado, sofre transformações. Pensar que se terá o mesmo vigor, frequência e desejo sexual por sua parceira, da época em que estavam no primeiro ano de namoro é ser muito ingênuo, também. O fato do amor passar por estas transformações, não necessariamente quer dizer que o casamento tenha de ser considerado pior. É preciso que se tenha maturidade para fazer essa análise e sabedoria para dar prosseguimento à relação, caso a esposa ou marido valham a pena, é claro. Por fim, comparar sua esposa a uma irmã, é algo que deve ser muito bem avaliado por você. Todos nós temos necessidades mínimas de amor, sexo, cuidado, carinho, companheirismo, presença, solidariedade, atenção etc. Se essas necessidades mínimas não estiverem sendo atendidas, aí sim, penso que o relacionamento deva ser questionado. Sucesso pra você!
Um abraço do
Douglas Amorim
Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade
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