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Psicólogo graduado pela Universidade FUMEC, Pós-graduado em Psicologia Médica pelo departamento de Psiquiatria e Neurologia da Faculdade de Medicina da UFMG e Mestre em Educação, Cultura e Sociedade pela UEMG, tendo desenvolvido dissertação na área de Violência Contra a Mulher.

Será que devo me separar? Tenho dúvidas.

separo ou nao“Dr. Douglas Amorim, sou atualmente, leitor assíduo do seu blog. Gosto muito da maneira como orienta os leitores. Sou casado há doze anos com uma pessoa muito boa, religiosa, boa filha e altamente confiável. Ela é filha única e os pais sempre resolveram tudo pra ela a tempo e a hora. Nunca se tornou independente. Quando me casei, sabia dessa dependência dela para resolver tudo na vida, e acabei fazendo tudo por ela, assim como os pais sempre faziam. Acreditei que com o tempo ela se tornaria independente. Porém, não foi isso o que aconteceu. Quando não fazia algo que pedia, eu era muito criticado e, quando fazia, ela não reconhecia. Durante todos esses anos não reclamei dessa situação, mas, aos poucos, fui ficando insatisfeito com o dia a dia. Na hora do sexo, às vezes ela estava cansada, com sono, e dizia que não era hora para isso. Sempre tinha uma desculpa. O resultado foi que acabei me afastando. Com o distanciamento estou percebendo que o amor que eu sentia esfriou. Conversamos duas vezes sobre a minha intenção de separar. Quando conversávamos ela sempre chorava e dizia que iria mudar. Agora estou na dúvida se separo ou não, pois não quero que ela se sinta infeliz. Entretanto, ao mesmo tempo, não quero ficar infeliz nesse casamento. Gostaria de saber sua opinião”.

 

Envie sua dúvida para perguntaUAi@gmail.com  Não identificamos os autores das perguntas

 

Resposta:

Querido leitor, antes de mais nada, muito obrigado pelos elogios. Você está num relacionamento há doze anos e diz que ela é uma pessoa boa, confiável e que tem muitos valores. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o fato de você ter conhecido a estrutura familiar dela e a forma como eles se relacionavam entre si. Mesmo percebendo essa relação de dependência dela em relação aos pais – e, obviamente, alimentada por eles – você decidiu se casar. A partir daí, surgem algumas perguntas. A primeira, bem simples é: se você já havia notado que ela era uma pessoa altamente dependente e não gostava disso, por que se casou? Pergunto isso por um motivo também muito simples. Para nos casarmos, precisamos avaliar a parte da pessoa que classificamos como defeitos, falhas e características que classificamos como ruins (isso depende da avaliação subjetiva de cada um pois, o que uma pessoa entende como ruim, não necessariamente é visto da mesma forma por todo mundo). Digo isso porque, avaliar o que entendemos como sendo a parte boa (qualidades), é muito fácil, não é mesmo?

Apesar de ter constatado isso, você decidiu se casar. É muito importante que os leitores que pretendem fazê-lo prestem bastante atenção nisso: muito cuidado com o discurso de “depois que casa melhora”. Muita gente quebra a cara com isso, porque quis acreditar em algo que não sinalizava a menor possibilidade de mudança. Será que esse foi o seu caso? É  bom refletir sobre isso. Seguindo a leitura do seu e-mail, me deparei com algo que considerei um contrassenso total. Você continuou a ter as mesmas atitudes que os pais dela tinham. Ou seja, continuou alimentando a dependência da sua esposa, como você mesmo disse, fazendo tudo por ela. E, falou também que acreditou que, com o passar do tempo, ela se tornaria dependente. É sério mesmo que você acreditou nisso? Pergunto isso porque, replicando tal comportamento, o esperado seria o dela perpetuar este modelo e, até mesmo, piorar. Você não chegou a pensar desta maneira?

Bem, fato é que, com o passar dos anos, ela não mudou e, ao que tudo indica, o nível de dependência e, por consequência, de exigência, foi aumentando. Se você não fizesse tudo a tempo e a hora, era duramente criticado e, quando fazia, não era mais do que sua obrigação. Percebe como tantas qualidades mencionadas por você, acabaram sendo superadas por um defeito grave – no caso, essa dependência global – que elas não foram suficientes para sustentar uma relação de qualidade? Isso, sem mencionar a questão sexual que foi destacada. Ela passou a te evitar, dando desculpas esfarrapadas e, o resultado, não poderia ser diferente. Você foi se afastando e amor foi diminuindo.

Dicas pra você: com tamanha insatisfação sentida, surgiu o desejo da separação, que já foi proposta em duas oportunidades. Como imagino que ela goste de você, houve choro, tristeza e promessa de melhora por parte dela. Eu até acredito que ela possa desejar modificar seu comportamento pra valer. Entretanto, a experiência clínica de tantos anos, me aponta para o fato de existir uma distância enorme entre querer mudar e começar a fazê-lo, de verdade. Para que seu casamento siga adiante, na minha humilde opinião, serão necessárias algumas coisas. A primeira, propor uma conversa pacífica, não para falar em separação, mas, sim em reconstrução. Dentro desta conversa, você precisará destacar o quanto essa dependência nas mais variadas coisas te incomoda, assim como o não reconhecimento de tudo o que faz. É preciso ser mencionado também, que percebe isso na relação dela com os pais e que, provavelmente, a vida inteira foi desta forma. Por fim, você precisará dizer que sairá deste lugar de provedor de tudo e que esperará que ela comece a se movimentar para realizar as coisas. Isso certamente fará com que ela adquira mais maturidade, perante todos os desafios que a vida apresenta. Se ela concordar e começar a agir desta forma, a relação de vocês terá bom prognóstico. E, caso ela queira, mas tenha dificuldades em fazer essa mudança sozinha, vale a pena pensar em procurar a ajuda de um bom psicólogo. Boa sorte pra vocês!

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

Consultório: (31)3234-3244

www.douglasamorim.com.br

Instagram:@douglasamorimpsicologo

Canal no youtube: https://www.youtube.com/user/douglasdanielamorim

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