Will Smith luta contra a NFL

por Marcelo Seabra

Concussion

A maioria dos filmes de Will Smith pode ser dividida entre aqueles que servem para mostrar o quão fantástico ele é e os de auto-ajuda, bonitinhos. Seu novo trabalho, Um Homem Entre Gigantes (a brilhante opção nacional para Concussion, de 2015), está com o segundo grupo, já que nos apresenta a um médico que teve um papel muito importante para a medicina esportiva norte-americana. A boa notícia é que o ator consegue deixar um pouco de lado seu narcisismo e vemos uma interpretação contida, resignada, como o papel pede. Mas discursos e momentos edificantes não faltam, o que torna o resultado bem mediano.

Com sotaque e trejeitos bem alterados, Smith vive um médico nigerino altamente titulado que vive nos Estados Unidos como legista, levando uma rotina bem básica e modesta, no esquema trabalho-igreja-casa. Quando recebe o corpo de um herói veterano do futebol americano, o Dr. Omalu decide descobrir o que teria matado um homem jovem e forte que já havia perdido tudo. Uma concussão na cabeça traria diversos problemas psicológicos e muitos atletas poderiam ir para o mesmo caminho. É claro que a Liga Nacional de Futebol não gostaria que ninguém soubesse que eles são responsáveis por um problema dessa magnitude e começa uma batalha entre David e Golias. É algo como visto em O Informante (The Insider, 1999), as produtoras de cigarro fizeram a mesma coisa alguns anos antes. O primeiro passo da NFL é ignorar a descoberta e fingir que não viu, o segundo é se colocar como simpática à causa e dizer que está fazendo esforços para promover estudos e soluções.

Concussion Smith

Os dois outros papéis de maior relevância em Concussion cabem a Albert Brooks (de O Ano Mais Violento, 2014) e Alec Baldwin (de Missão: Impossível – Nação Secreta, 2015), e ambos trazem peso a seus personagens, médicos respeitados que se unem a Omalu. A surpresa é o número de nomes facilmente reconhecíveis no elenco de apoio, como Stepehn Moyer (o vampiro Bill de True Blood), David Morse (de Amaldiçoado, 2013) e Eddie Marsan (de Ray Donovan). Paul Reiser (de Whiplash, 2014) aparece em um momento rápido e é até difícil reconhecê-lo, enquanto Luke Wilson (de Deixa Rolar, 2014) só dá as caras pela televisão, em uma ponta menor ainda. Gugu Mbatha-Raw (de O Destino de Júpiter, 2015) faz a esposa do protagonista, ficando apenas no desempenho padrão de esposa que o roteiro permite.

O pouco experiente Peter Landesman (de JFK, A História Não Contada, 2013) dirige, além de escrever, e não chega a imprimir nenhuma marca pessoal. Tudo é bem genérico e o longa chega a ficar arrastado, cansativo. Trata-se de um assunto importante, que merecia de fato chegar a um público amplo. Landesman, pintor, escritor e jornalista investigativo, viu o potencial do artigo de Jeanne Marie Laskas para a revista GQ e se lançou na missão de adaptá-lo. Só não soube ao certo o que fazer com ele.

Concussion Omalu

O verdadeiro Dr. Omalu prestigiou a estreia do filme

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Deathgasm é trash de primeira

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Deathgasm banner

Especialista em efeitos especiais e empregado da WETA Workshop – o famoso estúdio de Peter Jackson – o neo-zelandês Jason Lei Howden fez sua estreia como diretor no ano passado em um filme que é uma pérola para aqueles que adoram um bom trash gore no estilo de A Morte do Demônio (Evil Dead, 1981), de Sam Raimi, e similares. Quase que inteiramente financiado pela grana ganha por Howden em um concurso em sua terra natal (Make My Horror Movie) e produzido ao longo do ano de 2014, Deathgasm (2015) é daqueles filmes de baixo orçamento que tem o objetivo único de divertir seu espectador.

deathgasm 1Esqueça uma história coerente, ignore os furos de roteiro ou a falta de desenvolvimento dos personagens. O que temos aqui é um gore que não se leva nem um pouco a sério, consegue ser nojento e engraçado e, principalmente, tem uma trilha sonora pra nenhum headbanger botar defeito. Deathgasm começa quando o jovem Brodie (Milo Cawthorne) se muda para uma cidadezinha neo-zelandesa após sua mãe perder a sua guarda. Fã de bandas de metal extremo, Brodie se sente completamente deslocado na casa dos tios que ficaram responsáveis por ele, tanto pelo fato do casal ser cristão devoto quanto pelo bullying sofrido nas mãos de seu primo David (Nick Hoskins-Smith), que encarna o estereótipo do atleta babaca. Ao começar a frequentar a escola local, Brodie acaba fazendo amizade com dois nerds típicos, Dion (Sam Berkley) e Giles (Daniel Cresswell), ambos jogadores assíduos de RPG. Ao mesmo tempo, alimenta um amor platônico por Medina (Kimberley Crossman), então namorada de David. O fato de se unir a dois nerds torna a vida acadêmica de Brodie pior ainda.

As coisas começam a melhorar quando, ao visitar a loja de discos local, ele conhece Zakk (James Blake), um rapaz mais velho que é uma espécie de lenda local no que diz respeito à delinquência juvenil. Zakk é adepto de pichações e pequenos furtos e, numa dessas aventuras, ele e Brodie invadem a casa de Rikki Daggers (Stephen Ure, de O Hobbit: A Desolação de Smaug, 2013), um ex-músico local que lhes entrega uma partitura contendo uma música conhecida como O Hino Negro e que nunca antes fora tocada.

Com a partitura em mãos e aproveitando-se do fato de que todos ali tocam instrumentos, o quarteto decide montar uma banda de black metal, surgindo aí a Deathgasm. Depois de algumas tentativas de ensaiar músicas próprias, Brodie decide que eles devem tocar o tal Hino Negro e é aí que a coisa desanda: a canção traz um ritual de invocação que convoca Aeloth, “O Cego”, para a Terra. Antes de o demônio se manifestar em pessoa por aqui, sua influência transforma todos aqueles ao alcance dos amplificadores da Deathgasm em demônios-zumbis assassinos. Por algum motivo, os membros da banda escapam do domínio do demônio e, logo, cabe a eles, aliados a Medina, reverter o ritual e deter as criaturas infernais.

deathgasm 3

Deathgasm é um prato cheio para os fãs tanto de filmes trash/gore quanto de metal extremo, pois sua trilha sonora é recheada de músicas de bandas como Beast Wars, Elm Street e Emperor, uma referência no estilo. Não só isso, mas o filme presta diversas homenagens à obra de Raimi, como pode ser visto no uso de serras elétricas para combater os demônios. O filme tem algumas cenas bem non-sense e diversas piadas que ora são bem encaixadas (a cena da gravação do clipe na floresta é puro Immortal), ora parecem bem forçadas. Em nenhum momento, no entanto, o roteiro, escrito pelo próprio Howden, se leva a sério, sendo aquele tipo de filme para se assistir quando você quer se divertir. Obviamente, vai agradar mais aos fãs de metal, que se reconhecerão em Brodie e Zakk, mas não apenas a eles.

Apesar de seu baixo orçamento e o público restrito ao qual se destina, Deathgasm chamou a atenção de uma audiência maior quando foi escolhido para a faixa Midnight Movies, do festival texano SXSW, que aconteceu em março passado, em Austin. A boa repercussão fez com que ele fosse distribuído nos EUA pela Dark Sky Films e, desde outubro, está disponível para ser visto online no serviço Video on Demand do Vimeo. Ou pode-se esperar pelo lançamento do DVD/Blu-ray no começo do ano que vem e torcer para chegar por aqui.

deathgasm 2

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Brasileiro comanda policial paranormal

por Marcelo Seabra

Solace posterDepois de uma estreia forte, com o policial 2 Coelhos (2012), o diretor Afonso Poyart partiu para comandar um projeto fora do Brasil. Acabou se deparando com um roteiro escrito há muito, cujo objetivo era ser uma sequência de Seven (1995), ideia que foi logo descartada. Como uma obra original, ela foi adiante e se deparou com outro problema: quem iria distribuir? Muita luta depois e Presságios de um Crime (Solace, 2015) consegue finalmente chegar aos cinemas. De um trabalho que reúne Anthony Hopkins e Colin Farrell, esperava-se mais facilidade no aspecto financeiro.

Escrito por Ted Griffin (de Roubo nas Alturas, 2011) com colaboração do produtor Sean Bailey (de Tron: O Legado, 2010), o texto ainda passou nas mãos de Peter Morgan (de Rush, 2013) e James Vanderbilt (dos dois Homem-Aranha mais recentes) antes de ser filmado. Toda essa confusão é visível, há uma mudança brusca de ritmo a partir de uma hora de exibição e muitas coisas são resolvidas de qualquer jeito, além de vermos clichês pulando na nossa cara em muitos momentos.

O personagem de Hopkins (de Jogada de Mestre, 2015) é similar ao detetive de Morgan Freeman em Seven, é a voz da experiência. Mas, além de ter se retirado da vida de investigações após a morte da filha, ele tem um poder paranormal que lhe permite ver além das evidências. Mas é aquele poder fajuto que dá alguns elementos sem esclarecer o que realmente está acontecendo. No caso de um serial killer, ele tem flashes, mas não consegue chegar à identidade do sujeito. Jeffrey Dean Morgan (de Possessão, 2012) e Abbie Cornish (de RoboCop, 2014) fazem a dupla de agentes do FBI que precisarão da ajuda do vidente, já que estão totalmente sem pistas. Eles terão que fazer um esforço para o recrutamento, já que o veterano mora num sítio afastado e não tem planos de voltar à cidade.

Solace couple

As coisas mudam radicalmente quando entra em cena o personagem de Farrell (de Sem Perdão, 2013), e os diálogos/duelos travados entre ele e Sir Hopkins são o ponto alto do longa. Mas é exatamente daí em diante que as coisas, que já eram mornas, ficam estranhas e fracas, até chegarem a um final bem insatisfatório. Se, em tema, Presságios de um Crime queria se aproximar de Seven, em realização eles não poderiam ser mais diferentes. E Hopkins, há muito tempo no piloto automático, rouba alguns trejeitos de seu Hannibal Lecter e não consegue sair do lugar comum. Todo o filme gira em torno dele e de sua jornada de “herói traumatizado pela vida que decide dar a volta por cima protegendo inocentes e cumprindo a lei”, o que fica claro desde o início.

Poyart demonstrou muito estilo em 2 Coelhos e a crítica principal feita ao filme, na época do lançamento, é que parecia muito uma produção americana. História muito entrecortada, explosões, efeitos especiais e uma trama romântica eram os elementos de uma produção que podia ser de qualquer país, não tira cara de brasileira. O que não deixa de ser bom, tirando-a da categoria “filme brasileiro” e colocando-a como “filme policial”. Este Presságios de um Crime ficou apenas na categoria “filme genérico”, que se não é ruim, tampouco é bom.

A expressão fixa de Farrell não ajuda em nada

A expressão fixa de Farrell não ajuda em nada

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Diretor estreante assusta com A Bruxa

por Caio Lírio

The Witch Folktale

Bruxas sempre serviram como uma interessante alegoria para o universo fantástico que o cinema adora explorar. Em filmes de terror, a representação da misteriosa figura feminina, ligada à cultura pagã (também bastante recorrente nesse tipo de longa), sempre apareceu como temática para os ímpetos criativos de vários realizadores do gênero. Para o estreante Robert Eggers, não funcionou diferente. O diretor e roteirista se lança atrás das câmeras e usa esse ser folclórico para reunir artifícios suficientes e contar uma história macabra e cheia de nuances sombrias, mas, diferente do que estamos acostumados ultimamente nos longas de horror, sem se valer de artifícios baratos que subestimem a inteligência do espectador.

Em A Bruxa (The Witch: A New-England Folktale, 2015), voltamos ao século XVII, na década de 1630 (cerca de 50 anos antes dos ensaios em Salem), onde se estabeleciam as primeiras colônias dos Estados Unidos, formadas por puritanos na região da Nova Inglaterra. Lá, uma ultra religiosa família formada pelo fazendeiro William (Ralph Ineson, de Kingsman, 2014), sua esposa Katherine (Kate Dickie, de Game of Thrones) e seus cinco filhos é expulsa do vilarejo onde vivem depois que William critica os métodos pouco ortodoxos de seus conterrâneos, que segundo ele, não seguiam a rigor os princípios cristãos. Imbuídos apenas do seu fanatismo religioso, a família se isola na entrada de uma sombria floresta, mas parece que a fé extremada não é suficiente para impedir que acontecimentos macabros passem a acontecer.

The Witch

Se você é daqueles que buscam filmes de terror simplesmente para levar sustos arquitetados de maneira fácil através de acordes altos e repentinos ou de bruxas e monstros saltando de trás das arvores, esqueça! Eggers constrói toda a narrativa em cima de uma atmosfera lúgubre, densa e principalmente silenciosa, onde a tensão aumenta gradativamente diante de sugestões que nem sempre são mostradas em tela. É em cima desses indícios que o diretor conduz o público a querer permanecer naquele universo onde o foco não é a personagem título, mas todas as consequências enfrentadas pela família diante do isolamento, algo que lembra muito o clássico O Iluminado (The Shining, 1980), do mestre Kubrick.

Os atores criam uma sintonia eficiente e oferecem elementos grandiosos para demonstrar a solidão que os acomete. Com isso, o projeto também reforça a máxima de que um filme de terror se torna mais potente e assustador quando simplesmente evoca conflitos humanos e, nesse quesito, a premissa fica clara quando o diretor, através de pouquíssimos elementos, foca nas relações e sentimentos daqueles personagens com o ambiente onde estão inseridos e toda a mítica e perigos que eles irão enfrentar dali por diante.

É interessante como Eggers recorre a documentos e registros reais da época para criar um universo sufocante e repressor que vai desde o comportamento cheio de regras da família até às falas dos seus personagens, com diálogos em inglês arcaico, passando pelo figurino e cenários detalhados, num trabalho de reconstrução histórica minucioso. A fotografia escura e desaturada fornece elemento imprescindível para que o cineasta construa uma lógica visual em cima de sombras e planos escuros iluminados apenas com velas, onde mesmo aqueles personagens vivendo em um terreno grande em frente a um bosque ainda maior não deixem de perceber o quanto aquele ambiente sufoca e apequena aquelas pessoas no decorrer da projeção.

Tudo isso, além de trazer uma metáfora interessante com a culpa da moral cristã, que recai sobre a família como algo tão maligno quanto o fato dela acreditar que forças sobrenaturais estão amaldiçoando pessoas tão devotas. A Bruxa funciona muito bem se valendo de recursos simples e analógicos (que sobrepõem os efeitos digitais tão comumente usados no terror de hoje), oferecendo uma narrativa verossímil, tensa e sombria através de um elemento que assombra adultos e crianças, cristão e hereges, nas artes ou na vida real, desde os primórdios dos tempos.

The Witch Sundance

Eggers (à direita) levou o prêmio de melhor diretor em Sundance

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Oscar 2016 – A Cobertura

por Marcelo Seabra

Rock

Após uma seleção de imagens de várias produções do ano, começa a apresentação de Chris Rock na 88ª entrega dos Academy Awards. E as primeiras piadas, claro, não poderiam ser sobre outro tema: a falta de indicados negros. E ele deixa claro: Hollywood é racista. De um jeito simpático e discreto, mas é. Mas nem tudo é sexismo ou racismo (lembrando da campanha “Ask her more”), e ele convida todos a aproveitarem a noite. Tentou atenuar o problema, como se não fosse grave.

As duas primeiras apresentadoras, as estonteantes Emily Blunt e Charlize Theron, anunciam a categoria Melhor Roteiro Original. Temos premiado o esperado Spotlight, com Josh Singer e Tom McCarthy no palco. Na sequência, Melhor Roteiro Adaptado, com uma encenaçãozinha cômica de Ryan Gosling e Russell Crowe. Charles Randolph e Adam McKay, de A Grande Aposta, sobem para levarem suas estatuetas. Propaganda, Sam Smith cantando a música chata de Spectre, clipe de Perdido em Marte e de A Grande Aposta e chegamos ao próximo prêmio: Melhor Atriz Coadjuvante. Alicia Vikander (abaixo), que teve pelo menos quatro filmes interessantes recentemente, levou por A Garota Dinamarquesa.

Vikander Danish

O Melhor Figurino é com Mad Max: Estrada da Fúria, primeiro prêmio para o longa. Melhor Design de Produção vem na sequência e é outro para Mad Max, assim como Melhor Maquiagem e Cabelo. Já são três estatuetas para o longa, e bem poderia levar a de Diretor. São exibidos os clipes de O Regresso e Mad Max e, após comercial, tem a categoria Melhor Fotografia, cuja aposta de todos parece ser Emmanuel Lubezki, de O Regresso. E não deu outra! O diretor de fotografia fica com seu terceiro prêmio consecutivo. Margaret Sixel leva Melhor Montagem, mais um para Mad Max.

Outra dupla multirracial entra para apresentar, isso parece que vai se repetir a noite toda. É o jeito da Academia se dizer não preconceituosa. E Mad Max leva mais dois prêmios: Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição de Som. Uma surpresa, mas muito merecida, fica com Ex-Machina: Melhores Efeitos Especiais. E os bolões ficaram bagunçados. Os Minions sobem no palco para algumas piadas sem graça, naquela língua deles, e anunciar Melhor Curta em Animação, que fica com A História de Um Urso, e segue Melhor Animação. A Pixar leva mais uma vez, para Divertida Mente. O irritante e puxa-saco Kevin Hart pede palmas para o apresentador Rock, para os atores negros não indicados e para o próximo número musical, com The Weeknd cantando o tema de 50 Tons de Cinza. Mesmo sem muita expressão, é melhor que a de Sam Smith.

Mais outros dois clipes dos melhores filmes, Ponte dos Espiões e Spotlight, e Rock preparou mais uma esquete focada na questão do racismo. Patrícia Arquette apresentou o Melhor Ator Coadjuvante, que parecia ter o nome de Sylvester Stallone. No entanto, Mark Rylance (abaixo), de Ponte dos Espiões, levou. Muito merecidamente, diga-se de passagem. Louis C.K. brinca que a categoria mais satisfatória é a de Melhor Documentário em Curta Metragem, já que os diretores são pessoas simples, que ganham pouco e terão o prêmio como a maior conquista da vida. Leva A Girl In The River: The Price Of Forgiveness,e Melhor Documentário chega a seguir. Amy, sobre a trágica Amy Winehouse, ganha.

Rylance

Numa festa paralela, a Governor’s Awards, foram homenageados as atrizes Gena Rowlands e Debbie Reynolds e o diretor Spike Lee, e vimos um clipe com parte da celebração. A presidente da Academia fez um pequeno discurso ressaltando que é papel de todos lutar pelos direitos, meio que isentando a instituição na questão do racismo. Dave Grohl faz uma bonita versão de Blackbird, dos Beatles, para as homenagens aos falecidos do último ano. Entre profissionais mais e menos famosos, temos representantes de várias profissões, de críticos de cinema a atores, passando por diretores de fotografia, agentes e, claro, o polivalente David Bowie.

A orquestra está sempre afiada, com temas clássicos do Cinema, e os jovens Jacob Tremblay (de O Quarto de Jack) e Abraham Attah (de Beasts of No Nation) apresentam o Melhor Curta em Live Action, Stutterer. E o Melhor Longa em Língua Estrangeira vem da Hungria e responde por O Filho de Saul, o segundo Oscar do país. O vice-presidente americano Joe Biden é recebido com muita animação e palmas e pede o apoio de todos em casos de abusos, seja de homens ou de mulheres. Qualquer cidadão deve intervir. E chama “a amiga” Lady Gaga para interpretar o tema indicado de The Hunting Ground, um documentário exatamente sobre estupros e o acobertamento deles.

Já vencedor de um Oscar pelo fabuloso conjunto da obra, o maestro Ennio Morricone agora consegue emplacar um por um filme específico, Os 8 Odiados. O agradecimento vem em italiano com direito a tradutor. Sam Smith inacreditavelmente leva o prêmio de Melhor Canção Original por Writing’s on the Wall, de 007 Contra Spectre. Outro estrangeiro leva um Oscar: Alejandro González Iñárritu é Melhor Diretor por O Regresso, seu segundo, igualando-o aos recordistas John Ford e Joseph L. Mankiewicz.

Leo DiCaprio

A Melhor Atriz da noite finalmente é revelada, mas já sabíamos quem seria: Brie Larson, por O Quarto de Jack. E o prêmio mais previsível da noite foi o que se seguiu, o de Melhor Ator. Quase como recompensa por uma comoção mundial, Leonardo DiCaprio finalmente leva o Oscar, acabando com inúmeros memes. E ele faz o que deve ser o mais longo discurso da noite, sem música interrompendo, agradecendo a várias pessoas, de O Regresso ao início de sua carreira, passando por seus pais e pelo mentor Martin Scorsese, além de fazer uma bela menção ao futuro do planeta e do cuidado que devemos ter com ele. Morgan Freeman entra para apresentar o Melhor Filme e nos entrega a maior de todas as surpresas: desbancando O Regresso, A Grande Aposta e Mad Max, quem leva é Spotlight! Às duas da manhã, depois dessa grande revelação, Rock volta ao palco apenas para encerrar.

Balanço final em número de Oscars:

Mad Max – 6

O Regresso – 3

Spotlight – 2

O Quarto de Jack, Ex-Machina, Divertida Mente, Os 8 Odiados, A Garota Dinamarquesa, A Grande Aposta, 007 Contra Spectre – 1

Inarritu

Iñárritu é novamente o melhor diretor

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Oscar 2016 – Indicados e Previsões

por Marcelo Seabra

2016 Oscars

É chegada a noite do Oscar, a 88ª entrega. Com Chris Rock à frente, será a hora de torcer pelo tão sofrido prêmio do Leonardo DiCaprio, que vem gerando tanta comoção e memes. Seu novo trabalho, O Regresso, é o recordista de indicações, com 12. E o melhor: reais possibilidades de vencer em várias, ao contrário de Perdido em Marte, por exemplo, com 7 – e deve sair de mãos abanando. Mad Max: A Estrada da Fúria chega com 10 indicações, em segundo lugar, e George Miller bem merecia levar algumas estatuetas.

Como no ano passado, abaixo segue a lista completa de indicados em suas respectivas categorias. Marco o meu palpite do vencedor com o número 1 e o meu favorito (que infelizmente não deve ganhar) com o 2. Se coincidirem, basta um X. Se não houver marcação do número 2, é porque não foi possível julgar, e segue apenas o palpite. Todos os filmes já criticados aqui têm um link para o texto em sua primeira aparição na lista. Clique para conferir o texto completo.

DiCaprio

Melhor Filme

Melhor Diretor

  • Alejandro G. Iñárritu – O Regresso 1
  • Tom McCarthy – Spotlight – Segredos Revelados
  • Adam McKay – A Grande Aposta
  • George Miller – Mad Max: Estrada da Fúria 2
  • Lenny Abrahamson – O Quarto de Jack

Melhor Atriz

  • Cate Blanchett – Carol
  • Brie Larson – O Quarto de Jack X
  • Saoirse Ronan – Brooklyn
  • Charlotte Rampling – 45 Anos
  • Jennifer Lawrence – Joy – o Nome do Sucesso

Melhor Ator

  • Bryan Cranston – Trumbo
  • Leonardo DiCaprio – O Regresso X
  • Michael Fassbender – Steve Jobs
  • Eddie Redmayne – A Garota Dinamarquesa
  • Matt Damon – Perdido em Marte

Melhor Atriz Coadjuvante

  • Jennifer Jason Leigh – Os 8 Odiados 2
  • Rooney Mara – Carol
  • Rachel McAdams – Spotlight – Segredos Revelados
  • Alicia Vikander – A Garota Dinamarquesa 1
  • Kate Winslet – Steve Jobs

Melhor Ator Coadjuvante

  • Christian Bale – A Grande Aposta
  • Tom Hardy – O Regresso
  • Mark Ruffalo – Spotlight – Segredos Revelados
  • Mark Rylance – Ponte dos Espiões 2
  • Sylvester Stallone – Creed – Nascido para Lutar 1

Melhor Roteiro Original

  • Matt Charman – Ponte dos Espiões
  • Alex Garland – Ex Machina
  • Peter Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley – Divertida Mente
  • Josh Singer, Tom McCarthy – Spotlight – Segredos Revelados X
  • Jonathan Herman, Andrea Berloff – Straigh Outta Comptom

Melhor Roteiro Adaptado

  • Charles Randolph, Adam McKay – A Grande Aposta X
  • Nick Hornby – Brooklyn
  • Phyllis Nagy – Carol
  • Drew Goddard – Perdido em Marte
  • Emma Donoghue – O Quarto de Jack

Melhor  Animação

  • Anomalisa
  • Divertida Mente X
  • Shaun, o Carneiro
  • O Menino e o Mundo
  • As Memórias de Marnie

Melhor Documentário em Curta-Metragem

  • Body Team 12 X
  • Chau, Beyond The Lines
  • Claude Lanzmann: Spectres Of The Shoah
  • A Girl In The River: The Price Of Forgiveness
  • Last Day Of Freedom

Melhor Documentário em Longa-Metragem

  • Amy X
  • Cartel Land
  • O Peso do Silêncio
  • What Happened, Miss Simone?
  • Winter on Fire: Ukraine’s Fight fo Freedom

Melhor Longa Estrangeiro

  • Theeb – Jordânia
  • A Guerra – Dinamarca
  • Cinco Graças – França
  • Filho de Saul – Hungria X
  • O Abraço da Serpente – Colômbia

Melhor Curta-Metragem

  • Ave Maria X
  • Day One
  • Everything Will Be Okay (Alles Wird Gut)
  • Shok
  • Stutterer

Melhor Curta em Animação

  • A História de Um Urso
  • Prologue
  • Os Heróis de Sanjay
  • We Can’t Live Without Cosmos
  • World of Tomorrow X

Melhor Canção Original

  • “Earned It” – The Weeknd – Cinquenta Tons de Cinza
  • “Manta Ray” – J. Ralph & Anthony – Racing Extinction
  • “Simple Song #3” – Sumi Jo – Youth
  • “Writing’s On The Wall” – Sam Smith – 007 Contra Spectre
  • “Til It Happens To You” – Lady Gaga e Diane Warren – The Hunting Ground X

Melhor Fotografia

  • Carol
  • Mad Max: Estrada da Fúria
  • O Regresso X
  • Sicario: Terra de Ninguém
  • Os 8 Odiados

Melhor Figurino

  • O Regresso
  • Carol
  • Cinderela
  • A Garota Dinamarquesa X
  • Mad Max: Estrada da Fúria

Melhor Maquiagem e Cabelo

  • O Ancião Que Saiu Pela Janela e Desapareceu
  • Mad Max: Estrada da Fúria X
  • O Regresso

Melhor Mixagem de Som

Melhor Edição de Som

  • Sicario: Terra de Ninguém
  • Mad Max: Estrada da Fúria
  • Perdido em Marte
  • O Regresso X
  • Star Wars – O Despertar da Força

Melhores Efeitos Visuais

  • Star Wars: O Despertar da Força X
  • Mad Max: Estrada da Fúria
  • Perdido em Marte
  • Ex Machina
  • O Regresso

Melhor Design de Produção

  • Ponte dos Espiões
  • A Garota Dinamarquesa
  • Mad Max: Estrada da Fúria X
  • Perdido em Marte
  • O Regresso

Melhor Montagem

  • A Grande Aposta X
  • Mad Max: Estrada da Fúria
  • O Regresso
  • Spotlight – Segredos Revelados
  • Star Wars: O Despertar da Força

Melhor Trilha Sonora

  • Carter Burwell – Carol
  • Ennio Morricone – Os 8 Odiados X
  • Jóhann Jóhannsson – Sicario: Terra de Ninguém
  • Thomas Newman – Ponte dos Espiões
  • John Williams – Star Wars: O Despertar da Força
2016 Oscars Rock

Chris Rock deve pegar mais leve que Ricky Gervais

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Soldados americanos passam 13 horas de aperto

por Marcelo Seabra

13 Hours poster

Como ninguém deve aguentar viver de Transformers, Michael Bay busca alternar projetos de magnitudes diferentes, saindo dos robozões caros para orçamentos menores e histórias variadas. Às vezes, a opção funciona, como no caso de Sem Dor, Sem Ganho (Pain & Gain, 2013), mas o diretor corre o risco de deixar o seu pior vir à tona e criar algo como 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi, 2016). Muitos tiros e destruição em mais de duas horas de projeção, e não poderia faltar o close na bandeira americana. Dois, na verdade.

Coube ao escritor e produtor Chuck Hogan (de The Strain) adaptar o livro-reportagem homônimo de Mitchell Zuckoff sobre os profissionais contratados pelo governo americano para fazerem a segurança de uma base secreta da CIA em Benghazi, na Líbia. Empregados de uma empresa particular, com histórico nas Forças Armadas, os seis sujeitos recebiam ordens dos oficiais da base e ficavam apenas fazendo rondas, servindo como motoristas e passando uma desejada sensação de tranquilidade. No aniversário do 11 de setembro, no entanto, o embaixador americano na Líbia chega a Benghazi e uma milícia local decide atacá-lo. Os únicos que poderiam ajudar estão no país em segredo e não deveriam chamar atenção. Começa aí a tensão do longa.

13 Hours Krasinski

Para começo de conversa, Bay chama a Líbia de país fracassado, mostra sua população ora como corrupta, ora como trapalhona e os americanos são os heróis que vão salvar a pátria – dos outros. A valorização do macho é algo sem precedentes, mostrando músculos suados sendo muito mais importantes e almejados do que cérebro. Afinal, os espiões são covardes, burocratas e se escondem atrás de mesas, deixando o trabalho duro para os grandões. Quando se é um americano guiado por valores puros e idealistas, o que são ordens? Hierarquia, nessa hora, não serve para nada, e o próprio chefe-burocrata acaba acatando essa verdade. É impressionante como os indivíduos pensantes são altamente dependentes dos indivíduos braçais, como crianças com babás.

No elenco, temos dois graves problemas. O primeiro é ter uma série de atores que pouco se diferenciam uns dos outros, e o público acaba confuso. “Mas esse cara não havia ido a outro lugar?”, é algo que você pode se perguntar durante a sessão. “Mas ele não estava ferido?” Se eu não sei quem é quem, pouco me importa que vai se ferir ou morrer. Colocar todos com famílias, falando com os filhos pelo tablet, não chega nem perto de construir personalidade, ou atrair simpatia. Você acaba torcendo para que matem todos, assim o filme acaba mais rápido. E o outro problema é um John Krasinki (de The Office – acima) bem deslocado. Forte como nunca, o ator parece estar sempre esperando a piada, como se não tivessem avisado que se trata de um drama real de guerra. Com Chris Pratt, em Guardiões da Galáxia (2014) e no novo Jurassic Park (2015), funcionou muito bem, mas isso não significa uma fórmula a ser seguida.

Como é típico de Bay, a montagem acelerada, cheia de cortes rápidos, torna a ação incompreensível. As cenas de batalha até conseguem ser interessantes, mas se alongam demais e não demoram a cansar. A bandeira americana entra nesse fogo cruzado e, primeiro, é mostrada levando tiros, para na sequência aparecer dentro de um lago, como se estivesse afogada. Precisa de uma metáfora melhor para justificar o envolvimento dos salvadores americanos?

13 Hours

É bem complicado diferenciar esses caras

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Mãe e filho comovem em O Quarto de Jack

por Marcelo Seabra

Room

Dentre os destaques da temporada atual de lançamentos, uma das obras mais delicadas é O Quarto de Jack (Room, 2015). Contada a partir do ponto de vista de um garoto de cinco anos, a história traz ótimas observações a respeito do mundo, impregnadas de um otimismo de quem ainda não viu o que a humanidade tem de pior. Palmas para o diretor, Lenny Abrahamson, que soube conduzir o projeto com maestria e teve o tato necessário para arrancar do pequeno Jacob Tremblay uma atuação de veterano, ganhando o mesmo destaque da ótima Brie Larson.

Vivendo mãe e filho, Larson e Tremblay merecem todos os aplausos que vêm recebendo. Sequestrada aos 17 anos, Joy é mantida como escrava sexual por um desconhecido mais velho e acaba engravidando. Quando a conhecemos, Jack está com cinco anos e o quarto pequeno onde vivem é o único mundo que ele conhece. É comovente o tanto que o ser humano se adapta: Jack dá nomes a objetos, cria histórias segue vivendo alegremente ao lado da mãe. Ela, no entanto, sabe o que se passa e disfarça bem seu sofrimento, sacrificando-se para poupar o filho.

Tremblay

Em determinado momento, há uma virada na história, adaptada pela própria autora do livro, Emma Donoghue. Joy e Jack conseguem sair de Quarto e o garoto começa sua jornada de conhecimento de tudo. Tremblay brilha em cada pequena oportunidade que tem. A cena em que vê pela primeira vez um cachorro, por exemplo, comprova o imenso talento do ator, hoje com nove anos. E Larson (de Descompensada, 2015) dá a dimensão ideal a Joy, uma mãe que segura toda a sua dor para criar um cenário favorável para o filho, desabando quando sua força já não é mais essencial. A química entre os dois é algo palpável, vende bem a ideia da ligação entre eles.

A fotografia, trabalho de Danny Cohen (de Os Miseráveis, 2012), ajuda muito a construir para o público a percepção de Jack. Se Quarto parece grande para ele, o mundo exterior é algo inimaginável, mas ele continua preso, em sua cabeça. A trilha de Stephen Rennicks, antigo colaborador de Abrahamson (de Frank, 2014), abusa um pouco do sentimentalismo, mas mantém-se correta na maior parte do tempo. E Joan Allen (de O Legado Bourne, 2012), além de William H. Macy (de Cake, 2014), é um grande reforço ao elenco, segurando a barra de ser a mãe da desaparecida e de reencontrá-la sete anos depois, quando já não se tinha mais esperança.

Vários pontos da história de O Quarto de Jack chamam a atenção e pedem uma discussão. Visão de mundo, adaptação a ele, readaptação também, vingança… É uma obra rica que engana o público inicialmente com uma falsa impressão de simplicidade. Apesar de que deve sair do Oscar 2016 com apenas a estatueta de Melhor Atriz (para Larson), é um filme que não precisa de prêmios para provar sua relevância. Apenas as indicações já chamaram atenção o suficiente e o honraram com um bom volume de ingressos vendidos.

Actor Brie Larson, Jacob Trembley and Joan Allen arrive for the premiere of the movie "Room" at TIFF the Toronto International Film Festival in Toronto.

Larson e Allen celebram seu jovem astro

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Beleza e talento de Ronan são destaque de Brooklin

por Marcelo Seabra

Brooklyn poster

Apesar da cara de filme feito para a televisão, o que não é mais necessariamente ruim, Brooklin (Brooklyn, 2015) é um drama muito bem construído que, de forma discreta, chegou aos cinemas e às premiações da temporada principalmente devido à sua protagonista. Já com 21 anos, tendo chamado a atenção aos 12, Saoirse Ronan tem muito mais que belos olhos azuis. Ela precisa de muito pouco para se expressar e retrata perfeitamente as dificuldades de ser uma estranha em uma terra estranha.

A exemplo de longas como Terra de Sonhos (In America, 2002), Brooklin nos apresenta a Eilis, uma garota que percebe que não há nada para ela na pequena cidade irlandesa onde vive com a mãe e a irmã. A solução é seguir para os Estados Unidos, e para isso ela conta com o patrocínio de um padre bondoso (Jim Broadbent, de A Viagem, 2012). A dor de deixar a família se contrasta com a excitação de estar num lugar novo, diferente, “onde não conhecem a sua tia”, como dizem em certo momento. É a oportunidade de começar do zero, mas também há a solidão e a saudade para vencer.

Brooklyn couple

Esses sentimentos extremos são facilmente externados por Ronan, que torna sua Eilis uma personagem profunda e crível usando expressões faciais e movimentos calculados. A garota vai ganhando experiência na vida no exterior e acompanhamos de perto essa evolução, e logo ela viverá um dilema amoroso. Os jovens pretendentes, vividos por Emory Cohen (de O Lugar Onde Tudo Termina, 2012 – acima) e pelo onipresente Domhnall Gleeson (do novo Star Wars), são possibilidades palpáveis de um bom futuro e vão movimentar uma existência que, até então, seguia sem grandes abalos. Eles representam situações diferentes, como suas personalidades. Ambos são boa gente, não há o maniqueísmo de produções mais fracas, que lançam um impasse com a solução já se apresentando.

A casa onde Eilis mora, uma espécie de república de mulheres gerenciada pela sra. Keogh (Julie Walters, de Apenas Uma Chance, 2013), é um universo à parte. As demais moradoras não são muito exploradas, mas elas aparecem quando necessárias, enriquecendo o cenário. Walters e Broadbent exibem o talento de sempre, e há de se ressaltar a participação das igualmente competentes Jane Brennan (de The Tudors) e Fiona Glascott (de Episodes), como a mãe e a irmã de Eilis.

Se o diretor de Brooklin, John Crowley (de Circuito Fechado, 2013), não é muito expressivo, o roteirista ocupa essa brecha. Escritor consagrado e autor dos roteiros de Livre (Wild, 2014) e Educação (An Education, 2009), Nick Hornby ficou encarregado de adaptar o elogiado livro do irlandês Colm Tóibín. Apesar de ser lembrado por personagens verborrágicos, como os de Um Grande Garoto e Alta Fidelidade, ambos levados ao Cinema, Hornby sabiamente economiza nos diálogos, mantendo as sutilezas da obra original e confiando no talento de Ronan.

2015, BROOKLYN

Gleeson é o outro pretendente

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Iñárritu e DiCaprio voltam a buscar prêmios

por Marcelo Seabra

The Revenant

Dizem que, dessa vez, Leonardo DiCaprio finalmente leva o Oscar. Sua interpretação em O Regresso (The Revenant, 2015) é realmente um dos pontos altos do longa, indicado a muitos prêmios, vencedor de outros tantos e em cartaz nos cinemas. Tecnicamente perfeita, a obra apresenta uma história de sobrevivência e vingança inspirada em fatos no gênero conhecido como o mais americano de todos, o faroeste. E o diretor Alejandro González Iñárritu vai se tornando um dos grandes nomes da sétima arte da atualidade.

A história do explorador, caçador, negociante e guia Hugh Glass (DiCaprio) é amplamente conhecida nos Estados Unidos e o livro de Michael Punke serve como base para o roteiro do diretor e Mark L. Smith (de Martyrs, 2015). Deixado para morrer por seus pares após uma luta com um urso cinzento, Glass sobreviveu para contar sua jornada e buscar vingança contra o sujeito que teria sido o causador da traição, vivido pelo ótimo Tom Hardy (o novo Mad Max – abaixo). Esse fiapo de trama permitiu a Iñárritu fazer bastante barulho, com uma campanha de marketing feroz que aproveitou até histórias de bastidores, e dar ao amigo Emmanuel Lubezki a oportunidade de ganhar seu terceiro Oscar seguido de Melhor Fotografia – seguindo Gravidade (Gravity, 2013) e Birdman (2014), que também premiou Iñárritu.

The Revenant Hardy

A fotografia de Lubezki é decididamente a melhor coisa de O Regresso. Suas paisagens em grande escala, mostrando a neve no interior dos Estados Unidos, seguindo o rio Missouri, são um espetáculo. Especialmente, quando vistos em uma tela de dimensões IMAX. E Lubezki ainda encontra chance para metáforas visuais, como quando a respiração do personagem embaça a tela, fazendo referência a sua mente se apagando. DiCaprio, muito comentado, de fato faz um bom trabalho, mas premiá-lo aqui seria compensar faltas em interpretações bem superiores, como em O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013) ou Django Livre (Django Unchained, 2012). Como a Academia faz isso com certa frequência, não seria surpresa.

Além da dupla de antagonistas, vistos juntos em A Origem (Inception, 2010), é importante ressaltar o trabalho de outros dois atores. O jovem Will Poulter já vinha chamando a atenção em filmes menores até conseguir um papel de destaque em Maze Runner (2014). Aqui, ele tem espaço para mostrar um sujeito em uma batalha interna: ser ético e ter compaixão ou partir para a praticidade, mesmo que isso envolva uma morte. E Domhnall Gleeson, em seu quarto longa só esse ano (Star Wars é um deles), vive um herói do exército que procura ser o mais justo possível, dadas as circunstâncias. A ruindade é distribuída entre diversos personagens, já que os índios e os franceses são retratados como seres de facetas variadas, ambos fazendo o que julgam necessário para sobreviverem. Quanto aos americanos, Hardy já é mau o suficiente, e o ator o faz brilhantemente.

Apesar da fotografia, atuações e efeitos visuais excelentes, além de uma reconstituição de época primorosa, O Regresso é um filme que mantém seu espectador à distância. O frio de suas paisagens acaba contaminando-o, evitando qualquer identificação com os sujeitos retratados. Como num filme de vingança qualquer, já podemos prever os caminhos que serão traçados, e o final se arrasta e se afasta dos fatos que serviam como fonte apenas para causar mais suspense. Iñárritu, que vem se aventurando entre gêneros, só precisa se preocupar em engajar seu público, já que todo o resto está até acima da competência esperada.

The Revenant director

O diretor orienta seu astro

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