Deathgasm é trash de primeira

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

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Especialista em efeitos especiais e empregado da WETA Workshop – o famoso estúdio de Peter Jackson – o neo-zelandês Jason Lei Howden fez sua estreia como diretor no ano passado em um filme que é uma pérola para aqueles que adoram um bom trash gore no estilo de A Morte do Demônio (Evil Dead, 1981), de Sam Raimi, e similares. Quase que inteiramente financiado pela grana ganha por Howden em um concurso em sua terra natal (Make My Horror Movie) e produzido ao longo do ano de 2014, Deathgasm (2015) é daqueles filmes de baixo orçamento que tem o objetivo único de divertir seu espectador.

deathgasm 1Esqueça uma história coerente, ignore os furos de roteiro ou a falta de desenvolvimento dos personagens. O que temos aqui é um gore que não se leva nem um pouco a sério, consegue ser nojento e engraçado e, principalmente, tem uma trilha sonora pra nenhum headbanger botar defeito. Deathgasm começa quando o jovem Brodie (Milo Cawthorne) se muda para uma cidadezinha neo-zelandesa após sua mãe perder a sua guarda. Fã de bandas de metal extremo, Brodie se sente completamente deslocado na casa dos tios que ficaram responsáveis por ele, tanto pelo fato do casal ser cristão devoto quanto pelo bullying sofrido nas mãos de seu primo David (Nick Hoskins-Smith), que encarna o estereótipo do atleta babaca. Ao começar a frequentar a escola local, Brodie acaba fazendo amizade com dois nerds típicos, Dion (Sam Berkley) e Giles (Daniel Cresswell), ambos jogadores assíduos de RPG. Ao mesmo tempo, alimenta um amor platônico por Medina (Kimberley Crossman), então namorada de David. O fato de se unir a dois nerds torna a vida acadêmica de Brodie pior ainda.

As coisas começam a melhorar quando, ao visitar a loja de discos local, ele conhece Zakk (James Blake), um rapaz mais velho que é uma espécie de lenda local no que diz respeito à delinquência juvenil. Zakk é adepto de pichações e pequenos furtos e, numa dessas aventuras, ele e Brodie invadem a casa de Rikki Daggers (Stephen Ure, de O Hobbit: A Desolação de Smaug, 2013), um ex-músico local que lhes entrega uma partitura contendo uma música conhecida como O Hino Negro e que nunca antes fora tocada.

Com a partitura em mãos e aproveitando-se do fato de que todos ali tocam instrumentos, o quarteto decide montar uma banda de black metal, surgindo aí a Deathgasm. Depois de algumas tentativas de ensaiar músicas próprias, Brodie decide que eles devem tocar o tal Hino Negro e é aí que a coisa desanda: a canção traz um ritual de invocação que convoca Aeloth, “O Cego”, para a Terra. Antes de o demônio se manifestar em pessoa por aqui, sua influência transforma todos aqueles ao alcance dos amplificadores da Deathgasm em demônios-zumbis assassinos. Por algum motivo, os membros da banda escapam do domínio do demônio e, logo, cabe a eles, aliados a Medina, reverter o ritual e deter as criaturas infernais.

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Deathgasm é um prato cheio para os fãs tanto de filmes trash/gore quanto de metal extremo, pois sua trilha sonora é recheada de músicas de bandas como Beast Wars, Elm Street e Emperor, uma referência no estilo. Não só isso, mas o filme presta diversas homenagens à obra de Raimi, como pode ser visto no uso de serras elétricas para combater os demônios. O filme tem algumas cenas bem non-sense e diversas piadas que ora são bem encaixadas (a cena da gravação do clipe na floresta é puro Immortal), ora parecem bem forçadas. Em nenhum momento, no entanto, o roteiro, escrito pelo próprio Howden, se leva a sério, sendo aquele tipo de filme para se assistir quando você quer se divertir. Obviamente, vai agradar mais aos fãs de metal, que se reconhecerão em Brodie e Zakk, mas não apenas a eles.

Apesar de seu baixo orçamento e o público restrito ao qual se destina, Deathgasm chamou a atenção de uma audiência maior quando foi escolhido para a faixa Midnight Movies, do festival texano SXSW, que aconteceu em março passado, em Austin. A boa repercussão fez com que ele fosse distribuído nos EUA pela Dark Sky Films e, desde outubro, está disponível para ser visto online no serviço Video on Demand do Vimeo. Ou pode-se esperar pelo lançamento do DVD/Blu-ray no começo do ano que vem e torcer para chegar por aqui.

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Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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