Terror vai te deixar com a luz acesa

por Marcelo Seabra

Lights Out

Depois de fazer um curta de três minutos que aterrorizou muita gente, o diretor David F. Sandberg levou sua ideia para o Cinema. Com James Wan (das franquias Sobrenatural e Invocação do Mal) entre os produtores, ele reuniu um bom elenco e expandiu o conceito que criou, sobre um espírito maligno que só aparece na ausência de luz. Quando as Luzes Se Apagam (Lights Out, 2016) também não é muito longo, mas tem tempo suficiente para contar uma história interessante e dar alguns sustos.

No curta homônimo (que você assiste aqui), vimos uma mulher apagando as luzes em casa e se deparando com uma figura sobrenatural. Este é também o pontapé para o longa, com a mesma atriz, Lotta Losten, repetindo sua colaboração com o marido diretor. O curta virou mania no YouTube e, assim como foi com Mama (2015), trouxe outra oportunidade a seu criador. Esta nova produção já é tida pela crítica internacional como o Babadook (2014) deste ano, devido a várias similaridades – até a origem num curta. Como comparações tendem a diminuir uma das obras envolvidas, o melhor é analisar o filme por seus próprios méritos, evitando exageros e expectativas.

Lights Out Palmer

A história acompanha uma família que parece ser assombrada pela tal entidade, e aos poucos descobrimos os fatos que a cercam. O jovem Gabriel Bateman vive Martin, um garoto que acompanha de perto a mãe (Maria Bello, de A 5ª Onda, 2016) aparentemente perder a sanidade. Quando começa a perceber que possa ter algo a mais ali, ele recorre à irmã mais velha, Rebecca (Teresa Palmer, do novo Caçadores de Emoção, 2015), que vai reviver algumas memórias dolorosas. O roteiro, adaptado por Eric Heisserer (de Contagem Regressiva, 2013), é enxuto e respeita a inteligência do público e de seus próprios personagens, passando longe das decisões absurdas que costumam marcar o gênero. Há, sim, inconsistências, mas nada que impeça a diversão.

Sempre muito competente, Bello é convincente no papel de uma mulher desacreditada por todos. A pergunta que ela sempre ouve pode se tornar bem irritante: “Está tomando seus remédios?” A questão da doença mental está presente, sim, mas não parece ser uma direção a ser tomada conscientemente por Heisserer. Ele opta por ficar no terreno do terror, e mais uma vez Wan está envolvido em um filme que explora bem cantos escuros e os cômodos de uma casa grande. Se Bateman já se mostra bastante carismático, Palmer vai além, proporcionando, além de beleza, um pouco de profundidade a sua Becca. E outro que merece menção é Alexander DiPersia (da série Good Girls Revolt), responsável por bons momentos, tanto no humor quanto na tensão, como o namorado de Becca.

Claro que Quando as Luzes Se Apagam está longe de ser um candidato a novo clássico. Mas é eficiente e deve permanecer como um dos destaques do gênero no ano, além de colocar holofotes em Sandberg, que atualmente comanda a sequência de Annabelle (2014). Ele demonstra ter potencial para saltos mais altos, e não faltam curtas em sua carreira, caso decida esticar mais algum. Este, nas duas versões, vai fazer muita gente dormir de luz acesa.

O garoto já entendeu que precisa ficar na luz

O garoto já entendeu que precisa ficar na luz

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Novidade do Netflix parte para o hip hop

por Marcelo Seabra

The Get Down

Depois de se tornar tópico generalizado de conversas com Stranger Things, o Netflix lança agora sua mais nova série, The Get Down. Investindo US$120 milhões no orçamento, o serviço de distribuição entrou em acordo com Baz Luhrmann, cineasta que vinha desenvolvendo o conceito há mais de dez anos. A ideia é acompanhar o surgimento do movimento do rap e hip hop em Nova York enquanto a disco music atingia seu ápice e caminhava para a queda.

Tecnicamente infalível, a série recria uma época com uma caracterização perfeita, de cenários a vestuário. O principal, levando-se em conta o tema, não podia faltar: a trilha sonora. Variando entre o lugar comum e faixas mais obscuras, as músicas são ótimas, assim como a trilha original. Uma das celebridades envolvidas na produção, o rapper Nas é quem assume o vocal nas canções através das quais o protagonista, já adulto, conta a sua história. Os episódios começam com músicas que dão uma ideia de qual será o principal assunto a ser tratado, ou de qual ponto está se partindo. Afinal, não é só de ficção que a série trata, mostrando por exemplo como foi o grande apagão de 77.

The Get Down couple

Através de flashbacks, conhecemos Ezekiel (Justice Smith, de Cidades de Papel, 2015), um órfão que vive com a tia e o namorado dela na dureza que era o Bronx de 1977. Conhecido pela maioria da população ser negra e pobre, o bairro não recebia muita atenção de autoridades políticas – ou é o que descobrimos pelos personagens. Zeke tem uma inteligência apontada por todos como acima do normal, além de alguns talentos, como tocar piano e escrever bem. Ele é apaixonado pela filha do pastor, Mylene (Herizen Guardiola), que por sua vez tem seus planos bem definidos: se tornar a nova diva da disco. Diversos personagens cruzam o caminho do casal e formam várias subtramas.

As passagens que envolvem ensaios e criações musicais são ótimas e mostram que toda a consultoria técnica valeu a pena. O próprio Grandmaster Flash, vivido na série por Mamoudou Athie, é um dos produtores, e podemos esperar por mais nomes conhecidos nas próximas temporadas. Ou mesmo no final da primeira, já que só a metade dela está disponível. O Netflix optou por lançar apenas a primeira parte, guardando a segunda para 2017. Cinco dos episódios ficam na casa dos 50 minutos, apenas o primeiro bate os 90. Dirigido por Luhrmann (de O Grande Gatsby, 2013), ele tem alguns dos excessos conhecidos do australiano, e chega a ser um pouco cansativo. Este é um dos pontos negativos de The Get Down: há longos trechos que parecem não acrescentar, e podem aborrecer um pouco o público. Outro é o fato de algumas das subtramas parecerem muito frágeis e pouco importante para o todo, o que desvia a atenção do que realmente importa. Mesmo o romance principal não é dos mais engajantes.

Na gíria da época, get down era a parte da música que tinha mais ritmo, um instrumental mais dançante e apelativo, sem vocal ou outros recursos considerados chatos. Com duas pickups (ou vitrolas), os DJs alternavam entre discos e faziam mixagens, privilegiando os get downs e os “poetas”, sementes de rappers que rimavam para levantar a galera. Pois a série também tem essa alternância, com momentos mais emocionantes e excitantes e outros nem tanto. Como não temos os DJs para fazerem as passagens, precisamos aguentar uma parte para nos divertirmos com a outra.

Como podíamos esperar de Luhrmann, a série é bem extravagante

Como podíamos esperar de Luhrmann, a série tem um visual extravagante

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A aguardada Piada Mortal desanima

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Batman The Killing Joke posterNa segunda metade da década de 1980, todos os personagens da DC Comics passaram por uma grande reformulação, onde seus passados foram praticamente reescritos do zero. De todo o elenco da editora, aquele que mais se beneficiou com isso foi o Batman, que teve então publicadas algumas de suas obras mais seminais. Há alguns anos, a Warner Bros. resolveu visitar aquela época e adaptar essas histórias para a telinha. Assim, depois de bons resultados com Batman: Ano Um e Batman: O Cavaleiro das Trevas, chegou a vez de Batman: A Piada Mortal (Batman: The Killing Joke, 2016) virar animação.

A expectativa em cima dessa iniciativa era enorme, não só pelo fato de muitos considerarem A Piada Mortal como a história definitiva do Coringa, como também pelos nomes envolvidos na produção. O roteirista Brian Azzarello, criador da cultuada 100 Balas, já é um veterano nos quadrinhos, com passagens marcantes por títulos como Hellblazer, Superman e o próprio Batman; já o produtor Bruce Timm tem em seu currículo as séries animadas de Batman, Superman e Liga da Justiça, entre outras.

Mesmo com o peso da dupla acima citada, adicionada ainda do diretor Sam Liu (de Batman: Ano Um), Batman: A Piada Mortal se mostra um produto muito abaixo da média. O fato é que, das mais recentes adaptações de Batman, A Piada é aquela que tem o menor número de páginas, de forma que a WB/DC tinha duas opções: ou fazia um curta animado ou estendia o conteúdo do gibi para que coubesse adequadamente nos cerca de 75 minutos da animação. Foram com a segunda e foi aí que a coisa desandou.

Batman The Killing Joke

A verdade é que A Piada Mortal parece dois curtas animados que têm uma ligação muito tênue entre eles. O primeiro, que ocupa quase metade da animação é, basicamente, uma história da Batgirl. Ele mostra a heroína lutando contra um gângster violento enquanto trabalha os sentimentos que nutre por Batman. Há até mesmo um amigo gay para quem ela faz confidências e algumas situações que não se encaixam bem, especialmente para aqueles que conhecem a natureza das personagens. Basicamente, essa introdução mostra uma heroína que, depois de acontecimentos não tão marcantes, desiste de sua vida heroica.

JokerApenas na segunda parte da animação vemos A Piada Mortal ser transposta para a telinha mas, nesse ponto, a coisa toda já perdeu qualquer sentido. Se, no gibi, o foco principal é a relação entre Batman e Coringa, na animação ele passa a ser as motivações de Batgirl para combater o crime. Ou, pior, é simplesmente Batman tentando se vingar do Palhaço do Crime pelo que ele fez a Barbara Gordon/Batgirl.

Nem mesmo essa segunda parte funciona a contento. Apesar de Azzarello ter conservado muito do texto de Alan Moore, alguma sequências do gibi foram esticadas e/ou modificadas, enquanto outras, reduzidas ou eliminadas, para que aquilo que é, basicamente, um thriller psicológico, tivesse mais ação e pancadaria. Toda a essência do original – que é Alan Moore tentando provar que Batman e o Coringa são nada mais do que faces opostas da mesma moeda – ficou bastante diluída por aqui, algo que se mostrou bastante decepcionante, especialmente quando a WB/DC anunciou que essa seria sua primeira animação com a classificação “R”, ou seja, desaconselhável para menores de 17 anos. Fora uma cena de maior violência aqui e ali, isso não se justifica.

Batman: A Piada Mortal é a primeira bola fora do setor de animação da WB/DC em muito tempo, especialmente quando se trata de uma adaptação de uma história do Cavaleiro das Trevas. Não é de todo ruim, mas ainda assim ficou muito abaixo do esperado.

Barbara Gordon acabou tirando o foco do Coringa

Barbara Gordon acabou tirando o foco do Coringa

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DC se aproxima do suicídio com Esquadrão

por Marcelo Seabra

Suicide Squad

Para se conseguir reunir um grupo de personagens poderosos, é preciso uma ótima desculpa. E cada um deles deve ter um motivo para estar ali, não destoando muito dos demais. A Marvel entendeu isso com Os Vingadores (The Avengers, 2013). A DC não tem a menor ideia do que faz no Cinema. É o que podemos concluir após uma sessão de Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016), uma bagunça generalizada que nem divertida consegue ser. O irregular David Ayer dirigiu e escreveu, com o famigerado Zack Snyder na produção, e o resultado é ruim o suficiente para deixar o público mal. Humorado.

Nos quadrinhos, o conceito mais recente, criado por John Ostrander em 1987, é interessante: uma agente do governo, Amanda Waller, reúne um grupo de condenados poderosos para missões potencialmente mortais e eles ganham uma diminuição em suas penas. A série serviu para chamar a atenção do público para personagens obscuros da editora e o grupo teve várias formações ao longo dos anos, e várias missões. No filme, acompanhamos desde a apresentação da proposta, com Waller se mostrando preocupada com a segurança nacional quando se tratar de um terrorista com poderes, já que esses seres têm proliferado. Após convencer membros do alto escalão, ela tem permissão para controlar o bando.

A primeira tarefa de Ayer era definir quem iria participar do grupo, já que cada um teria que ter uma função para a história. Não necessariamente seguir algum arco específico. Uma vez definidos, todos teriam que se ocupar de alguma forma, para não ficar como aqueles filmes ruins de luta em que os capangas se enfileiram para apanhar ordenadamente de um único mocinho. E é isso que acontece. Mas não sem antes cada personagem ter o seu “momento”. Chamemos assim a introdução deles, com direito a close, câmera lenta, texto na tela e música descolada variada. O volume de canções famosas, inclusive, é uma referência clara a Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014), como se fosse parte de uma receita de sucesso certo. Mas nem Bohemian Rapsody salva algo assim.

Suicide Squad Robbie Smith

Quando assistimos a um filme com Will Smith, podemos esperar por algumas cenas exibicionistas, comuns na carreira do astro. Aqui, temos até gotas de chuva descendo em câmera lenta, e o personagem, Pistoleiro, passa a maior parte do tempo sem sua máscara característica. Afinal, qual seria a graça de ter Smith no filme e ele ficar mascarado o tempo todo? Stallone e seu Juiz Dredd que o digam! Margot Robbie volta a fazer dobradinha com Smith (como em Golpe Duplo, 2015), dessa vez em trajes mínimos que a câmera faz questão de enfocar, só vemos o uniforme de palhaço de relance. A presença da Arlequina é um mistério. Uma garota sem poderes, que usa um taco de baseball e um revólver, é considerada meta-humana? Apenas por ser louca? Ela acaba existindo apenas para justificar a presença do Coringa na tela, além de descarregar todas as piadinhas sem graça possíveis, numa outra tentativa falida de aproximar o filme do Universo Marvel.

Fechando o trio principal de nomes, temos a festejada participação de Jared Leto, vencedor do Oscar por Clube de Compras Dallas (2013). O personagem, bastante icônico e marcado pela morte repentina de Heath Ledger, é ninguém menos que o Palhaço do Crime, que acaba roubando bastante tempo dos demais, que deveriam ser os principais. Ao contrário do desequilibrado perigoso de Ledger, o Coringa de Leto é apenas um gângster sem graça que ri sem razão alguma e chega a rosnar, o que tento entender até agora. Um integrante interessante do elenco é Joel Kinnaman (o Robocop de 2014). Seu Rick Flag mantém sua postura, tem motivação para estar ali e o ator faz um bom trabalho. Ao contrário do colega Jai Courtney (do mais recente Exterminador do Futuro), ruim como de costume num papel que não ajuda, um bandido ordinário que usa bumerangues e muda de atitude sem sobreaviso num dos momentos mais inexplicáveis do longa.

Suicide Squad Cara

O recorde de pior personagem, numa competição árdua, fica com Magia (Cara Delevingne, de Cidades de Papel, 2015 – acima). Descrita por Amanda Waller (Viola Davis, de Dois Lados do Amor, 2014) como extremamente poderosa, a bruxa logo mostra que poderia simplesmente matar todo mundo. O tal coração que a controla só aparece quando é conveniente, sendo esquecido o resto do tempo. As criaturas que ela transforma parecem saídas de um subproduto dos Power Rangers dos anos 90. Todo o seu envolvimento com a trama é furado, mal explicado e mal resolvido. Ficamos na expectativa de algo a mais, um segredo ou detalhe que esclareça as coisas. Mas o que você vê é o que você tem.

Para cada bom filme em seu currículo, como Marcados Para Morrer (End of Watch, 2012), Ayer tem várias bombas, como sua estreia na direção, Tempos de Violência (Harsh Times, 2005). O que seus projetos costumam ter em comum é uma busca do realismo, das ruas à guerra. Em Esquadrão Suicida, as coisas parecem ir por esse caminho, algo como Christopher Nolan fez, mas logo descambam para o fantasioso. E somos obrigados a ver, por exemplo, todos saindo ilesos de tiroteios. O Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje, de Um Homem Entre Gigantes, 2015) é apresentado como um homem deformado tratado como animal, mas em determinado momento descobrimos que ele é capaz de passar bastante tempo debaixo d’água. Os políticos e militares apresentados parecem burocratas que passam os dias em reuniões intermináveis e não resolvem nada.

Como é praxe na concorrência, há uma cena escondida ao final da projeção. Além de repetitiva, ela fere conceitos fortes dos quadrinhos e não faz qualquer sentido. Numa tentativa de afagar os fãs, a DC os faz passar mais raiva, como já vinha acontecendo nas últimas duas horas. Nem uma campanha massiva de marketing de estúdio e distribuidora fez com que Esquadrão Suicida tivesse boa recepção. As análises estrangeiras já começaram a sair com críticas pesadas e o filme chega no mercado internacional cercado por desconfiança e baixa expectativa. Se for seguir nesse caminho, a DC vai estragar a Liga da Justiça e aposentar as chuteiras no Cinema.

Primeiro Coringa nada marcante do Cinema

Primeiro Coringa nada marcante do Cinema

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Jason Bourne está de volta!

por Marcelo Seabra

Jason Bourne poster

Em 2002, Matt Damon viveu o espião de Robert Ludlum pela primeira vez. Agora, em 2016, ele volta à pele do personagem pela quarta vez. E não tem mais aquele negócio de “Qualquer Coisa Bourne”, o título ficou um singelo Jason Bourne (2016). Mesmo envelhecido, Damon dá conta do recado e é até interessante vermos que o tempo passou para todo mundo. Mesmo que a desculpa para a ausência dele em O Legado Bourne (The Bourne Legacy, 2012) tenha sido engenhosa, nada como ver o ator de volta ao personagem. É mais do mesmo, e isso é bom.

O filme começa com Bourne afirmando que se lembra de tudo, mas logo descobrimos que não é bem assim. Muita coisa ele ainda não se lembra, outras tantas ele nunca soube. Por isso, ele continua na luta para fechar o quebra-cabeça que é a sua vida e a CIA não dá paz, ficando sempre na cola dele. Ocupando a vaga de figurão veterano no time de burocratas, temos Tommy Lee Jones (de Mente Criminosa, 2016 – abaixo), que consegue ser ameaçador mal abrindo a boca. É impressionante como ele domina a cena aparentemente sem fazer muito esforço. Ainda do lado da CIA, Alicia Vikander (de A Garota Dinamarquesa, 2015) vive a chefe do departamento de tecnologia que encabeça a missão Bourne. Como sempre, precisamos também de um assassino interessante para se contrapor ao protagonista, e a tarefa cabe a Vincent Cassel (de Meu Rei, 2015), que se mostra incansável e no mesmo nível do colega.

JB Jones

Assim como nos longas anteriores, várias cidades pelo mundo são contempladas pela história, e a facilidade com que todos viajam e aparecem nos lugares é espantosa. Todas as ações parecem sincronizadas, a trama depende de tudo correr como um relógio suíço para não desandar. A CIA e as polícias locais parecem muito competentes em certos aspectos e uma bagunça em outros. O volume de ação aumentou, com cenas extensas e mais exageradas, com direito a perseguições de carro, gente quase voando e muitas mortes. A câmera nervosa de Paul Greengrass continua afiada, com uma montagem ágil que nos permite entender o que está havendo ao mesmo tempo em que corre entre os eventos e costura tudo. O diretor contou com o editor do longa, Christopher Rouse, no roteiro, e ninguém melhor que os dois para amarrarem tudo. Ambos trabalham com o personagem pela terceira vez e estão bem à vontade nesse universo.

Damon havia dado entrevistas dizendo que só voltaria ao personagem se fosse com Greengrass atrás da câmera. A reunião deles e de outros que também voltam, como Julia Stiles, é muito feliz, e as adições dão gás. Jones, Vikander e Cassel são todos ótimos, fica difícil errar com um time desses. Quem ficou insatisfeito com o Aaron Cross de O Legado Bourne mal pode acreditar que este novo Jason Bourne virou realidade. E não poderia faltar a música-tema de Moby, mesmo que numa versão modernosa. Sem Extreme Ways a experiência não estaria completa.

Dois coelhos: ganhando uma grana e mantendo-se em forma

Dois coelhos: ganhando uma grana e mantendo-se em forma

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A Lenda de Tarzan e Caça-Fantasmas

por Marcelo Seabra

Dois blockbusters atualmente em cartaz têm características parecidas, e resultados também. Ambos vêm de universos pré-existentes, retomam personagens que já conhecemos e, por isso mesmo, foram recebidos com desconfiança. Nenhum dos dois inova ou acrescenta, mas revisitam e recontam de uma forma nova, fazendo as honras para as novas gerações. Enquanto A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan, 2016) entra na onda das “histórias nunca contadas”, inserindo elementos novos nos fatos amplamente conhecidos, Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 2016) refaz o primeiro filme com novo elenco e efeitos especiais de ponta.

Tarzan poster

A Lenda de Tarzan

Na nova pele de Tarzan, o sueco Alexander Skarsgård não demonstra o mesmo sex appeal que o visto no vampiro de True Blood. Introvertido, sem graça, ele só se solta um pouco quando volta para a selva, que parece ser seu habitat natural. Mesmo bem adaptado à cidade, vivendo como John Clayton III, o nobre Lorde Greystoke, ele está sempre deslocado, sendo tratado como diferente. De fato, o andar, que acompanha os macacos, moldou seus punhos de forma a aguentar seu peso, o que chama a atenção até de crianças. O apelido Tarzan, que rechaça, só é usado por quem quer fazer pouco dele, e Clayton segue sua vidinha pacata sonhando com o dia em que voltaria a ver seus velhos amigos.

Tarzan couple

Como a esposa de Clayton, Margot Robbie (a aguardada Arlequina de Esquadrão Suicida) não pode fazer muita coisa. Jane se recusa a ser a mocinha em perigo, como ela afirma, mas é exatamente o que o roteiro lhe confere. Uma jogada esperta de Craig Brewer (de Footloose, 2011) e Adam Cozard (de Operação Sombra – Jack Ryan, 2014) ao lidarem com a mitologia de Edgar Rice Burroughs foi colocar um vilão real: Léon Rom foi mesmo um soldado belga que cresceu na hierarquia militar até chegar a administrador do Congo – e teria servido como inspiração para o Coronel Kurtz do romance O Coração das Trevas (e Apocalypse Now, claro). O problema é ter Christoph Waltz mais uma vez sendo o vilão caricato e esperto, como em Spectre (2015) e vários outros. Outro personagem histórico aproveitado é George Washington Williams, uma mistura de diplomata e soldado que acompanha o casal pelo Congo. O americano é vivido com graça e força por Samuel L. Jackson (de Os Oito Odiados, 2015) e responde por alguns momentos mais leves.

Apesar dos problemas apontados, relacionados aos personagens, há qualidades que salvam A Lenda de Tarzan de um resultado mais medíocre. Se os cenários soam um tanto falsos, os animais são reais até demais. As sequências nas selvas do Congo empolgam, trazendo de volta aquele clima de aventura típico de filmes da Sessão da Tarde – o que deve agradar a muitos veteranos. Skarsgård tem cara e físico de Tarzan e merece uma segunda chance na tarefa. Talvez um diretor menos genérico, caso de David Yates (da franquia Harry Potter), resolva o problema.

Ghostbusters 2016

Caça-Fantasmas

Com quatro mulheres nos papéis principais, Caça-Fantasmas carecia de um artigo feminino no título. Esse detalhe seria interessante para mostrar que isso é basicamente o que mudou do original para esse. Em 1984, Ivan Reitman lançou uma produção que faz parte da vida de muita gente e deu início a uma franquia que acabou indo para a TV. Essa nostalgia e o sentimento de “vão mexer nas minhas memórias” podem ter feito muita gente fazer cara feia para esse novo episódio. Ou é só machismo mesmo. O que importa é que o longa fica na mesma média do anterior: diverte sem ter praticamente graça nenhuma.

Temos duas cientistas que tomaram caminhos diferentes e perderam contato. Enquanto Erin Gilbert (Kristen Wiig, de Perdido em Marte, 2015) é uma professora em busca de uma vaga efetiva numa respeitada instituição de ensino superior, Abby Yates (Melissa McCarthy, de Um Santo Vizinho, 2014) seguiu em suas investigações paranormais numa academia de qualidade um pouco duvidosa. Yates é ajudada por uma engenhosa inventora, Jillian Holtzmann (Kate McKinnon, do tradicional Saturday Night Live), e elas ganham a  adesão de Gilbert no grupo ao se depararem com um fenômeno indiscutível: o fantasma de uma antiga moradora de uma casa assombrada.

Ghostbusters Hemsworth

Como uma das aparições acontece nos trilhos do metrô de Nova York, o trio logo vira um quarteto com a chegada de Patty Tolan (Leslie Jones, também do SNL), funcionária da companhia viária que conhece bem os caminhos da cidade. Após conseguirem um quartel general, elas contratam um secretário e se preparam para começarem a atender possíveis clientes. Parêntese: o secretário é ninguém menos que Chris “Thor” Hemsworth (acima), que na falta de qualquer sinal de inteligência, se resume a ser bonito. Kevin conta com suas qualidades físicas talvez por não ter nenhuma outra. Num filme em que as mulheres tomam o lugar privilegiado dos homens, nada mais natural que objetivar um sujeito, como acontece ao contrário há tantos anos. Tantos.

Com um diretor – Paul Feig – e uma co-roteirista – Katie Dipold – responsáveis por As Bem-Armadas (The Heat, 2013), lembrando que Feig também assina o traumatizante Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011), era de se esperar algo difícil. As boas notícias trazem algum conforto. McCarthy, normalmente abominável, está mais apagada, deixando os holofotes para Jones e McKinnon, que têm uma boa química, talvez devido à parceria no SNL. As piadas, se não fazem rir, ao menos não afrontam. E o vilão, um desconhecido para o grande público, é um dos roteiristas do SNL e de diversos outros programas cômicos, Neil Casey, e funciona muito bem. Nem precisava de tantas participações especiais, inseridas sob medida para agradar os fãs mais velhos.

Os originais não devem nada às novas, e vice-versa

Os originais não devem nada às novas, e vice-versa

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Conheça o James Dean pré-fama

por Marcelo Seabra

Life poster

Um problema de muitas cinebiografias é tentar abraçar o mundo. Uma ótima saída é focar em um momento bem delimitado e importante da vida do biografado, o que permite ir com calma e examinar com mais profundidade os fatos. Isso ainda permite desenvolver bem os personagens. É o que observamos em Life – Um Retrato de James Dean (2015), longa em que o diretor Anton Corbijn se debruça sobre a curta relação entre o futuro astro James Dean e o fotógrafo que tirou suas fotos mais famosas, Dennis Stock.

Para que um filme sobre a amizade que nasce de um interesse profissional funcione, a química entre os sujeitos deve ser ótima, ou não teria milagre para fazer o público comprar a ideia. É exatamente o que acontece com a dupla Robert Pattinson e Dane DeHaan. Sempre lembrado como o vampiro de Crepúsculo, Pattinson já demonstrou ser capaz de mais e, aqui, oferece uma interpretação contida de um cara estressado, que não sabe o que fazer, que era bem o caso de Stock. DeHaan (o Harry Osborn da nova franquia do Homem-Aranha) é um James Dean perfeito. Mesmo não sendo tão parecido fisicamente, ele encarna bem o garoto interiorano que, embora visto como a personificação do rebelde, era apenas sem lugar. Jimmy, como era chamado, gostava de coisas simples e evitava a vida de celebridade.

Life duo

Control, outra cinebiografia comandada por Corbijn, tem características semelhantes a este Life, assim como com os demais filmes do diretor (Um Homem Misterioso, 2010, e O Homem Mais Procurado, 2014). O ritmo costuma ser mais lento, priorizando as interpretações, e há uma melancolia constante. As pausas e reflexões de DeHaan são ótimas, reforçando o fato de que Jimmy não se encaixava na velocidade que esperavam dele. O clima de tragédia iminente é óbvio, já que sabemos o futuro de Dean, mas o roteiro de Luke Davies (de Candy, 2006) joga luz sobre outros fatos não tão conhecidos, o que vai agradar a qualquer cinéfilo.

Com Life, conhecemos melhor James Dean, a época em que ele viveu e até algumas práticas dos universos que ele e Stock frequentavam. No Cinema, Ben Kingsley (de A Travessia, 2015) vive o poderoso Jack Warner, um produtor que dizia a seus protegidos o que podiam e o que não podiam fazer. E a namorada de Jimmy, Pier Angeli (a linda Alessandra Mastronardi, de Para Roma, Com Amor, 2012), também era uma estrela em ascensão, o que dificultava um pouco o relacionamento, cada um com seus compromissos. No mundo da fotografia, entendemos que os profissionais eram contratados para trabalhos específicos, a maioria entediantes, e só os consagrados tinham benesses como suas próprias exposições. Joel Edgerton (de Aliança do Crime, 2015) faz o editor de Stock, o meio de campo entre o fotógrafo e a publicação.

A fotografia é outro mérito da produção. Charlotte Bruus Christensen (de A Caça, 2012) consegue dar personalidade a três cidades distintas, ressaltando pontos interessantes de cada, sempre com muita beleza. A fidelidade ao período retratado pode ser comprovada vendo-se as fotos originais de Stock, o que nos leva a outro ponto forte: a reconstituição da época. O ano era 1955, meses antes do fatídico acidente. Somando-se à estética vem a trilha sonora de Owen Pallett (de A Caixa, 2009), um jazz gostoso com uma percussão acentuada que casa perfeitamente com as cenas. Com esses elementos, temos uma experiência completa e bem satisfatória.

Umas das mais icônicas fotos de Dean, por Stock

Umas das mais icônicas fotos de Dean, por Stock

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Stranger Things apela à nostalgia dos trintões

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Stranger Things

Criada pelos irmãos Matt e Ross Duffer (da série Wayward Pines), Stranger Things tem causado um grande frisson na internet, principalmente pelo apelo nostálgico que carrega. A série se passa em uma pequena cidade norte-americana, em 1983, e traz elementos de filmes clássicos daquela década, como Os Goonies, E.T., o Extraterrestre, O Enigma de Outro Mundo, Poltergeist e Conta Comigo, além de uma influência dos trabalhos de Stephen King, só para citar os principais. Isso, por si só, já é um fator atraente para pessoas na faixa dos 30 anos, que cresceram assistindo a esses filmes. Tudo o que faz essas produções atraentes está ali: o governo usando experimentos secretos que uma hora dão errado; adultos ora perdidos, ora duvidando de sua sanidade, ora agindo simplesmente guiados por sua ambição; a cidade pequena que logo mostra-se não ser tão “normal” quanto parecia; e, principalmente, crianças e adolescentes movidos pela amizade em busca do amigo desaparecido.

Não dá para olhar para o quarteto formado por Mike, Dustin, Lucas e Onze e não se lembrar imediatamente de Gordie, Chris, Teddy e Vern (de Conta Comigo), ou de Mike, Gordo, Bocão e Dado (de Os Goonies). E aqui temos o grande mérito dos irmãos Duffer, e que referencia diretamente aos quartetos acima citados, já que os irmãos se preocuparam em criar crianças que se comportam exatamente como o que são: crianças que não tem muita noção do mundo e, sim, são nerds, são os “perdedores” da escola – à exceção de Onze – e não um trio de garotos mais maduros do que sua idade os permitiria ser, como estamos acostumados a ver na TV e no Cinema atuais. Eles brigam por besteira, fazem as pazes, mergulham na aventura à frente de si com aquele espírito indômito que apenas as crianças – ou os sem noção – têm e percebem o extraordinário com aquela empolgação característica de moleques no início da adolescência. É bem provável que diversos adultos de hoje, especialmente aqueles que passavam horas jogando RPG ou lendo gibis em sua infância, se identifiquem com pelo menos um – se não com todos – os garotos ali representados.

Stranger Things boys

Ao voltar para casa após participar de uma longa sessão de Dungeons & Dragons (um dos mais populares jogos de RPG da história), o garoto Will Byers (Noah Schnapp, de Ponte de Espiões, 2015) é surpreendido por uma criatura estranha e desaparece misteriosamente. Seu sumiço só é notado no dia seguinte quando Will não aparece para o café da manhã. Desesperada, sua mãe, Joyce (Winona Ryder, de Cisne Negro, 2010) entra em contato com o xerife local, Jim Hopper (David Harbour, de Banshee), um sujeito que está acostumado a ter uma vida tranquila na interiorana Hawkins, localizada no estado de Indiana, nos EUA, que começa a investigar o caso. Logo, a notícia do desaparecimento de Will se espalha e seus melhores amigos, o trio formado por Mike (Finn Wolfhard, de Sobrenatural), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin), decidem que cabe a eles encontrarem o amigo desaparecido. A aparição da jovem Onze (Millie Bobby Brown) vai, ao mesmo tempo, melhorar e complicar a vida do trio, já que a menina fugiu de uma instalação governamental que faz experimentos envolvendo seres humanos e mundos alternativos e seu “pai”, o Dr. Martin Brenner (Matthew Modine, de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, 2012), não poupará esforços para recuperá-la, ao mesmo tempo em que ela pode ser a chave para que Will seja encontrado. O desaparecimento de Will, no entanto, é apenas o primeiro e logo as coisas se tornam bastante agitadas na pequena Hawkins.

Se o quarteto de protagonistas é o que mais merece destaque em Stranger Things, o time formado por adultos e adolescentes mais velhos também não faz feio. Ryder faz sua Joyce parecer bastante crível no papel de uma mãe que se encontra no pior dos cenários, que é o desaparecimento de seu caçula, enquanto vemos o xerife ser afetado pelo caso mais do que gostaria na medida em que ele remete a fatos de seu passado. Completam o elenco principal a jovem Nancy (Natalia Dyer), irmã de Mike e uma adolescente que passa por uma grande prova de amadurecimento durante os acontecimentos nos quais se envolve, Jonathan (Charlie Heaton), irmão de Will, que precisa tentar manter a cabeça fria enquanto vê a mãe desmoronar, e Steve (Joe Keery), que começa como um jovem folgado que só quer transar com Nancy mas, assim como ela, amadurece de maneira surpreendente na medida em que a investigação sobre o desaparecimento de Will avança.

Stranger Things não é o melhor que o Netflix produziu e não é uma daquelas séries que mudará a história da TV. Ela é, antes de tudo, uma série bem escrita, bem dirigida, com uma história redondinha e que acerta em cheio em seu objetivo de despertar a nostalgia dos mais velhos e, espera-se, chamar a atenção dos mais novos para esse tipo de história. A direção dos irmãos Duffer é bastante competente e a trilha sonora dos estreantes Michael Stein e Kyle Dixon combina bastante com o perfil da série, já que também remete ao que era feito nos filmes daquela época.

Stranger Things é, basicamente, um filme de verão que caberia muito bem nos cinemas de 1986, caso não tivesse oito horas de duração aproximadamente, e hoje estaria sendo reprisado eternamente na Sessão da Tarde. Com oito episódios, está disponível para os assinantes do Netflix desde o dia 15 de julho e tem atraído tanta atenção, que, é claro, já tem uma segunda temporada garantida.

Winona Ryder é um dos destaques

Winona Ryder é um dos destaques

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Russell Crowe e Ryan Gosling tentam ser caras legais

por Marcelo Seabra

Nice Guys poster

Para deixar claro que se trata de um filme ambientado nos anos 70, Dois Caras Legais (The Nice Guys, 2016) já começa ao som do clássico Papa Was a Rolling Stone, uma das muitas músicas fantásticas da trilha – que conta até com Garota de Ipanema. A comédia policial traz como protagonistas Russell Crowe e Ryan Gosling, dois anti-heróis que acabam trabalhando juntos. E Crowe acaba servindo de “escada” para Gosling, que se diverte em cena e é responsável por vários momentos engraçados.

O diretor Shane Black, que também assina o roteiro ao lado do estreante Anthony Bagarozzi, tem em seu currículo uma pérola do mesmo gênero chamada Beijos e Tiros (Kiss Kiss Bang Bang, 2005), além de ter escrito toda a franquia Máquina Mortífera (Lethal Weapon). Experiência não lhe falta e percebemos a facilidade que ele tem de elaborar diálogos apimentados, rápidos e inteligentes. Os personagens principais são bem desenvolvidos, com qualidades e defeitos, e conhecemos o suficiente da história de cada um para nos importarmos.

Nice Guys scene

Como deixou claro em Amor a Toda Prova (Crazy Stupid Love, 2011), Gosling tem um bom timing para comédias, e sua cara de conquistador desavisado é impagável. Suas quedas acabam ficando um pouco exageradas, assim como algumas falas tentam forçar um humor mais apelativo, mas nada que estrague a experiência. Crowe mais uma vez tenta fazer graça, sem sucesso, e mostra que é bom na ação. Aqui, ele volta a contracenar com a colega de Los Angeles: Cidade Proibida (L.A. Confidential, 1997) Kim Basinger, e não é surpresa que ela não tenha expressividade nenhuma. Seu rosto excessivamente liso indica possíveis plásticas, mas a falta de talento não é recente. A participação da atriz é pequena, e temos ainda Matt Bomer (de Magic Mike XXL, 2015) no papel de um assassino que é facilmente reconhecido devido à semelhança física com o John-Boy dos Waltons (o ator Richard Thomas).

A trama, que bebe bem no noir, nos apresenta a vários personagens ligados à produção de um filme pornográfico. Alguns assassinatos depois e logo dois investigadores particulares – um sem licença – percebem que seus casos atuais se encontram. Por isso, concluem que juntos teriam mais resultado, e ainda contam com a filha de um deles para ajudar. A garota, Angourie Rice (de Caminhando com Dinossauros), é ótima e ajuda a humanizar o pai paspalho (Gosling). Trata-se de uma clássica “buddy comedy”, a comédia de dois parceiros, na qual mesmo se odiando, eles precisam se aturar. E divertir o público.

Depois de anos atuando, Kim Basinger ainda não sabe o que fazer

Depois de anos atuando, Kim Basinger ainda não sabe o que fazer

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Netflix traz ao Brasil The Invitation

por Marcelo Seabra

The Invitation poster

Com um lançamento tímido lá fora, o independente The Invitation (2015) não teria outra forma de chegar ao Brasil que não pelo Netflix. O serviço de distribuição disponibilizou recentemente o longa, que valeria facilmente um ingresso nos cinemas e pode ser conferido gratuitamente, no conforto de casa. E o cenário é exatamente uma casa, o que pode potencializar a experiência, já que o longa desenvolve no público uma tensão muito interessante e explora bem cada cômodo. O espectador deve ficar com receio até de ir ao banheiro no final da sessão.

Nos primeiros minutos de exibição, entendemos que um sujeito está indo, com a namorada, a um jantar na casa onde ele morava e a anfitriã da noite será justamente a ex-mulher, acompanhada pelo atual marido. É um convite estranho, ele pensa, mas vale a pena rever os amigos sumidos e dar uma chance a uma certa reconciliação com a ex. No mínimo, faltar seria uma desfeita, e ele não perderia a oportunidade de visitar sua antiga casa. Isso é tudo que se pode contar da trama sem estragá-la, cortesia da dupla Phil Hay e Matt Manfredi (de Policial em Apuros, 2014).

The Invitation scene

Trabalhando novamente com seus roteiristas de Aeon Flux (2005), Karyn Kusama estava afastada da tela grande desde Garota Infernal (Jennifer’s Body, 2009). Com The Invitation, ela mostra que tem perfeito controle de ritmo, com uma montagem que propicia um crescendo no clima de tensão, deixando o público no escuro e com a pulga atrás da orelha. A trilha de Theodore Shapiro (do novo Caça-Fantasmas, 2016) só contribui, numa sutileza que casa bem com a fotografia detalhada de Bobby Shore ( da série Man Seeking Woman), que nos dá a dimensão perfeita da casa onde todos estão.

Ao contrário do que houve com Aeon Flux, aqui Kusama teve controle criativo e conseguiu entregar o longa que havia planejado. Ajuda muito ter um elenco competente, homogêneo, capitaneado pelo carismático Logan Marshall-Green (de Madame Bovary, 2014). Uma produção independente pode ser mais árdua e restringir o orçamento, mas funciona muito bem nas mãos de uma diretora experiente que chama para bordo seus comparsas habituais. Juntos, eles fazem o máximo com os recursos disponíveis.

Marshall-Green é um dos trunfos do longa

Marshall-Green é um dos trunfos do longa

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