A Chegada é mais um Villeneuve de primeira

por Marcelo Seabra

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Antes que 2016 chegue ao fim, já é possível afirmar que um dos melhores longas do ano aterrissa nos cinemas essa semana: A Chegada (Arrival, 2016), novo trabalho de Denis Villeneuve. O diretor sempre consegue reações fortes de seu público, sejam positivas ou negativas, e desta vez não foi diferente. Com um ritmo mais lento do que outros exemplares da ficção-científica recente, ele nos conta como seria receber alienígenas na Terra e nos presenteia com outra ótima interpretação de Amy Adams. O tipo de resultado que poderia deixar Christopher Nolan com uma pontinha de ciúmes.

Variando entre gêneros, Villeneuve deixa de lado as histórias policiais (como seu último filme, o ótimo Sicario, 2015) e adapta uma história de Ted Chiang, com roteiro de Eric Heisserer (de Quando as Luzes se Apagam, 2016). Muito mais do que tiroteios, explosões ou perseguições, o diretor parece mais interessado em levantar questões existenciais. Quais seriam as consequências da chegada de 12 naves espaciais no nosso céu, espalhadas em pontos aparentemente sem ligação? Como seria a nossa comunicação com elas? E a pergunta que parece ser a mais importante: o que eles querem?

Arrival Adams

A sempre competente Amy Adams (a Lois de Batman vs Superman, 2016) vive uma doutora em Linguística que, por uma conveniência do exército, é convocada para tentar se comunicar com os ETs. Louise Banks se une a Ian Donnelly (Jeremy Renner, o Gavião Arqueiro da Marvel), um matemático, e juntos eles devem conseguir algumas respostas, enquanto o coronel encarregado do caso (Forest Whitaker, de Nocaute, 2015) ganha tempo junto aos seus superiores. Num primeiro momento, as doze localidades que receberam as visitas cooperam entre si, mas o medo começa a mudar esse cenário.

Tem sido freqüente ver comparações entre A Chegada e Interestelar (Interstellar, 2014), a ambiciosa ficção-científica de Christopher Nolan. Se o tema pode se assemelhar, as direções tomadas são completamente diferentes. Sem se basear em teorias complexas, como a das cordas, ou exigir um salto de fé grande de seu público, Villeneuve consegue uma obra enganosamente simples, de fácil entendimento. Com os pés no chão, o cineasta ainda mistura nesse caldo bastante emoção, e não é surpresa que espectadores saiam do cinema enxugando os olhos. E, sabiamente, ele convocou ótimos profissionais para compor esse quadro. Não é nada ruim contar com a fotografia de Bradford Young (de O Ano Mais Violento, 2014) e a trilha de Jóhann Jóhannsson (também de Sicario), tudo de muito bom gosto, que só fortalece a atuação de Adams.

Como um bom longa de ficção-científica, A Chegada nos deixa com várias questões na cabeça e é o tipo de filme que continua suscitando discussões bem depois da sessão. A compreensão do tempo, da comunicação, das consequências de nossos atos. Se um filme te faz parar e pensar, reavaliando opiniões e ações, ele já valeu o ingresso.

Villeneuve acertou de novo

Villeneuve acertou de novo

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Redmayne e Rowling nos apresentam a Animais Fantásticos

por Marcelo Seabra

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Depois de sete livros e oito adaptações para o Cinema, realmente deve ter sido difícil para J.K. Rowling abandonar o mundo de bruxos e magia que criou. Financeiramente, então, nem se fala, mesmo que ela não precise se preocupar com dinheiro – nem suas próximas gerações. Uma saída que a escritora encontrou foi ajudar a criar a história de Harry Potter and the Cursed Child, elogiada peça da Broadway. Outra foi expandir o universo de Potter e entregar o protagonismo a outro, o que acontece no livro Animais Fantásticos e Onde Habitam (Fantastic Beasts and Where to Find Them), que ela assina com o pseudônimo de Newt Scamander. Uma variação da história, um livro “técnico” sobre as criaturas do Mundo Bruxo, chega agora à tela grande com roteiro da própria Rowling.

Nessa nova aventura, somos apresentados a Newt Scamander (Eddie Redmayne, de A Garota Dinamarquesa, 2015), uma mistura de abobalhado e jacu que estuda e protege criaturas que outros, até seus pares bruxos, temem, provavelmente por falta de informação. Por isso, ele pretende escrever um livro sobre o assunto. Newt chega a Nova York para comprar um presente de aniversário, mas de cara uma das criaturas que leva na mala foge e ele sai atrás. Nessa bagunça, conhece o “trouxa” (ou “não-maj”, um humano normal) Kowalski (Dan Fogler, da série The Goldbergs), um operário bonachão que sonha em abrir sua própria padaria. Juntos, eles vão arrumar briga com o Congresso de Bruxos dos Estados Unidos, que acaba os acusando de diversos crimes.

Fantastic Beasts three

Do lado desse tal Congresso, Tina Goldstein (Katherine Waterston, de Vício Inerente, 2014) é uma ex-investigadora que pretende recuperar seu cargo entregando Newt à Presidente Picquery (Carmem Ejogo, de Selma, 2014), para que ele pague por seus supostos crimes. Mais focado e misterioso é Percival Graves (Colin Farrell, de Presságios de um Crime, 2015), braço direito da Presidente, que também vai correr atrás de nosso herói. No núcleo dos fanáticos, Samantha Morton (de Miss Julie, 2014) é uma mulher que combate a bruxaria que julga existir no mundo, mesmo que os indícios sejam poucos, e adota órfãos que leva para a luta com ela. Um desses garotos é Credence (Ezra Miller, o novo Flash da DC), que tem seus próprios interesses.

À frente do elenco, Redmayne mais uma vez mostra os maneirismos de sempre. Cabeça tombando para o lado, voz trêmula, dificilmente olhando nos olhos de seu interlocutor. O ator parece ser bem limitado, o que pode funcionar muito bem se isso convier ao papel – caso de A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014). Aqui, não chega a comprometer, mas ele cria um protagonista sem graça que terá que desabrochar nas continuações para justificar sua importância. É Fogler quem acaba tendo momentos bem engraçados, demonstrando ótimo timing para comédia. Waterston e a cantora Alison Sudol (Tina e a irmã) também funcionam bem, reforçando um grupo que ainda conta com um Farrell (abaixo) bem equilibrado, nos deixando em dúvida quanto a suas intenções. Se o trailer o mostrava como vilão, o filme nos faz ponderar. Há ainda pontas de Jon Voight, Ron Perlman e Zoë Kravitz.

Fantastic Beasts Farrell

Fazendo diversas homenagens às histórias de Harry Potter, que devem acertar em cheio a nostalgia dos fãs da série, Animais Fantásticos não chega a criar heróis tão carismáticos quanto o trio “original”, mas não fica muito atrás no quesito diversão. Talvez por ser direcionado a estes fãs, que já estão mais velhos, o diretor David Yates mantém o tom mais sombrio dos filmes que dirigiu na franquia, os quatro últimos. Nova York se torna uma cidade escura, o que faz um ótimo contraponto às criaturas coloridas e diversas que se cruzam. Os efeitos especiais são bem sucedidos e valorizam tanto a terceira dimensão quanto o tamanho da poderosa tela IMAX: o uso da profundidade faz sentido e a riqueza de detalhes da produção enche os olhos em todos os cantos da tela. E o figurino da impecável Colleen Atwood é a cereja do bolo.

Com nada menos que quatro continuações anunciadas, a franquia Animais Fantásticos e Onde Habitam pode chegar a ser tão grande quanto a de Harry Potter, que foi esticada com o último livro virando dois filmes. Veremos se as demais terão o mesmo gás da primeira parte e se manterão o interesse do espectador. Com a mãe desse universo envolvida na produção e roteiro, não será tarefa difícil. E, da mesma forma que Daniel Radcliffe e seus colegas cresceram junto com os personagens, poderemos ver Redmayne e companhia envelhecerem com os seus.

O cultuado Ron Perlman faz uma ponta irreconhecível

O cultuado Ron Perlman faz uma ponta irreconhecível

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Homem chega a Marte no NatGeo

por Marcelo Seabra

Mars banner

Com uma proposta interessante, o canal National Geographic fez a estreia de uma nova série em sua programação: Marte (Mars, 2016). Alternando entrevistas e ficção, a ideia é mostrar, com o máximo de rigor científico, como será a provável primeira viagem do homem ao planeta vermelho. As imagens de lançamentos reais de foguetes e das empresas que se dedicam à exploração espacial e os depoimentos de cientistas respeitados trazem mais veracidade à produção. Serão seis episódios de 45 minutos cada.

Um livro lançado no ano passado, How We’ll Live on Mars, serve como base para o roteiro, e o autor, Stephen Petranek, é um dos consultores envolvidos. Como ainda não temos o planejamento para essa viagem, a série acompanha duas épocas distintas. Em 2016, conferimos as falas de quem trabalha e estuda equipamentos relacionados a viagens espaciais e demais condições de vida lá fora. Uma empresa privada que desenvolve naves espaciais, a SpaceX, deu total acesso às suas dependências aos produtores da RadicalMedia, e ninguém menos que o presidente da SpaceX, Elon Musk, é um dos que aparecem na tela. Além dele, temos gente como Robert Zubrin, fundador e presidente da Mars Society, o administrador da NASA Charles Bolden, o astronauta James Lovell, da Apollo 13, o astrofísico Neil deGrasse Tyson e o escritor Andy Weir, autor do livro que serviu de base a Perdido em Marte (The Martian, 2015).

Mars crew

Já em 2033, vemos a parte imaginada, quando uma associação entre vários países deu origem a uma instituição mundial, a única forma de concentrarmos esforços e chegarmos de fato a Marte. Com todos os detalhes levados em consideração, logo no primeiro episódio a Daedalus parte da Terra e enfrenta suas primeiras dificuldades para pousar em solo marciano. Com uma equipe de seis astronautas, a nave tem a altura de um prédio de 14 andares, o que dá uma ideia da complexidade do projeto. A astronauta Mae Jemison, a primeira mulher afro-americana a ir ao espaço, deu um curso aos atores de como se comportarem na nave e na ausência de gravidade, além de contribuir com dicas para os diálogos ficarem bem reais.

Com Ron Howard, diretor da trilogia de Robert Langdon, e o parceiro habitual Brian Grazer entre os produtores, não é de se espantar a qualidade técnica de Marte. Segundo outro produtor, Justin Wilkes, os dois times, o cinematográfico e o científico, não tiveram nenhuma briga, pelo contrário. “As informações científicas inspiraram os roteiristas a criarem histórias mais dramáticas sem sacrificar a ciência. É mais dramático porque é baseado em ciência”, disse Wilkes ao site space.com.

Para quem perdeu o primeiro episódio, a boa notícia é que ele está disponível online no site do NatGeo (clique aqui). Nos Estados Unidos, a estreia é hoje. No Brasil, a exibição é sempre aos domingos, às 23h, competindo com Westworld (HBO) e The Walking Dead (AMC). O ponto negativo é a forma como o canal trata a atração: não há legendas disponíveis, o que leva quem não domina o inglês a ver dublado, e várias informações não desejadas aparecem na tela, como propagandas de outros programas e a irritante tag #partiumarte, que fica durante todo o episódio.

Neil deGrasse Tyson é uma das celebridades envolvidas na produção

Neil deGrasse Tyson é uma das celebridades envolvidas na produção

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Berg e Wahlberg recriam desastre no Golfo

por Marcelo Seabra

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Depois de alguns adiamentos, finalmente chega às telas nacionais Horizonte Profundo: Desastre no Golfo (Deepwater Horizon, 2016), longa que reconstrói um acidente de enormes proporções em uma plataforma de petróleo no Golfo do México. O diretor Peter Berg novamente recrutou Mark Wahlberg, que lidera um bom elenco para contar como foi o maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos, ocorrido em 2010. O fato de sabermos que tudo aquilo realmente aconteceu torna as coisas ainda mais tensas.

Como a parceria havia dado certo em O Grande Herói (Lone Survivor, 2013), Berg se uniu a Wahlberg, também produtor, para dar vida a um artigo do jornal The New York Times. Os autores, David Barstow, David S. Rohde e Stephanie Saul, narram uma história de heroísmo e suspense envolvendo gente comum, profissionais da plataforma Deepwater Horizon que foram para o que pensaram ser mais um dia de trabalho. O roteiro teve uma primeira versão nas mãos de Matthew Sand (de Ninja Assassino, 2009) e um novo tratamento por Matthew Michael Carnahan (de Guerra Mundial Z, 2013).

Deepwater Horizon cast

Enquanto a companhia responsável pela operação tenta lucrar ao máximo, os técnicos contratados são responsáveis pela segurança e manutenção dos equipamentos. Havia 126 pessoas na plataforma, entre executivos e operários, e todos ficaram em risco quando explosões incendiaram o petróleo que era extraído. Wahlberg vive Mike Williams, um técnico de eletrônica que começava mais uma escala quando o acidente ocorreu. O papel do chefe de segurança, Mr. Jimmy, ficou com Kurt Russell (de Os Oito Odiados, 2015), que traz o peso e o respeito necessários, e John Malkovich (de Zoolander 2, 2016) é o engravatado que supervisiona tudo. Apesar de visar a lucratividade acima de tudo, ele não é um vilão raso, o ator lhe confere certa profundidade. Kate Hudson (de Risco Imediato, 2014) e Dylan O’Brien (da franquia Maze Runner) são os outros nomes mais chamativos do elenco.

A forma de Berg apresentar a plataforma é interessante porque conseguimos entender a geografia do lugar, sabendo, por exemplo, onde determinado personagem vai chegar se sair correndo de onde está. É de se surpreender que o diretor consiga fazer tudo parecer muito simples e nem percebemos os milhões gastos na produção até que tudo vá pelos ares. Os efeitos são competentes, servindo à história, e somos levados numa crescente, conhecendo todos a ponto de nos importarmos com eles. No final da sessão, é possível ter uma pequena amostra do desespero daquelas pessoas frente à situação. A experiência deu tão certo que Berg e Wahlberg já estão juntos num novo projeto, Dia de Heróis (Patriots Day, 2016), sobre os ataques à bomba na Maratona de Boston de 2013.

O astro e o diretor apresentam o verdadeiro Mike Williams

O astro e o diretor apresentam o verdadeiro Mike Williams (meio)

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Aquarius e o Pequeno Segredo do Oscar


por Marcelo Seabra

Aquarius Cannes

Tendo passado toda a polêmica em torno da escolha do pré-candidato brasileiro ao Oscar, depois de vários terem dado seus palpites, demonizando um dos lados, vamos às críticas. Isso, porque só agora um dos dois envolvidos na disputa foi divulgado de forma ampla para que de fato se pudesse formar uma opinião. Claro que muitos tiveram acesso a exibições em festivais e puderam fundamentar seus pontos de vista. Mas o que teve de desinformação ligada a política ou partidos, não é brincadeira.

Depois de uma passagem extremamente premiada e ovacionada por diversos festivais de Cinema, Aquarius (2016) parecia ser o candidato natural à pré-corrida do Oscar, de onde saem os cinco finalistas na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira. Devido a uma manifestação do elenco e equipe, durante o Festival de Cannes, contra o impeachment da Presidente Dilma Rousseff, surgiu uma espécie de campanha contra o filme perpetrada até por quem não o havia assistido. E o pior: um desses ditos críticos foi convocado pelo Ministério da Cultura para compor a comissão que escolheria o candidato brasileiro ao prêmio da Academia americana.

Aquarius

Mesmo com outros fortes concorrentes saindo da disputa em solidariedade a Aquarius, que estaria sofrendo uma perseguição, o escolhido pela comissão acabou sendo Pequeno Segredo (2016). Foi o suficiente para polarizar a disputa, assim como já acontece com a política nacional: é como se a esquerda estivesse com Aquarius e a direita, com Pequeno Segredo. E, assim, muita gente perdeu (ou perderá) a oportunidade de conferir um dos dois. Aquarius já está em cartaz há semanas, sem perder força, e Pequeno Segredo chega em circuito comercial nesta quinta. E a questão que fica: o justo seria indicar qual dos dois?

Ambientado em Recife, mais especificamente na praia da Boa Viagem, Aquarius acompanha Clara (uma excelente atuação de Sônia Braga), uma viúva aposentada que resiste a se mudar do prédio onde vive há décadas e entra em embate com a construtora que pretende derrubar tudo e construir um complexo moderno. Representando o outro lado, o global Humberto Carrão também oferece um ótimo desempenho como o educado e cínico representante da construtora que deixou Clara sozinha no prédio ao comprar todos os outros apartamentos. Por isso, ela acaba sofrendo pressão até dos ex-moradores, que querem que ela se mude logo para receberem a quantia referente à concretização do projeto. Nas entrelinhas dessa sinopse, temos uma atenção do diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho ao tratar vários temas, como memória, idade, relações interpessoais, progresso, preconceito e hábitos.

Pequeno Segredo

Pequeno Segredo é um drama que revela uma luta particular travada pela família Schurmann, mais conhecida como navegadores e exploradores. A filha mais nova, Kat (Mariana Goulart), sofre de uma doença que a debilita, e vamos acompanhando os esforços de seus pais (vividos por Julia Lemmertz e Marcello Antony) para cuidar dela. David Schurmann, diretor e um dos roteiristas, era irmão de Kat, o que torna o projeto algo muito pessoal. Há uma outra história, paralela, que nos apresenta a um neozelandês, Robert (Erroll Shand), que vem ao Brasil e se apaixona pela amazonense Jeanne (Maria Flor). Ele deixa para trás sua mãe (Fionnula Flanagan), uma mulher preocupada e dominadora. A proximidade de David com os personagens acaba fazendo com que a sua mãe (e de Kat) se torne quase uma santa (tirando o fato de ler o diário da filha), fazendo da mãe de Robert uma vilã caricatural que mais parece uma madrasta da Disney. O roteiro não se importa muito com o lado masculino da família Schurmann, não sabemos por onde andam os filhos ou o que o marido está fazendo na maior parte do tempo. Por isso, é ótimo contar com duas grandes atrizes nos papéis maduros e uma promissora jovem como protagonista para segurar as pontas.

Pequeno Segredo elencoNas idas e vindas entre os dois núcleos está o principal problema do longa: o que segue Robert e Jeanne acaba sendo muito mais interessante que o da família Schurmann, que é bem previsível e adocicado. A montagem ágil ajuda e sempre conseguimos entender o rumo, que não é seguido cronologicamente. Mas não empolga, resultando num filme correto e bonitinho, tanto temática quanto visualmente. Mas nunca um grande filme.

O cuidado técnico de Mendonça Filho é sempre impecável (como visto em O Som ao Redor, 2012) e o elenco todo de Aquarius mostra uma sintonia fantástica. Com todas essas peças funcionando tão bem, não é de se admirar a trajetória bem sucedida do longa pelo mundo, além da expressiva bilheteria alcançada aqui. Se a preocupação da comissão do MinC era tentar prever quem seria o melhor candidato aos olhos da Academia, deveria ter pesado a apreciação de críticos e público de dentro e de fora do país. Se fosse apenas pesar prós e contras de cada candidato e escolher o melhor, independente de tentativas fúteis de prever resultados, a opção seria a mesma: Aquarius.

Carrão, Braga e o diretor do melhor filme nacional do ano

Carrão, Braga e o diretor do melhor filme nacional do ano

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Universo Marvel cresce com Doutor Estranho

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

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Depois de expandir as fronteiras de seu universo cinematográfico para os filmes de espionagem com Capitão América: O Soldado Invernal e para o espaço sideral com Guardiões da Galáxia, é a vez da Marvel trazer para seus espectadores histórias ambientadas no ambiente da magia. É esse, além de apresentar um dos personagens mais icônicos – ainda que desconhecidos do grande público – o principal papel de Doutor Estranho (Doctor Strange, 2016). Apesar de um defeito aqui e ali, a produção cumpre esse papel com excelência.

Doutor Estranho é, como poderia se esperar, um filme de origem. Ele conta a história do Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch, de Além da Escuridão: Star Trek, 2013), um neurocirurgião com uma competência tão grande quanto seu ego e arrogância. Stephen é um médico e jurou salvar vidas, mas a vida que parecer querer preservar, acima de tudo, é a sua. Isso inclui recusar pacientes difíceis quando eles podem manchar sua reputação e mesmo ignorar as habilidades de seus pares, à exceção da Dra. Christine Palmer (Rachel McAdams, de Spotlight: Segredos Revelados, 2015), uma das poucas pessoas às quais Strange demonstra algum traço de respeito e mesmo uma certa afeição.

Dr Strange accident

Stephen está no auge de sua carreira. É um neurocirurgião rico, famoso e, apesar de toda a sua arrogância, respeitado pelos colegas. Como não poderia deixar de ser nesse tipo de filme, o egocêntrico sempre precisa de uma lição de humildade e, no caso de Strange, ela acontece na forma de um sério acidente automobilístico que o priva do que ele considera seu principal bem: a firmeza de suas mãos, que acabam praticamente inutilizadas. Ou, pelo menos, se tornam inúteis para alguém cuja precisão e firmeza das mãos é fundamental para sua profissão.

Na busca por uma cura para suas mãos, Stephen perde tudo: sua carreira, sua fortuna e seus poucos amigos. Chegando ao fundo do poço, ele acaba indo em busca da lendária Kamar-Taj, uma comunidade isolada no Tibet, onde acredita haver a promessa de uma cura. Lá, ele acaba encontrando-se com Mordo (Chiwetel Ejiofor, de Perdido em Marte, 2015) e a Anciã (Tilda Swinton, de Ave, César, 2016). Mais do que uma cura para si, Strange precisa expandir sua mente para não só melhorar suas mãos, mas evoluir espiritualmente e, se possível, ajudar a Anciã, Mordo e o bibliotecário Wong (Benedict Wong, também de Perdido em Marte) a combater a ameaça de Kaecilius (Mads Mikkelsen, de Hannibal – abaixo), um ex-discípulo da Anciã cujos planos megalomaníacos podem acabar com a vida na Terra.

Dr Strange Mads

Doutor Estranho é um grande filme de origem. Ele traz todos os elementos que são marca registrada do Marvel Studios, incluindo a escolha certeira do elenco, o clima leve, mesmo quando abordando assuntos mais complexos, uma saudável dose de humor, ainda que, aqui, algumas piadas possam soar forçadas, os já usuais easter eggs e, claro, menções a fatos acontecidos em filmes anteriores. Os efeitos especiais estão muito bem feitos e o 3D se justifica em boa parte do filme, que usa e abusa do conceito de realidade distorcida explorado inicialmente por Christopher Nolan em seu A Origem (Inception, 2010). Às vezes, essas cenas se tornam tão vertiginosas que ficam um pouco confusas, mas nada comprometedor. Tudo acompanhado por uma trilha sonora discreta, apropriada.

O grande problema de Doutor Estranho é que, mesmo com 115 minutos de duração, ele parece curto. Há muita informação a ser passada e o primeiro ato se beneficiaria de mais tempo para seu desenvolvimento, especialmente no que diz respeito à personalidade repulsiva do Strange pré-acidente. Se nos quadrinhos ele era uma pessoa arrogante, repulsiva e nada agradável de se ter por perto, aqui ele só parece um babaca desagradável, nada demais. Por outro lado, a Marvel acerta novamente ao incorporar ao longa elementos de seu universo de maneira bastante orgânica, quase casual, tornando Doutor Estranho um filme que, sim, é parte de um quadro bem maior, mas que se sustenta sozinho sem quaisquer problemas. O roteiro, assinado pelo diretor, Scott Derrickson (de Livrai-nos do Mal, 2014), e Jon Spaihts (de Prometheus, 2012), é bem amarrado e se encaixa bem no universo em andamento do estúdio.

Como de costume, continue sentado em sua cadeira mesmo após a aparição do símbolo da Motion Pictures Association of America na telona, já que Doutor Estranho tem uma cena no meio dos créditos e uma após eles. E sim, Stan Lee, que divide a criação do personagem com o desenhista Steve Ditko (que, na verdade, foi quem teve a ideia para o mago, sendo Stan o responsável por batizá-lo), também está no filme. Como sempre.

Doutor Estranho leva os efeitos de A Origem além

Doutor Estranho leva os efeitos de A Origem além

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Trio acende A Luz Entre Oceanos

por Marcelo Seabra

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Em seu terceiro longa de ficção de grande alcance, o diretor e roteirista Derek Cianfrance mais uma vez se foca em um casal interessante para contar uma história dramática. Agora, beirando o melodrama, com todos os elementos cênicos focados em tirar lágrimas do público. A Luz Entre Oceanos (The Light Between Oceans, 2016) é bom o suficiente para conseguir trazer emoções à tona, mas percebemos exageros facilmente, potencializando a choradeira.

Em Namorados Para Sempre (Blue Valentine, 2010), Cianfrance narra a conturbada e destrutiva paixão entre os personagens de Ryan Gosling e Michelle Williams. Em O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond the Pines, 2012), o mesmo Gosling se torna um criminoso para sustentar sua amada (Eva Mendes) e o filho deles. Agora, é a vez de Alicia Vikander (de Jason Bourne, 2016) e Michael Fassbender (o Magneto mais jovem), e a química deu tão certo que eles se tornaram de fato um casal. Ambos são lembrados por terem vivido robôs – ela em Ex_Machina (2015), ele em Prometheus (2012) -, mas não têm problemas em externar emoções. Enquanto Vikander tem uma personagem que permite maior expressão, Fassbender fica sempre muito discreto, se segurando, como conseqüência do passado na guerra de Tom. Não confundir introspecção com falta de expressão, a passividade de Fassbender fala muito.

The Light Between Oceans cast

Buscando fugir do mundo, após os tais traumas da Primeira Guerra, Tom procura uma empresa que cuida de faróis e se inscreve para ser o faroleiro em uma pequena ilha numa costa provavelmente australiana. Saber que o profissional anterior ficou louco não o incomoda, e a solidão será uma constante. Mas Tom tem a felicidade de conhecer Isabel (Vikander), eles logo se casam e vão dividir a ilha. Um barquinho à deriva vai mexer na realidade deles e trazer alguns conflitos. Na literatura, a história fez bastante sucesso, lançada pela australiana M.L. Stedman em 2012. No mesmo ano, os direitos de adaptação foram adquiridos

Um discurso proferido por Tom em determinado momento diz muito de seu comportamento e das escolhas de Fassbender para compô-lo. Ter voltado da guerra, em meio a tantas vítimas, deixou-o com um questionamento fundamental: “por que eu?” Com tanta gente tendo sido morta, qual é o papel do sobrevivente? Ele deve algo a alguém? Essas são apenas algumas questões colocadas pelo roteiro. Do meio em diante, outras surgem, agora envolvendo também a personagem de Rachel Weisz (de O Legado Bourne, 2012). Os três parecem indivíduos críveis, movidos por inteligência e sentimento, sem maniqueísmo ou conveniência. A única coisa que incomoda é o esforço para fazer o público chorar, combinando closes em rostos tristes e uma trilha sonora um pouco apelativa. Mas, apenas levando em consideração o trio principal, o preço do ingresso é um ótimo investimento. E a belíssima fotografia é o bônus.

Depois desse trabalho, os dois viraram um casal do lado de cá da tela

Depois desse trabalho, os dois viraram um casal do lado de cá da tela

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Bonecos Trolls chegam ao Cinema

por Marcelo Seabra

Trolls banner

Com tantos brinquedos frequentemente ganhando vida no Cinema, chegou a vez dos bonequinhos Trolls (2016). A DreamWorks produziu a animação que põe os bichinhos para cantar, dançar e abraçar, as coisas que eles mais gostam de fazer. Para o público infantil, as cores e números musicais devem prender a atenção e animar o suficiente. Para os pais e desavisados que resolverem conferir, é um festival de lugares-comuns, mensagens positivas irritantes e metáforas óbvias. Tudo com muita cor, claro.

Datando de 1959, a criação do dinamarquês Thomas Dam era de madeira, feita para presentear a filha no Natal. Logo, tornou-se mania na cidade e hoje é um bonequinho de plástico com muito cabelo, sempre para cima, também chamado de troll da sorte, encontrado em qualquer loja. Não a toa, antes da sessão do filme, podemos conhecer uma infinidade de produtos criados para faturarem com a imagem dos bichinhos. Bonecos, álbuns de figurinha, músicas e a lista é enorme. Pobres dos pais, que sairão do cinema com os filhos teleguiados, buscando os produtos.

Trolls

Visto rapidamente na franquia Toy Story, o boneco ganhou diversos personagens, compondo uma espécie de vale dos trolls. Após fugirem de seus inimigos, os ogros chamados Bergens, os trolls têm vinte anos de paz e alegria, governados pelo rei Peppy (voz de Jeffrey Tambor, de O Contador, 2016). Quando são descobertos pela cozinheira Bergen (Christine Baranski, de The Good Wife), alguns trolls são capturados e a princesa Poppy (Anna Kendrick, também de O Contador) sai em resgate. Para ajudá-la, a contragosto, é recrutado o infeliz Branch (ou Tronco, voz de Justin Timberlake, de Inside Llewyn Davis, 2013), troll que não participa das inúmeras festas por sua paranoia quanto a possíveis ataques. Representando seu humor, ele é o único em tons de cinza, se contrapondo a todas as cores dos demais.

Lembrando muito Os Smurfs, a lógica do universo de Trolls é bem simples: um grupo é alegre e festivo, sempre comemorando o simples fato de estarem vivos, enquanto o outro é baixo-astral e pessimista. A suposta única forma de alegrar o segundo grupo é devorando alguém do primeiro e daí vem a tensão entre eles. Tudo o que vai acontecer pode ser facilmente adiantado por qualquer adulto, e a produção tenta agradá-los com alguns atrativos, como citações interessantes a filmes (como a O Iluminado, 1980) e músicas memoráveis (como The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel). Mas não faltam canções originais chatas e grudentas (provável indicado ao Oscar), que ainda por cima serão dubladas na versão brasileira.

Por falar em dublagem, os talentos originalmente contratados são todos perdidos, já que dificilmente teremos a versão original nos cinemas brasileiros. Kendrick, Timberlake, Tambor, Baranski, James Corden, Zooey Deschanel, Christopher Mintz-Plasse, John Cleese, Russell Brand, Quvenzhané Wallis e a cantora Gwen Stefani são os nomes principais, escolhidos a dedo por características bem específicas de seus personagens. E as músicas são divididas em dois grupos: as que serão dubladas e as que serão mantidas. Se algumas já eram chatas, imagine adaptadas para o português! Isso, em meio a muitas dancinhas e receitas de auto-ajuda que fazem 90 minutos parecerem uma eternidade.

Elenco original de dubladores que não ouviremos

Elenco original de dubladores que não ouviremos

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Emily Blunt não salva A Garota no Trem

por Marcelo Seabra

The Girl on the Train banner

Se tem um tipo de filme irritante de se assistir, é aquele que tenta te enganar. Não de uma forma inteligente, claro. Quando é um Sexto Sentido (The Sixth Sense, 19999) da vida, ótimo, você quer até assistir de novo para tirar a limpo as situações. Mas quando é um A Garota no Trem (The Girl on the Train, 2016), você só quer esquecer a experiência e tomar uma dose de vodka. Até porque a bebida parece ser a vilã do filme.

Baseado no livro de Paula Hawkins, o roteiro de Erin Cressida Wilson (do fraco Homens, Mulheres e Filhos, 2014) nos apresenta a uma mulher que é a notória bêbada da região e que, devido ao álcool, tem apagões e precisa que os outros a lembrem do que fez. Diariamente. E é impressionante o que Emily Blunt (de O Caçador e a Rainha de Gelo, 2016) consegue fazer com um papel tão antipático e pouco crível. A atriz demonstra realmente estar naquela situação, dando um pouco de dignidade para sua Rachel. Só passa pela cabeça o show que ela poderia dar com um texto melhor. E menos vodka.

The Girl on the Train Blunt

A falta de sentido do roteiro continua no fato de Rachel conseguir ver bem, em detalhes, o que acontece na vizinhança quando passa de trem. Não sabemos direito para onde ela vai ou o que faz, mas todos os dias ela pega o trem na cidade onde mora e ruma a Nova York. A melhor parte de seu dia parece ser a ida e a volta, quando olha ao redor e inventa histórias para as pessoas que vê. Quando uma dessas personagens some, ela se envolve, mesmo sem ter nada a ver com o peixe. Além de alcoólatra e vazia, ela é enxerida, e seus repetidos lapsos de memória não ajudam em nada.

Por causa dessa costura entre os fatos, o filme até consegue ser interessante em alguns momentos. Mas, quando mais situações são jogadas convenientemente, tudo parece desandar. No final, só queremos que termine e nem nos importamos que várias pontas fiquem soltas. Um roteiro cujo mistério depende da falta de memória da protagonista e da burrice de outros colegas não pode dar muito certo. Nas mãos de Tate Taylor, culpado por Histórias Cruzadas (The Help, 2011), é que não faria sentido mesmo. E há ainda outro agravante: as idas e vindas temporais. Parece que o simples fato de bagunçar a cronologia vai tornar as coisas mais interessantes. O resultado é confuso e mal conseguimos acompanhar esses saltos.

The Girl on the Train FergusonAlém de Blunt, o elenco tem outras duas atrizes que são propositalmente parecidas, e isso pode causar confusão. Rebecca Ferguson (de Missão Impossível: Nação Secreta, 2015 – ao lado) vive a atual esposa do ex-marido de Rachel, e ela ficou loira exatamente para que possamos confundi-la com Haley Bennett (de Sete Homens e Um Destino, 2016), a garota vista pela janela do trem. Temos ainda Allison Janney (de Mom), Laura Prepon (de Orange Is the New Black) e uma ponta de Lisa Kudrow (a Phoebe de Friends). No time masculino, o bom Justin Theroux (de The Leftovers) tenta se salvar com pouca coisa para trabalhar; Luke Evans (de Velozes e Furiosos 7, 2015) foi escalado por ter um abdômen malhado; e Edgar Ramírez (de Joy, 2015) é outro que não tem muito o que fazer.

Pela participação dos personagens, percebemos que as mulheres têm muito mais importância para a trama. Se fossem mulheres fortes e independentes, seria uma boa exceção num oceano de coitadinhas que vemos por aí no Cinema. Mas essas mulheres são exatamente isso: donzelas em perigo, fracas, que dependem de seus parceiros. A começar pela obsessão de Rachel por Tom (Theroux), que agora é o porto seguro de Anna (Ferguson). A trama falsamente intricada pode pegar parte do público. Mas não é mais do que outro desserviço de Tate Taylor para o feminismo e para a sétima arte.

Rachel não supera o divórcio

Rachel não supera o divórcio

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O Contador é ponto positivo para Ben Affleck

por Marcelo Seabra

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Se já não bastasse ser o Demolidor e o Batman no Cinema, Ben Affleck ainda é O Contador (The Accountant, 2016). Mesmo não sendo propriamente um super-herói, nem mesmo um herói, este é o mais interessante dos três. O filme parte de alguns clichês para logo utilizá-los de maneira inteligente, chegando até a confundir o espectador, que mal pode esperar pela próxima peça do quebra-cabeça. Quando chegamos ao final, tudo se encaixa, faz sentido e é bem satisfatório.

O roteiro de Bill Dubuque (de O Juiz, 2014) nos apresenta a Christian Wolff (Affleck), um sujeito que tem um grau de autismo que lhe proporciona grande facilidade com números, mas traz alguns problemas de sociabilidade. A falta de jeito dele proporciona alguns momentos involuntários de humor que lembram Dexter, o psicopata da TV que se esforçava para sorrir para fotos. Ele trabalha como contador e seus clientes são, em sua maioria, criminosos perigosos. Ele, por assim dizer, lava a roupa suja deles. A grande habilidade em lutas e com armas permite a ele se defender de qualquer possível ataque, ou queima de arquivo. Todas essas informações são devidamente apresentadas e o personagem é bem construído.

The Accountant Affleck

Com o Departamento do Tesouro investigando de perto, Wolff busca um cliente legítimo para afastar suspeitas. Pessoas começam a serem mortas e ele precisa descobrir o que está havendo. No meio disso tudo, conhecemos um punhado de gente e uma das melhores qualidades do longa fica evidente: o elenco. Além de Affleck, temos Anna Kendrick (de A Escolha Perfeita 2, 2015), J.K. Simmons (de O Exterminador do Futuro: Gênesis, 2015), Jon Bernthal (o Justiceiro do Netflix), Jeffrey Tambor (de Transparent), Cynthia Addai-Robinson (de Arrow) e John Lithgow (de Interestelar, 2014). Conhecemos o suficiente de cada um deles para que o projeto funcione, e nada é simples como preto e branco.

Nos pequenos detalhes que o roteiro faz questão de apresentar, conhecemos melhor a cabeça de Wolff e seu comportamento nunca deixa de fazer sentido. Ele usa uma canção infantil para manter a calma, precisa terminar tudo que começa, tem suas coisas extremamente organizadas e está sempre pronto para uma possível fuga. Ao ajudar a colega contadora vivida por Kendrick, ele sai de seu modus-operandi e arrisca seu pescoço, algo totalmente novo para ele. Uma cena do início, em que vemos um quebra-cabeça faltando uma peça para ser completo, serve bem como metáfora para o filme, e só chegamos a essa peça ao final.

A montagem ágil é cortesia de Richard Pearson, que trabalhou também em A Supremacia Bourne (The Bourne Supremacy, 2004). O Contador tem características em comum com o universo de Bourne e isso certamente foi assunto entre os amigos Affleck e Matt Damon. A trilha discreta de Mark Isham (de Assassino a Preço Fixo 2, 2016) e a bela fotografia de Seamus McGarvey (de Peter Pan, 2015) ajudam a criar um clima de suspense muito adequado à trama, tudo muito bem amarrado pelo diretor Gavin O’Connor (de Guerreiro, 2011).

Simmons quer resolver um último caso antes de se aposentar

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