Nova adaptação de O Nevoeiro bebe pouco na fonte

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Publicado pela primeira vez em 1980, na coletânea Dark Forces, e republicado cinco anos depois em Tripulação de Esqueletos, O Nevoeiro, de Stephen King, é um estudo psicológico sobre o que acontece quando pessoas muito diferentes entre si são forçadas a conviver em isolamento e no que farão em sua tentativa de sobreviver a uma ameaça que lhes foge à compreensão. No caso, ela se trata de um misterioso nevoeiro que cobre a cidade de Bridgton, no Maine, e quem se aventura nele jamais volta, já que ele traz predadores que se parecem com insetos distorcidamente gigantes e famintos. Um grupo de habitantes se tranca em um supermercado e tenta sobreviver até que o nevoeiro se dissipe ou alguém venha em seu resgate. Claro que isso se torna muito difícil quando os membros desse grupo começam a brigar entre si e algumas bizarrices se desenrolam, como é comum na obra de King.

Em 2007, The Mist chegou ao cinema pelas mãos de Frank Darabont, talvez o diretor que melhor tenha adaptado Stephen King no cinema (são dele também Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre). Estrelado por Thomas Jane, o filme é bem fiel ao conto de King e apresentou um final muito superior ao conto. Infelizmente, é daqueles filmes que não obteve muito sucesso de público. Agora, é uma série e chegou à Netflix, depois de ter sua primeira temporada exibida pelo canal americano Spike. Apesar de dividir o mesmo título do conto e de se aproveitar de algumas de suas ideias, essa nova versão da história guarda muito poucas semelhanças com o texto de King.

A série O Nevoeiro começa com Bryan Hunt (Okezie Morro, de Guerra Mundial Z, 2013) acordando no meio de uma floresta. Bryan está sofrendo de amnésia e, bem rapidamente, vê um grande nevoeiro se aproximando. Ele, então, corre em direção à cidadezinha de Bridgeville. Ela, no entanto, logo será envolta pelo nevoeiro e Bryan se verá preso ali.

Antes disso, no entanto, somos apresentados aos protagonistas da série. Kevin (Morgan Spector, de A Entrega, 2014) é um escritor que vive na cidade com sua esposa Eve (Alyssa Sutherland, de Vikings) e a filha Alex (Gus Birney), uma adolescente cujo melhor amigo é Adrian (Russel Posner), o típico adolescente moderno cuja sexualidade não-definida o torna um pária na escola onde frequenta. Alex tem uma queda por Jay (Luke Cosgrove), filho do xerife Connor (Darren Pettie), que representa tudo o que Adrian mais odeia, já que, aparentemente, é apenas mais um valentão pertencente ao time de futebol da escola. Para sua infelicidade, a atração de Alex por ele é recíproca e isso trará grandes consequências para a vida da menina.

Temos ainda a presença de Mia (Danica Curcic), uma criminosa de passado misterioso e, fechando o elenco principal, o casal formado por Ben (Derek McGrath, da nova versão de Carrie, A Estranha, 2013) e Nathalie (a veterana Frances Conroy, de séries como How I Met Your Mother e American Horror Story). Nathalie é daquelas senhoras que parecem que ainda vivem na década de 1960 e acredita ter uma ligação muito forte com a “Mãe Natureza”. Isso faz com que ela se torne uma personagem importante nessa primeira temporada da série, na medida em que acredita que o nevoeiro é uma forma da natureza punir os habitantes daquela cidade por seus pecados.

Inicialmente, as pessoas de Bridgeville pensam que aquele é um nevoeiro normal, como todos os outros. No entanto, à medida em que quem entra nele não volta e morre de formas horríveis, o pânico toma conta da cidade e as pessoas acabam isoladas em diversos locais: uma igreja, um hospital, um shopping. A partir daí, é uma corrida pela sobrevivência. Para Kevin, há ainda a questão de tentar atravessar a cidade para se reunir à sua família sem ser morto pelo que quer que se esconda no nevoeiro.

Apesar de guardar algumas semelhanças com o conto original, essa nova versão de o Nevoeiro se encaixa naquelas produções que se baseiam apenas levemente na história que lhe deu origem. Nenhum dos personagens aqui apresentados está no conto e, consequentemente, suas personalidades e histórias de vida são todas originais. Há uma tentativa aqui e ali de relacioná-las aos originais – Nathalie por muitas vezes lembra a fanática religiosa Sra. Carmody (vivida por Marcia Gay Harden na versão de 2007), ainda que a origem do fanatismo de Nathalie seja bem outra – e a causa do nevoeiro parece ser a mesma do conto, mas isso não fica claro ao longo da série.

A própria natureza do nevoeiro aqui difere daquela apresentada no conto e no filme de 2007. Enquanto nos dois primeiros as ameaças são de origem extradimensional, aqui elas assumem um caráter mais sobrenatural, ainda que isso não fique exatamente claro. Isso pode se dar também, suponho, pelo fato da Spike ter um orçamento bem limitado para seus efeitos especiais que, em muitos momentos, se mostram bem fracos, quase no nível do que se vê nas produções do Syfy ou nas novelas da Globo. Nada que comprometa a qualidade geral da série, mas chega a incomodar em alguns momentos.

Apesar disso, a série tem seus bons momentos e os efeitos do isolamento – especialmente no shopping – sobre a mente dos ali isolados são razoavelmente bem conduzidos. Há, ainda, algumas viradas de roteiro interessantes, que compensam o fato de alguns personagens parecerem unidimensionais e estereotipados. A primeira temporada de O Nevoeiro foi disponibilizada no Netflix na última sexta-feira, dia 25 de agosto. Rumores sobre uma segunda temporada já começaram, mas, até o momento, nada foi anunciado.

O supermercado do conto aqui vira um shopping

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Bingo ficcionaliza história real do palhaço da TV

por Marcelo Seabra

A década de 80 produziu alguns símbolos fortes, que trazem lembranças a quem viveu nessa época, e um deles é o palhaço Bozo. O que muita gente não conhece é a história por trás da maquiagem e ela é contada no Cinema em Bingo – O Rei das Manhãs (2017), primeiro longa na direção do premiado montador Daniel Rezende. Por questões de direitos autorais, os nomes precisaram ser alterados, mas o resto parece ser bem factual.

Hoje pastor em uma igreja batista, Arlindo Barreto foi ator de pornochanchadas e buscava um trabalho tido como sério para provar seu talento. Ao saber que um produtor americano lançaria no Brasil uma franquia do palhaço Bozo, resolveu encarar o desafio. Nos Estados Unidos, a atração estava no ar há dez anos, e selecionavam quem viveria a figura por aqui. No filme, Barreto se torna Augusto Mendes, Bozo vira Bingo e algumas situações são alteradas para fins dramáticos. Mas, segundo o próprio Barreto contou ao jornal O Globo: “O que você viu é real”.

Além de uma história interessante, com texto do veterano Luiz Bolognesi, Bingo conta com um trunfo ainda maior: seu protagonista. Vladimir Brichta (de Real Beleza, 2015) novamente acerta no alvo, dando o tom adequado a seu personagem, sempre com muita energia e nos fazendo crer no que está sendo mostrado. Vemos claramente quando ele assume a persona do palhaço, que funciona quase com a mesma dinâmica de um super-herói. E a comparação não é a toa: Augusto não pode contar a ninguém que é Bingo, o contrato o proíbe. Ele é a maior atração da TV, batendo recordes e vencendo a concorrência, mas ninguém pode saber.

Uma tarefa que costuma ser ingrata é escolher um garoto que dê conta do recado, e o jovem Cauã Martins se mostra uma boa opção. Ele consegue evitar exageros ao viver o filho de Augusto, que vai sendo deixado de lado à medida em que o sucesso do pai aumenta e o ciclo de sexo e drogas vai se tornando mais louco. Três mulheres dividem a função de coadjuvante: Tainá Müller (de O Duelo, 2015) é a ex-mulher de Augusto; Ana Lúcia Torre (de Um Tio Quase Perfeito, 2017) é a mãe; e Leandra Leal (de O Rastro, 2017) vive a diretora do programa, uma religiosa linha dura que entra em embates constantes com o ator. Duas participações interessantes são as de Pedro Bial, como o responsável pela emissora rival, e o falecido Domingos Montagner, em casa como um palhaço de circo.

Uma participação curiosa é a de Emanuelle Araújo, que encarna a dançarina Gretchen (ambas acima). Com uma beleza que a verdadeira nunca teve, Araújo repete os trejeitos e gritinhos ao cantar e dançar o “clássico” oitentista Conga Conga Conga. A própria Gretchen ficou surpresa com a interpretação e elogiou a colega em vídeo divulgado pela assessoria da produção. E não ficou nem uma ponta de vergonha de ter apresentado esse número no meio de um bando de pré-adolescentes. Falando em música, há pérolas na trilha, tanto nacionais quanto de fora: de Titãs a Echo and the Bunnymen, passando por Dr. Silvana e Cia e Nena, com a sua 99 Red Ballons.

Além de Bolognesi, o longa conta com outros grandes talentos atrás das câmeras. Rezende, indicado ao Oscar pela montagem de Cidade de Deus (2002), se mostra um diretor que domina sua tarefa. Econômico e direto, ele conta a história sem firulas e evitando clichês. Afinal, dramas de superação pedem por eles, mas Rezende é forte. Lula Carvalho, que trabalhou com Rezende em Tropa de Elite (2007), faz outro belo trabalho de fotografia, explorando bem os cenários do programa, os cômodos e as ruas, além de um bom momento em uma praia.

É interessante ver, em Bingo, como as coisas funcionavam na TV nos anos 80. Enquanto um canal mostrava uma loirinha em trajes mínimos divertindo crianças, o outro usava um palhaço desbocado que não tinha pudores em fazer um menino passar vergonha no ar como uma forma de justiça com a própria câmera. Ou colocar uma dançarina pra rebolar no meio do palco. É como Augusto diz, em determinado momento: “O Brasil não é para iniciantes”.

Equipe e elenco, além do verdadeiro Barreto (segundo à esquerda no fundo), lançam o filme em SP

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Os Defensores chegam à Netflix hesitantes

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Em 2012, o Marvel Studios lançou Os Vingadores, filme que reunia os heróis que haviam tido filmes solo lançados pelo estúdio nos anos anteriores – Homem de Ferro (2008 e 2010), Hulk (2010), Capitão América (2011) e Thor (2011) – em um único longa para “enfrentar uma ameaça que nenhum deles poderia derrotar sozinho”. Seguindo essa mesma tendência, mas em uma dimensão bem menor, chega a vez da Netflix disponibilizar Os Defensores (Defenders, 2017), uma série que reúne sob o mesmo título Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Todos eles tiveram séries solo no serviço de streaming com resultados variáveis.

Os Defensores segue a mesma fórmula consagrada pela Marvel e reúne seus quatro protagonistas de maneira quase – mas não muito – casual para enfrentar uma ameaça que nenhum deles poderia encarar sozinho. Quando começamos a série, Danny Rand (Finn Jones) segue usando todos os recursos financeiros dos quais dispõe para, aliado a Coleen Wing (Jessica Henwick), realizar a missão de destruir o Tentáculo, organização criminosa milenar infiltrada em Nova York.

Paralelamente, vemos Matt Murdock (Charlie Cox) em sua nova função, realizando trabalhos pro bono após o fim da parceria com Foggy Nelson (Elden Henson); Luke Cage (Mike Colter) deixando a cadeia e tentando retomar sua vida e ajudar a colocar o Harlem nos eixos e Jessica Jones (Krysten Ritter) recebendo o pedido de uma esposa que a ajude a encontrar seu marido desaparecido. Inicialmente, Jessica recusa o caso, mas, como não poderia deixar de ser, certas circunstâncias fazem-na repensar sua decisão. Aos poucos, fatos envolvendo as vidas de cada um deles isoladamente fará com que se unam, ainda que de maneira bastante relutante, para ajudar Danny a cumprir sua missão e destruir o Tentáculo antes que a organização realize seus planos para a cidade.

Com a adição de Sigourney Weaver (de Chappie, 2015 – abaixo) como Alexandra, a principal chefe do Tentáculo, praticamente todos os principais coadjuvantes das séries anteriores voltam, como Clair (Rosário Dawson, o elo entre as séries da Marvel), Misty Knight (Simone Missick), Stick (Scott Glenn), Madame Gao (Wai Ching Ho), Karen Page (Deborah Ann Woll), Trish Walker (Rachael Taylor), Elektra (Elodin Yung) e Jeri Hogarth (Carrie-Ann Moss), entre outros. Defensores tem alguns dos mesmos defeitos de praticamente todas as séries do tipo, assim como seus méritos. Existem personagens que tomam decisões que não fazem muito sentido, a não ser para estender mais a história, e coisas que desafiam a suspensão de descrença, como um personagem sofrer um ferimento relativamente grave em um episódio e, horas depois, se envolver em uma luta como se nada tivesse acontecido.

Apesar disso, Defensores acerta em muitos pontos. O principal deles é o fato de os produtores terem optado por uma série com oito episódios ao invés dos treze habituais. Isso faz com que a trama seja mais ágil e não haja momentos arrastados nem subtramas criadas simplesmente para encher o tempo pré-determinado para a produção. Além disso, houve mais tempo para os atores se prepararem para as cenas de luta, o que melhorou bastante as sequências de pancadaria na série, especialmente no que diz respeito ao Punho de Ferro de Finn. Agora, ele parece mais um artista marcial do que em sua série solo.

Outro fator positivo se dá na atuação dos protagonistas, que estão bastante confortáveis em seus papéis. A interação entre eles flui de maneira bem natural. Os roteiristas também tiveram o cuidado de dar bom tempo de tela para todos os protagonistas, ainda que, em muitas vezes, por motivos que ficam óbvios à medida em que a série progride, o foco maior caia em Danny. Por outro lado, se Matt Murdock/Demolidor pareça um pouco apagado nos episódios iniciais, ele se torna um destaque nos episódios finais. Isso traz bastante equilíbrio. As sequências de luta, se não são um primor – nenhuma delas alcança o impacto da cena do Demolidor lutando no corredor na primeira temporada –, estão bem coreografadas e fazem sentido dentro do universo ali apresentado. Há uma falha aqui e ali, inclusive relativo ao CGI em uma das sequências finais, mas nada comprometedor.

Fãs de longa data dos quadrinhos ficarão satisfeitos tanto com uma cena envolvendo Misty Knight quanto a última delas, que faz referência a um dos gibis mais clássicos do Demolidor e deve – esperamos – definir o tom da terceira temporada solo do Demônio de Hell’s Kitchen. Defensores é um final satisfatório para a primeira fase dos heróis da Marvel na Netflix. Apesar das falhas, o produto, como um todo, funciona bem e cria diversas expectativas para o que vem a seguir.

Weaver foi ovacionada na Comic Con

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A boneca Annabelle ganha novo voo solo

por Marcelo Seabra

Para quem achava que Annabelle já tinha tido sua origem contada, eis que surge Annabelle 2: A Criação do Mal (Annabelle: Creation, 2017). Trata-se de uma pré-continuação de uma pré-continuação, voltando mais no tempo para contar a gênese da boneca do capeta revelada na franquia Invocação do Mal (The Conjuring). Agora, vemos seu criador colocando os detalhes e finalizando a entrega, e descobrimos que ela foi a primeira de uma produção limitada de 100 exemplares. Ou seja: ainda poderemos ter uma expansão desse quadro com as outras 99.

Brincadeiras à parte, é importante ressaltar que este novo capítulo é eficiente dentro do que se propõe a fazer. Como é comum nesse universo (sim, já falam em universo compartilhado, igual aos dos quadrinhos), os cantos escuros de um casarão são bem explorados. O diretor David F. Sandberg também foi feliz em seu longa anterior, Quando as Luzes Se Apagam (2016), especialmente nesse quesito. Ele sabe bem criar um clima de suspense e explorar os elementos sobrenaturais da trama, alternando passagens bem tensas e sustos fáceis, daqueles anunciados pela trilha sonora. Ajuda muito também ter o mesmo roteirista do longa anterior, Gary Dauberman, que se mostra bem à vontade – e escreveu também o inédito longa solo da freira demoníaca, que faz aqui uma pontinha.

Muito lembrado pelo jovem cult Sexo, Rock e Confusão (Empire Records, 1995), e mais recentemente pela série Without a Trace, Anthony LaPaglia (acima) vive o artesão que cria a boneca e presenteia a filha com ela. Não vamos entrar na discussão do mau gosto do sujeito, ou talvez da falta de habilidade com rostos. A questão é que logo a tragédia chega na família, e eles se retiram da vida em comunidade por anos. O fechamento de um orfanato é a oportunidade deles fazerem o bem, e recebem em casa uma freira e as crianças sob a tutela dela. A esposa reclusa é vivida pela competente Miranda Otto (de Frankenstein: Entre Anjos e Demônios, 2014), e há ainda uma curta participação de Brad Greenquist, conhecido dos fãs do gênero como o menino morto-vivo do cartaz de O Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989).

Com pouco tempo no casarão, as meninas começam a notar fenômenos estranhos – dos mais discretos aos apelativos. E, como poucos diretores têm coragem de fazer, Sandberg parece ir progressivamente perdendo os freios, levando o terror aos extremos. Nada muito diferente dos demais filmes-irmãos, todos variando pouco quanto à qualidade. E, falando em pontos positivos, o elenco jovem é bem sucedido, com destaque para Lulu Wilson, que já havia chamado a atenção em uma pré-continuação de terror, Ouija: Origem do Mal (2016). Stephanie Sigman, a freira Charlotte, é outra que vem dando seus pulos, como em 007 Contra Spectre (2015), Narcos e Shimmer Lake (2017).

Todo o elenco funciona bem

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Conheça Friends From College, Ozark e Atypical

por Marcelo Seabra

A Netflix segue lançando obras num ritmo maior do que muita gente dá conta de acompanhar. Quando se fala em séries, então, é mais complicado, já que elas exigem mais tempo de dedicação. Talvez por perceber essa dificuldade com relação a tempo, a empresa esteja criando séries mais curtas, com menos episódios. É o caso de três novas atrações, que fogem dos números habituais de episódios: ao invés dos mais de 20 dos canais abertos, ou dos 13 da TV a cabo, elas têm vindo com 10 ou menos. Mesmo assim, é bom saber que não são todas dignas do seu tempo, algumas devem ser abandonadas tão logo se comprove sua chatice.

Para citar de cara a única desse pacote que não merece que seja acompanhada, começamos com Friends From College. Com todos os rápidos 10 episódios dirigidos e três escritos por Nicholas Stoller (que estreou no Cinema com Ressaca de Amor, 2008), a série foi criada por ele e Francesca Delbanco (atriz em Ressaca). E o grande chamariz, usado nas peças publicitárias, é a presença de Cobie Smulders, uma das protagonistas do sucesso How I Met Your Mother. E bem poderia ser Fred Savage, o sumido ator mais conhecido como o Kevin Arnold de Anos Incríveis (ou Wonder Years). Ou mesmo Keegan-Michael Key (de Tinha Que Ser Ele, 2016), que inventou de ser cômico e tenta nos convencer disso.

Como o nome já diz, somos apresentados a ex-colegas de faculdade que costumavam ser muito próximos e a vida tratou de afastá-los. Com a volta do casal principal para a cidade onde os outros moram, os reencontros e festinhas se tornam mais frequentes, o que traz de volta os ranços e ressentimentos de antigamente. Não chega a ser dramática, tampouco é engraçada. Reuniram um bando de personagens enfadonhos, nenhum com carisma suficiente para carregar a atração, e eles não avançam em direção alguma. A vida é curta para seguir algo como Friends From College.

Uma série mais bem sucedida é Ozark, também estrelada por um nome ligado à comédia. Jason Bateman, de Arrested Development e filmes como A Última Ressaca do Ano (2016), parte para algo bem mais sombrio do que costuma fazer. E ajuda muito ter alguém do porte da ótima Laura Linney (de Animais Noturnos, 2016) ao lado, além de um coadjuvante de luxo como Peter Mullan (de Cavalo de Guerra, 2011). O próprio Bateman dirige quatro dos 10 episódios e os criadores são Mark Williams e Bill Dubuque, roteiristas de O Contador (2016).

Nos primeiros minutos de Ozark, descobrimos que o casamento dos Byrde está em frangalhos e Marty ainda tem problemas no trabalho, que é nada menos que lavar dinheiro para um cartel de drogas mexicano. Para evitar um problema maior, como perder a vida, Marty pega os filhos e a esposa e vai para a região do lago de Ozark, onde terá que conseguir negócios de fachada para lavar milhões em tempo recorde. E ele logo descobre os podres que toda cidadezinha parece esconder.

As peças em Ozark são bem encaixadas. Não é nada tão chocante quanto Breaking Bad, ou espetacular quanto Game of Thrones. É uma trama pé no chão, ancorada por um elenco muito equilibrado, que mantém o suspense de tal forma que fica difícil ver um episódio por vez. Apesar de cada um durar quase uma hora, eles passam rápido, e as situações parecem cada vez mais complicadas.

Uma série que consegue ser engraçada sem fazer esforço é a novidade mais recente do serviço de streaming: Atypical. Depois de trazer os holofotes para uma colegial suicida e para uma anoréxica, o próximo tabu que a Netflix enfrenta é o autismo. Mais uma vez aparentemente voltada para o público adolescente, a obra traz uma visão leve sobre a vida de um rapaz diagnosticado dentro do espectro do autismo. Ele tem crises esporádicas, uma mãe dedicada no limite da obsessão e tudo que quer é uma vida normal. Mas o que é ser normal? Esta é uma grande questão a ser trabalhada aqui.

No papel principal, Keir Gilchrist (de Corrente de Mal, 2014) demonstra ter feito seu dever de casa. Ele parece entender bem do assunto, com reações muito naturais e condizentes com a situação. Seus pais são vividos por ninguém menos que a excepcional Jennifer Jason Leigh (de Os Oito Odiados, 2015) e Michael Rapaport (de Sully, 2016), além de um elenco de apoio muito competente. O grande trunfo de Atypical é tratar do assunto de frente, expondo as hipocrisias, as dificuldades e os momentos mais sensíveis. Sam, o tal rapaz autista, só quer ser aceito e passa pelas mesmas situações que qualquer um aos 18 anos, talvez com alguns agravantes. E a série sempre o respeita, e trata com igual consideração os dramas dos outros personagens.

O elenco todo se reuniu para o lançamento de Atypical

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Selton Mello lança O Filme da Minha Vida

por Marcelo Seabra

Nas Serras Gaúchas, um jovem vive as angústias comuns da vida enquanto imagina por onde anda o pai, que se foi. Essa é a trama de O Filme da Minha Vida (2017), novo trabalho de Selton Mello como diretor e roteirista. Mello foi escolhido a dedo pelo escritor Antonio Skármeta para cuidar da adaptação do livro, trazendo a trama para o Brasil, ao invés do Chile do autor. E o resultado é uma obra sensível, esteticamente perfeita e com alguns problemas de roteiro que se tornam maiores quando se pensa mais a respeito.

Seis anos após o elogiado O Palhaço (2011), Mello volta a escrever com seu colaborador, Marcelo Vindicato. E o tom é bem próximo: há uma nostalgia quase palpável. Se o longa anterior fazia uma homenagem ao circo e a seus integrantes, o alvo desse é o próprio Cinema. Mas o assunto é mais abrangente, englobando as relações familiares, os medos da adolescência e o início da vida adulta. E há ainda uma espécie de tributo sentimental ao veterano Rolando Boldrin, que não participava de um longa desde O Tronco, de 1999, e ganha aqui um papel bem simbólico.

Johnny Massaro (ao lado) e Bruna Linzmeyer repetem aqui a dupla de A Frente Fria que a Chuva Traz (2015) e mostram muita química juntos, o que é essencial para que o filme funcione. E, no meio dos dois, surge a belíssima Bia Arantes (de Real, 2017), que vai complicar as coisas um pouco. E, falando em complicado, o pai do protagonista simplesmente desaparece, caindo no mundo e deixando a mãe dele triste e isolada em casa. Os atores que vivem o casal maduro são nada menos que excepcionais: Vincent Cassel (de Jason Bourne, 2016) e Ondina Clais Castilho (que trabalhou com Mello em Sessão de Terapia).

Como Skármeta (que também escreveu O Carteiro e o Poeta) confiou plenamente no diretor, foi dada liberdade para mexer no texto e o caminho seguido pode não ter sido o mais interessante. A primeira coisa que causa estranheza é o narrador ser o próprio Mello, o que dá a entender ser uma versão mais velha de Tony. Mas, aí, Mello aparece como um outro personagem. Mesmo forçando um sotaque gaúcho, reconhecemos a voz do mineiro, o que não faz sentido. E as revelações que vão aparecendo são tão frágeis que, pensando um pouco, acha-se inconsistências que incomodam.

Dois fatores que chamam muito a atenção em O Filme da Minha Vida são a fotografia e a trilha sonora. O excelente Walter Carvalho (de Heleno, 2011) tira o melhor das serras e da cidadezinha onde a história foi filmada, montando um cenário bucólico ideal ao clima do longa. E os exemplares do cancioneiro popular brasileiro substituem os clássicos chilenos do livro, se tornando mais um aspecto divertido. Tantas ótimas características, juntas, quase superam as questões problemáticas do roteiro.

Este é um exemplo de uma bela cena

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A guerra chega ao Planeta dos Macacos

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Depois de ver o surgimento de uma raça de símios inteligentes em Planeta dos Macacos: A  Origem (2011) e que o vírus da gripe símia criado então se disseminou e quase exterminou a raça humana em Planeta dos Macacos: O Confronto (2014), o terceiro capítulo da série dá continuidade a esses eventos. Agora, o confronto entre símios e humanos alcança o status de guerra generalizada.

Planeta dos Macacos: A Guerra (War for the Planet of the Apes, 2017) começa algum tempo depois do que houve em O Confronto. Como essa é uma sequência direta, parece que se passaram apenas poucos dias desde que Cesar (Andy Serkis, de Vingadores: A Era de Ultron, 2015) e seus macacos se refugiaram nas florestas ao redor de São Francisco buscando uma vida pacífica, longe dos humanos. No entanto, na medida em que os fatos são esclarecidos, podemos ver que se passaram diversos meses. Nesse meio tempo, o coronel mencionado em O Confronto, aqui vivido por Woody Harrelson (de True Detective, 2014), empreendeu uma caçada desenfreada contra os símios que, em sua visão, são os responsáveis pela dizimação da humanidade.

Após o primeiro confronto entre humanos e macacos, César decide abandonar sua decisão de apenas se defender dos ataques dos humanos para empreender uma vingança pessoal contra o Coronel. Para isso, ele contará com o apoio de Maurice (Karin Konoval, de séries como Lucifer e Bates Motel), Rocket (Terry Notary, de Kong: A Ilha da Caveira, 2016), o chimpanzé conhecido apenas como Macaco Mau (Steve Zahn, de Os Seis Ridículos, 2015) e a criança humana Nova (Amiah Miller). Contra eles, está o Coronel e uma divisão inteira do exército americano.

Planeta dos Macacos: A Guerra é um filme tecnicamente muito bem feito. A captura de movimentos, que a cada dia melhora, torna a movimentação dos macacos bastante realista e o CGI, no geral, é impecável. Com relação à trama, ela é bastante sombria e, em muitos momentos, soa maniqueísta, colocando os macacos como os injustiçados e os humanos, especialmente o Coronel, como seres movidos apenas pelo sentimento de “é matar ou morrer”.

Ao longo do filme são adicionados alguns tons de cinza, especialmente no que diz respeito às razões do Coronel tomar as atitudes que toma, mas isso não torna seu personagem menos unidimensional. Imagine o Coronel como um oficial nazista responsável por um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial e terá uma ideia do que esperar do personagem no longa. Nem mesmo as razões que o Coronel revela motivarem suas atitudes conseguem dar mais profundidade a um personagem que tem a manha de usar óculos escuros de noite e na chuva.

Uma diferença marcante de A Guerra e o Confronto é que aqui o diretor Matt Reeves (mesmo do próximo filme solo do Batman) e seu parceiro no roteiro Mark Bomback (também de O Confronto) acharam por bem inserir um alívio cômico na personagem do Macaco Mau, um chimpanzé diferente daqueles presentes na tribo de César e com os quais nos acostumamos. Infelizmente, talvez devido ao clima geral do longa, essa inclusão parece forçada e fora de lugar. Macaco Mau faz muito pouco como alívio cômico e, apesar de ter sua importância na trama, qualquer personagem com outro tipo de personalidade poderia fazer sua função. Até porque, como dito acima, tudo no longa, com raras exceções, é sombrio e sem esperança tanto para humanos como para, especialmente, os símios e não há lugar para piadas aqui.

Com momentos que remetem ao pior do que a humanidade pode produzir – com diversas referências à Segunda Guerra, inclusive na forma como alguns personagens se comportam –  e alguns easter eggs que trarão alegria aos fãs da série clássica dos anos 1960, Planeta dos Macacos: A Guerra traz muito mais ação do que os anteriores e mantém a qualidade. A falta de sutileza nas referências, como é feito constantemente com Apocalypse Now (1979), pode incomodar os mais atentos. Não é um filme muito profundo nem tampouco deve se tornar um marco do cinema, mas é bem divertido.

Andy Serkis fez novamente a captura de movimentos para Caesar

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Nem trilha descolada salva Em Ritmo de Fuga

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Baby (Ansel Elgort, da série Divergente) é um ás do volante que possui uma condição rara chamada tinido. Isso afeta seus tímpanos, fazendo com que ele escute um zunido de maneira permanente, mais ou menos o que acontece com todos nós após comparecer a um show de música. Devido a isso, Baby utiliza fones de ouvido e escuta música o tempo todo, porque isso o ajudaria a se concentrar melhor. E foi daí que a distribuidora brasileira tirou a inspiração para adaptar o título Baby Driver para Em Ritmo de Fuga (2017).

Quando era adolescente, Baby tinha o hábito de roubar carros e fazer dinheiro com eles. Apesar de isso permitir que ele se tornasse um motorista extremamente hábil, também fez com que cruzasse o caminho de Doc (Kevin Spacey, da série House of Cards). Ao contrário da maioria das pessoas de quem Baby roubou carros, Doc é um gênio criminoso especialista em ações ousadas. Ao se tornar ciente das habilidades de Baby, ele chantageia o garoto. Por um tempo indeterminado, Baby servirá de piloto de fuga das equipes que Doc contrata para seus esquemas – sempre um time diferente – até que sua dívida esteja paga.

Quando o filme começa, Baby está a um trabalho de ficar livre da vida de crimes e da dívida com Doc. Ele tem planos que envolvem arrumar um emprego de verdade e uma garota com quem dividir sua vida. A segunda parte desse plano começa a se formar quando ele conhece Debora (Lilly James, de Cinderela, 2015) em uma lanchonete.

Escrito e dirigido por Edgar Wright (roteirista de As Aventuras de Tintim, 2011, e que, por muito tempo esteve envolvido com o filme do Homem-Formiga), Em Ritmo de Fuga é um filme bastante genérico. As cenas de perseguição, tanto de carro quanto a pé, são muito bem coreografadas e o fato de se usarem efeitos práticos ao invés de CGI ajuda a torná-las mais intensas.

Fora isso, não há nada que se destaque no filme. A maioria dos personagens – o elenco principal se completa com Buddy (Jon Hamm, da série Mad Men), Bats (Jamie Foxx, de O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro), Darling (Eiza González, da série Um Drink no Inferno) e  Joseph (C.J. Jones) – é bastante rasa e suas motivações ou não são claras ou mudam de repente, sem muitas explicações. Ou, ainda, são bem unidimensionais, do tipo “eu sou criminoso porque sou criminoso”. Há uma tentativa de dar mais profundidade ao personagem de Baby adicionando eventos traumáticos em sua infância, e mesmo assim isso não ajuda a esclarecer muito sobre sua personalidade.

Um dos grandes atrativos de Em Ritmo de Fuga deveria ser a trilha sonora, que vai do pop ao rock, passando pelo jazz, blues e música clássica. Temos aqui músicas de Queen, James Brown, Ennio Morricone, The Beach Boys, The Commodores, T. Rex, Beck, Blur, R.E.M., Barry White e uma infinidade de outros. O problema é que, numa tentativa de deixar mais clara a dependência de Baby no que diz respeito à música, muitas vezes a trilha sonora é intrusiva. São poucos os momentos no filme em que não há música e isso atrapalha. E também leva a algumas perguntas, sendo a principal delas: se Baby está o tempo todo ouvindo música com fones de ouvidos, incluindo aí as reuniões onde Doc detalha os planos dos crimes que seu time irá cometer, como é que ele ainda assim consegue escutar tudo o que é dito? Nem o melhor leitor labial conseguiria guardar tantos detalhes, especialmente se, além dos fones, usa óculos escuros o tempo todo.

Em Ritmo de Fuga é um daqueles filmes bem genéricos que falham na maioria de seus aspectos. Não é de todo ruim, mas não vale o ingresso.

Wright levou o elenco para o lançamento no Reino Unido

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Christopher Nolan vai à guerra com Dunkirk

por Marcelo Seabra

O desespero. De andar na rua com soldados inimigos à espreita. De pegar um barco sem saber se ele chega ao outro lado. De pilotar um avião com todas as chances apontando para uma morte violenta. Christopher Nolan mais uma vez surpreende o público. Muda para um gênero até então inexplorado por ele, sem magia ou fantasia, e assina uma pérola chamada Dunkirk (2017). Por favor, deem um Oscar a este senhor.

Se até hoje o título de filme com a batalha mais real era de O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998), essa época passou. E há uma enorme diferença: no longa de Spielberg, a tal batalha ocupava uma sequência; no de Nolan, é o tempo todo. Sob pontos de vistas diferentes, os acontecimentos são mostrados várias vezes, uma complementando a outra e situando ainda mais o espectador e aumentando a tensão.

Algo que chama a atenção logo de cara é o desenho de som, feito com um cuidado impecável. Ele predomina em boa parte da exibição, casado com uma ótima trilha sonora (de ninguém menos que Hans Zimmer) que sabe se impor assim como praticamente some em alguns momentos. Dessa forma, não precisamos de tantos diálogos, e esse é outro presente do diretor e roteirista. O silêncio preenche bem os espaços deixados, nos levando a acompanhar aqueles jovens que se encontram num conflito do qual não há muitas chances de sair.

Dunquerque (ou Dunkerque) é uma cidade na costa norte da França situada a 10 km da Bélgica e separada da Inglaterra por uns 100 km de mar. Em 1940, ela foi palco de um episódio não muito famoso da Segunda Guerra Mundial. Não convém explicar demais, ou citar o apelido dado por Churchill a esse ocorrido. Basta dizer que franceses e ingleses estavam acuados por alemães e foi dramático. E aterrorizante. E a forma como Nolan orquestra tudo é magnífica, arrancando o melhor de todos os seus colaboradores.

Tido por seus detratores como um realizador frio, dentre outros defeitos, Nolan mostra que sabe ouvir críticas e faz seu trabalho mais emocional. Isso, em menos de 110 minutos. Mesmo que não os conheçamos a fundo, seus personagens logo caem nas graças de todos e nos vemos torcendo por eles. Mesmo porque eles representam qualquer jovem que tenha ido à guerra, tendo voltado ou não. Os atores escolhidos, muitos estreando na tela grande, até se parecem, o que aumenta essa sensação de que eles simbolizam muitos outros. Em um desses papéis, o cantor Harry Styles prova ser bem versátil.

Entre os rostos conhecidos do elenco, o destaque não poderia ir a outro que não o excepcional Mark Rylance (Oscar como coadjuvante em Ponte dos Espiões, 2015 – acima). Ele aproveita bem cada segundo em cena com expressões que nos levam a entender aquele senhor sem esforço algum. Dois vilões de Batman, velhos conhecidos de Nolan, estão muito bem: Tom Hardy (o Bane) e Cillian Murphy (o Espantalho). Há também os oficiais vividos por Kenneth Branagh (de Operação Sombra: Jack Ryan, 2014) e James D’Arcy (de O Destino de Júpiter, 2015), além da voz inconfundível e não creditada de Michael Caine (o Alfred).

Poucas vezes, os horrores da guerra ficaram tão claros e foram tão bem retratados como em Dunkirk. Com um tema sério, e tão caro aos membros mais tradicionais da Academia, não seria difícil que Nolan ganhasse seu primeiro Oscar como Melhor Diretor. E seria muito merecido – é só olhar a carreira dele. A tecnologia IMAX, aliada à bela fotografia de Hoyte Van Hoytema (de Interestelar, 2014), pode causar uma impressão forte e acobertar falta de conteúdo. Felizmente, não é o caso, e ela só acrescenta.

O terror vem de todos os lados, até de cima

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Netflix retrata a anorexia em O Mínimo para Viver

por Marcelo Seabra

Com uma frequência cada vez maior, a Netflix segue lançando obras interessantes e pautando a crítica. O Mínimo para Viver (To the Bone, 2017) é a novidade mais recente, mostrando com um olhar bem natural a vida de uma jovem com anorexia. Escrito e dirigido pela produtora veterana Marti Noxon, o filme parece ter na equipe alguém que realmente sofreu da doença, tamanha é a naturalidade com que trata o tema. E tem: a própria Noxon, além da protagonista. O problema é a falta de foco, é deixar o assunto de lado e se importar mais com uma historinha romântica meia boca.

Lily Collins, coadjuvante em Okja (2017), também da Netflix, ganha aqui o papel principal como Ellen, uma artista de 20 anos que arrisca seriamente a saúde em busca de uma magreza que nunca é suficiente. Ela parece muito doente, de tão magra, mas sua condição não permite que ela mesma veja isso. A anorexia é mostrada de uma forma bem real, e até leve, com as personagens fazendo piadas – seria Emma Stone gorda ou apenas teria os ossos largos? O tom é bem-vindo, já que um filme dessa natureza poderia ter sido algo triste e intragável, e Collins está muito bem no papel.

A família de Ellen tem suas complicações, com um pai ausente, uma mãe que mudou de estado para viver com a companheira e uma madrasta controladora. O roteiro parece querer explicar a origem da doença da garota, o que não era necessário. Do histórico dela, também sabemos pouco. O que importa, para Noxon, é este momento da jornada, é quando Ellen conhece o Dr. William Beckham, um médico muito disputado, cujos métodos parecem ser nada ortodoxos. No papel, Keanu Reeves (mais conhecido como John Wick) parece tão relaxado que é até difícil ver nele alguém que lida com a vida e possível morte de seus pacientes. Raramente o vemos trabalhando, o que complica entender também a fama de infalível do personagem.

Do meio em diante, Ellen conhece melhor os outros hóspedes da casa para onde o médico a envia, uma espécie de clínica para vítimas de distúrbios alimentares. Cada um se encaixa num estereótipo: tem uma grávida, uma que vomita tudo o que come, uma que vive num mundo de pôneis e por aí vai. As coisas se tornam enfadonhas quando ela se aproxima de um bailarino chato e insistente que se recupera de uma lesão. O ator, Alex Sharp, é um vencedor do prêmio Tony que faz sua estreia no Cinema. Ele mostra grande habilidade, mas o que lhe cabe não é uma tarefa agradável.

O Mínimo para Viver perde o foco e uma oportunidade de se aprofundar em sua protagonista, caindo na cilada dos filmes para a televisão – alcunha negativa de obras de antigamente, aquelas que normalmente vemos na TV aberta em tardes preguiçosas. Noxon e Collins reviveram alguns dos dramas de suas juventudes, mas os vários talentos empregados acabam se perdendo e o resultado não passa do mediano. Isso, sem antes 20poupar a ótima Lili Taylor (de Invocação do Mal, 2013), que passa por uma cena constrangedora de amamentação.

Noxon e Collins lançaram o longa em Sundance

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