Trapaceiro brasileiro chega às locadoras

por Marcelo Seabra

Mais um grande trabalho do ator Wagner Moura (acima), VIPs (2010) já está disponível nas locadoras. Baseado na vida e nos crimes de Marcelo Nascimento da Rocha (ainda bem que eu assino Marcelo Seabra, e não Rocha!), o longa dá uma certa romanceada em algumas passagens, mas não deixa de mostrar os momentos mais tensos, assim como os mais engraçados, da “carreira” do contraventor.

Marcelo é mostrado desde cedo imitando colegas, se mostrando extremamente versátil e passeando entre extremos, do tímido ao extrovertido. A exemplo do pai, ele pretende ser um piloto de avião e, logo que pode, foge de casa e vai buscar a sua educação em um pequeno aeroclube em Cuiabá. Com o passar do tempo, se envolve com traficantes e vai ficando conhecido no meio, ele mesmo alimentando essa fama com as histórias que inventa. Daí para enganar celebridades e freqüentar a alta roda é um pulo. É nesse momento que participa da famosa entrevista no programa de Amaury Jr. (facilmente encontrada no YouTube – clique na figura ao lado para assistir), e o apresentador faz uma participação no longa.

Assim como há uma certa relação entre o recente Assalto ao Banco Central (2011) e o inglês Efeito Dominó (The Bank Job, 2008), ambos sobre roubos extraordinários e reais a bancos, pode-se dizer o mesmo de VIPs e Prenda-me Se For Capaz (Catch Me If You Can, 2002), já que os dois acompanham os golpes de um protagonista que tem dificuldade para ser ele mesmo. Ou talvez prefira ser outro e não ter que lidar com qualquer responsabilidade. E, assim como aconteceu com Meu Nome Não É Johnny (2008), nos vemos torcendo por um pilantra, mesmo sabendo que, mais cedo ou mais tarde, ele será encarcerado.

Para quem quer saber em detalhes como são os fatos, é mais indicado que se procure pelo documentário VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso (2010), escrito e dirigido pela publicitária Mariana Caltabiano. Mais lembrada pelas histórias infantis, Mariana acompanhou Marcelo por um bom tempo e recolheu informações suficientes para o livro de não-ficção (ao lado), que também serve de fonte para o filme de Toniko Melo, outro publicitário que resolveu se enveredar pelo cinema. Com roteiro co-escrito por Thiago Dottori e Bráulio Mantovani (de Cidade de Deus, os dois Tropa de Elite e vários outros), Melo cria uma obra convencional, mas divertida, que tinha tudo para ser bem aceita pelo público, como de fato foi. VIPs ganhou prêmios no Festival de Cinema do Rio 2010, entre eles Melhor Filme e Melhor Ator.

Moura, com a difícil missão de se desvincular do memorável Capitão Nascimento, tira o papel de letra, mudando de trejeitos e de cara a todo momento. Ele traz uma leveza ao personagem que é necessária para acreditarmos em sua cara de pau, mas é igualmente competente nos momentos mais sérios. Lembra outro grande intérprete, John Malkovich, que se passava pelo cineasta Stanley Kubrick em Totalmente Kubrick (Colour Me Kubrick, 2005). Ao contrário de Prenda-me Se For Capaz, ele não tem um antagonista definido, o que pode trazer ainda mais tensão à trama, já que qualquer pessoa pode denunciá-lo, tamanha é a sua ousadia. Afinal, se passar por um rico herdeiro de uma companhia de transporte aéreo é bem arriscado, mesmo que muitos não conheçam o rosto do sujeito.

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Macaco rouba a cena e garante um bom filme

por Marcelo Seabra

 

Aonde isso tudo vai chegar nós já sabemos. Ou muitos de nós, já que o público de hoje não está muito preocupado com uma ficção-científica de 1968. O Planeta dos Macacos (Planet of the Apes) já havia dado origem a diversos filmes, a séries de televisão e até a revistas em quadrinhos. Tim Burton revisitou esse universo em 2001 e foi extremamente criticado, e a franquia parecia descansar em paz. Dez anos depois, temos o lançamento da prequel (ou pré-sequência) O Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011), um longa extremamente satisfatório e divertido.

O francês Pierre Boulle, autor do livro lançado em 1963, não poderia imaginar que a sua obra perduraria por tantas décadas no imaginário popular. O desafio desta vez, assumido pelo diretor Ruper Wyatt (de O Escapista, de 2008), é contar o início de tudo. Conhecemos o embrião daquele planeta enfrentado por Charlton Heston (o loiro acima), habitado por macacos falantes e inteligentes e humanos subdesenvolvidos, tratados como escravos e/ou animais. Uma história parecida havia sido contada em A Conquista do Planeta dos Macacos (Conquest of the Planet of the Apes, 1972), quarto filme da série, mas não se trata de uma refilmagem.

Wyatt e seus roteiristas e produtores, Rick Jaffa e Amanda Silver (que escreveram Olho por Olho, de 1996), usaram elementos clássicos para manterem as mesmas características básicas, além de poderem fazer pequenas homenagens aqui e ali. Alguns diálogos e nomes da série original aparecem, formando a ponte necessária com o que já estava estabelecido, como foi feito em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011). E, a exemplo de Batman Begins (2005), não é necessário ser iniciado na mitologia para acompanhar, como o diretor ressaltou em entrevistas. Basta acreditar no que está sendo mostrado e entrar na fantasia.

A trama acompanha Caesar, filhote de uma macaca geneticamente modificada, que já nasce com capacidades cognitivas muito além de qualquer outro animal, se aproximando dos humanos. Para poupá-lo do sacrifício, o cientista responsável pelo projeto (James Franco, da trilogia do Homem-Aranha) o leva para casa e continua envolvido com a pesquisa, observando suas ações e seu desenvolvimento por anos. Após um incidente em que Caesar demonstra a violência da qual é capaz, ele é levado a um abrigo de macacos e se vê pela primeira vez em meios a seus iguais – mas infinitamente inferiores intelectualmente. E as coisas seguem um ritmo ágil que conduz a um ótimo clímax, encaixando bem as peças e levando a um inevitável confronto.

Curiosamente, os humanos do longa são extremamente insossos. Franco, como o “pai” de Caesar, parece perder sua importância quando o macaco não está em cena. E eu sempre esperava o momento em que o ator começaria a rir: não se sabe se ele estava dormindo ou se drogando nos intervalos da produção. A bela Freida Pinto (de Quem Quer Ser um Milionário?, de 2008) é apenas um acessório e a sua relação com o personagem de Franco não convence. Tem sido complicado ver o grande John Lithgow, depois de ter vivido o assassino Trinity em Dexter (2009), fazendo outro papel, ainda mais de um ex-professor de música debilitado pelo mal de Alzheimer. E o fato de ele servir como motivação para os estudos do filho é a justificativa piegas que parece ter sido o caminho mais fácil para os roteiristas.

O destaque de O Planeta dos Macacos: A Origem é inegavelmente a atuação de Andy Serkis, que empresta seus movimentos a Caesar. O ator voltou a trabalhar com a WETA Digital, reunindo o time responsável pelo King Kong do filme de 2005 e pelo memorável Gollum da saga O Senhor dos Anéis. É impressionante a riqueza de detalhes do macaco, de seus movimentos, suas expressões faciais. Ele demonstra claramente, melhor que os humanos, o que está sentindo, e podemos apostar em qual será seu próximo passo.

Normalmente, não gosto de prequels e não vejo razão para elas existirem, como é o caso do horroroso Hannibal – A Origem do Mal (Hannibal Rising, 2007) e dos desnecessários O Exorcista – Dominion (2005) e O Início (2004). Felizmente, não é o caso aqui. Em um filme de metragem relativamente curta, 105 minutos, temos uma história enxuta e bem desenvolvida o suficiente para prender a atenção do público (e não perca a cena nos créditos). E o macaco Caesar é um dos melhores protagonistas não-humanos da história do cinema. Fica a dúvida: será que a Academia poderia indicar Serkis a um Oscar de Melhor Ator?

Caesar e Andy Serkis

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Spartacus chega ao Brasil mutilada

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Spartacus, ou Espártaco, como queiram, é, sem sombra de dúvidas, o mais famoso escravo e gladiador da história e também um dos mais famosos líderes rebeldes de todos os tempos. Sua vida e seus feitos deram origem a um sem número de produtos culturais, especialmente desde o século 19, quando intelectuais como Karl Marx o elegeram um de seus heróis.

Ao longo dos anos seguintes, a figura do ex-escravo e ex-gladiador que desafiou o Império Romano por dois anos acabou se tornando ainda mais lendária e atraiu, obviamente, a atenção do Hollywood, que recontou sua história, de uma maneira bastante romanceada e dramática, através das lentes de Stanley Kubrik no clássico de 1960, com Kirk Douglas (ao lado) no papel principal. Em janeiro de 2010, o canal norte-americano Starz trouxe às telinhas uma nova versão do mito, que chegou recentemente no Brasil – de forma “oficial”, e não através de torrents e sites de compartilhamento de arquivos – via o canal a cabo FX. Spartacus: Blood and Sand tem tudo para fazer a alegria tanto daqueles fãs de séries como Roma (HBO) quanto dos apreciadores de filmes como 300 (2006).

A série começa quando os Trácios, um povo de onde hoje seria o sul da Bulgária, se une à tropas romanas em luta contra os invasores Getae, que querem, obviamente, conquistar suas terras. Roma usa os trácios como tropa reserva, buchas de canhão mesmo. Convencido pela esposa, Claudius Glaber (Craig Parker, de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, 2002) decide reunir sua tropa, abandonar a luta contra os Getae e marchar contra o rei Mithridates. Os Trácios, no entanto, batem de frente com as ordens do Legado e, liderados por um dos homens da reserva, se rebelam e retornam para casa, para defender seus lares.

Desnecessário dizer que, mesmo conseguindo salvar sua esposa dos invasores, o líder daquela rebelião, Spartacus (Andy Whitfield, de A Clínica, de 2010), é capturado pelas tropas romanas e levado à Cápua (cidade ao sul da Itália), para ser executado na arena, em um espetáculo de sangue e morte bastante comum na Itália da época. Execuções em arenas ficaram famosas especialmente por relatos bíblicos, onde judeus e cristãos eram mortos por gladiadores e animais selvagens no Coliseu. Para o desgosto de Claudius, no entanto, o guerreiro trácio se mostra uma presa difícil. Motivado pelo desejo de rever sua esposa, Sura (Erin Cummings, da série Mad Men), o trácio, depois de apanhar bastante, mata os quatro gladiadores que seriam seus executores. Pior: ele ganha a admiração instantânea da platéia e os responsáveis pelo espetáculo não vêem outra solução além de serem misericordiosos com ele.

Dentre os convidados de honra da recepção está o lanista – designação dada a donos de escolas de gladiadores – Lentulus Batiatus (John Hanna, da trilogia A Múmia) e sua esposa, Lucretia (Lucy Lawless, a eterna Xena). Batiatus também tem ambições ao senado e acredita que fazendo um favor a Claudius, poderia suavizar a estrada para tal. Seu objetivo é simples: comprar o escravo, batizado por ele próprio como Spartacus, em referência à um antigo rei da Trácia, e oferecê-lo como “boi de piranha” nos próximos jogos de gladiadores da arena de Cápua.

Spartacus é quase que uma típica série ambientada em períodos romanos. Toda a pirotecnia que rodeia as lutas nas arenas é temperada pelas conspirações típicas que, segundo muitos, se espalhavam por todo o Império. Aqui, temos várias delas acontecendo ao mesmo tempo: Batiatus e o afetado Solonius (Craig Walsh Wrightson) disputam entre si o trono de dono do melhor Ludus; Batiatus quer um cargo no senado e não hesita em matar e enganar para conseguir seus objetivos; essa é a mesma ambição que move Lucretia a cometer atos, no mínimo, reprováveis em busca do prêmio final; há, ainda, claro, a ambição de Spartacus de ser livre e como ele consegue, aos poucos, arregimentar outros para a sua causa.

Há outros atrativos na série, já que ela brinca com personagens que, segundo as parcas fontes romanas, realmente existiram, como os gladiadores Crixus (Manu Bennett, de 30 Dias de Noite) e o “Doctore” Oenomaus (Peter Mensah, de 300). Na série, Oenomaus é um ex-gladiador que, depois de mortalmente ferido na arena, se torna o treinador de Batiatus; já Crixus é o campeão de Cápua e principal estrela do Ludus até ser substituído por Spartacus. Fontes históricas dizem que ambos se tornaram os principais comandantes do exército rebelde, ao lado do proprio Espártaco.

Além das cenas na arena, que são um espetáculo à parte, com coreografias elaboradas e toda aquela sangueira e violência gráfica que os fãs do gênero adoram, os produtores de Spartacus não têm quaisquer escrúpulos ao mostrar cenas de sexo quase explícitas. Há diversas sequências de orgias e bacanais ao longo da série. Cenas de lesbianismo e homosexualismo são comuns e há, mesmo, uma sequencia que sugere pedofilia, quando Iliythia seduz um garoto de 15 anos – segundo a série, idade na qual os romanos atingiriam a maturidade – para facilitar seus planos de vingança. Cenas de nudez frontal masculina e feminina, então, são comuns na série.

Infelizmente, para o espectador brasileiro, esse atrativo a mais foi deixado de lado. Mesmo com a série sendo transmitida às 22:00 horas de domingo, e tendo a classificação “adulto”, o FX optou por editar as cenas em que o sexo e a violência são mais gráficas, algo que, honestamente, não faz muito sentido. Deixando isso de lado, Spartacus: Blood and Sand, se tornou a série mais bem sucedida do canal Starz. Infelizmente, ao final da primeira temporada, o protagonista, Andy Whitfield, descobriu-se com câncer e o canal teve que adiar o começo das filmagens da segunda temporada. Foi feita uma série de inter-temporada com seis episódios (Spartacus: Gods of the Arena), mostrando o início do ludus de Batiatus e o campeão de Cápua que antecedera Crixus, enquanto o ator se recuperava.

Ao fim dela, no entanto, Whitfield acabou optando por não voltar à série que o deixou famoso já que o câncer, inicialmente sob controle, voltou de forma a tornar impossível a ele continuar em um papel que o exigia tanto fisicamente. Spartacus, no entanto, continua. Depois de muito procurar, os produtores contrataram o australiano Liam McIntyre (da série The Pacific) para substituir Whitfield e a segunda temporada, intitulada Spartacus: Vengeance, deve estrear nos Estados Unidos em janeiro de 2012.

Andy Whitfield, caracterizado, e Liam McIntyre

 PS ATUALIZADO: Andy Whitfield faleceu ontem, no domingo, 11/09, aos 39 anos. O ator lutava contra um linfoma de não-Hodgkin, mesmo tipo de câncer que atacou o brasileiro Reynaldo Gianecchini. O galês Whitfield morreu em Sidney, onde vivia desde 1999, e deixou esposa e dois filhos.

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Diferentes comédias povoam os cinemas

por Marcelo Seabra

Duas pré-estreias foram realizadas esta semana em Belo Horizonte e, por algum motivo, só um dos longas está em exibição. Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love, 2011) já pode ser conferido, enquanto Larry Crowne – O Amor Está de Volta (2011) ficou para o dia nove de setembro. Eu estava me perguntando como os cinemas dariam conta de tantas produções, já que Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) já estava em cartaz e outro a chegar nessa sexta foi Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011), tomando várias salas.

Se fosse para escolher entre os dois filmes, a vaga certamente seria de Amor a Toda Prova. Não sei qual foi o critério adotado, mas trata-se de uma comédia bem mais divertida, inteligente e interessante que Larry Crowne. A temática deles tem suas similaridades, já que ambos acompanham homens de meia-idade separados se recuperando de um baque. Os elencos são competentes e fazem o possível com os roteiros. No caso de Crowne, não se chega muito longe.

Além de escrever, dirigir e produzir, Tom Hanks ainda estrela Larry Crowne, vivendo um pacato funcionário de uma rede de supermercados que é demitido devido à falta de um diploma. Ele fica um tanto perdido e, correndo atrás do prejuízo, decide se matricular em algumas disciplinas em uma faculdade que parece ser freqüentada apenas por figuras estranhas e excluídas de alguma forma. E a professora da turma, uma Julia Roberts blasé e pavio curto, não está muito animada a seguir com o curso, mas acaba sendo conquistada pelas alegres figuras. Como se podia prever, um clichê.

A ideia do “feel good movie of the year” (ou filme para se sentir bem) é a melhor definição para este filme, que nunca consegue sair do morno. Não empolga ver um cara bonzinho, cercado por pessoas boazinhas, que está destinado a um futuro bom. Não há conflitos, não há nem dúvida quanto ao que vai acontecer, já que o cartaz e o subtítulo idiota tratam de adiantar tudo. E nem precisava. Há alguns bons momentos, mas nada que justifique uma sessão inteira de cinema.

A roteirista Nia Vardalos, que conhece o casal Hanks-Rita Wilson desde os tempos de Casamento Grego (My Big Fat Greek Wedding, 2002), não conseguiu emplacar mais nada desde seu grande sucesso e, em dupla com Hanks, não é melhor sucedida. Os atores fazem o que podem e Julia Roberts está mais bonita do que de costume. Os vizinhos que vendem tudo no passeio de casa não acrescentam nada, a turma de motoqueiros “do bem” não é relevante e o professor vivido por George Takei (o Sr. Sulu da série original de Star Trek) não chega a participar o tanto que merecia. Os pequenos papéis de Bryan Cranston, da premiada série Breaking Bad, Wilmer Valderrama, o Fez de That 70’s Show, e Pam Grier, que teve sua carreira revivida com Jackie Brown (1997), passam pela tela sem dizer muito.

No dia seguinte, pude assistir a Amor a Toda Prova, outro título nacional infeliz. Mas é uma surpresa grata ver o time liderado por Steve Carell (mais lembrado como o chefe de The Office – acima, com Gosling) contar uma história inteligente e engraçada que ainda consegue ser sensível e manter o bom nível, ao contrário de outras comédias por aí. Entre os nomes principais, temos Ryan Gosling, Julianne Moore, Emma Stone, Marisa Tomei e Kevin Bacon, todos impecáveis, além de uma ponta do cantor Josh Groban. E o jovem Jonah Bobo (da série The Backyardigans) rouba a cena frequentemente como o filho adolescente de Carell e Julianne.

A história começa com o casal jantando e, ao pedir a sobremesa, o personagem de Carell é surpreendido por um pedido de divórcio. Entre situações engraçadas e outras tristes, o filme se mantém plausível, quase nunca exagerando em suas coincidências. Cal Weaver, o recém-separado pai de família, não tem ideia de como é entrar em um bar e paquerar uma estranha atraente. Para dar uma mão, o conquistador vivido por Gosling se oferece para ensinar alguns truques e levantar a vida amorosa de Cal.

A dupla de diretores, Glenn Ficarra e John Requa, já havia conduzido a igualmente sombria e incomum comédia O Golpista do Ano (I Love You, Philip Morris, 2009), que merecia ter tido um pouco mais de destaque. E o roteirista Dan Fogelman escreveu também as animações Carros 1 e 2 e Bolt – Supercão, entre outros. Dá a impressão que ele resolveu partir para um humor mais adulto, sem que isso signifique distribuição de escatologia e preconceitos. E acertou bastante, criando uma comédia romântica (sim, é) bem diferente das demais, aquelas que não costumam valer um grão do sal da pipoca. Como deve ser o caso, por exemplo, do próximo trabalho da atriz Kate Hudson  (de Como Perder um Homem em 10 Dias, 2003), o já anunciado Pronta para Amar (A Little Bit of Heaven, 2011). Desse, passarei longe.

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Herói esmeralda da DC passa longe das expectativas

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Quando sobem os créditos e as luzes se acendem ao final da sessão de Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) – depois da indefectível cena escondida – aqueles mais ligados ao universo dos heróis de quadrinhos percebem que a quase total falta de nomes de criadores envolvidos com o personagem em sua mídia original – os quadrinhos – responde pelo resultado, no máximo, medíocre do longa. E, em um ano em que os personagens de quadrinhos estão em destaque no cinema, especialmente aqueles da concorrente direta da DC, a Marvel, não há como não fazer comparações. Infelizmente, para os decenautas, a Marvel, mais uma vez, supera sua concorrente.

A exemplo de personagens como o Homem de Ferro e o Thor, o Lanterna Verde é uma estrela menor no Universo DC. Personagem do time “b” da casa, mais famoso pelo fato de ser membro da Liga da Justiça – ou dos Superamigos, para os mais antigos – ele, até devido à natureza de seus poderes, seria um dos personagens com o maior potencial de gerar um filme divertido, recheado de ação e, ao mesmo tempo, reflexivo.

Se é verdade que o poder corrompe (e o poder absoluto seria pior ainda), qual seria o comportamento de um homem bem egocêntrico se fosse agraciado com a arma mais poderosa do universo, capaz de tornar qualquer coisa que sua imaginação pudesse conceber, realidade, ainda que por um curto período de tempo? Lanterna Verde, no entanto, foge desse tipo de questão – sabidamente, já que esse é um terreno pantanoso que só deve ser abordado por roteiristas muito cientes do que fazem – e se foca mais no aspecto “diversão e ação” do personagem. E nem aí ele agrada o quanto poderia. Mas vamos do começo.

O longa nos apresenta ao piloto de testes Hal Jordan (Ryan Reynolds, de Enterrado Vivo, de 2010 – ao lado), um sujeito arrogante e convencido que acaba agraciado com um anel que lhe dá poderes acima da compreensão humana. Com o anel, vem a responsabilidade: Hal faria parte de uma espécie de polícia interplanetária chamada  “Tropa dos Lanternas Verdes”. Criada por seres imortais chamados “Os Guardiões”, a tropa tem a missão de patrulhar e proteger os 3.600 setores do universo, assim divididos há milênios. Quando o lanterna verde Abin Sur (Temuera Robinson, o clone da nova trilogia de Star Wars), responsável pelo setor 2814, no qual se encontra a Terra, é morto, o anel escolhe uma pessoa íntegra para ser seu sucessor, e chega a Jordan.

Paralelamente, temos a história do cientista Hector Hammond (Peter Sarsgaard, de Educação, de 2009). Filho de um senador (Tim Robbins, Oscar por Sobre Meninos e Lobos, de 2003) e professor de ciências de uma escola de ensino médio, Hammond está destinado a coisas menores… Até que o governo dos EUA descobre o corpo de Abin Sur e o leva à uma instalação secreta. Filho de um senador, Hammond é logo convocado, graças à influência do pai, a ser a primeira pessoa a examinar o corpo do alienígena.

Há, ainda, uma terceira trama se desenrolando. Hal Jordan foi o primeiro humano a receber a responsabilidade de ser um Lanterna Verde. Sendo a humanidade a raça mais volúvel e jovem dentre todas aquelas que compõem a tropa, isso traz a desconfiança de todos sobre sua capacidade de estar à altura do poder que lhe fora confiado. Especialmente de Sinestro (Mark Strong, o vilão de Sherlock Holmes, de 2009 – ao lado), que o tempo todo duvida que Hal seja capaz de superar seu medo e se tornar um grande membro da tropa. Ele, obviamente, está errado.

Lanterna Verde é um filme que se apóia bastante nos efeitos especiais e faz isso com bastante inteligência. Martin Campbell foi o escolhido para realizar o trabalho, talvez por ter em seu histórico duas reanimadas a um dos personagens mais icônicos do cinema, James Bond (Golden Eye, de 1995, e Cassino Royale, de 2006). Pena que o diretor tenha aceitado esse trabalho simplesmente pelo cheque gordo envolvido, ele mesmo confessou que não tinha qualquer ligação com o material original. Isso faz com que a história, que, repito, tinha um grande potencial, seja capenga. Em termos comparativos, Lanterna Verde tinha as mesmas chances de ser para a DC/Warner no cinema o que o Homem de Ferro foi para a Marvel. Infelizmente, Campbell não é Jon Favreau e Ryan Reynolds – apagadíssimo – não é nenhum Robert Downey Jr.

Outro ponto negativo do filme é o mencionado no início do texto. Quando assistimos a filmes dos estúdios Marvel, há sempre a presença de nomes envolvidos nos quadrinhos na equipe de produção das adaptações. Seja como roteiristas – no caso de Thor – ou como consultores – no caso de Capitão América, só pra citar os dois mais recentes – eles estão lá e garantem essa conexão entre o material original e a adaptação. Em Lanterna Verde, apesar de um dos roteiristas ter também se envolvido com quadrinhos (Marc Guggenheim escreveu gibis do Homem-Aranha e de Wolverine para – quem diria? – a Marvel) e da presença na produção de Geoff Johns – escritor que foi responsável justamente por revitalizar o Lanterna Verde nos quadrinhos – essa conexão não aparece.

Não é pra dizer que tudo aqui é ruim. A construção do planeta Oa – lar da tropa – e os efeitos especiais ficaram visualmente fantásticos. O 3D, aqui, se justifica. Mas é só. E isso é pouco quando a história e a construção dos personagens não ajuda. Lanterna Verde acaba sendo um filme relativamente divertido, mas logo esquecível. Pelo menos, os fãs do personagem podem se contentar com a animação Lanterna Verde: Primeiro Vôo (First Flight, 2009). Lançado em 2009, o longa conta uma história de origem do Lanterna Verde de maneira muito mais competente e mesmo divertida do que este live action.

Jordan e Sinestro em Primeiro Vôo

– Curiosidades:

– Uma das responsáveis pela autópsia de Abin Sur é Amanda Waller (Angela Bassett, de Notorious). Ela é uma personagem de grande importância no universo DC, sendo conhecida como a mente por trás do Esquadrão Suicida, uma equipe formada por criminosos que trabalha em missões quase impossíveis em troca da redução de suas penas. Encarregada muitas vezes de fazer o trabalho de conexão entre as equipes de heróis da DC e o governo, ela já teve aparições em séries animadas e em Smallville;

– A Carol Ferris do filme (vivida por Blake Lively, de Atração Perigosa, de 2010 – ao lado), ao contrário de sua versão nos quadrinhos, é uma piloto com bastante experiência. Seu codinome, Safira, é uma referência direta aos quadrinhos, já que, em determinado momento, Carol é dominada pela entidade conhecida como Safira Estrela e se torna uma das grandes inimigas do Lanterna Verde.

– Hal Jordan foi o primeiro Lanterna Verde humano ligado à tropa, mas não o primeiro a ostentar um anel baseado em energia verde. Na década de 1940, a DC já havia criado um herói baseado – levemente – no mesmo conceito. Inicialmente chamado Lanterna Verde, ele recentemente adotou a alcunha de Sentinela.

– A origem do Lanterna Verde Hal Jordan foi recontada diversas vezes. A melhor delas foi publicada no Brasil em 1991, pela editora Abril Jovem, na revista DC Especial 2: Amanhecer Esmeralda.

– Outra aventura dos Lanternas Verdes pode ser conferida em Cavaleiros Esmeralda (Green Lantern: Emerald Knights, 2011 – abaixo), uma animação mais recente que não se limita a acompanhar apenas Hal Jordan, contando histórias que envolvem vários de seus colegas.

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Abrams e Spielberg criam ótima diversão

por Marcelo Seabra

Não sei aonde li que Super 8 (2011) era um filme para adolescentes. O veículo não podia estar mais errado. Um filme ser protagonizado por adolescentes não os torna público-alvo. Para uma aventura pueril (e divertida) como Os Goonies (1985), pode ser o caso. Mas, para Conta Comigo (Stand By Me, 1986), por exemplo, não passa perto. Trata-se de um drama sobre crescimento, sobre vencer adversidades e sobre amizade. O mesmo vale para Super 8, que acrescenta um mistério que une os garotos e acaba envolvendo a cidade toda, no melhor estilo de Steven Spielberg, com um único porém: não é dele.

A direção e roteiro de Super 8 estão nas mãos competentes de J. J. Abrams, o Midas por trás das séries Lost, Fringe, Alias e Felicity, além dos longas Missão: Impossível 3 (Mission: Impossible 3, 2006) e Star Trek (2009). Aqui, ele decide imprimir um sentimento nostálgico fazendo um filme passado em 1979, em uma cidadezinha do interior norte-americano, quando ainda se usava a saudosa câmera super 8 (ao lado), formato que permitia mais qualidade que o já clássico 8 mm. Com direito a trilha sonora escolhida a dedo, com Electric Light Orchestra, The Commodores, The Cars, Blondie e The Knack, para ficar nas bandas principais.

Mas a figura do produtor Spielberg também é bem forte, não se sabe se por sua atuação direta ou se pela homenagem que Abrams queria lhe prestar. Afinal, filmes como Contatos Imediatos de Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind, 1977), E.T. (1982) ou o já citado Goonies vêm à mente em algumas cenas, ou mesmo por certas ideias no roteiro. Mas o que realmente importa é que a diversão que ambos os diretores costumam proporcionar com seus filmes está lá.

Na história, um grupo de garotos (cada um com a sua personalidade bem definida – acima) está produzindo um curta-metragem para participarem de um festival de cinema. Em uma noite, quando todos se encontram em uma casa abandonada para gravarem umas cenas, um acidente de enormes proporções acontece. A partir daí, coisas estranhas começam a acontecer pela cidade e só eles têm uma melhor noção do que pode estar havendo.

Além dessa trama básica, o diretor e roteirista toma o cuidado de construir os personagens para que possamos entender seus conflitos e torcer para eles, como ele deixa claro através do personagem Charles (Riley Griffiths), o mandão diretor do curta. Afinal, dar uma esposa para o tal detetive era dar uma dimensão mais trágica a ele, o que levaria a criar mais laços com o público. E os garotos, grandes atrações, seguram bem as pontas, encabeçados por Joel Courtney, já estrela de uma nova adaptação de Tom Sawyer & Huckleberry Finn. O nome mais famoso dentre eles é o de Elle Fanning, que conta com uma relativamente longa carreira, incluindo a série Taken, também produzida por Spielberg.

Na parte adulta do elenco, destaca-se Kyle Chandler, o vice-chefe de polícia, que fazia a série Early Edition entre 1996 e 2000, seguiu com Friday Night Lights e participou de filmes como King Kong (2005). Ron Eldard, das séries Plantão Médico (1995-1996) e Men Behaving Badly (1996-1997), aparece meio disfarçado de hippie como o pai de Elle, enquanto o papel de vilão militar fica com o limitado Noah Emmerich, dos recentes Força Policial (Pride and Glory, 2008) e Pecados Íntimos (Little Children, 2006). Para os fãs de Os Simpsons, fica uma curiosidade: ver, mesmo que em uma ponta como um vendedor de carros, o dublador Dan Castellaneta, que dá voz a Homer, Barney, Vovô, Krusty, entre vários outros.

Para quem gosta dos bons momentos de Spielberg e confia no talento de Abrams, Super 8 é um prato feito. Nada de altas filosofias ou elucubrações: uma aventura divertida, sensível e bem feita com a assinatura dos dois. E isso não é pouca coisa.

E não deixe de acompanhar os engraçados créditos finais

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Detetive dos quadrinhos decepciona no cinema

por Marcelo Seabra

Após tentar ser Superman (em Superman – O Retorno, de 2006) – e falhar feio – Brandon Routh tenta ser o investigador dos quadrinhos italianos na nova comédia policial Dylan Dog e as Criaturas da Noite (Dylan Dog – Dead of Night, 2010). Quanto tempo vão gastar antes que Routh volte a fazer novelas americanas e ninguém mais tenha notícias dele?

O ator tenta desesperadamente parecer cool na pele de Dylan Dog, um detetive particular que há muito se envolveu com o submundo da noite da Louisiana, trabalhando com e para zumbis, lobisomens e vampiros, entre outras aberrações. A coisa chega a tal extremo que até o próprio protagonista se questiona, em determinado momento, se sobrou algum humano na cidade, já que todos parecem ser mortos-vivos.

Ao investigar o assassinato de um exportador, Dog percebe que o caso vai envolver as criaturas que ele decidiu evitar e recusa. Mas, como de costume, ele não consegue sair em tempo e acaba de volta a aquele mundo. O fato da filha da vítima ser uma bela herdeira (a loirinha genérica Anita Briem, de The Tudors) complica mais a situação. Ao longo da história, ainda descobrimos o que fez com que Dylan passasse a investigar casos mais tradicionais, voltando aos clientes com pulso.

Routh não consegue trazer ao personagem a seriedade e a sensação de perigo necessários. Você sabe que, por mais que ele seja arremessado de um lado para o outro, nada de grave vai acontecer. As piadas não funcionam e a parceria com Sam Huntington (o Jimmy Olsen de Superman – O Retorno) novamente se mostra desequilibrada. Peter Stormare volta ao tipo mau e ameaçador, mas teve um resultado muito superior quando viveu o próprio Satã em Constantine (2005). Este, inclusive, é um investigador do paranormal que, apesar de pouquíssimo fiel aos quadrinhos da Vertigo, acabou tendo um resultado anos luz à frente de Dog.

Com seu primeiro longa com live action, Kevin Munroe não mostra serviço e prova que talvez teria sido melhor ficar com animações, como fez com As Tartarugas Ninja – O Retorno, de 2007. E a dupla de roteiristas Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer prova mais uma vez, tendo Sahara (2005) e O Som do Trovão (A Sound of Thunder, 2005) no currículo, que deveria procurar outra área de atividades. Ao que tudo indica, o novo Conan, O Bárbaro, também assinado pelos dois, vai pelo mesmo caminho.

Para ter um programa divertido por uma hora e meia, é bem mais interessante recorrer a “clássicos” como Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice, 1988), Os Espíritos (The Frighteners, 1996) ou A Hora do Espanto (Fright Night, 1985). Ou mesmo o já citado Constantine. Para um compromisso de longo prazo, pegue a primeira temporada de True Blood, série da HBO ambientada na mesma região, mas com um clima muito mais picante. Não sou familiarizado com o trabalho do italiano Tiziano Sclavi, criador de Dylan Dog, e, no que depender desse filme, vou continuar assim.

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Novo trabalho de Terrence Malick é acima da média

por Marcelo Seabra

Para começo de conversa, A Árvore da Vida (Tree of Life, 2011) não é um filme muito fácil. De entender, de escrever sobre, de digerir. Pretensioso, sim. Bastante, até. Em certos momentos, as coisas ficam meio confusas, e algumas pessoas iam deixando a sala. Afinal, não é qualquer um que está preparado para conferir a visão do megalomaníaco Terrence Malick sobre a insignificância de uma família frente à evolução humana.

Velhas perguntas, como “Pra onde vamos?” e “O que fazemos aqui?”, movem a trama, que quase não anda. Malick, com quase 40 anos de carreira, dirige seu quinto longa. Talvez, para compensar esse pequeno volume de histórias contadas, decide abarcar logo toda a cronologia da vida na Terra. Desta forma, uma das interpretações possíveis é que, embora muito queridos e valiosos para nossos entes próximos, não somos nada para a natureza ou para Deus. Se morre uma criança, que diferença faz para o universo?

Alguns críticos de cinema chegaram a considerar a obra uma defesa do cristianismo, quando, na verdade, ela não toma partido. Deus é sempre mencionado, questionado, provocado. Mas não temos uma prova de Sua manifestação. A não ser pela própria evolução, que por si só já poderia provar alguma coisa. Ou não. Quanto a isso, obviamente ficamos na mesma, e o diretor é sábio ao tomar essa decisão e evitar fazer um filme panfletário para um lado ou outro.

Falar em história é complicado. É como se Malick tivesse escrito um livro, tirado algumas partes e misturado as que sobraram. Não há exatamente um objetivo, a câmera se limita a revelar dias de verão nas vidas de uma família formada pelo casal O’Brien (Brad Pitt e Jessica Chastain – ao lado) e seus três filhos, todos em idade escolar. O pai é um militar linha dura que tem seus momentos de delicadeza, mostrando querer disciplinar os filhos e prepará-los para o mundo, o que não significa que ele não cometa erros e exagere aqui ou ali. A mãe é a personificação do amor, a figura que os une e traz harmonia ao lar. E os meninos fazem o que meninos fazem: brincam, obedecem, questionam, têm conflitos, se rebelam.

Jack, o filho mais velho, é o condutor da trama, já que tudo tem início quando sua versão mais velha, vivida pelo duplamente oscarizado Sean Penn (Sobre Meninos e Lobos, de 2003, e Milk, de 2008), parece passar por uma crise. Procurando fazer as pazes com seu pai, ele começa a relembrar momentos de sua infância e ocasiões marcantes, como uma morte na família ou os embates que teve com o pai. Enquanto isso, para provar que somos apenas poeira no cosmos, o diretor insere imagens da criação da vida e dos passos seguintes. Tudo supervisionado pelo veterano Douglas Trumbull, do igualmente pretensioso e hiperbólico 2001 – Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968) e de Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982), entre outros. O que não deixa de lembrar programas do Discovery Channel, ou documentários da BBC que a TV brasileira reproduz, que têm atingido um alto nível de qualidade.

No que diz respeito às relações familiares, A Árvore da Vida vai aonde muitos outros já foram, mesmo que de forma poética e bem sustentada por seus atores – destaque para o casal Pitt, ator mais do que estabelecido, e Jessica, que se mostra uma grata surpresa: eles evitam estereótipos e criam pessoas críveis, pais que qualquer um que cresceu numa cidadezinha dos EUA, nos anos 50, conhece. Igualmente competentes são os atores mirins, Hunter McCracken, Laramie Eppler e Tye Sheridan, todos iniciantes. A fotografia é um show à parte, cortesia do mexicano Emmanuel Lubezki, que acrescenta mais um grande trabalho a uma filmografia marcante, que inclui Filhos da Esperança (Children of Men, 2006) e Encontro Marcado (Meet Joe Black, 1998), este também com Pitt. O diretor de fotografia ressalta elementos importantes à história e à simbologia empregada, e muito significado pode passar batido. Mas isso não impede o público de apreciar as belas imagens e os enquadramentos inusitados e surpreendentes.

Com todas as suas qualidades, o longa não deixa de ser cansativo. Mas é interessante e bonito o suficiente para merecer uma conferida, ao contrário do insuportável Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line, 1998), terceiro trabalho da lista de Malick (ao lado, em sua única foto divulgada). Só tenha certeza de ir ao cinema em um dia tranqüilo, descansado. E ignore as manifestações ao seu redor, já que até hoje as pessoas escolhem o filme que verão totalmente no escuro, sem saber do que se trata – e frequentemente se decepcionam.

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Vida longa ao Morcego!

por Marcelo Seabra

Acho engraçado como tem gente que desconhece a carreira no cinema de determinados personagens que lhe agradaram. Não que suas vidas sejam alteradas por isso. Mas é interessante, ao ver certo filme, saber que aquele universo aparece também em outras produções. É o caso, por exemplo, de Philip Marlowe, protagonista de À Beira do Abismo e outras histórias de Raymond Chandler que foram levadas à tela grande.

O fechamento da trilogia de Christopher Nolan se aproxima e aproveito para dar uma conferida nas aventuras do Batman, meu herói de quadrinhos favorito. E elas remontam a 1943 (ao lado), quando o mascarado deu seus primeiros pulos contra um certo Dr. Daka, um japonês maléfico nos idos da Segunda Guerra Mundial. Em 1949, novos episódios, com um elenco diferente, colocaram a dupla dinâmica contra um tal Wizard (ou Mago). Eram episódios curtos apresentados antes da atração principal, que normalmente terminavam em um gancho, um momento de tensão. O público tinha que aguardar a próxima exibição para conferir a resolução do problema.

Em 1966, a Fox decidiu levar ao cinema a série kitsch estrelada por Adam West e Burt Ward, muito lembrada por aquela dança ridícula do redondo West. Aproveitando a oportunidade, os roteiristas acharam melhor, para garantir o público, jogar logo quatro vilões e deixar as coisas mais complicadas para a dupla. Foram convidados Cesar Romero (o Coringa), Burgess Meredith (Pingüim), Lee Meriwether (Mulher-Gato) e Frank Gorshin (o Charada), todos mais do que acostumados a seus papéis com exceção de Lee, que substituiu a original, Julie Newmar, que tinha assumido outros compromissos. O próprio Adam West quase foi trocado, após pedir um substancial aumento de salário, como conta em sua autobiografia.

Os produtores Michael Uslan e Benjamin Melniker decidiram fazer uma abordagem mais sombria de Batman em 1979, quando os quadrinhos estavam vendendo bem. E o Superman de Richard Donner tinha tido um ótimo desempenho em 1978, o que serviu de incentivo. Para Uslan, seria voltar ao que os criadores, Bob Kane e Bill Finger, tinham imaginado, “uma criatura da noite espreitando os criminosos nas sombras”. Entre várias pessoas que estiveram ligadas a esta produção, o roteirista Tom Mankiewicz, responsável por três longas de James Bond, foi o que ficou firme por mais tempo, e iria trabalhar com diretores como Ivan Reitman (que faria Os Caça-Fantasmas em 1984) e Joe Dante (que seguiu para Gremlins, em 1984). Uslan queria um ator desconhecido para ser Batman e contrataria William Holden para viver James Gordon e David Niven para fazer o mordomo Alfred. O problema é que os veteranos morreram antes de alguma coisa acontecer.

Só em 1986, Tim Burton assumiu o projeto e começou a encomendar novas versões do roteiro, que foi definido por Sam Hamm. Com problemas com o sindicato, Hamm abandonou Burton e o roteiro foi novamente reescrito. Depois de pensarem em vários atores famosos, a contratação de Michael Keaton deixou todos apreensivos, por se tratar de uma cara famosa nas comédias. Jack Nicholson, já estabelecido como um grande nome de sua geração (e todas as outras), só aceitou viver o Coringa se ficasse com parte da bilheteria, e acabou levando algo em torno de U$ 50 milhões.

Com um faturamento respeitável de U$ 400 milhões, Batman (1989), cercado pela grande expectativa gerada por uma massiva campanha de marketing, inaugurou uma era de super-heróis no cinema. E marcou época, definindo o tom mais sombrio das adaptações de quadrinhos que viriam adiante. Isso, apesar do mundo imaginado por Burton ser bem irreal, com inspiração gótica e cartunesca. Gotham City nunca foi tão suja e opressora! Em 1992, Michael Keaton voltou a atacar atrás da máscara, enfrentando o Pingüim de Danny De Vito e a Mulher-Gato Michelle Pfeiffer, vilões quase tão marcantes quanto o Coringa de Nicholson.

O que veio em seguida foi uma brincadeira de mau gosto, inutilizando, para futuras produções, personagens com grande potencial, como o Charada (Jim Carrey) e o Duas Caras (Tommy Lee Jones). Michael Keaton não gostou do caminho seguido e Val Kilmer assumiu o manto. Joel Schumacher, que só faz bons filmes se o orçamento for pequeno, não soube o que fazer com os milhões que tinha em mãos. Aí, sim, começou a queda do morcego.

Até o gigantesco Bane (que quebrou a espinha de Bruce Wayne nas revistas) apareceu no quarto filme (ao lado), um ser burro, verde e constantemente dopado por uma substância que o fazia ajudar Hera Venenosa (Uma Thurman) com mais eficiência. E o que dizer de Arnold Schwarzenegger como Sr. Frio, um cientista trágico que bem poderia ter sido vivido por Sir Ben Kingsley? O uso de parceiros para Batman, Robin (Chris O’Donnel) e Batgirl (Alicia Silverstone), também não foi bem aceito pelos fãs, apesar de ter sido, dos males, o menor. Isso, para não entrar em muitos detalhes, como o bat-cartão ou os bat-mamilos da armadura usada pelo milionário.

Batman & Robin data de 1997 e marca o enterro do herói para Hollywood. Usando cores berrantes e escolhas duvidosas para ambientação, elenco e trama, Schumacher foi apontado como o responsável pela sumida do herói. A culpa sobrou até para George Clooney, intérprete de um Bruce Wayne simpático, que em nada lembrava o sujeito eternamente atormentado pela perda dos pais. Mesmo ganhando muito dinheiro (é o Batman!), é o live action do personagem que menos faturou. O próprio Clooney chamou a obra de “uma perda de dinheiro” e a renega.

As coisas precisaram se acalmar depois de Batman & Robin. Alguns desenhos, curtas de fãs e planos e mais planos abandonados, as preces dos fãs de quadrinhos foram ouvidas. Christian Bale (ao lado), que viveu um perfeito Patrick Bateman em O Psicopata Americano, entre outros papéis marcantes, assumiu a responsabilidade de viver Bruce Wayne e seu alter-ego. E o diretor Christopher Nolan, responsável pelos grandes policiais Amnésia e Insônia, cercou Bale de um elenco estelar, que trouxe Liam Neeson, Michael Caine, Gary Oldman, Morgan Freeman, Tom Wilkinson, entre outros.

Em Batman Begins, de 2005, acompanhamos uma espécie de “Ano Um” do personagem: suas origens, sua motivação e treinamento. Ele enfrenta antagonistas cujas aparições fazem sentido, não são meras distrações para que se chegue ao inevitável final feliz. Begins conta a história de um homem que quer se tornar um símbolo do combate ao crime, devolvendo Gotham City aos seus pobres cidadãos. O nível de criminalidade da cidade é tão alto que as pessoas se acostumaram a serem assaltadas, e foi exatamente esse problema que tirou Bruce Wayne de seus pais.

Tim Burton, assim como Richard Donner, tem todo o mérito por ter dado um enfoque menos infantil a histórias de super-heróis. Os dois são constantemente tidos como os responsáveis pela valorização desse tipo de produção. Mas, mesmo tentando atrair um público mais adulto, os longas ainda eram bem fantasiosos, com situações totalmente inverossímeis. Com essa nova proposta, temos atos e conseqüências que, de tão plausíveis, até surpreendem. O espectador chega a temer pela integridade física e psicológica dos personagens, já que realmente não dá para prever o que acontecerá com eles.

Nunca se tratou tão bem as adaptações cinematográficas de histórias em quadrinhos. É o que fica atestado ao final da sessão de Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008). Qualquer desavisado ficará maravilhado com o que fizeram os irmãos Nolan, que escreveram o roteiro com ajuda de David S. Goyer. Não é problema tecer vários elogios, já que todos serão devidos. Acima de tudo, é um filme corajoso, que toma os rumos necessários para uma conclusão mais que satisfatória.

O Coringa de Heath Ledger é tudo o que um psicopata do cinema precisa ser: aparentemente louco, com o simples propósito de trazer o caos à cidade. E, mesmo afirmando não fazer planos, ele tem uma ótima estratégia, que remonta diretamente à Graphic Novel A Piada Mortal, de 1988. Como já aconteceu em diversas edições, sua origem nunca fica clara, já que o próprio Coringa brinca com supostos fatos de sua vida pregressa. Essa foi a escolha de Nolan para ter um personagem “absoluto”, o que lhe confere imenso charme e mistério. Da história O Longo Dia das Bruxas, foram tiradas várias idéias para o Duas-Caras de Aaron Eckhart , inclusive o slogan usado na campanha promocional do longa: “Eu acredito em Harvey Dent”.

Para fechar a trilogia, já que Nolan anunciou há muito tempo que ficaria só em três, teremos Bane (Tom Hardy) e a Mulher-Gato (Anne Hathaway) aparentemente como os vilões. Com fotos e cartazes, mais uma vez Nolan consegue criar expectativa. Os próprios atores fazem questão de ressaltar o tanto que o diretor e roteirista é um gênio e “está fazendo coisas insanas”, como afirma Anne. Temos que aguentar até 27 de julho de 2012, uma semana após a estreia nos EUA, para conferir The Dark Knight Rises. Cada dia esperado vai valer a pena.

E este é o Bane de Tom Hardy

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Comédia agrada sem baixar o nível

por Marcelo Seabra

Depois de ver Cilada.com no cinema, eu bem que merecia ver uma boa comédia. E eis que surge Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses, 2011), que estreou na última sexta-feira e tem uns nomes interessantes no elenco. Além, claro, de participações especiais que prometiam, já que os três chefes do título são vividos pelo “psicopata” Kevin Spacey (Oscar por Beleza Americana e Os Suspeitos), a “tarada” Jennifer Aniston (a Rachel de Friends) e o “idiota” Colin Farrell (de Alexandre e Miami Vice).

Os três protagonistas são amigos de longa data que são vítimas de seus chefes. Jason Bateman (da série Arrested Development e do recente Coincidências do Amor) é funcionário do maníaco Harken (Spacey) e vê sua oportunidade de promoção dar adeus. Jason Sudeikis (do Saturday Night Live e Passe Livre) adora seu chefe (uma ponta de Donald Sutherland), que morre e o deixa sob o comando do filho viciado, Bobby Pellitt (Farrell). E Charlie Day (da série It’s Always Sunny in Philadelphia) auxilia a dentista devoradora de homens Julia Harris (Aniston) e é constantemente assediado por ela. E ainda é sacaneado pelos amigos, que não consideram isso um problema.

Com a exceção de Day, com um histrionismo acima do necessário, o elenco está muito bem. Bateman é o cara maduro, que tenta manter os pés no chão. E Sudeikis traz um toque infantil ao trio, como um machão que não é exatamente maduro. Os três chefes representam o horror de qualquer trabalhador, e Spacey toma a frente, roubando a cena sempre que aparece; Aniston desenvolve um lado sexy que não costuma aparecer nas comédias bobinhas que estrela; e Farrell, com uma maquiagem que acaba com seu visual (ao lado), é um perfeito estúpido, e não tem receio nenhum de brincar com a sua persona de galã. E tenho que lembrar de Jamie Foxx (Oscar por Ray), que faz um típico oportunista barra-pesada e se mostra bastante à vontade no papel.

Quando se vêem sem saída, os três começam a considerar a possibilidade de matar os chefes. E aí, obviamente, seguem-se planos mirabolantes que não costumam dar certo. E as piadas, politicamente corretas ou não, estão perfeitamente dentro do contexto, em situações verossímeis que dão a impressão de que qualquer um poderia estar ali. É ótimo assistir a uma comédia que consegue manter o nível praticamente o tempo todo, fazendo graça com as situações, sem precisar, por exemplo, explorar partes supostamente engraçadas do corpo, como no já citado Cilada.com ou em Se Beber, Não Case II (The Hangover II, 2011).

Em pouco tempo de exibição, Quero Matar Meu Chefe conseguiu recuperar várias vezes seu orçamento, algo em torno de US$ 37 milhões. Uma continuação, claro, já foi mencionada, apesar de nada estar confirmado. Com boa bilheteria, isso já é fato, mas nem sempre as coisas vão para frente. Dias Incríveis (Old School, 2003), por exemplo, ficou só no primeiro, apesar de ser muito engraçado e bem feito. Se Beber, Não Case (The Hangover, 2009) conseguiu sua sequência, mas não no mesmo nível. E já tem mais uma programada! Segundo o diretor, Seth Gordon (de Surpresas do Amor, 2008), é só uma questão de ter uma boa história. Isso é o que todos esperamos.

Os amigos e o “consultor” Jamie Foxx

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