Clássico Pé na Estrada ganha adaptação fiel

por Marcelo Seabra

Coube a um destemido diretor brasileiro fazer o que muitos tentaram em vão: adaptar para o cinema o livro On the Road, ou Pé na Estrada, no Brasil. Francis Ford Coppola comprou os direitos em 1980, pagando uma bagatela, e vinha procurando um capitão para este barco. O problema se resolveu quando assistiu a Diários de Motocicleta (2004): Walter Salles foi contratado e Coppola seguiu como produtor. O resultado é uma obra fiel à fonte, com seus méritos e seus defeitos, que deixaria Jack Kerouac satisfeito.

Livro clássico, definidor de toda uma geração, Pé na Estrada foi catapultado à condição de bíblia de um grupo de intelectuais marginais dez anos depois de escrito, quando saiu a primeira resenha sobre ele no jornal The New York Times. Várias outras vieram e o livro logo mostrou seu potencial para polêmicas. Fala abertamente sobre “amor livre” (outra denominação para sexo desenfreado), drogas, jazz e outros assuntos caros à chamada Geração Perdida, ou Beat, como o próprio Kerouac definiu. Inexplicavelmente, o filme chega ao Brasil com o título Na Estrada, a tradução exata do inglês, mas que foge ao que já era consagrado por aqui.

Por ter sido escrito em 1951 e publicado em 1957 (após muita luta com editores e várias revisões), o livro já não tem aquele vigor, já não escandaliza como aconteceu na época. Hoje, muito do que lemos ali pode ser tido como banal, muitos não vão entender o impacto dele para a literatura americana. Basta dizer que, em muitas histórias (como em Pergunte ao Pó, de John Fante), há um escritor que almeja escrever “o grande romance americano”, e foi exatamente o que Kerouac atingiu. Ele até ficou marcado, já que nenhum outro trabalho seu conseguiu chegar perto de tanto reconhecimento.

O elenco contratado foi muito bem escolhido, representando com justiça cada personagem. A história foi claramente baseada nas experiências de Kerouac (acima, à direita) e seus conhecidos, com pouca ficção misturada e apenas os nomes trocados. O autor é representado por Sam Riley (de Pior dos Pecados, 2010), que vive o alter ego Sal Paradise, um jovem escritor relutante que tem sua vida mudada quando conhece o maluco Dean Moriarty. Aí está o grande destaque do filme: a interpretação de Garret Hedlund (o herdeiro de Jeff Bridges em Tron: O Legado, de 2010). O ator dá a dose certa para que seu Moriarty não seja um babaca, um lunático ou mesmo um estereótipo servindo às convenções do roteiro. O verdadeiro Moriarty, Neal Cassady (acima, à esquerda), não se prendia a nada, seja trabalho, família ou mesmo os amigos, vivendo intensamente – e de forma destrutiva – cada momento. Riley acaba ficando apagado perto de tal sujeito, o que também devia acontecer com Kerouac.

Mulheres não faltaram à turma beat, ou a Moriarty, em especial. As duas principais, Marylou e Camille, são vividas por Kristen Stewart (à esquerda) e Kirsten Dunst (à direita). Stewart aparece bastante, inclusive em cenas de nudez, que ficaram bem naturais, e mostra mais serviço que em toda a novela Crepúsculo ou o recente Branca de Neve e o Caçador. Dunst (de Melancolia, 2011) tem menos tempo para compor sua Camille, mas cumpre bem sua tarefa. Ela representa o que Moriarty conscientemente busca, mas no fundo não quer: o fim de suas aventuras e uma vida séria, como pai de família. O que, para ele, seria o tédio.

Saindo desse quarteto principal, o longa traz vários nomes interessantes. Tom Sturridge (de Os Piratas do Rock, de 2009) vive Carlo Marx, poeta inspirado em Allen Ginsberg, e Viggo Mortensen (de Um Método Perigoso, 2011) é a figura paternal sob efeito de ácido Old Bull Lee, ou William Burroughs, de fato. Aparecem ainda, em participações menores, Alice Braga, Terrence Howard, Elizabeth Moss, Steve Buscemi e Amy Adams. Afinal, na vida, as pessoas vêm e vão, e o roteiro de Jose Rivera (de Cartas para Julieta, 2010) mantém esse caráter do livro, cada episódio com seus personagens mais marcantes e efêmeros, além dos recorrentes.

Uma vez caracterizada a importância que On the Road teve para a literatura e a sociedade em geral, devo fazer uma confissão: a leitura, para mim, foi extremamente penosa. Meses se passaram até que consegui chegar ao final dessa história arrastada e sem sentido, sobre coitados pretensiosos, sem eira nem beira, que se movimentam pelos Estados Unidos buscando prazer e satisfação, imaginando serem mais do que realmente eram. Por isso, mantenho que o filme ficou bem fiel, inclusive com esses momentos descartáveis e personagens que passam sem dizer a que vieram. Walter Salles e sua equipe fizeram um trabalho tecnicamente primoroso, e Rivera aproveitou ao máximo o material que dispunha.

Riley e Hedlund são os grandes amigos Paradise e Moriarty

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Locadoras recebem dose dupla de Jessica Chastain

por Marcelo Seabra

A atriz Jessica Chastain anda trabalhando tanto que os cinemas mal dão conta de exibir todos os seus filmes. Recentemente, conferimos os premiados A Árvore da Vida (Tree of Life, 2011) e Histórias Cruzadas (The Help, 2011), que chamaram a atenção e o último rendeu a ela indicações ao Oscar, Bafta e Globos de Ouro. É uma pena que tenham passado direto o ótimo drama O Abrigo (Take Shelter, 2011) e o policial Em Busca de um Assassino (Texas Killing Fields, 2011), não tão brilhante, mas também interessante. Ambos já estão disponíveis nas locadoras.

O Abrigo é um longa extremamente bem feito e, acima de tudo, bem interpretado. Michael Shannon, o agente Nelson Van Alden da série Boardwalk Empire e o General Zod do esperado novo longa do Homem de Aço, é o protagonista. Curtis, um pai de família de 35 anos, começa a ser atormentado por visões apocalípticas de uma tempestade que virá para destruir tudo, causando um novo dilúvio bíblico. A primeira providência do sujeito é começar uma obra de ampliação do abrigo em seu quintal, tradição em casas de cidades sulistas norte-americanas que costumam ser atacadas pela natureza.

Em sua obstinação pela melhoria do abrigo e conseqüente salvação de sua família, Curtis acaba sacrificando aquilo que lhe é mais caro: exatamente a família. Os conflitos em casa começam e a esposa (vivida por Jessica) passa a ter dúvidas quanto à sanidade do marido, assim como o resto da cidade – e o próprio Curtis. Para piorar, o fato da mãe do sujeito ter sido atacada cedo por um tipo de demência traz mais dúvidas quanto à veracidade das visões. A tensão cresce lentamente, mas atinge níveis alarmantes. A parceria entre Shannon e o diretor e roteirista Jeff Nichols deu tão certo que eles já apresentaram Mud (2012) em Cannes, e o novo trabalho foi bastante elogiado.

Já Em Busca de um Assassino traz Jessica num papel menor, deixando como protagonistas Sam Worthington (de Avatar, 2009) e Jeffrey Dean Morgan (o Comediante de Watchmen, de 2009). Worthington continua sem mostrar muito serviço, cumprindo seu papel sem muito brilhantismo. Cabe a Dean Morgan roubar a cena como o policial experiente e de fora da cidade, contrastando com o colega, um detetive inexperiente que cresceu na região. Os dois personagens são chamados para investigar a morte de uma jovem que estava desaparecida e foi encontrada nos campos dos arredores de uma cidade do Texas (o que justifica o título original).

A investigação não é das mais empolgantes, mas a diretora Ami Canaan Mann mostra ter estilo próprio, mais reflexivo que o do pai, o consagrado Michael Mann (de Inimigos Públicos, de 2009). Há uma preocupação no sentido de construir um passado e as relações entre os dois e os que o cercam, o que torna a história mais atrativa. A garota vivida por Chloë Grace Moretz (de Sombras da Noite, de 2012) amarra a trama e traz mais tragédia a um longa já pessimista.

A exemplo de Michael Fassbender (de Prometheus, entre outros), Jessica Chastain parece ser onipresente. Outro dos seis filmes dos quais ela participou em 2011, Coriolano (Coriolanus), também chega ao mercado de homevideo este mês. Não falta é oportunidade para conferir o talento dessa californiana que se tornou famosa de uma hora para outra e já parece indispensável ao cinema.

Ralph Fiennes, ator e diretor de Coriolano, com Gerard Butler, Jessica e Brian Cox no Festival de Toronto

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Novo Aranha chega aos cinemas

por Marcelo Seabra

Chega esta semana aos cinemas do país um dos filmes mais aguardados do verão americano: nada menos que O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, 2012). Como muito já havia sido contado na elogiada trilogia de Sam Raimi, percebe-se aqui uma necessidade de fazer diferente. Fãs mais xiitas do personagem podem estranhar algumas novidades, como a ausência da famosa frase “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”, apesar de a ideia estar lá. Mas há aspectos mais fiéis à mitologia consolidada, começando pelo par romântico do herói. Para quem não é profundo conhecedor de quadrinhos, basta encostar-se na poltrona e apreciar mais de duas horas de boa aventura e efeitos em 3D com o “amigo da vizinhança”.

Apenas uma década depois do primeiro e cinco anos após o terceiro filme, a saga do Homem-Aranha é reiniciada. Muita gente achava isso prematuro e desnecessário, mas o estúdio não via outra saída, já que elenco e equipe técnica haviam debandado. Se o que melhor funcionava era o romance entre os protagonistas, “vamos chamar alguém que entenda disso”. Marc Webb, que conta apenas com o bonitinho (500) Dias com Ela ((500) Days of Summer, 2009) no currículo, foi o escolhido. Para assessorá-lo, foram designados bons profissionais, como o do diretor de fotografia John Schwartzman (indicado ao Oscar por Seabiscuit, de 2003), além de um sem-número de técnicos e especialistas em outras áreas, como cenários, som, dublês, efeitos especiais, figurinos etc. Todos chefiados por um seleto grupo de produtores que inclui o ex-presidente dos estúdios Marvel, Avi Arad, e o co-criador do Aranha, Stan Lee (que tem a sua ponta, como de costume), além da falecida Laura Ziskin. Assim, até o 3D funciona, criando belas imagens com Nova York ao fundo, mesmo que desnecessário.

A escolha dos atores não foi menos inspirada. Era uma aposta arriscada colocar um sujeito de 29 anos, que cresceu na Inglaterra, para viver o herói adolescente americano. Andrew Garfield chamou a atenção do grande público em A Rede Social (The Social Network, 2010), mas realmente mostrou a que veio nos três policiais Red Riding (2009) e no drama Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go, 2010). Garfield tira de letra a tarefa – sem o seu sotaque usual – e dá ao Cabeça de Teia a dimensão certa, aquele ar sincero de nerd que passou a vida apanhando dos valentões, além de sempre remoer o sumiço nunca explicado dos pais (mistério que não cansa como o drama psicológico do Hulk de 2003).

Em meio ao lamentável dia a dia de um coitado em idade estudantil, Peter Parker passa a ser notado pela bela Gwen Stacy, vivida pela igualmente competente Emma Stone (de Histórias Cruzadas, 2011). Apesar de muito bonita, a atriz tem um ar de menina desengonçada que nos faz acreditar que ela realmente olharia para Parker. E os dois juntos funcionam muito bem, a química é palpável. Com a história de Peter e Gwen deslanchando, a ação acaba ficando em segundo plano – isso, até aparecer o Dr. Curt Connors. Rhys Ifans sempre será lembrado como o colega esquisito de Hugh Grant em Notting Hill (1999), além do vilão do idiota Little Nicky (2000), mas fica aqui com uma boa e adequada dose de caricatura. Para quem tem uma pequena ideia do que acontece nos quadrinhos, já se sabe que destino aguarda o doutor, que sempre repete que quer “melhorar a raça humana, acabando com suas fraquezas”. O efeito da criatura não é dos melhores, mas funciona bem, melhor que o Power Ranger verde do primeiro filme de Raimi.

É curioso perceber que as histórias do Homem-Aranha (ao menos, as contadas no cinema) giram em torno da ciência e de cientistas muito inteligentes, já que ele mesmo veio daí. Depois de Norman Osborn (o Duende Verde), Dr. Octopus, Venom (que vem do espaço com a NASA) e seja lá quem criou o mecanismo que transforma o Homem-Areia, chega o Dr. Connors (ao lado). Sempre deve haver alguém à altura de Peter, e essa pessoa deve ser de alguma forma fisicamente modificada, sendo párea de duas formas. A inteligência do jovem fica bem mais explícita aqui do que nos outros longas, assim como o fato de ele ainda ser um adolescente – várias cenas do filme se passam na escola. O lançador de teias, fantástica criação dele, não causa tanto estranhamento, já que é na verdade uma ideia adaptada.

Apesar de um pouco longo (137 minutos), O Espetacular Homem-Aranha não chega a cansar. A história, de James Vanderbilt (do ótimo Zodíaco, de 2007), precisa de tempo para se desenvolver, e há períodos mais lentos. Os tios (vividos pelos veteranos Martin Sheen e Sally Field – ao lado) são mais novos que os vistos anteriormente, e isso faz sentido porque também acontece com Peter. Denis Leary, da série Rescue Me (2004-2011), é um bom Capitão Stacy, correto e durão. Ainda não temos o Clarim e J.J. Jameson, mas Peter já tira suas fotos. Resumindo: todas as características marcantes dos quadrinhos estão lá, até o humor inusitado do Aranha em momentos impróprios.

Levar aos cinemas um herói como o Homem-Aranha é sempre uma jogada certa para os estúdios envolvidos, garantia de retorno financeiro, o que agilizou esse recomeço de história. Pode ser que o mesmo aconteça com Batman quando Christian Bale e companhia aposentarem a capa. Mas acabou não sendo um caça-níqueis sem graça ou alma, como poderia se esperar. Webb garante a emoção nos momentos certos sem deixar a peteca cair nas cenas de ação. E a dupla Garfield e Emma ainda será muito aguardada. Pontas soltas para uma sequência não faltam.

Antes de Mary Jane, já tinha a Gwen

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Woody Allen visita Roma e fica na média

por Marcelo Seabra

Um Woody Allen menor ainda é um Woody Allen, o que significa ser melhor que a maioria das comédias por aí. Para Roma Com Amor (To Rome With Love, 2012) não é bom como os clássicos do diretor ou mesmo como o recente Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011), mas não chega a ser a derrapada que é Scoop – O Grande Furo (2006). São histórias amarradas e ambientadas em Roma, mas que poderiam acontecer em qualquer lugar. Foi apenas uma desculpa para Allen visitar mais uma cidade européia, após Londres, Barcelona e Paris, de seus longas anteriores.

Depois de se ligar totalmente à imagem de Manhattan ou Nova York, de forma geral, Allen decidiu passear e ele sempre parece reunir o grupo de atores que quiser. Desta vez, ele próprio tomou parte em frente das câmeras, o que não fazia desde Scoop, e inovou mais uma vez. Após viver basicamente ele mesmo em várias produções, Allen passou a convidar outros atores para assumirem a função, e não segue um padrão: houve um menino (A Era do Rádio, de 1987), uma mulher (Vicky Cristina Barcelona, 2008) e até atores bem mais novos (como Owen Wilson em Meia-Noite). Aqui, há dois Woodys: ele mesmo e Jesse Eisenberg (de A Rede Social, de 2010), papéis diferentes com características bem similares.

Se Meia-Noite foi bem sucedido por pegar um tema, a nostalgia, e explorá-lo bem, Para Roma se perde por tentar abordar vários assuntos e personagens, todos de forma mais rasteira, como se fossem curtas costurados uns aos outros. Há algumas sacadas geniais, como o uso do personagem de Alec Baldwin (de Simplesmente Complicado, 2009), algo surreal e aberto a interpretações. Outras, nem tanto, como a parte de Roberto Benigni (Oscar por A Vida É Bela, 1997 – ao lado), uma crítica aos famosos que devem sua fama ao fato de serem famosos, como os ex-BBBs que vemos há algum tempo. É válido, apesar de um pouco datado – ainda mais para um diretor que entrega um filme novo todo ano e já poderia ter focado isso antes. Sem pé nem cabeça pelo exagero que é mostrada e um tanto didática, a trama fica bem perdida no longa.

Fama é um assunto tratado no trecho que cabe a Benigni e em outro com o personagem de Allen, um ex-produtor musical que vai a Roma conhecer a família do futuro genro e descobre no pai do rapaz um grande cantor lírico – o agente funerário interpretado pelo cantor Fabio Armiliato. Participam Alison Pill (de Meia-Noite), Judy Davis (em sua quinta colaboração com o cineasta) e Flavio Parenti (Um Sonho de Amor, de 2009).

Em outro lugar simpático da Cidade Eterna, conhecemos Jack (Eisenberg), um estudante de arquitetura que se vê praticamente empurrado pela namorada (Greta Gerwig, de Sexo Sem Compromisso, 2011) para a amiga vivida por Ellen Page (de A Origem, 2011). Assim como Michael Sheen em Meia-Noite, a garota funciona como uma crítica a intelectuais malas, mas desta vez aos falsos, aqueles que sabem um mínimo de tudo só para poderem dar palpites pretensiosos. E Alec Baldwin aparece como John, a consciência de Jack, ou poderia ser o próprio, anos depois, revisitando sua vida (ambos aparecem abaixo).

Há ainda o segmento sobre o jovem casal italiano que se muda para a capital para que o marido possa trabalhar com os familiares importantes. Alessandra Mastronardi (uma cover de Juliana Paes mais bonita e competente) e Alessandro Tiberi vivem os dois supostos ingênuos que se perdem um do outro e cada um vive o seu dia inusitado. Destaque para a participação exuberante de Penélope Cruz (Oscar por Vicky Cristina Barcelona), linda e vulgar como uma esperta prostituta.

Parece que Allen volta aos Estados Unidos em seu próximo projeto, mas não a Nova York. Os detalhes, como sempre, são mantidos em segredo, mas sabe-se que a cidade será São Francisco (mesma de Um Assaltante Bem Trapalhão, de 1969) e os primeiros atores contratados já foram anunciados. Será mais uma parceria com Baldwin, além de outros nomes novos à filmografia do diretor. Em Para Roma Com Amor, entre altos e baixos, Allen constrói um filme simpático e cumpre bem sua nova função de agente turístico. O público vai sair da sessão planejando uma visita à cidade, buscando conhecer todos aqueles pontos maravilhosos mostrados. A cidade não era realmente necessária à história, mas serve como um atrativo a mais.

Woody Allen vai ao teatro com a família: Judy, Alison e Flavio

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Mais um bom drama sobre matanças em escolas

por Marcelo Seabra

Li, há algum tempo, sobre um filme que parecia ser interessante. Estava para chegar aos cinemas, foi até comentado em revistas semanais. Mas nada de estrear, e não achei também em locadoras. Para a minha surpresa, um dia chego em casa e o tal filme está na TV a cabo. Na exibição seguinte, consegui pegar do início e estava resolvido o problema.

Tarde Demais (Beautiful Boy, 2010) não traz respostas fáceis. Não traz nenhuma. Perder o filho já deve ser uma dor excruciante. Mas ainda pode ser pior: ele se matou após causar uma matança desenfreada de colegas e funcionários da universidade. Se você é o pai ou a mãe desse jovem, o que resta fazer? Imaginar o que teria dado errado na cabeça dele? Se culpar? Odiá-lo? Sentar e chorar? Talvez, um pouco de tudo isso.

Sammy (Kyle Gallner, da refilmagem de A Hora do Pesadelo, de 2010) parece ser um garoto normal, um pouco mais tímido que o usual. Seus pais, Bill (Michael Sheen, o chato de Meia-Noite em Paris, 2011) e Kate (Maria Bello, de A Grande Virada, 2010), parecem ser um casal normal, na média. Aproximando mais, percebemos que os dois estão bem distantes, e um divórcio não seria difícil de se imaginar. Quando Sammy entra armado na universidade e mata quase duas dúzias de pessoas, finalizando com um suicídio, os pais se vêem podendo recorrer apenas um ao outro.

As atuações de Sheen e Maria são o grande diferencial da produção, que marca a estreia do diretor e roteirista Shawn Ku em um longa-metragem. Ambos mostram perfeitamente como cada personagem reage à tragédia, e chega a incomodar o fato de um deles aceitar prontamente que seu lindo garoto teria sido o causador de todo aquele sofrimento, enquanto o outro prefere a negação. Um parece ser mais objetivo, e seu par é mais emotivo. Formas possíveis de tentar superar o insuperável, e Sheen e Maria dão um show. Merece atenção o discreto Meat Loaf Aday, cantor que faz pequenas participações ocasionais em filmes, como em Clube da Luta (Fight Club, 1999), e vive o atendente do hotel.

O título original, Beautiful Boy, pode ser uma alusão a uma música de John Lennon, composta para seu filho pequeno. Sean seguiu os passos do pai e se tornou um cantor; Sammy partiu levando vários consigo e deixando perguntas. Pais sempre verão seus filhos como seus meninos, mesmo que por fora prevaleça uma imagem de durões. O choque de um pai se ver incapaz de proteger seu filho, seja de danos físicos ou psicológicos, foi mostrado com sinceridade este ano em Confiar (Trust), com Clive Owen em outra grande atuação. Mas, se é que isso existe, são dores diferentes, em doses diferentes.

A violência em escolas é um fato, infelizmente, e bem atual. Seja na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, ou no campus da Virginia Tech, nos Estados Unidos, é tão forte na realidade que já invadiu a ficção. Na música, temos exemplos com Pearl Jam (Jeremy) ou P.O.D. (Youth of the Nation). No cinema, Gus Van Sant mostrou a perspectiva dos jovens assassinos em Elefante (Elephant, 2003), e Michael Moore se propôs a analisar a indústria da violência com Tiros em Columbine (Bowling For Columbine, 2002). Mais recente é Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, 2011), outro enfoque do mesmo assunto. Com Tarde Demais, temos o ponto de vista dos pais, que ficaram para contar a história e serem apontados na rua, no trabalho ou em qualquer lugar. Afinal, as pessoas precisam culpar alguém. E os pais, vão culpar quem?

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Ridley Scott empolga em sua volta à ficção-científica

por Marcelo Seabra

Ao mesmo tempo em que lança diversas perguntas que serão respondidas com o andar da carruagem, Prometheus (2012) confia na inteligência de seu público ao não responder outras.  Para ter algumas dessas informações, só deduzindo ou esperando por uma sequência. Dito isso, trata-se de um belo exemplar da ficção-científica, filão geralmente tão maltratado com excesso de efeitos visuais – muitas vezes pobres demais – e roteiro de menos. Ridley Scott, o criador da franquia Alien (1979) e do clássico Blade Runner (1982), não voltaria ao gênero por qualquer coisa.

Charles Bishop Weyland (vivido por Lance Herinksen) é o milionário apresentado na série Alien (e nos encontros das criaturas com os predadores) que banca as missões ao espaço e constrói um robô idêntico a si mesmo, que aparece em Aliens, o Resgate (1986). Em Prometheus, somos apresentados a Peter Weyland (Guy Pearce), provavelmente o pai de Charles, ricaço que decide investir em dois cientistas que acreditam ter pistas sobre a criação da humanidade. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) reuniram informações de pinturas em cavernas para guiar a tripulação da nave Prometheus a uma galáxia distante que acreditam ser a casa dos “Engenheiros”, criaturas alienígenas que poderiam ser nossos criadores. Seriam, por isso, deuses, e teriam as respostas que todos buscamos.

Projeto de muitos anos na cabeça de Scott, o longa começou a tomar forma com a chegada dos roteiristas Jon Spaihts (de A Hora da Escuridão, 2011) e Damon Lindelof (de Cowboys & Aliens, 2011). Scott decidiu assumir a direção e chamou Noomi Rapace, estrela da trilogia sueca iniciada com Os Homens que Não Amavam as Mulheres (de 2009), que David Fincher já começou a refazer em inglês. A escolha de Guy Pearce (de O Discurso do Rei, de 2010) para viver o velho empresário usando quilos de maquiagem só pode ser explicada pela possibilidade de vida longa da franquia, já que o personagem poderá ser mostrado em várias épocas de sua vida. E o onipresente Michael Fassbender (de Shame, 2011 – acima) não poderia faltar, compondo um interessante autômato que monitora a tripulação que dorme durante a viagem. Charlize Theron, em seu segundo trabalho este ano (ela é a rainha de Branca de Neve e o Caçador), é outro nome famoso no elenco.

Prometeu, segundo a mitologia grega, era o titã punido severamente por Zeus por dar o fogo ao homem. Dessa referência, já sabemos que encontrar deuses pode não ser a melhor das experiências: a equipe da nave vai passar por maus bocados para chegar às respostas que busca em uma terra inóspita, com criaturas estranhas. Entre os principais componentes do time, além do casal de cientistas, estão o piloto Janek (Idris Elba, de Motoqueiro Fantasma 2, 2012), o andróide-mordomo David (Fassbender) e a misteriosa Meredith Vickers (Charlize), que parece ser a enviada das empresas Weyland para garantir o sucesso da missão a qualquer custo. Vickers, assim como a Dra. Shaw, é uma mulher forte, que segue o modelo da Tenente Ripley de Sigourney Weaver.

Apesar de não estarem diretamente ligados, Prometheus e Alien têm, como o próprio Scott define, “o mesmo DNA”. Mas como aconteceu na série Lost, também roteirizada por Lindelof, várias pistas são deixadas aqui e não são aproveitadas posteriormente. Talvez, abrindo mais possibilidades para as sequências. Alguns podem sair pouco satisfeitos da sessão, devido às perguntas sem respostas – algumas conseguem confundir bem e vão assombrar por algum tempo. Mas o que vemos é suficiente para agradar o público, que vai torcer para que logo saiam mais filmes desse universo visualmente arrebatador e filosoficamente desafiador.

O diretor Scott com seu elenco principal: Charlize, Noomi e Fassbender

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Nova parceria Depp-Burton não convence

por Marcelo Seabra

Das várias parcerias que vemos no cinema entre atores e diretores, a dobradinha Johnny Depp e Tim Burton é uma das mais longas. E mais bem sucedidas também, diga-se de passagem. A união já deu ao mundo longas como Edward Mãos de Tesoura (1990), Ed Wood (1994), A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999) e A Noiva Cadáver (2005). O mais recente, Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012), é tranquilamente o mais fraco dos oito, marcando um tropeço em duas carreiras bem notáveis.

Um ponto que merece palmas em Sombras é a trilha escolhida. Como a trama se passa em 1972, as músicas são da época e muito bem selecionadas, começando com Nights in White Satin, do Moody Blues. Entre as bandas que ouvimos, estão T-Rex, Iggy and the Stooges, Donovan, Carpenters, Deep Purple, Black Sabbath, Curtis Mayfield, Barry White, Elton John e Alice Cooper, responsável por algumas boas cenas. Isso tudo além de Danny Elfman, parceiro habitual de Burton, que geralmente fica acima da média em suas trilhas instrumentais.

Johnny Depp vive Barnabas Collins, o herdeiro de uma próspera família inglesa que foi para os Estados Unidos fazer fortuna no negócio da pescaria em meados de 1700. Uma bela e apaixonada empregada dispensada por Barnabas lhe joga uma maldição, transformando-o em vampiro, e ainda o acorrenta em um caixão. Quase duzentos anos depois, no início da década de 70, ele volta a circular, estranhando tudo e todos à sua volta. Ao encontrar a mansão da família, ele conhece seus parentes e precisa se adaptar aos novos tempos.

A premissa é bem interessante, assim como a maioria dos envolvidos. A trama é baseada na novela homônima exibida nos EUA entre 1966 e 1971, criada e produzida por Dan Curtis. Foram 1225 episódios no total, e está aí o grande problema do roteiro: Seth Grahame-Smith (do novo Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros) parece ter tentado comprimir isso tudo em pouco menos de duas horas. O resultado lembra a série American Horror Story, com um desfile de aberrações e situações sem tempo suficiente para um desenvolvimento apropriado. E o cerne do roteiro, a história mal resolvida de Barnabas e Angelique, nunca chega a empolgar. Pelo contrário, é bem sem pé nem cabeça.

O elenco reunido tem suas boas e más peças. A eterna Mulher-Gato Michelle Pfeiffer, linda aos 54 anos, parece ser ela mesma uma vampira, ignorando a idade, e muito competente. Helena Bonham Carter (de O Discurso do Rei, 2010) segue odiosa, num papel antipático como de costume. A participação da jovem Chloë Grace Moretz segue com as caras e movimentos da Hit Girl de Kick Ass (2010), desta vez um tanto mais sexy, apesar da tenra idade. Jackie Earle Haley, o novo Freddy Krueger, faz um empregado esquisitão na medida certa, enquanto Jonny Lee Miller (visto em 2010 na série Dexter) mal mostra a que veio como Roger Collins. A Eva Green (Cassino Royale, 2006) cabe o grande papel feminino, mas a aparente falta de química com Depp mina a relação entre os personagens. E a mocinha Bella Heathcote não tinha como ser mais apagada.

Tim Burton consegue sempre dar a sua cara aos filmes que dirige, e Sombras da Noite não é diferente. A ambientação é ótima, o clima de suspense é constante e o enfoque sobre o vampiro protagonista é bem diferente do que tem se visto por aí. Há uns traços de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça que são muito bem-vindos. Mas o trânsito entre o quase terror e a comédia é bem desordenado, o timing para estes momentos é horrível. Não se pode levar o filme a sério, mas ele também não se define como uma paródia. Essa indefinição incomoda e torna o resultado tristemente abaixo do esperado.

Depp confabula com seu amigo e diretor

PS: aproveitando a estreia de Sombras da Noite, o site Cinema em Cena dedicou uma edição de seus podcasts ao assunto “Grandes Parcerias”. Mais uma vez, tive o prazer de participar. Para conferir o podcast, clique aqui!

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Mais uma perda de tempo para a comédia nacional

por Marcelo Seabra

É óbvio o crescimento do cinema nacional tanto em números quanto em qualidade. Temos visto várias produções bem feitas e interessantes, geralmente dramáticas ou policiais. A comédia ainda é um gênero carente, insiste naquele mesmo humor rasteiro e apelativo de sempre, que mais parece um batido programa de TV que te faz ir ao cinema e te toma uma hora e meia da sua vida. Depois de conferir Muita Calma Nessa Hora, Agamenon e Cilada.com, fica muito difícil querer dar outra chance a este tipo de filme. Com a estreia de E Aí, Comeu? (2012), uma nova oportunidade se apresenta.

Com roteiro baseado na peça do competente e elogiado escritor Marcelo Rubens Paiva, escrito pelo próprio Paiva e por Lusa Silvestre (do ótimo Estômago, de 2007), o filme prometia. Mas a direção é de  Felipe Joffily (de Muita Calma) e a produção é do mesmo Augusto Casé de Muita Calma e Cilada.com – e ele inclusive já prepara as sequências para ambos, que, já adianto, não serão comentadas no Pipoqueiro. E lá está novamente o simpático Bruno Mazzeo, que ainda não conseguiu acertar a mão na tela grande em termos de qualidade, apesar de seguir levando muita gente para as salas. Enquanto houver bilheteria, novas afrontas à inteligência vêm por aí.

A história de E Aí, Comeu? gira em torno de três amigos de longa data e suas desventuras amorosas, homens sensíveis frente a mulheres fortes. Isso até podia ser novidade quando a peça foi escrita, em 1998, mas foi-se a época. Fernando (Mazzeo) acaba de se separar e ainda está mal, recusando-se a seguir em frente enquanto houver uma chance de reatar com a esposa (Tainá Muller). Honório (Marcos Palmeira) é um marido relapso, cujo casamento está ameaçado pela suspeita de traição da esposa (Dira Paes). E Fonsinho (Emilio Orciollo Netto) é um rico herdeiro que se diz escritor e conquistador, mas só se relaciona com mulheres casadas e prostitutas e nunca termina seu primeiro livro.

E Aí, Comeu? se propõe a mostrar a “verdade das conversas masculinas de bar”, segundo Casé. “Vai ser como se as mulheres estivessem olhando o papo de bar dos homens pelo buraco da fechadura. É tudo aquilo que as mulheres gostariam de saber sobre o que tanto os homens conversam quando estão sozinhos”, acrescenta o produtor. O que se vê, na verdade, é um amontoado de clichês, é como se uma mulher tivesse escrito o roteiro baseando-se no que ela imagina se passar numa mesa de bar. Não é apelativo e baixo como se pode esperar a partir do título, é apenas bobo e cansativo. O que já é uma melhora para Mazzeo, mas ainda está longe de ser alguma coisa.

Seu Jorge, uma das várias participações especiais, vive Seu Jorge

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Versões de Branca de Neve empatam em mediocridade

por Marcelo Seabra

Como um daqueles mistérios que nenhum estúdio explica, temos praticamente ao mesmo tempo duas releituras da história da Branca de Neve (acima, na versão de Disney, de 1937) em cartaz. A primeira a ser lançada, Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012), já está saindo de circuito, enquanto a segunda, Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman, 2012), acaba de entrar. Apesar de seguirem caminhos bem diferentes, o resultado é mais ou menos o mesmo: o meio do caminho entre o bom e o ruim, passando pelo tédio absoluto.

O filme do diretor indiano Tarsem Singh tem Julia Roberts como a madrasta e segue um tom mais abobado, com palhaçadas a torto e a direito. O príncipe, vivido por Armie Hammer (os gêmeos de A Rede Social, de 2010), é um trapalhão que fica com vergonha de admitir que foi assaltado por anões. A protagonista, Lilly Collins, é pequena e delicada, físico próprio para uma singela donzela em perigo, mas sua Branca de Neve acaba aprendendo com os anos da floresta a se defender. Tudo dentro do esperado.

Conhecido por suas escolhas visuais espalhafatosas e inovadoras, Singh cria cenários majestosos, coloridos, fazendo com que o filme quase pareça um desenho. Os aspectos que deveriam ser violentos ficam em segundo plano e a produção deve ser própria para todas as idades, já que não é o propósito aqui, como se poderia esperar (como têm feito as adaptações de quadrinhos), buscar realidade. Espelho, Espelho Meu foi anunciado como uma nova abordagem da clássica história, e é isso, de fato. Mas uma abordagem bem mais covarde e engraçadinha do que as fontes alemãs dos Irmãos Grimm indicam.

O longa do estreante Rupert Sanders pretende ser mais adulto, mas acaba ficando no adolescente, não consegue fugir da comparação com a novela Crepúsculo – como foi o caso de A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, 2011). O fato de ser estrelado por Kristen “Bella” Stewart não ajuda. A atriz mais uma vez se mostra bem limitada, recorrendo sempre às mesmas expressões entediadas e, em momento algum, faz a platéia acreditar que alguém em sã consciência a seguiria numa invasão à cidadela da rainha e lutaria contra um poderoso e temível exército.

Os cenários e figurinos acabam sendo mais inventivos que os de Singh, mas alguns efeitos visuais deixam a desejar. É um problema acreditar que o espelho indicaria Kristen como a mais bela, já que isso nunca seria verdade com Charlize por perto. Outra questão é aquela mania de explicar porque alguém é mau. Deveria ser mau e pronto! O caçador (o “Thor” Chris Hemsworth), que ajuda a dar nome à produção, aparece depois de meia hora de filme, sendo mais um coadjuvante. E os anões roubam a cena, interpretados por bons atores ingleses como Bob Hoskins, Toby Jones, Ian McShane e Ray Winstone, mas são desperdiçados pelo roteiro e acabam virando alívio cômico – totalmente fora de lugar.

O grande destaque de Branca de Neve e o Caçador é a rainha Ravenna, que Charlize Theron (de Jovens Adultos, 2011) traz à vida de forma propositalmente caricata, como deve ser um vilão de conto de fadas. Comparar as duas rainhas é como comparar os dois Coringas do Batman: uma é má, mas parece não poder ser levada muito a sério, enquanto a outra é perversa e não titubeia antes de sacrificar alguém. As duas atrizes estão bem, cada uma do seu jeito. E, ao lado dos cenários e figurinos, são os únicos elementos que funcionam nos dois filmes. E, afinal, como levar a sério uma heroína chamada Branca de Neve?

Julia Roberts x Charlize Theron: quem ganharia?

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Deus da Carnificina chega pelas mãos de Polanski

por Marcelo Seabra

Depois do sucesso em teatros franceses, londrinos, americanos e até brasileiros, era hora da peça Deus da Carnificina, da francesa Yasmin Reza, chegar aos cinemas. Coube ao exilado Roman Polanski (de O Escritor Fantasma, de 2010) conduzir a adaptação, Carnage (2012), que chega ao Brasil com o mesmo título da peça. Curta e em tempo real, a história acompanha dois casais que, após uma rápida troca de gentilezas, partem para cima com agressões verbais e julgamentos. Nada muito sangrento, no entanto, como se poderia pensar.

Em tempos de discussões sobre bullying, a trama se torna ainda mais relevante. Ela começa quando os dois casais se encontram para discutir a briga dos filhos. Em um parquinho, um garoto bateu no outro com um pedaço de pau e lhe arrancou dois dentes. Os pais do agredido (Jodie Foster e John C. Reilly) se mostram compreensivos e recebem os pais do agressor (Christoph Waltz e Kate Winslet) para que possam discutir a melhor forma de colocar um ponto final no caso. Um teoricamente rápido encontro de conciliação acaba virando um bate-boca digno de quatro crianças.

Enquanto os convidados se mostram mais ricos e bem sucedidos, os anfitriões parecem acomodados com um padrão de vida mais classe média. Daí, já se sabe qual postura cada um vai assumir, o que não dura muito tempo. Então, eles começam a alternar os papéis, fugindo dos estereótipos iniciais, e brigam até entre si – marido contra mulher. Em menos de uma hora e vinte de filme, eles mostram que belos exemplos são para os filhos e servem de representação para o quanto hipócrita a sociedade pode ser. Os vários países onde a peça teve público e prêmios comprovam que não se trata de um problema localizado, mas geral. Até na nacionalidade e sotaque dos atores se percebe isso.

Vista recentemente em Um Novo Despertar (The Beaver, 2011), Jodie Foster está particularmente irritante. Ela é a típica intelectual de butique que se acha melhor que os outros, até que o marido. Reilly, igualmente competente, volta ao papel de pai banana de Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, 2011) e, na maior parte do tempo, se contenta em dar suporte à esposa enjoada. O outro casal não parece estar muito bem, já que o marido trabalha muito e não dá muita atenção à família. Kate (Contágio, 2011) chega com uma pose de segurança que logo se desmancha, enquanto Waltz (Água para Elefantes, 2011) dá um show como o personagem que parece ser o mais sensato, ou apenas o menos falso.

Os diálogos são afiados, mas soam planejados, conduzindo os personagens até onde eles devem chegar. É como se os pontos inicial e final de suas trajetórias já estivessem definidos de cara, eles só precisam percorrer o caminho. Deus da Carnificina é muito bem filmado, o espaço físico – o apartamento – é bem aproveitado, a fórmula toda parece ter muita harmonia. Mas, com tantos nomes grandiosos envolvidos, esperava-se mais, e ele fica bem ali na média.

E o cenário é sempre este: o apartamento

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