Mercenários voltam para mais do mesmo

por Marcelo Seabra

Um filme cujo vilão chama-se Vilain já deixa claro desde o início que não se leva a sério. Reunir novamente a trupe de Sylvester Stallone, com algumas adições, deveria significar diversão para os atores e para o público, além de ser a oportunidade de levantar umas carreiras quase enterradas. O resultado é quase isso: o problema é que a equipe de Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012) se esqueceu de providenciar um roteiro minimamente decente. O filme depende do carisma de seus intérpretes e da nostalgia dos espectadores para ter algum sucesso.

Desta vez, Stallone deixa a direção nas mãos de Simon West e assina o roteiro ao lado de Richard Wenk, reunindo os responsáveis por Assassino a Preço Fixo (The Mechanic, 2011), longa também estrelado por Jason Statham, o nº 2 do time de mercenários “do bem”. Chamar de roteiro é superestimar o fiapo condutor da trama, que repete exatamente o que vimos no anterior: uma missão do grupo de Barney Ross (Stallone) acaba levando-os a um vilarejo que precisa de heróis para libertá-los da tirania que impera. Agora, eles têm uma motivação adicional, vingança. E não contam com o amigo Tool, já que Mickey Rourke declinou o convite para voltar. Tool tinha um papel importante no planejamento inicial e muitos veículos não atualizaram suas informações, mantendo o ator no elenco.

Se a maior frustração causada pela primeira aventura era a participação pequena e sem ação de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, problema resolvido. Após uma rápida provocação, Willis entra em campo, e o Governator o acompanha. Essas piadinhas, inclusive, permeiam os diálogos, fazendo referências constantes às carreiras uns dos outros. Duas faltas muito sentidas quando se falou em encontro dos monstros dos filmes de ação foram corrigidas: Jean-Claude Van Damme é o caricato vilão Vilain, provando mais uma vez que não consegue interpretar e que não quer envelhecer, e o mito Chuck Norris aparece magicamente quando se precisa dele, brincando com a figura do lobo solitário que tanto encarnou. E ele não poderia deixar de soltar um “Chuck Norris’ fact”, que já anda até rodando em redes sociais.

Os pesos sobre os personagens continuam praticamente os mesmos da primeira parte. Terry Crews e Randy Couture, por exemplo, servem apenas para confrontos físicos periféricos. Dolph Lundgren novamente se destaca e agora brinca com o fato de ser realmente formado em Engenharia Química e ter recebido uma bolsa de estudos. A mocinha da vez não fica só gritando e sendo seqüestrada, já que a chinesa Nan Yu não repete o tipo indefeso de Giselle Itié. Liam Hemsworth (de Jogos Vorazes, 2012) é o membro jovem do elenco de matadores, ele está no momento de decidir o que quer da vida e vai dando uns tiros enquanto isso. Com pequenas variações e compensações entre as duas partes, dá tudo na mesma. Os corpos empilham, o sangue esguicha e a violência é tão exagerada que vira comédia. As balas que voam só não atingem os heróis, claro. E é estranho chamar aqueles sujeitos de heróis, sendo os psicopatas que são.

Os marmanjos que acompanhavam os lançamentos da década de 80 vão sair da sessão de Os Mercenários 2 felizes da vida. É curioso e previsível o fato de que havia apenas uma mulher na sessão à qual compareci, e poucos jovens. A maioria estava na casa dos trinta ou passando, o que comprova que só o público alvo está sendo atingido. Como alguns já definiram, trata-se do “melhor filme ruim do ano”, e a curiosidade de ver essa turma reunida vai levantar uma boa grana, apesar de buracos como ter uma viagem de ida de sete horas de distância e a mesma viagem, na volta, levar alguns minutos. Para o caso de haver outra sequência, já deixo a minha sugestão para vilão: Steven Seagal. Como o roteiro não parece mesmo ser uma preocupação, basta tirar umas ideias do horroroso Machete (2010). Enquanto isso, a versão feminina dos Mercenários segue em estágios iniciais de produção.

Van Damme se arrependeu de ter recusado o primeiro e entrou no barco

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Casal maduro divide Um Divã para Dois

por Marcelo Seabra

Meryl Streep e Tommy Lee Jones. Duas boas razões para se assistir a um filme. Não é só de personagens jovens que vive o cinema americano, e Um Divã para Dois (Hope Springs, 2012) traz esses dois monstros da sétima arte juntos. Mesmo que o roteiro não seja exatamente inovador, as situações vistas são críveis o suficiente para agradar. E o grande chamariz é mesmo a interpretação do casal, além do sempre carismático Steve Carell, aqui um coadjuvante discreto e eficiente.

Depois de receber certa atenção por ter dirigido O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006) e Marley e Eu (Marley and Me, 2008), David Frankel comandou o ainda inédito aqui The Big Year (2011) e emendou este Divã…, repetindo a parceria com Meryl, o diabo que veste Prada. Não se pode dizer que ele tenha um estilo bem claro, as características de seu trabalho não podem ser percebidas, e isto pode até ser uma opção. Não há muito o que se perceber em cena além do óbvio, o que não faz muito rica a experiência de acompanhar um filme dele.

A roteirista Vanessa Taylor, co-produtora da série Game of Thrones, faz sua estreia na tela grande com uma história que começa um tanto caricata, mas consegue achar o tom certo. No início, somos apresentados a duas pessoas que de forma alguma poderiam estar juntas. Kay (Meryl) é a esposa boazinha que se sente extremamente solitária ao lado do marido bronco e nada atencioso, Arnold (Jones). Quando pensa ter atingido o limite do tolerável, Kay busca ajuda profissional na figura do terapeuta de casais de Steve Carell (de Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo, 2012). Com as sessões e o convívio mais próximo na cidadezinha do Maine para onde vão, os dois começam a tomar traços mais reais e as coisas ficam interessantes. Não se cai no erro de colocar um como vítima e o outro como coitadinho, logo percebemos que cada um tem a sua parcela de culpa pelo momento crítico que vivem.

Tommy Lee Jones (um dos Homens de Preto) já viveu figuras fortes, até vilões, mas não costuma aparecer como um senhor metódico e inseguro. É um prazer acompanhá-lo nessa nova composição, na mesma medida de talento que a habitual Meryl. Ela sempre brilha, muitas vezes ofuscando até a própria produção que estrela, caso de A Dama de Ferro, de 2011. Carell é propositalmente relegado a um segundo plano, dizendo o que se espera de um terapeuta de casais: o óbvio –  que eles precisam ouvir. Cabe a Meryl e Jones manterem a peteca no ar e, em meio a risos, lágrimas e algum constrangimento, a missão é cumprida com êxito.

Elenco e diretor lançam o longa em Nova York

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Steve Carell procura um amigo para o fim do mundo

por Marcelo Seabra

Vários filmes sobre o fim do mundo já foram feitos, não chega a ser algo inovador. Mas o enfoque pode variar, e muito. Aí está o charme de Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (Seeking a Friend for the End of the World, 2012), que traz um pouco de ar fresco para um lugar comum. Quem imaginaria que Steve Carell e Keira Knightley formariam um casal interessante? Totalmente inusitado, mas muito simpático e até comovente.

Em 2011, Steve Carell esteve em uma das melhores comédias românticas do ano, Amor a Toda Prova (Crazy Stupid Love). Agora, ele ataca novamente nesse gênero, que normalmente é bem fraco, e consegue surpreender com seu entediante e sensível Dodge, um vendedor de seguros que não anda tendo muita convicção para vender seguros de vida. Afinal, um asteróide gigantesco vai logo colidir com a Terra e acabar com a vida no planeta. Quem iria fazer um investimento como esse?

É natural que todos comecem a pensar no que querem fazer com o resto de suas vidas, já que falta pouco para o fim. Muitos causam tumultos, orgias se tornam algo comum, famílias se reúnem e os solitários ficam ainda mais deprimidos. Dodge conhece Penny (Keira) em um dia difícil para ela. Apesar de serem vizinhos há três anos, eles só se aproximam nesse dia fatídico e decidem o que querem fazer antes que o mundo acabe. Isso envolve uma viagem pelas estradas da região e alguns personagens estranhos, como o caminhoneiro vivido por William Petersen (o Grissom de CSI – ao lado), a equipe extremamente amigável de um restaurante do caminho e o militar de Derek Luke (de Capitão América, 2011), que acredita que pode se preparar para sobreviver à catástrofe.

Keira Knightley já viveu a mocinha em dramas pesados, como Desejo e Reparação (Atonement, 2007), e em longas de aventura, como na trilogia Piratas do Caribe (Pirates of the Caribbean, 2003, 2006 e 2007), e nunca chega a entregar “aquela” performance. Mesmo sem grandes arroubos, ela se dá bem como a jovem inglesa romântica que resolve encontrar sua família e largar o namorado fracassado (Adam Brody, de Pânico 4, 2011). Completam o elenco, em participações menores, Connie Britton (da série American Horror Story), Melanie Lynskey (a vizinha de Two and a Half Men), Patton Oswalt (de Jovens Adultos, 2011) e Martin Sheen (o tio Ben do novo Homem-Aranha).

Depois de escrever o bobinho Uma Noite de Amor e Música (Nick and Norah’s Infinite Playlist, 2008), Lorene Scafaria resolveu enfrentar a direção, acumulando as funções. Procura-se um Amigo… não propõe discussões filosóficas ou qualquer coisa assim (como o cansativo Melancolia, de 2010) e tem um final facilmente previsível – afinal, o mundo vai acabar. Mesmo assim, é um bom programa para se divertir no cinema e, quem sabe, fará o público pensar se já não está na hora de começar a correr atrás do que realmente se quer.

O que fazer quando o mundo vai acabar?

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Liam Neeson vai no mano a mano com lobos

por Marcelo Seabra

Há alguns anos, mais especificamente em 2002, Joe Carnahan chamou a atenção com um filme escrito e dirigido por ele, uma pérola policial chamada Narc. O mais interessante era o fato de o filme ser bem simples, sem efeitos visuais ou qualquer perfumaria que tiraria o foco do que realmente importava: a história. Em 2011, com A Perseguição (The Grey), ele parece ter voltado à boa forma se atendo ao básico. Os personagens são interessantes, suas ações fazem sentido e a tensão segue em um crescendo até um final bem satisfatório.

Depois de trazer de volta à vida o Esquadrão Classe A (The A-Team, 2010), Carnahan buscou uma história mais simples e chamou novamente Liam Neeson, o chefe do time A, para ser seu protagonista. Neeson, cada vez mais se jogando em papéis de herói de ação, ganha aqui seu melhor papel desde que começou a se aventurar nesse filão. Ele é durão, faz o tipo misterioso, mas acabamos conhecendo-o melhor e ele deixa transparecer um certo sentimentalismo, mostrando que não é o típico machão raso do cinema pipoca.

Ottway, o tal sujeito vivido por Neeson, é contratado pela companhia para matar os lobos que podem trazer problemas. Ele acompanha um grupo que trabalha com extração de petróleo no Alasca e deve protegê-los dos animais que espreitam, só esperando um vacilo. Ao pegarem um avião com o tempo bem ruim, as coisas começam a dar errado e apenas sete sobrevivem à queda. Mal sabiam eles que a luta estaria só no começo: um frio intenso castigando, perdidos no meio do nada e já não se via mais o avião em meio à neve, dificultando um resgate hipotético. Para melhorar, eles logo se vêem cercados por lobos cinzentos (daí o título original).

A parte mais interessante do filme começa quando os sete tentam se organizar. Ottway, por conhecer mais os animais e parecer saber lidar melhor com aquela situação, assume a liderança, não sem um membro do grupo ficar contra. Eles começam, então, a se conhecer, a bolar planos de sobrevivência, a adotar certos cuidados e a fugir. Cada personalidade começa a aflorar, umas mais que outras, e as relações entre eles se intensificam. Afinal, a sobrevivência de um pode depender do outro, e são várias as formas de morrer.

A Perseguição é baseado num conto de Ian Mackenzie Jeffers (roteirista de Sentença de Morte, 2007), Ghost Walker, e o próprio escreveu o roteiro. A referência a Vivos (Alive, 2003), longa sobre o time de rúgbi que cai nos Andes, é tão óbvia que um comentário sobre isso parte de um dos personagens. A diferença é que os jovens não tinham mais esse elemento contra, os lobos, mas também não tinham Neeson para liderá-los. O ator está firme como nunca e o filme gira em torno dele, colocando o público em sua torcida. Nada mal para um longa que poderia ter sido nada além de mais uma ação descerebrada para disputar espaço nas prateleiras de locadoras. Para quem perdeu nos cinemas, basta levar para casa.

Se correr, o bicho pega…

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O Ditador é mais uma bobagem de Baron Cohen

por Marcelo Seabra

Custo a acreditar que foram necessários quatro roteiristas para que O Ditador (The Dictator, 2012) tomasse forma. Mais difícil ainda é aceitar que o longa teve uma boa recepção em seu país de origem, os Estados Unidos. Não vou tentar discorrer sobre as possibilidades que levaram aquele povo (ou ao menos os críticos de lá) a elogiar essa palhaçada. Mesmo porque, tendo Cilada.com (2011) feito a bilheteria que fez, não me surpreenderia se no Brasil o estrago fosse parecido.

Sacha Baron Cohen, o criador dos personagens Ali G, Borat e Bruno, apresenta ao mundo o General Almirante Aladeen, déspota de um país imaginário na África do Norte. Em papel duplo, Baron Cohen vive também o imbecil que serve de dublê ao importante político, que também não passa de outro asno. Com uma trama que chove no molhado abusando do artifício da troca de identidades, o filme serve como desculpa para seu criador destilar sua noção deturpada de humor e mais uma vez usar um sotaque exótico. Talvez uma criança de oito anos, aquela que acha engraçado dizer coisas como “cocô”, vá se divertir até!

Como que se consegue atores do porte de John C. Reilly (de Precisamos Falar Sobre o Kevin, 2011) para participar dessa furada? A explicação pode estar em trabalhos como Quase Irmãos (Stepbrothers, 2008), que mostram um senso no mínimo estranho para escolhas de trabalho. E Sir Ben Kingsley parece repetir exatamente o papel de O Príncipe da Pérsia (Prince of Persia, 2010 – ao lado), ele é logo de cara revelado como a mente por trás do plano de substituição de Aladeen. Anna Faris repete seu papel de menina avoada que participa inadvertidamente de momentos que deveriam ser engraçados, como na série Todo Mundo em Pânico. Em participações menores, há gente do porte de Edward Norton (O Incrível Hulk, 2008) e Garry Shandling (o senador de Homem de Ferro 2, de 2010), mas também figurantes habituais como Horatio Sanz e Chris Parnell (do Saturday Night Live), Chris Elliot (de How I Met Your Mother) e Joey Slotnick (de Nip/Tuck).

É impressionante como algumas ideias de Baron Cohen parecem ter potencial, mas acabam dando outro resultado nem perto do imaginado. Ele apela ao riso mais fácil, que pode vir de piadas com gases, fluidos corporais ou sexo. Tudo muito juvenil, como a segunda metade de Borat (2006) ou Brüno (2009) inteiro. Qual seria, por exemplo, a lógica do personagem Nadal (Jason Mantzoukas), um cientista sério mandado para a execução que mesmo assim apóia o ditador desgraçado que acabou com a sua vida e o expulsou de sua amada Wadiya?

Algumas tiradas conseguem mexer positivamente com o espectador, como o fato de várias palavras do vocabulário do país terem sido trocadas por Aladeen. Já a descoberta de Aladeen quando ele aprende a fazer algo sozinho é de causar vergonha alheia. Como alguém consegue verba para isso? Eu, se fosse um diretor, roteirista ou ator em busca de financiamento, ficaria revoltado. Baron Cohen pode até funcionar como coadjuvante em ideias alheias (como em Hugo, de 2011), mas não o deixem criar outro personagem. Por favor!

Baron Cohen foi caracterizado ao Oscar 2012 e arrumou confusão

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Musical usa e abusa dos hits dos anos 80

por Marcelo Seabra

Todos buscam o amor. Depois de duas longas horas, todos o encontrarão. Mas não sem antes ter muita cantoria no melhor estilo Glee: genérico e pouco inspirado. É isso ou o texto poderia começar com: “apenas uma garota do interior, vivendo num mundo solitário, pegou o trem noturno indo qualquer lugar…” Funcionaria da mesma forma para descrever Rock of Ages (2012), musical que revisita o hair rock (também chamado de rock farofa), tipo de rock típico dos anos 80 que trazia diversas músicas com temas melosos que se encaixam bem na trama, só às vezes forçando a barra.

O musical da Broadway já tinha uma história água com açúcar feita para que as músicas coubessem bem, todas escolhidas a dedo pelo criador, Chris D’Arienzo. Depois de seis anos em cartaz em vários lugares e algumas indicações a prêmios, ele conseguiu levar sua obra ao cinema, colaborando no roteiro com Allan Loeb (de Wall Street 2, 2010) e Justin Theroux (de Trovão Tropical, 2008). Para a direção, escalaram ninguém menos que Adam Shankman, responsável por filmes e séries geralmente classificados como “bonitinhos” (e bestas). Em seu currículo, há outro musical saudosista, Hairspray (2007), além de episódios da já citada Glee.

O filme começa como inúmeros outros, mas remete de cara a Across the Universe (2007), que faz o mesmo “favor” às canções dos Beatles. Sherrie, uma garota do interior (Oklahoma, para ficar claro a inocência dela), chega em Hollywood, é assaltada e logo recebe a solidariedade do bonzinho Drew. A empatia do casal é instantânea como foto de cabine na rua, mas muita coisa vai entrar no caminho. Os dois perseguem o sucesso como rockstars, e trabalham como atendentes no principal bar de rock da cidade, na Sunset Strip. É tão lógico quanto um aspirante a diretor de cinema trabalhar numa locadora de filmes.

É inegável que o filme pertença a Tom Cruise, astro que emergiu na década de 80 e que, aqui, emula figuras como Axl Rose, Steven Tyler ou Jon Bon Jovi. Assim como em Trovão Tropical, Cruise vive um papel longe do que estamos acostumados a vê-lo fazer, e mostra muita competência e carisma na composição de um vocalista-estrela que pretende seguir carreira-solo e é famoso por seu mal comportamento. Sempre cercado por garotas, bebidas e seu macaco chamado Hey Man, Stacee Jaxx diz as coisas mais improváveis, custa a cumprir seus compromissos e mesmo assim é adorado mundialmente. Cruise soube bem aproveitar as possibilidades que o personagem oferecia e mostra um grande trabalho.

A outra grande atração de Rock of Ages, além de Cruise, é a seleção musical, que deve agradar aos fãs da década de 1980. A maior parte das bandas já não existe, mas os sucessos perduram. Podemos conferir nomes como Journey, Starship, Foreigner, Poison, Def Leppard, Bon Jovi, Guns ‘n’ Roses, Twisted Sister, Night Ranger, David Lee Roth, REO Speedwagon (em um momento que consegue ser forçado e engraçado), The Runaways, Pat Benatar, Extreme, Warrant e Scorpions, que em setembro voltam ao Brasil para a anunciada turnê final. Pena que não ouvimos nas versões originais, o que permitirá vender cds da trilha com as vozes dos atores – que não cantam mal, mas também não chegam a empolgar.

O casal protagonista segura bem as pontas e faz aqui seu papel mais importante até então. Julianne Hough (da refilmagem de Footloose, 2011) e Diego Boneta (do novo 90210, ou Barrados no Baile) têm uma boa química, mas não são páreos para seus coadjuvantes mais experientes, mesmo que mal aproveitados. Paul Giamatti é o empresário mau caráter de Jaxx, enquanto Alec Baldwin é o eterno roqueiro que mantém o bar funcionando, dois papéis estereotipados que se aproveitam da naturalidade de seus intérpretes. Bryan Cranston (de Breaking Bad) mais uma vez mostra que seu brilho da TV não o acompanha no cinema, talvez devido a más escolhas, e faz par com uma Catherine Zeta-Jones muito caricata e vazia, cujo passado é meio óbvio. O irritante Russell Brand (acima, com Baldwin) vive o mesmo mala afetado de sempre e a cantora Mary J. Blige fecha o time principal, conseguindo na raça mais destaque do que haviam reservado a ela.

Na tentativa de homenagear uma era, com seus exageros e visuais hoje engraçados, Rock of Ages não chega a ser uma paródia, mas tampouco traz alguma novidade. No teatro, a emoção deveria ser outra, já que os intérpretes estariam na sua frente, o que no filme se torna um karaokê engraçadinho. O humor crítico que tantos elogiaram no palco parece ter se perdido. Tem seus bons momentos, que se resumem a alguns minutos, diluídos em um total de 120. As músicas usadas são tantas que se misturam, tornando o longa cansativo até para quem gosta delas.

Cruise in Concert

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O Vingador do Futuro ganha refilmagem sem propósito

por Marcelo Seabra

É bem incompreensível a razão que leva estúdios a refilmarem histórias já bem apresentadas e que nem envelheceram tanto assim. O Vingador do Futuro (Total Recall) é um longa marcante lançado em 1990 que representou muito nas carreiras de seus envolvidos, principalmente do astro Arnold Schwarzenegger, da futura estrela Sharon Stone e do diretor Paul Verhoeven. Philip K. Dick, autor do conto em que o filme se baseou, tem outras histórias não filmadas e é revoltante o fato de voltarem na mesma, ao invés de buscarem algo novo. Refilmagem não é garantia de sucesso ou de dinheiro em caixa. Ainda mais quando não acrescenta nada ao original.

O novo Vingador do Futuro traz Colin Farrell no papel que foi de Schwarzenegger e o irlandês parece se levar bem mais a sério, o que já diminui o charme do projeto. Farrell estrela sua segunda refilmagem: ele foi o vampiro Jerry do recente A Hora do Espanto (Fright Night, 2011), além das versões para cinema das séries S.W.A.T. (2003) e Miami Vice (2003). Sua carreira alterna altos e baixos e, entre os bons trabalhos, está outra adaptação da obra de Dick, Minority Report (2002). Disputam com Farrell a atenção do espectador as beldades Kate Beckinsale (a vampira Selene da franquia Anjos da Noite), que parece se divertir no modo “psicopata descontrolada”, e Jessica Biel (de Esquadrão Classe A, 2010), que surge em cena insossa como sempre.

A trama acompanha o operário Douglas Quaid (Farrell), que anda tendo sonhos agitados em que está lutando contra um inimigo significativo e acorda tendo a impressão que sua vida poderia ser mais emocionante do que a rotina que vive com a esposa (Kate). Eles moram na Colônia e trabalham na Federação Unida da Bretanha, como a maioria da população que sobreviveu à guerra química que destruiu a maior parte do mundo. Um belo dia, Quaid decide conhecer melhor a Rekall, empresa que promete implantar memórias divertidas em seus clientes por uma quantia módica. Ele poderia escolher o lugar que visitaria, o papel de desempenharia, a companhia feminina que teria etc. Durante o procedimento, algo sai errado e Quaid se vê cercado pela polícia, sendo obrigado a reagir. A partir daí, sua vida se torna uma correria incessante e ele vai conhecer melhor as forças políticas por trás da F.U.B. e os rebeldes da Colônia, dentre eles Melina (Jessica).

No elenco, além do trio principal, temos a participação de dois veteranos extremamente mal aproveitados. Bill Nighy (o vampiro Viktor dos Anjos da Noite) aparece rapidamente e pouco pode fazer com as falas bestas que lhe cabem. E Bryan Cranston, que ninguém se cansa de elogiar em Breaking Bad, é o vilão esquemático Cohaagen, que participa de cenas constrangedoras de luta. John Cho (de Star Trek, 2009), como o técnico da Rekall, e Bokeem Woodbine (de Demônio, 2010), que vive o amigo Harry, completam o festival de constrangimento. A discussão que o filme pretende levantar sobre identidade passa por todos estes personagens, cada um tem uma fatia desse bolo indigesto.

Como se trata de uma refilmagem, é inevitável comparar as obras. E há ainda o conto do qual ambas se originaram, que também entra na equação. O novo longa empalidece em qualquer uma das disputas, se tornando apenas uma versão genérica da obra do visionário e ligeiramente desequilibrado Dick. O escritor criou universos futurísticos opressivos e reforçava o clima pessimista com regimes totalitários, um alto consumo de drogas sintéticas e muita paranóia. É comum que seu protagonista não saiba exatamente o que é real, o que cria uma ambiguidade bem interessante. Isso não acontece nesse Vingador, que perde os detalhes da trama de 1990 e, por isso, deixa alguns buracos.

Os envolvidos chegaram a dizer, durante a produção, que seria uma nova abordagem do conto, e não uma refilmagem. O resultado acabou ficando no meio do caminho. É, sim, uma refilmagem, mas com tantas alterações que se afastou da base. Marte, por exemplo, ficou de fora, numa tentativa pedestre de trazer o conflito entre classes para a Terra, com os rebeldes da Colônia buscando independência da Federação. E a violência que Verhoeven empregou bem em seu longa foi evitada, chegando ao cúmulo de usarem policiais autômatos para diminuir a quantidade de sangue derramado. O politicamente correto chegou e tomou conta – espero que o mesmo não aconteça com o novo Robocop, prometido para 2013.

O visual de Blade Runner, clássico de 1982, tem reflexos na organização da Colônia, que mais parece uma favela, e os cenários da F.U.B. fazem menção a diversas produções de ficção-científica, como Minority Report ou Eu, Robô (2004). Os efeitos criados com computação gráfica permitem muitas inovações que não eram possíveis em 1990, e a riqueza de detalhes impressiona. O que aumenta a decepção quando nos voltamos à trama, escrita pelos irregulares Kurt Wimmer (de Equilibrium, de 2002, e Ultravioleta, de 2006) e Mark Bomback (de O Enviado, de 2004, e Incontrolável, de 2010). Bomback, inclusive, trabalhou com o diretor Len Wiseman no quarto Duro de Matar (2007), que também desrespeita as leis da gravidade e a inteligência do público. Wiseman aproveita que está no comando para aumentar a participação da esposa, Kate, que acaba resumindo em um dois papéis (que foram de Sharon Stone e Michael Ironside). Seu castigo é ter que vê-la, na cama, aos beijos com o galã Farrell, e ainda ter seu filme malhado pela crítica mundial.

Douglas Quaid revoga a lei da gravidade

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Bela produção brasileira é estrelada por japoneses

por Marcelo Seabra

Depois de uma boa recepção em três importantes festivais de cinema (Paulínia, Montreal e Rio) e um longo período na geladeira, finalmente chega aos cinemas brasileiros Corações Sujos (2011), terceiro trabalho do diretor Vicente Amorim. A resposta favorável do público pôde ser observada também em Tóquio, onde o longa ocupou algo em torno de 50 salas antes de rodar o interior do país. A maioria dos diálogos é em japonês e, apesar de se passar em solo brasileiro, trata-se de uma história importante para o povo da terra do sol nascente.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a derrota das chamadas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), o governo de Getúlio Vargas passou a pegar pesado com os cidadãos desses três países que viviam por aqui. Eles não podiam ouvir rádio, receber jornais ou mesmo usar a língua mãe. Essa falta de contato com o mundo exterior levou a um fenômeno extremamente interessante e trágico: a maioria dos 200 mil japoneses da colônia brasileira não acreditava na derrota do Japão, julgando ser apenas propaganda americana.

O jornalista Fernando Morais pesquisou e relatou esses fatos, desconhecidos por muitos, em seu livro Corações Sujos, publicado em 2000 pela Companhia das Letras. Como tratava-se de um registro documental, era preciso criar um roteiro ficcional usando os fatos como pano de fundo. Vicente Amorim, que fez sua estreia com o elogiado O Caminho das Nuvens (2003) e chamou a atenção internacionalmente com Um Homem Bom (Good, 2008), havia comprado os direitos de adaptação e convocou o roteirista David França Mendes (também de O Caminho…). Morais, que teve Olga (2004) levado aos cinemas (e é melhor esquecer isso), teria sua segunda obra filmada.

Algo que o filme deixa claro é o excesso de patriotismo dos japoneses e a confiança e devoção que dedicavam ao Imperador Hirohito. Ao aceitar o fim do conflito, Hirohito nunca admitiu derrota, dizendo em rede nacional que se tratava de um cessar fogo. O Japão nunca havia perdido uma guerra e uma rendição era impensável, já que o Imperador era tido como divino e imortal. Daí, a recusa dos imigrantes no Brasil em aceitar o impensável. Os poucos que, mesmo condoídos, reconheceram o fato eram tratados como traidores, dizia-se que tinham os corações sujos.

Para dar autenticidade à produção, Amorim foi ao Japão contratar suas estrelas. O fotógrafo Takahashi é vivido por Tsuyoshi Ihara (de Cartas de Iwo Jima, 2006, e 13 Assassinos, 2010 – ao lado). Nos outros papéis mais centrais estão Takako Tokiwa (como a esposa de Takahashi), Eiji Okuda (o Coronel Watanabe) e Shun Sugata (que faz o líder da comunidade e pai da garotinha Akemi). A paulistana Celine Fukumoto é o grande destaque, já que Akemi é quem liga os personagens e acaba participando dos momentos mais importantes. Completando o time brasileiro, estão os conhecidos Eduardo Moscovis e André Frateschi, que não chegam a acrescentar nada à trama e não têm um tratamento adequado pelo roteiro.

O protagonista criado por França Mendes retoma uma ideia que Amorim já apresentava em Um Homem Bom. Nele, Viggo Mortensen era um alemão que escolheu não se envolver com a guerra até o último momento possível, quando passou a fazer vista grossa para certas ações do Estado para não ser incomodado. Era um homem comum, tido como bom, que não fez nada para mudar o cenário, como outros milhares de alemães. É um pouco similar com o que ocorre com Takahashi, que se deixa levar pelo nacionalismo exacerbado e entra para a turma do Coronel Watanabe. É preciso tentar decifrar a psique japonesa para entender seu comportamento, e o filme mostra bem o espírito desse povo.

Corações Sujos tem um resultado bem satisfatório. É belamente filmado, aqui e ali lembrando produções japonesas, com cenas poéticas e momentos de reflexões internas. A música, geralmente muito acertada, é usada um pouco além do necessário, mas não chega a incomodar. Apesar de ter apenas 90 minutos de duração, parece ser mais longo por ser mais contemplativo que o que se vê por aí. O que não é ruim, basta estar no espírito adequado e aproveitar a experiência.

Liderados pelo Coronel Watanabe, os japoneses buscam vingança

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A volta completa de Meirelles e Morgan não satisfaz

por Marcelo Seabra

Quando se reúnem Fernando Meirelles e Peter Morgan, as expectativas crescem. Afinal, trata-se do diretor de Cidade de Deus (2002) e O Jardineiro Fiel (2005) e do roteirista de A Rainha (2006), O Último Rei da Escócia (2006) e Frost/Nixon (2008), entre outros grandes trabalhos. No entanto, o resultado da parceria, 360 (2011), não foi recebido com tanto ânimo. Muito pelo contrário: a crítica estrangeira destruiu a obra. Realmente, não se trata de um ponto alto na carreira de nenhum dos dois, mas não chega a ser uma mancha no currículo.

O filme, que estreia essa semana nos cinemas, é vagamente inspirado na peça La Ronde, publicada em 1900 apenas para os amigos do autor, Arthur Schnitzler. A partir dos anos 20, novas tiragens circularam por Berlim e Viena, causando um certo barulho por abordar hábitos e transgressões sexuais entre várias classes sociais. Muito popular na França, o texto ganhou duas adaptações oficiais ao cinema, por Max Ophuls (1950) e por Roger Vadim (1964), além de várias outras não assumidas.

Meirelles (ao lado), que não comandava um longa desde 2008 (quando lançou Ensaio Sobre a Cegueira), reuniu um ótimo elenco de diversas nacionalidades e filmou em vários países. Não chegam a vir ao Brasil, mas não faltam personagens brasileiros: Maria Flor (de Xingu, 2012) e Juliano Cazarré (o Adauto da novela Avenida Brasil) fazem um casal em crise vivendo em Londres. O roteiro é uma colcha de retalhos sobre várias pessoas que cruzam o caminho umas das outras, e algumas relações são bem construídas e interessantes; outras, nem tanto. Há bons momentos isolados, como o discurso de Anthony Hopkins em um grupo de ajuda, que mostra do que o veterano ainda é capaz (apesar de O Ritual e outras bobagens recentes).

No elenco de 360, os nomes mais conhecidos do público brasileiro, além dos já citados, devem ser Jude Law (o Dr. Watson dos dois Sherlock Holmes), Rachel Weisz (de A Casa dos Sonhos, 2011), Ben Foster (de Assassino a Preço Fixo, 2011) e Marianne Jean-Baptiste (de Ladrões, 2010). Há também as tchecas Lucia Siposová e Gabriela Marcinkova, os russos Dinara Drukarova (ao lado, com as colegas tchecas) e Vladimir Vdovichenkov, o ucraniano Mark Ivanir, o austríaco Johannes Krisch e o francês Jamel Debbouze (de Amélie Poulain, 2001). O fato dos atores terem a nacionalidade que representam dá mais credibilidade ao projeto, já que, por exemplo, os brasileiros falam mesmo português, e não espanhol ou algo parecido.

O grande problema, como apontado por muitos críticos, é a superficialidade com que as histórias são tratadas e a falta de impacto dos momentos que deveriam ser os mais impactantes. Alguns personagens parecem apenas cumprir tabela, já que o roteiro precisava deles para tapar buracos, e certas decisões são tomadas apenas para que tudo dê o resultado que Peter Morgan havia programado e complete o círculo que o título indica. Acaba sendo nada mais que uma produção genérica, como há várias por aí, muito aquém do que Morgan e Meirelles já provaram serem capazes de fazer.

Jude Law e Rachel Weisz têm, cada um, os seus segredos

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Sean Penn é um ex-astro de rock sem lugar

por Marcelo Seabra

Um filme que coloca um cantor de rock aposentado na busca por um criminoso de guerra só poderia ser no mínimo estranho. Com o italiano Paolo Sorrentino (de Il Divo, vencedor do prêmio do júri em Cannes em 2008) na direção e roteiro, Aqui É o Meu Lugar (This Must Be the Place, 2011) traz Sean Penn com cara de Robert Smith (da banda The Cure), voz do escritor Truman Capote e trejeitos de Ozzy Osbourne. Ou seja: a caracterização do personagem é tão irregular e caricata quanto a obra como um todo.

Um dos melhores atores em atividade, vencedor de dois Oscars (Sobre Meninos e Lobos e Milk), além de outras cinco indicações, Sean Penn é indiscutivelmente uma grande presença em cena. Aqui, ele se torna propositalmente mais contido, reforçando o fato de que o cantor Cheyenne não passa de um adolescente mal resolvido no corpo de um homem triste de 50 anos. Ainda usando roupas e maquiagens com inspiração gótica, ele se retirou da vida pública há 20 anos, após dois fãs terem cometido suicídio supostamente influenciados pelas músicas depressivas que sua banda tocava. Por isso, ele deixou os Estados Unidos e foi viver uma vidinha tranquila na Irlanda ao lado da esposa (Frances McDormand, de Queime Depois de Ler, 2008), uma bombeira largadona que aceita as estranhezas do marido.

Ao saber que o pai, com quem não tem contato há anos, está à beira da morte, Cheyenne vai a Nova York. Lá, ele toma conhecimento da obsessão que ocupou seu pai por muito tempo: a busca pelo nazista que o havia humilhado em um campo de concentração durante a Segunda Guerra. Talvez para provar para si próprio ser capaz de uma ação dessa grandeza, Cheyenne sai pelas estradas seguindo as pistas levantadas pelo pai atrás do tal criminoso de guerra. Por que ele faria isso por um pai que ele mal conhecia permanece um mistério, digamos que seja uma espécie de acerto de contas.

É nesse ponto que Aqui É o Meu Lugar vira um road movie dos mais improváveis. A esta altura, a interpretação de Penn já chega a irritar, e fica difícil imaginar como alguém conseguiria viver perto daquele sujeito. O caminho rumo ao amadurecimento seria tortuoso, mas o filme facilita bem e parece apenas buscar um resultado que estava estabelecido desde o início do projeto. Até a participação do músico David Byrne (ex-Talking Heads – ao lado) soa artificial, forçada. Ele aproveita para tocar This Must Be the Place, clássico oitentista que dá nome ao longa.

Sorrentino bolou a história, que ele e o colega Umberto Contarello formataram, e esqueceu de dar três dimensões a seu protagonista. Penn faz o que pode, imaginando o passado do ex-astro do rock e compondo-o como um sobrevivente de uma época de sexo e drogas, até a tragédia que o traumatizou. Mas Cheyenne fica parecendo um boneco de cera e dificilmente acreditamos que haverá um amadurecimento a jato para darmos por encerrada a trajetória daquele personagem chato cercado por figuras igualmente sem propósito.

Cheyenne, em um momento depressivo, e a esposa

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