Amanhecer Violento prova que remakes foram longe demais

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Red Dawn

Quando lançado originalmente, em 1984, Amanhecer Violento (Red Dawn) era um produto de sua era. A película, que trazia no elenco atores que mais tarde se consagrariam, como Patrick Swayze e Charlie Harper, digo, Sheen, era um reflexo dos temores do norte-americano padrão daquela época: o filme conta a história de como um bando de garotos, liderados por um quase adulto (Swayze), iria se tornar a pedra no sapato de uma unidade do exército soviético que invadira os Estados Unidos.

Para aqueles que nasceram nos últimos vinte anos, é bom lembrar que, por praticamente cinqüenta anos, os Estados Unidos e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas travaram um conflito ideológico-político conhecido como Guerra Fria. Os dois países disputavam uma corrida quase imperialista com o objetivo de ampliar sua área de influência econômica e política, sem nunca entrar em um conflito direto que, muitos acreditavam, poderia desencadear a temida terceira guerra mundial. O mais perto de um conflito armado entre as duas potências aconteceu durante a crise dos mísseis de Cuba, abordado mais recentemente, ainda que em um contexto bastante fantasioso, em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011).

Red Dawn 1984O Amanhecer Violento original tinha um fiapo de história que não se sustentava e servia apenas para mostrar o que um bando de norte-americanos mal armados poderia fazer se um exército inimigo invadisse seu país. Lembro que quando assisti ao filme, no final da década de 1980, achei-o muito bom; há dois meses, no entanto, quando a data da estréia de sua nova versão se aproximava, resolvi revisitar a produção original e constatei que minhas impressões do final dos anos 1980 se deram devido à minha tenra idade. Amanhecer Violento é um filme ruim, chato, sem história, lento e que, repito, servia apenas para elevar o espírito do norte-americano comum.

Mesmo assim, resolvi encarar a remake. O filme, que deveria ter estreado em 2009 e foi adiado por três anos (devido a dois fatores básicos: a falência da MGM, produtora do filme; e uma série de ajustes que precisaram ser feitos na pós-produção para que a película, assim como seu “pai” de 1984, refletisse sua época). Assim, os invasores chineses foram substituídos por norte-coreanos (nos últimos anos, a China se tornou um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, e não pegaria bem mostrá-los como inimigos na tela grande). O novo filme começa quando o fuzileiro naval Jed Eckert (Chris Hemsworth, o Thor) retorna para casa após passar um tempo no Iraque bem a tempo de presenciar seu irmão Matt (Josh Pecker, de A Armadilha, 2011) falhar em uma jogada que levaria o time de futebol americano da cidade, os Wolverines, às finais estaduais. No pós-jogo, somos apresentados a praticamente todos os demais protagonistas do filme (ou, pelo menos, os que desempenham os papéis mais relevantes no longa): os amigos de Matt Robert (Josh Hutcherson, de Jogos Vorazes, 2012) e Tonia (Adrianne Palicki, da série Friday Night Lights e de G.I. Joe: Retaliação), além da namorada de Matt, Erica (Isabel Lucas, de Imortais, 2011).

Na manhã seguinte, a cidade de Spokane acorda com aviões despejando pára-quedistas do céu. Em sua fuga da cidade, Matt e Jed trombam com Robert e Daryl (Connor Cruise, de Sete Vidas) e partem para um chalé da família, onde começam a organizar a resistência visando aterrorizar o invasor e desestabilizar o governo temporário do líder das tropas norte-coreanas, o Capitão Cho (Will Yun Lee, do remake de O Vingador do Futuro, 2012).

Red Dawn DuoA partir daí, o filme é basicamente uma história de guerra capenga: a meia-dúzia de rebeldes começa a usar táticas de guerrilha e terrorismo enquanto ajuda externa não chega. Em certo momento, a fama do grupo – que adotou a alcunha do time de futebol da cidade – se espalha a ponto de receber apoio de um trio de fuzileiros liderado pelo oficial Tanner (Jeffrey Dean Morgan, de Possessão, 2012). Nesse ponto, até se explica o porquê da Coréia do Norte ter conseguido invadir o país com o mais moderno exército do mundo sem enfrentar muita oposição oficial. Cabe a Tanner e aos Wolverines tentar resolver o problema.

Como um todo, esse Amanhecer Violento é tão fraco quanto o longa original. Em nenhum momento você se identifica com os personagens – que são bem pouco desenvolvidos e, quando o são, utiliza-se de clichês para tal, como a rivalidade entre irmãos – e a história é mal conduzida, com um desfecho meio que sem sentido ainda que condizente com o que fora apresentado ao longo dos 97 minutos do filme. Isso nos leva a perguntar: será que não havia em toda a Hollywood um roteiro original que pudesse ser levado às telas pelo mesmo orçamento dispensado nessa refilmagem?

Red Dawn original

Duelo de elencos Duelo de elencos

Publicado em Estréias, Filmes, Refilmagem | Com a tag , , , , , | 31 Comentários

Rebecca Hall vai para o mundo das apostas

por Marcelo Seabra

Lay the Favorite

De um diretor que traz na bagagem longas memoráveis como Minha Adorável Lavanderia (My Beautiful Laundrette, 1985), Os Imorais (The Grifters, 1990) e Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000), entre vários outros, esperava-se mais, e Stephen Frears ficou apenas com O Dobro ou Nada (Lay the Favorite, 2011). O novo trabalho do diretor está aquém do que nos acostumamos a esperar dele, e ainda traz uma boa atriz mal escalada para o papel principal. Por que não arrumaram uma americana histriônica? Facilitaria a vida de todos, começando pelo público.

Lay the Favorite HallÀ frente do elenco, a inglesa Rebecca Hall (ao lado) faz o que pode como uma ianque carente e bobinha, que se apaixonaria pelo primeiro que a acolhesse. Vindo de trabalhos como Vicky Cristina Barcelona (2008), Atração Perigosa (The Town, 2010) e o suspense O Despertar (The Awakening, 2011), Rebecca foi uma escolha ruim e é até injusto com o talento dela. Talvez uma versão mais jovem de Jennifer Love Hewitt, que a atriz parece imitar, seria mais acertada. Bruce Willis deixa de lado seus papéis duros de matar (o quinto está em cartaz) e parece se divertir como o chefe da garota, casado com uma irreconhecível e desperdiçada Catherine Zeta-Jones, em participação pouco menos vergonhosa que o que vimos em Rock of Ages (2012). As duas, inclusive, precisam engolir o sotaque britânico e acabam ficando irritantes.

Além de Willis, outro que parece estar gostando da bobagem é Vince Vaughn, que busca sua persona exagerada de sempre para viver um apostador de Nova York que não tem o mínimo controle de sua “empresa” – ou de seu humor. O papel é pequeno, mas permite a Vaughn aparecer um pouco positivamente, no ano em que ele também estrelou o fraquinho Vizinhos Imediatos de 3º Grau (The Watch, 2012). Joshua Jackson, aproveitando a folga entre temporadas de Fringe, faz o cara bonzinho, aquele que só se lasca. E Laura Prepon, a eterna Donna do seriado That 70’s Show, mostra que está topando qualquer coisa após o final da meia temporada da ordinária Are You There, Chelsea? ao aceitar uma ponta em que ela ainda tira a roupa. Fim de carreira!

Parece, por O Dobro ou Nada, que o fato de ser baseado em uma história real já justifica a razão de ser do longa. O roteiro de D.V. DeVincentis, que co-escreveu o divertido Matador em Conflito (Grosse Point Blank, 1997) e também Alta Fidelidade, é inspirado no livro de memórias de Beth Raymer, a tal garota prodígio com números retratada, que fazia apostas legalizadas em Las Vegas. Não há emoção, os parcos conflitos são resolvidos quase que imediatamente e os atores parecem querer acabar logo com aquilo. Isso, sem falar que não sabemos que partes da história são de fato reais e o que foi colocado lá apenas para fins dramáticos.

Diretor e elenco prestigiam o Festival de Sundance 2012

Diretor e elenco prestigiam o Festival de Sundance 2012

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Personalidades | Com a tag , , , , , | Deixe um comentário

Saem os vampiros, entram bruxos

por Marcelo Seabra

Beautiful Creatures

Com o final da novela Crepúsculo, todos ficam procurando a quem atribuir o título de “O Novo Crepúsculo”, o que é bem ridículo. E a bola da vez parece ser Dezesseis Luas (Beautiful Creatures, 2013), adaptação do livro de Kami Garcia e Margaret Stohl sobre um romance adolescente envolvendo uma jovem bruxa. Alguns elementos da trama de Stephanie Meyer estão lá, de fato, mas comparações sempre enfraquecem obras, como acontece com rótulos, em geral. Mas uma coisa é inegável: esse longa vai atingir o mesmo público-alvo dos vampiros, talvez sem o mesmo alcance. A bilheteria da primeira semana nos Estados Unidos comprova isso, já que a arrecadação ficou em apenas US$ 7,6 milhões, contra US$ 70 milhões do outro.

A coleção de livros, cuja primeira parte é adaptada aqui, não deve ser nenhuma obra-prima literária, mas a produção acabou atraindo nomes como Jeremy Irons (da série The Borgias), Viola Davis (de Histórias Cruzadas, 2011) e Emma Thompson (de Homens de Preto 3, 2012). Para os papéis principais, foram escalados os desconhecidos Alice Englert, em seu primeiro longa lançado comercialmente, e Alden Ehrenreich, que trabalhou com Francis Ford Coppola em Twixt (2011) e Tetro (2009). Não é pouca coisa assumir a posição de protagonistas de uma franquia em potencial, e os jovens fazem um bom trabalho, até onde permite o roteiro de Richard LaGravenese (de Água para Elefantes, 2011), que também dirige. Ele tenta beber na fonte de Tim Burton, parecendo se inspirar na mansão e na família de Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012), o que já seria ruim, e ainda lhe falta a veia gótica, pendendo mais para opções bregas e sentimentais.

Beautiful Creatures couple

Ethan (Ehrenreich) é um veterano na escola da pequena Gatlin, Carolina do Sul, EUA. O sotaque de todos logo deixa claro ser uma cidade de caipiras, sem o peso negativo da palavra. Alguns são bonzinhos, outros, metidos a besta, como em qualquer lugar, e a vida segue sem maiores contratempos. Ethan tem certa popularidade, é atleta e namorava a menina mais bonita da sala, mas já começa a história cansado dela. De forma sutil (na maioria das vezes), se estabelece certas características dos personagens principais e do estilo de vida deles, preparando a chegada daquela que iria sacudir tudo: Lena Duchannes (Englert). A novata é órfã e mora com o tio recluso (Irons), e a família é apontada como adoradora do diabo. Ethan e Lena rapidamente se aproximam e o rapaz descobre o que tem de verdade por trás dessa fama.

O desenvolvimento dessa premissa dá uns 20 ou 30 minutos interessantes, como tudo correndo bem. Como visto recentemente em Meu Namorado É um Zumbi (Warm Bodies, 2013), a condição “diferente” da protagonista é usada como uma metáfora para as dificuldades da adolescência. A menina só quer ser considerada “normal” e aceita, como os demais. É então que as coisas começam a se complicar com a história da herança de família, de uma maldição e de uma definição que vai marcar Lena em seu 16º aniversário. Assim como acontece com as criaturas emo de Crepúsculo, os poderes dos membros da família Ravenwood nunca são definidos, e a cada momento vamos descobrindo novas habilidades. Tudo na conveniência do roteiro. Clichês não faltam, como um carro estragado em uma curva, na chuva, para propiciar um encontro. Os dois jovens gostam de ler os livros proibidos pela igreja, o que supostamente imprime imediatamente traços rebeldes e cultos neles, e a narração de Ethan traz comentários bem humorados e perspicazes. Pena que essa sabedoria não dure muito, ele logo vira um adolescente bobo e normal.

Irons e Thompson se divertem explorando estereótipos. E o mais curioso é que se trata de dois atores ingleses, com o famoso sotaque britânico bem acentuado. Thompson consegue esconder, mas Irons nem se importa, fazendo uma caracterização bem estranha para um americano nascido e criado na cidade fundada por sua família, no interior dos EUA. Mesmo assim, seu personagem é o mais interessante, por menos que tenha sido explorado, e não me surpreenderia ver um filme derivado contando a história dele. Viola Davis não diz a que veio e Emmy Rossum (de O Fantasma da Ópera, 2004) aproveita o pouco espaço que lhe é dado com a sexy devoradora de homens Ridley. Talvez nos próximos filmes da franquia, que só se garantem com muito dinheiro em caixa nesse, elas tenham mais espaço.

O diretor LaGravenese levou o elenco à Comic Con de NY

O diretor LaGravenese levou o elenco à Comic Con de NY

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Hitchcock recebe nova homenagem no Cinema

por Marcelo Seabra

Hitchcock

Logo no letreiro do início, Hitchcock (2012) já começa a estabelecer ligações com o clássico Psicose (Psycho, 1960), padrão que se observa até nos créditos finais, com uma trilha típica de suspense. O filme, que chega aos cinemas esta semana, traz ao público os bastidores das filmagens da icônica obra do diretor Alfred Hitchcock. O nível das fofocas apresentadas é bem raso, não é para esperar nada bombástico, mas as interpretações são bem interessantes e valem o ingresso.

O roteiro, de John J. McLaughlin (coautor de Cisne Negro, 2010), é baseado em Alfred Hitchcock and the Making of Psycho, de Stephen Rebello. O livro, publicado em 1990, ainda é tido como referência quando se fala de bastidores de filmes, descrevendo em detalhes o processo de produção e a forma como o cineasta lidava com a equipe técnica e com os atores. Este é um caso à parte, já que Hitch nunca escondeu o desprezo que reservava a esta classe artística. O telefilme A Garota (The Girl, 2012), exibido constantemente pela HBO, mostra essa faceta do diretor bem mais acentuada, ele é retratado como um maníaco sexual que aterrorizava suas loiras (ou, ao menos, Tippi Hedren, de Os Pássaros, 1963).

Hitchcock cast

Mas estas partes mais picantes não entraram em Hitchcock. O filme parece se contentar com segredos menos secretos, digamos assim, como dar algumas indiretas sobre a sexualidade de Anthony Perkins, o protagonista de Psicose – que é muito bem interpretado por James D’Arcy (de A Viagem, de 2012 – acima), pena que em uma participação pequena. O aparente desentendimento entre Hitch e Vera Miles (Jessica Biel, de O Vingador do Futuro, versão de 2012 – acima, à esq.) também gera uma curiosidade, que acaba não dando em nada. Janet Leigh (Scarlett Johansson, de Os Vingadores, 2012 – acima, no meio) sofre uma pequena pressão psicológica, nada de mais. Fugindo um pouco do estúdio, é explorada também a relação entre Alma Reville e um amigo, o roteirista Whitfield Cook (Danny Huston, de O Resgate, 2012). Uma liberdade tomada é a inclusão de aparições de Ed Gein (Michael Wincott, o vilão de Na Teia da Aranha, 2001), o psicopata real que inspirou Norman Bates, o que não chega a ser ruim.

HitchcockUm grande atrativo do longa de Sacha Gervasi (de Anvil: A História do Anvil, de 2012) é a interpretação do casal principal: Sir Anthony Hopkins (de 360, 2011) e Helen Mirren (de Pior dos Pecados, 2010). Apesar da maquiagem pesada restringir um pouco os movimentos e expressões, Hopkins faz um ótimo Hitch, mesmo que mostrando apenas de relance a famosa personalidade difícil dele (que seria muito mais fácil de lidar que Orson Welles, diria Janet Leigh). Ele tinha um humor inadequado e agressivo e gostava de chocar gratuitamente. Sua obsessão por loiras aparece de relance, deixando a esposa constrangida. Ciúme é um aspecto da relação deles que não havia sido abordado: em A Garota, por exemplo, eles estão mais para irmãos que para um casal. E Alma era uma grande força ao lado dele, tida por muitos como indispensável para a realização de suas obras, reescrevendo o roteiro, dando ideias para a fotografia, formas de cortar custos etc. Mirren tem ótimos duelos com Hopkins, e ainda teremos a oportunidade de vê-los juntos em RED 2 (2013).

Com os aspectos sórdidos deixados de lado, podemos acompanhar alguns dramas de uma produção cinematográfica. Ninguém pensa que um diretor da grandeza de Hitchcock teria dificuldades para levantar um financiamento. Ninguém acreditava no sucesso de Psicose, julgando que seguiria o mesmo caminho malfadado de Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958), fracasso de bilheteria que hoje é considerado um dos melhores filmes da história. Para este gênero, outro problema era a censura, que barrava qualquer vestígio de nudez e exigia menos violência. Como Psicose tem a famosa cena do chuveiro, dá para imaginar a dificuldade de conseguir a aprovação. De forma leve e despretensiosa, o filme diverte, desperdiçando um grande potencial para fazer história entre cinéfilos.

A icônica cena do chuveiro foi recriada

A icônica cena do chuveiro foi recriada

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Indicações, Personalidades | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Bruce Willis continua duro de matar

por Marcelo Seabra

A Good Way to Die Hard

Cansado de destruir os Estados Unidos, John McClane foi à Rússia. Esta é a premissa de Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer (A Good Day to Die Hard, 2013), quinto longa da franquia protagonizada por Bruce Willis. Iniciada em 1988, ela acompanha o envelhecimento do ator e do personagem, que ainda assim aguenta o tranco e não deixa nada a dever aos mais jovens, apesar de abusar das piadinhas envolvendo idade. Como têm feito todos os atores de sua geração, como provam os dois Os Mercenários e O Último Desafio (The Last Stand, 2012).

Bruce Willis 5A série Duro de Matar quase sempre manteve aventuras bem construídas e bastante ação. Já no primeiro longa, McClane se estabelece como um cowboy moderno que luta contra o mundo, se for preciso, e parece procurar confusão. Ou a confusão o encontra, como coloca um personagem. Ele já enfrentou um bando de ladrões em um prédio de Los Angeles, militares rebeldes que tomam um aeroporto, um maluco com planos de explodir Nova York e terroristas cibernéticos que pretendiam desestabilizar os Estados Unidos. Cansado disso tudo, dessa vez ele sai de férias. Isso, inclusive, leva a uma piadinha recorrente que acaba cansando. A nova aventura é bem genérica, com muitas situações exageradas que levam a crer que, quanto mais velho, mais indestrutível e irresponsável McClane fica, elevando o nível de explosões, colisões, brigas e tiros.

Por estar com tempo, McClane decide procurar o filho (Jai Courtney, de Jack Reacher, 2012), que desapareceu há anos – e agora parece ser um bom momento para encontrá-lo. McClane recebe a notícia de que Junior está preso na Rússia, aguardando julgamento. E, por estar de férias (ele não se cansa de lembrar-nos disso), decide ir lá. Obviamente, o filho tem muitos segredos e ele descobre tudo ao chegar ao país. Não sem antes ter que aguentar um russo cantando New York, New York, clichê que parece saído dos anos 80, assim como ouvir Garota de Ipanema no elevador. Se sozinho, o pai já causava problemas em penca, imagine com o filho. Mas é a experiência do pai que os tira das situações de risco. Claro que esse encontro também leva a momentos sentimentais pré-fabricados, colocados ali por acidente.

Fãs de cenas de ação não terão do que se queixar. O filme é bem movimentado e Willis está bem à vontade. Ele obviamente conhece bem o personagem, que parece estar num momento de equilíbrio em sua vida, e talvez por isso decida procurar o filho. Jai Courtney cumpre seu papel, parecendo uma versão mais jovem e forte de Cillian Murphy, porém faltando um bocado de carisma, que deve ter pulado uma geração na família McClane. Os intérpretes dos russos, Sebastian Koch (de Desconhecido, 2011) e Sergei Kolesnikov (de Almas à Venda, 2009), falam a língua, o que dá um pouco de credibilidade a seus personagens, com vários diálogos em russo. Mas não espere qualquer profundidade.

A franquia Duro de Matar nem sempre contou com diretores interessantes, tendo o competente John McTiernan em dois episódios (o primeiro e o terceiro) como contraponto ao picareta Renny Harlin (2) e ao mediano Len Wiseman (4). John Moore, o novo encarregado, traz no currículo Atrás das Linhas Inimigas (2001) e Max Payne (2008), o que não exatamente serve de cartão de visitas. O roteirista Skip Woods é outro que não inspira muita confiança, com o longa solo de Wolverine (2009) e Hitman – Assassino 47 (2007) na bagagem. No fim das contas, o diferencial segue sendo a presença de Bruce Willis e seu John McClane, como sempre.

John McClane

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações, Personalidades | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Oscar 2013 – A Cobertura!

por Marcelo Seabra

Entrada

E a primeira piada da noite é sobre a falta da indicação a Melhor Diretor de Ben Affleck, disparada por Seth MacFarlane. Ele entrou às 22:30 no Dolby Theater com tiradas tão sem graça que foi necessária uma aparição do Capitão Kirk (William Shatner), direto do futuro, para melhorar as coisas. Um musical sobre as atrizes que mostraram os seios no Cinema começa o sem número de apresentações da noite, que é seguido por uma dança ao som de Sinatra. Isso já garante uma melhora a MacFarlane, que deixa de ser o pior apresentador da história do Oscar para ser apenas medíocre. Uma paródia de O Voo com fantoches e vamos a outro número musical curto. Outro esquete, dessa vez com MacFarlane de Noviça Voadora conversando com Sally Field, dá lugar a outro número musical e, agora sim, MacFarlane ganha uma nota melhor.

Christoph WaltzÉ então que a premiação começa. Octavia Spencer entra para anunciar o Melhor Ator Coadjuvante. Entre cinco indicados que já ganharam a estatueta careca, a distinção fica com Christoph Waltz (ao lado), de Django Livre. Melissa McCarthy e Paul Rudd seguem em momentos embaraçosos, e finalmente anunciam o Melhor Curta de Animação: Paperman. Em seguida, vem a Melhor Animação, Valente, da Disney. Uma pena, já que Detona Ralph tem diversas qualidades a mais. Detalhe que trilhas famosas de filmes são usadas entre as trocas de convidados, com a de Tubarão reservada para tirar do palco quem se excede no discurso de agradecimento.

Reese Witherspoon anuncia clipes de quatro filmes indicados e Os Vingadores (mais Sam Jackson) chamam a Melhor Fotografia: o chileno Cláudio Miranda (o Gandalf mais novo) ganha, por As Aventuras de Pi. Em seguida, Melhores Efeitos Visuais, e Pi leva mais um. Jennifer Aniston e Channing Tatum anunciam Melhor Figurino, que é Anna Karenina, belo longa de Joe Wright. Os Miseráveis leva o seu primeiro prêmio, de Melhor Maquiagem. Shirley BasseyHalle Berry entra para fazer uma merecida homenagem a James Bond, em seu aniversário de 50 anos. Seria essa uma pista para a Melhor Canção? Shirley Bassey (ao lado), intérprete de quatro temas do espião, entra e canta o primeiro e mais famoso: Goldfinger. Convenhamos que não foi das melhores interpretações já vistas, apesar de não ser uma Vanusa. Às vezes, a voz falha, e o tempo da voz nem sempre bate com a música, mas ela acaba em grande estilo e é longamente ovacionada.

Jamie Foxx e Kerry Washington sobem ao palco para chamar o Melhor Curta, e vence Curfew, do diretor Shawn Christensen. O Melhor Documentário – Curta vem a seguir, e o prêmio é para Inocente. MacFarlane aborta uma piada sobre o poderoso Harvey Weinstein e Liam Neeson chama mais clipes dos melhores filmes do ano. Ben Affleck, que tinha acabado de ser alvo de algumas piadas, entra para anunciar o Melhor Documentário em Longa Metragem, que é Searching for Sugar Man.

As belas Jessica Chastain e Jennifer Garner celebram a diversidade da categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira, que era a grande barbada da noite: Amor, de Michael Haneke. John Travolta apresenta uma homenagem a musicais e, depois da montagem de Chicago, entra Catherine Zeta-Jones com All That Jazz. A gritaria começa com Jennifer Hudson: hora de colocar a TV no mute. Hugh Jackman segue, com música de Os Miseráveis, e é acompanhado pelo elenco inteiro. O que é totalmente dispensável. Uns 15 minutos gastos à toa.

Coincidentemente, a primeira premiação pós-cantoria foi para Os Miseráveis: Melhor Anne HathawayMixagem de Som. E a próxima traz uma surpresa: deu empate para Edição de Som, com A Hora Mais Escura e 007 – Operação Skyfall. Uma piada com a família Von Trapp, de A Noviça Rebelde, e o próprio Capitão Von Trapp, Christopher Plummer, entra para premiar a Melhor Atriz Coadjuvante. Tudo indica Anne Hathaway (ao lado), e não dá outra, mas garanto que todos os comentários serão sobre o vestido, que ressalta uma parte do corpo dela. Chorosa, ela agradece a todo mundo, começando por Hugh Jackman. Ela sai com o tema de O Poderoso Chefão, que nunca falha em causar arrepios.

Sandra Bullock dá um Oscar para Argo, para o editor William Goldenberg. Adele, com seu vestido brilhante que se confunde com o fundo, entra e dá um show cantando Skyfall, do último 007. Outra leva de clipes de Melhor Filme, chamados por Nicole Kidman, e logo entram Kristen Stewart e Daniel Radcliffe. Premiam Lincoln, na categoria Melhor Design de Produção. Nesse momento, são divulgados os prêmios honorários entregues no Governor’s Ball, e os quatro agraciados recebem as palmas do público.

George Clooney, o novo Jack Nicholson (alvo das mesmas piadas), introduz a homenagem aos falecidos no ano passado. Grandes nomes não faltaram, como o escritor Ray Bradbury, os compositores Hal David, Adam Yauch e Marvin Hamlisch, os diretores Tony Scott, Nora Ephron e Frank Pierson, Adeleos atores Michael Clarke Duncan e Ernest Borgnine, entre outros. Barbra Streisand canta The Way We Were, de Hamlisch, para fechar o bloco. O elenco de Chicago, comemorando 10 anos, entrega o prêmio de Melhor Trilha Original, que fica com Mychael Danna, de As Aventuras de Pi. Outra aposta segura da noite vem, com Melhor Canção Original. Adele (ao lado) e Paul Epworth recebem pela primeira música de James Bond a ficar com o Oscar: Skyfall. Adele não segura o choro e Epworth faz as honras.

Enquanto não está fazendo piadinhas bestas, MacFarlane é bem eficiente como anfitrião, mas ele não para de tentar. Charlize Theron e Dustin Hoffman anunciam o Melhor Roteiro Adaptado. Fica com Argo, de Chris Terrio, baseado no livro do próprio personagem, Tony Mendez. E o Melhor Roteiro Original é de Quentin Tarantino: não foi indicado como diretor, mas levou como roteirista. Os premiados Michael Douglas e Jane Fonda se encarregam do Melhor Diretor. Não foi o que se esperava (Spielberg), mas foi feita justiça com Ang Lee, de Pi. Apesar de que justiça mesmo teria sido premiar Kathryn Bigelow, de A Hora Mais Escura, que nem indicada foi. O alvo do humor de MacFarlane vai melhorando, ele já brinca com a longa duração do evento.

Jennifer LawrenceA categoria Melhor Atriz abre o próximo bloco, e havia três possibilidades mais fortes: Emmanuelle Riva, Jessica Chastain e Jennifer Lawrence. Lawrence (ao lado) ganha – e cai, mas levanta rápido e ainda faz piada com o fato. E outra certeza: Daniel Day-Lewis  (abaixo) é o único ator com três prêmios na categoria principal, Daniel Day-Lewisvencendo por Lincoln (além de Meu Pé Esquerdo e Sangue Negro). O páreo era duro, já que os colegas também estão muito bem, mas não havia dúvida. Jack Nicholson, outro oscarizado, entra para anunciar o Melhor Filme, mas passa a tarefa para a primeira-dama americana, Michelle Obama. Ela entra, direto da Casa Branca, cercada pelo staff presidencial, com elogios rasgados a todos os indicados, e Nicholson anuncia os nomes. Michelle finalmente revela o que muitos já esperavam: Argo é o Melhor Filme de 2012. O cara que fez Demolidor e foi altamente criticado por basicamente todo filme que fez como ator se consagra como a mente criativa por trás do campeão Argo, no qual foi o diretor e produtor.

Por algum motivo, depois de horas de enrolação, MacFarlane e Kristin Chenoweth ainda têm um número musical. Os créditos aparecem enquanto eles cantam para os perdedores, reforçando algo que há muito a Academia evitava: a ideia de que os outros quatro indicados tenham perdido. A música, Here’s to the Losers, teve a letra adaptada para a ocasião. MacFarlane consegue terminar com uma imagem boa, mas a plateia toda deve ter ido antes do número acabar. Boa noite!

Os produtores de Argo: George Clooney, Ben Affleck e Grant Heslov

Os produtores de Argo: George Clooney, Ben Affleck e Grant Heslov

PS: como curiosidade, acertei 20 das 24 categorias da noite. Os palpites foram publicados ontem e podem ser vistos no post anterior. Confira!

Publicado em Filmes, Listas, Música, Notícia, Personalidades, Premiações | Com a tag , , , , , , , | Deixe um comentário

Oscar 2013 – Indicados e Previsões

por Marcelo Seabra

OSCARS 2013

É chegada a hora de mais uma cerimônia dos Oscars, a 85ª edição. A festa, neste domingo, 24, será apresentada por Seth MacFarlane (acima), criador do desenho Family Guy e do filme Ted (2012). Os números musicais prometem encher a paciência, mas a premiação deve ser interessante, já que muitas categoriais ainda estão sem definição. Bom, definição, mesmo, só na hora. Mas muitos já são tidos como vencedores, levando em consideração a campanha dos indicados feita em programas de TV e junto aos jornalistas, o lobby dos estúdios e, por último, a qualidade dos trabalhos.

Abaixo, listo os indicados e farei duas marcações: o número 1 vai acompanhar os meus palpites e o número 2, as minhas escolhas. Quando os dois coincidirem, bastará um X. Pena que muitos não devem coincidir, e as injustiças nunca deixarão de acontecer. Vou deixar de me posicionar quanto às categorias de curtas e documentários, já que a maioria não conferi. Ah, e todos os filmes criticados terão links para os textos em suas primeiras aparições na lista, e não são poucos! 🙂

Melhor Filme

Argo (X)

Django Livre

As Aventuras de Pi

Lincoln

A Hora Mais Escura

Os Miseráveis

O Lado Bom da Vida

Indomável Sonhadora

Amor

Melhor Ator

Daniel Day-Lewis – Lincoln (X)

Joaquin Phoenix – O Mestre

Denzel Washington – O Voo

Bradley Cooper – O Lado Bom da Vida

Hugh Jackman – Os Miseráveis

Melhor Atriz

Jessica Chastain – A Hora Mais Escura (2)

Naomi Watts – O Impossível

Jennifer Lawrence – O Lado Bom da Vida (1)

Emmanuellle Riva – Amor

Quvenzhané Wallis – Indomável Sonhadora

Melhor Ator Coadjuvante

Alan Arkin – Argo

Philip Seymour Hoffman – O Mestre

Tommy Lee Jones – Lincoln

Christoph Waltz – Django Livre (X)

Robert De Niro – O Lado Bom da Vida

Melhor Atriz Coadjuvante

Amy Adams – O Mestre

Sally Field – Lincoln

Anne Hathaway – Os Miseráveis (1)

Helen Hunt – As Sessões (2)

Jacki Weaver – O Lado Bom da Vida

Melhor Diretor

Ang Lee – As Aventuras de Pi (2)

Steven Spielberg – Lincoln (1)

Michael Haneke – Amor

David O. Russell – O Lado Bom da Vida

Benh Zeitlin – Indomável Sonhadora

Melhor Roteiro Original

Mark Boal – A Hora Mais Escura (2)

Quentin Tarantino – Django Livre (1)

Michael Haneke – Amor

Wes Anderson & Roman Coppola – Moonrise Kingdom

John Gatins – O Voo

Melhor Roteiro Adaptado

Chris Terrio – Argo (X)

Lucy Alibar & Benh Zeitlin – Indomável Sonhadora

David Magee – As Aventuras de Pi

Tony Kushner –  Lincoln

David O. Russell – O Lado Bom da Vida

Melhor Filme Estrangeiro

Amor (Áustria) (X)

A Royal Affair (Dinamarca)

Kon-Tiki (Noruega)

No (Chile)

War Witch (Canadá)

Melhor Longa Animado

Valente

Frankenweenie

Detona Ralph (X)

ParaNorman

Piratas Pirados!

Melhor Trilha Sonora Original

Dario Marianelli – Anna Karenina

Alexandre Desplat – Argo

Mychael Danna – As Aventuras de Pi (X)

John Williams – Lincoln

Thomas Newman – 007 – Operação Skyfall

Melhor Canção Original

“Before My Time” – Chasing Ice

“Everybody Needs A Best Friend” – Ted

“Pi’s Lullaby” – As Aventuras de Pi

“Skyfall”- 007 – Operação Skyfall (X)

“Suddenly” – Os Miseráveis

Melhores Efeitos Visuais

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

As Aventuras de Pi (X)

Os Vingadores

Prometheus

Branca de Neve e o Caçador

Melhor Maquiagem

Hitchcock

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Os Miseráveis (X)

Melhor Fotografia

Anna Karenina

Django Livre

As Aventuras de Pi (X)

Lincoln

007 – Operação Skyfall

Melhor Figurino

Anna Karenina (X)

Os Miseráveis

Lincoln

Espelho, Espelho Meu

Branca de Neve e o Caçador

Melhor Direção de Arte

Anna Karenina (X)

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Os Miseráveis

As Aventuras de Pi

Lincoln

Melhor Edição de Som

Argo

Django Livre

As Aventuras de Pi

007 – Operação Skyfall (X)

A Hora Mais Escura

Melhor Mixagem de Som

Argo

Os Miseráveis

As Aventuras de Pi

Lincoln

007 – Operação Skyfall (X)

Melhor Montagem

Argo (X)

As Aventuras de Pi

Lincoln

O Lado Bom da Vida

A Hora Mais Escura

Melhor Documentário

5 Broken Cameras

The Gatekeepers

How to Survive a Plague

The Invisible War

Searching for Sugar Man (X)

Melhor Documentário de Curta-Metragem

Inocente

Kings Point

Mondays at Racine

Open Heart (X)

Redemption

Melhor Curta

Asad

Buzkashi Boys

Curfew (X)

Death of a Shadow (Dood van een Schaduw)

Henry

Melhor Curta Animado

Adam and Dog

Fresh Guacamole

Head over Heels

Maggie Simpson in “The Longest Daycare”

Paperman (X)

Oscars 2013

Publicado em Filmes, Indicações, Notícia, Premiações | Com a tag , , , | Deixe um comentário

Indomável Sonhadora finalmente chega ao Brasil

por Marcelo Seabra

Beasts of Southern Wild

Uma prova do benefício que as premiações trazem aos filmes é Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild, 2012), obra que ganhou muita atenção e atingiu um público amplo após o Festival de Cannes, do qual saiu com quatro prêmios – isso, para ficar no evento mais badalado. E quem mais lucra com isso é o espectador, que tem acesso a um filme belo, curto e simples. Sem estar nos holofotes, sem grandes nomes envolvidos, demoraria muito mais até chegar ao Brasil. E muito menos seria exibido nos cinemas, vantagem garantida também pelas indicações ao Oscar.

O diretor de primeira viagem Benh Zeitlin, depois de três curtas, decidiu passar para seu primeiro longa adaptando a peça de um só ato da amiga Lucy Alibar. Juntos, eles escreveram o roteiro e acabaram criando um dos mais elogiados filmes do ano. Morando em Nova Orleans, Zeitlin se aliou a profissionais locais e o projeto começou a ganhar forma, mesmo tendo um orçamento extremamente restrito. Para as vagas de protagonistas, foram escolhidos uma menina (mais nova do que procuravam) que não tinha qualquer tipo de experiência atuando, mas que convenceu a todos no teste; e um adulto, para viver o pai, que atendia a equipe em sua padaria nos intervalos da produção. A pequena Quvenzhané Wallis tinha apenas cinco anos quando foi escolhida e seis durante as filmagens – o que faz dela a pessoa mais jovem a receber uma indicação ao Oscar. O pai é vivido por Dwight Henry, um pacato padeiro que pretendia abrir sua segunda Buttermilk Drop, mas teve que mudar de planos quando o furacão Katrina atacou.

Beasts of Southern Wild two

Não é muito simples entender a geografia do longa. A história é ambientada na costa de Nova Orleans, numa ilha fictícia chamada Ilha de Charles Doucet e apelidada de A Banheira. A comunidade, que parece não ter contato com o resto do mundo, periga ser inundada por tempestades previstas e sua população deve ser evacuada. O arredio Wink não pretende abandonar sua casa e se mantém otimista, nada de mal vai acontecer. Sua filha, Hushpuppy, não conhece outra realidade e se acha a menina mais sortuda que existe, mesmo vivendo na pobreza, sozinha com o pai. Há, ainda, a ameaça iminente de criaturas pré-históricas que podem voltar à vida com o degelo de calotas polares, e a garota terá que ser corajosa. Essa é a premissa para acompanharmos Hushpuppy durante um curto período em que ela é obrigada a amadurecer.

Feito com muita simplicidade e com atuações de não-profissionais, Indomável Sonhadora é bem finalizado e traz ao público um sentimento positivo: mesmo frente a diversas adversidades, aquelas pessoas ainda encontram coisas bonitas na vida. Mesmo sem ter qualquer noção disso, Hushpuppy é cercada de poesia em seu dia a dia, buscando comunicar-se com o coração das pessoas. Os tais auroques, seres reais retratados em figuras rupestres, trazem ao mesmo tempo uma metáfora sobre o crescimento e a firmeza da menina e uma mensagem pró-ecologia, discreta e bem vinda, em tempos de aquecimento global. Ganhando prêmios ou não (o que é mais provável, mesmo merecendo), Indomável Sonhadora já é um longa vitorioso.

Diretor e elenco mal acreditam no sucesso do longa

Diretor e elenco mal acreditam no sucesso do longa

Publicado em Adaptação, Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , , | Deixe um comentário

Allan Poe é novamente a inspiração em The Following

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

The Following

Nascido em Baltimore, Estados Unidos, em 1809, o escritor Edgar Allan Poe é daqueles casos clássicos cuja genialidade literária só seria reconhecida anos após sua morte. Considerado por muitos um pioneiro na literatura policial – o primeiro conto policial de que se tem notícia é seu Assassinatos na Rua Morgue – Allan Poe foi o primeiro norte-americano conhecido que tentou viver apenas de sua escrita, em uma época em que as leis de direitos autorais eram praticamente inexistentes e se pagava muito pouco por histórias curtas – área na qual ele também foi um pioneiro. Por isso, ele penou financeiramente durante toda sua curta vida, até falecer em outubro de 1849 por razões desconhecidas. Especulações a esse respeito vão de alcoolismo a cólera, de raiva a assassinato.

Ao longo do século XX, a obra de Poe foi redescoberta e o cinema e a TV passaram a beber de sua fonte em inúmeras obras, especialmente nos anos 1950, quando as produtoras Universal (EUA) e Hammer (Inglaterra) se especializaram em filmes de terror, muitas vezes com um ambientação gótica, que são uma das marcas do escritor. Depois de um período em baixa, a obra de Poe voltou às luzes nos últimos anos. O próprio escritor foi o protagonista de O Corvo (The Raven, 2012), filme no qual atua como uma espécie de consultor ajudando a polícia a desvendar uma série de assassinatos baseados em suas histórias.

The Following duoThe Following, série que estréia no Brasil em 21 de fevereiro no canal a cabo da Warner, parte de uma premissa similar, mas a trabalha de uma forma diferente. Em 2004, o então agente do FBI Ryan Hardy (Kevin Bacon, de X-Men: Primeira Classe, 2012) trabalha no caso de um assassino em serie que comete seus crimes também inspirado por histórias de Poe. Não raro ele deixa pistas como a palavra nevermore (“nunca mais”, uma referência ao poema O Corvo) escrita em sangue na parede da cena do crime, ou retira os olhos das vítimas, que seriam portais para a alma, segundo Poe. Enquanto os cadáveres de jovens mulheres vão se empilhando, Ryan acaba procurando a ajuda de Joe Carroll (James Purefoy, de John Carter: Entre Dois Mundos, 2011), um professor de literatura especialista na obra do escritor que se propõe a ajudar nas investigações.

Coincidentemente ou não, no fim das contas Ryan consegue encurralar o assassino quando este está prestes a fazer sua 14ª vítima e revela-se que a pessoa que ele procura é justamente Carroll. Joe é preso e as conseqüências de todo o caso afundam a carreira de Ryan. Esfaqueado por Joe, ele passa a usar um marcapasso, mergulha no álcool, se envolve romanticamente com a esposa de Carroll, Claire (Natalie Zea, de Justified), escreve uma biografia do assassino e acaba, por fim, se afastando indefinidamente do FBI.

The Following MaggieOito anos depois, Joe Carroll está no corredor da morte de uma penitenciária de segurança máxima, quando consegue escapar. Seu objetivo é simples, a princípio: encontrar e assassinar Sarah Fuller (Maggie Grace, de Busca Implacável 2, 2012 – ao lado), que seria sua 14ª vítima. Ryan é retirado forçadamente de sua aposentadoria – contra a vontade de seus superiores – para assumir o caso. Logo, o policial descobrirá que o jogo do assassino é muito mais intricado do que parece.

Carismático, Joe, apesar de todo o aparato de segurança que o cerca, conseguiu criar uma série de conexões enquanto estava preso. Essas pessoas – bastante influenciáveis – visitam-no constantemente na cadeia e passam a ser inspiradas por ele das mais diversas formas, especialmente no que diz respeito a seguir seu legado de crimes. E é nisso que The Following é construída: na relação tortuosa entre Ryan e Joe enquanto o policial tenta impedir que seguidores do culto ao assassino continuem a cometer crimes em seu nome. Joe e Ryan desenvolvem uma relação similar, em termos, àquela de Clarice Starling e Hannibal Lecter no clássico O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1992). A grande diferença é que aqui Joe quer menos ajudar Ryan a antecipar os movimentos de seus peões do que fazer dele mais um peão em seu grande jogo, que ele trata como um romance policial que tem ele próprio como vilão e o policial como o herói trágico.

Uma das grandes interrogações que cercam The Following é até onde essa trama se sustentará sem se tornar repetitiva. Até o momento (foram cinco episódios exibidos nos Estados Unidos), a série tem caminhado muito bem, com os roteiristas usando bastante criatividade para tornar os episódios interessantes. Bacon e Purefoy têm performances bastante satisfatórias, o que não é surpresa vendo o histórico de ambos. A trama do gênio do crime que manipula as situações de trás das grades, ainda que um clichê, tem funcionado, novamente graças ao carisma de Purefoy e a forma como seu personagem tem sido construído. Kevin Williamson, criador da série, tem larga experiência na TV (Dawson’s Creek) e no cinema (franquia Pânico). Mas, se a série vai durar mais de uma temporada,  vai depender de tudo continuar funcionando.

Ryan Hardy (Bacon) encontra as máscaras de Allan Poe

Ryan Hardy (Bacon) encontra as máscaras de Allan Poe

Publicado em Indicações, Notícia, Séries | Com a tag , , , , | 7 Comentários

PT Anderson nos apresenta a O Mestre

por Marcelo Seabra

The MasterFreddie Quell (Joaquin Phoenix) é um soldado voltando para casa sem saber exatamente o que fazer. O problema físico, de postura, é o menor deles. Freddie não tem rumo quanto à profissão ou futuro e nem uma família a quem recorrer. Talvez essa necessidade de uma figura paterna faça com que ele fique tão próximo do líder carismático Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), que está no processo de criar uma religião, ou culto, ou seita. Qualquer que seja o nome, o que importa é que ele é chefe, o que parece alimentar bem o ego do sujeito.

O Mestre (The Master, 2012) é o novo longa de Paul Thomas Anderson, diretor que está ainda em seu sexto longa (como Magnólia, de 1999, e Sangue Negro, de 2007), mas há muito é incensado como gênio, melhor de sua geração e outros exageros. De fato, PTA demonstra grande preciosismo técnico, usando ótimas peças, como a fotografia de Mihai Malaimare Jr. (dos dois últimos trabalhos de Coppola, Twixt e Tetro) e a trilha de Jonny Greenwood, para construir uma bela obra. O problema é o conteúdo, que fica um tanto vago e não escolhe uma direção a seguir. O longa é vendido como uma crítica à Cientologia, e de fato usa alguns elementos ligados à seita dos famosos de Hollywood. Mas em momento algum ele toma uma posição de criticar o movimento ou os membros, se limitando a mostrar traços negativos da personalidade do criador, Dodd.

The Master Seymour Hoffman

Disputando o foco, Phoenix e Seymour Hoffman dão o melhor nos papéis principais e foram indicados a vários prêmios não por acidente. Phoenix, já indicado ao Oscar por Johnny & June (Walk the Line, 2005) e por Gladiador (Gladiator, 2000), este como coadjuvante, assume a frente e vive um Freddie animalesco, um homem que dá vazão a seus instintos básicos, buscando sexo e álcool com frequência – o que não é raro de se ver por aí. Seymour Hoffman (de Tudo Pelo Poder, 2011) é a possibilidade de luz nessas trevas, alguém que trará direção à vida de Freddie. A apresentação de Dodd já começa com uma grande amostra de sua vaidade, quando ele cita as várias profissões que teria, de filósofo a físico. Ele parece se aproveitar de pessoas sem rumo, convocando-as para a sua “Causa”, e ficamos sem saber exatamente o quão genuína é a sua afeição por Freddie. Sua inexistente disposição para argumentar sobre a Causa só reforça a hipocrisia dele, que espera que as pessoas o sigam cegamente, ignorando o seu passado e a sua vida conturbada. Seria ele apenas um picareta com uma grande necessidade de reconhecimento ou um picareta que realmente acredita no que faz?

Completando o núcleo do elenco, Amy Adams (de Curvas da Vida, 2012) vive a esposa de Dodd, uma mulher calma e apoiadora que esconde uma personalidade forte. Sua participação não é grande, mas o suficiente para conhecermos Dodd um pouco melhor, apesar de o personagem ficar sempre cercado por uma aura de mistério. Seu passado e como ele entrou nessa de líder de seita nunca é explicado, temos apenas migalhas. O roteiro, também de PTA, se prende à relação entre os dois, deixando a Causa de lado. Como no próprio cartaz nacional de O Mestre há uma afirmação sobre abordar a polêmica sobre a Cientologia, numa manobra desnecessária e cretina para promovê-lo, cria-se uma expectativa ainda maior sobre os bastidores da tal igreja, que tem seguidores famosos como Tom Cruise e John Travolta. Mas este é um problema do cartaz nacional, e não do filme.

The Master duo

Publicado em Estréias, Filmes, Indicações | Com a tag , , , , , | Deixe um comentário