Michael Keaton faz dose dupla de pais ausentes

No dia 27 de março, chega aos cinemas O Pai do Ano (Goodrich, 2024), comédia dramática com Michael Keaton no papel de um sujeito forçado a exercer uma função que é quase novidade para ele: ser pai. A filha adulta, grávida pela primeira vez, guarda ressentimento de não ter tido o pai por perto ao crescer, e os filhos mais jovens pela primeira vez não têm a mãe para contar, já que ela se internou. Cabe a Keaton, ou Andy Goodrich, cuidar dos gêmeos e resolver as coisas com Grace.

O engraçado é que, pouco antes do lançamento desse Goodrich (extremamente atrasado), Keaton esteve nos cinemas em Pacto de Redenção (Knox Goes Away, 2023), como John Knox, assassino experiente que começa a ter sintomas de demência e precisa correr para sua última missão: fazer as pazes com o filho distante. Além dos dois filmes terem o nome do personagem no título, eles têm em comum essa questão com a figura paterna.

Pacto de Redenção é apenas o segundo filme com Keaton na direção, após o longínquo e pouco assistido Má Companhia (The Merry Gentleman, 2008). Para garantir que as coisas dessem certo, ele chamou ninguém menos que Al Pacino para um papel menor, mas importante, e colocou o facilmente reconhecível James Marsden (o Ciclope dos X-Men) como seu filho. Knox começa a dar sinais de demência, e isso o faz estragar um serviço, ao mesmo tempo em que o filho o procura, depois de anos, pedindo ajuda. Essa é a oportunidade perfeita de tentar ajustar as coisas entre eles. Só que terá que ser rápido, já que a doença avança a passos largos.

O Pai do Ano, título infeliz da comédia que chega no fim do mês, é a forma mais errada possível de descrever Andy Goodrich. Ausente na criação da filha mais velha (Mila Kunis), que o tolera e tenta não deixar a mágoa dominar, é a ela que ele apela quando a atual esposa se inscreve num programa de desintoxicação e some. Ele precisa de ajuda para cuidar dos gêmeos, que estão indo para o mesmo caminho que Grace, já que o pai só se preocupa com sua galeria de arte. Quem rouba um pouco os holofotes é o pai do coleguinha das crianças, vivido por Michael Urie – mais conhecido como o hilário Brian de Shrinking, fazendo aqui praticamente o mesmo papel.

Apesar de muito diferentes em suas tramas e propósitos, os dois filmes têm resultados muito próximos. Nada muito excitante, inventivo ou inovador. Clichês não faltam, alguns exageros também. No entanto, Keaton e seus colegas em cena emprestam simpatia suficiente aos personagens para cativar o público, que torce por eles até quando fazem algo errado.

Caso você esteja se perguntando se Keaton teria escolhido dois projetos sobre pais distantes por ser uma situação vivida por ele, a resposta é um sonoro não! O músico e compositor Sean Douglas tem um ótimo relacionamento com o pai, de quem pegou o sobrenome verdadeiro como nome artístico. E deu a ele um casal de netos. Em 2015, ao ganhar um Globo de Ouro como Melhor Ator por Birdman (2014), Keaton agradeceu o filho, o encheu de elogios e o chamou de seu melhor amigo.

Michael e Sean Douglas, pai e filho

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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