Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown, 2024) – indicado em oito categorias, incluindo Filme, Direção (James Mangold) e Ator Principal (Timothée Chalamet).
Um jovem Bob Dylan chega a Nova York em 1961 com seu violão e o caderninho onde anota suas composições e as pessoas que conhece ajudam a abrir portas, levando-o a uma ascensão meteórica.
Ao final da sessão de Um Completo Desconhecido, este verso de Like a Rolling Stone continua fazendo sentido. Do início ao fim, sabemos o mínimo sobre a vida pessoal de Bob Dylan, o que acontece até hoje. Se seu filho Jakob não tivesse fundado a banda The Wallflowers, ninguém saberia que ele tem filhos. A aura de mistério permanece e o filme retrata isso muito bem, deixando de lado qualquer fato que pudesse trazer mais informações. De onde ele veio? Não sabemos. Para onde ele vai? Quem conhece a história do músico sabe, mas o filme sabiamente faz um recorte curto, deixando o futuro para uma outra oportunidade. E não bagunça a cronologia real para fins dramáticos, como usualmente acontece.
O fato de fechar seu roteiro em uns poucos anos da carreira de Dylan permite uma profundidade maior, dando ênfase às relações que ele construiu na época ao mesmo tempo em que introduz várias de suas primeiras músicas. O diretor e roteirista James Mangold parece ter aprendido a lição, não repetindo os erros de Johnny e June (Walk the Line, 2005), no qual contou a história de outro ícone da música: Johnny Cash, que volta a aparecer aqui, com outro intérprete (Boyd Holbrook).
Ao contrário do que seria previsível, o filme não se torna episódico, pulando de anedota em anedota como que cortando ítens de uma lista. Mangold e Jay Cocks adaptam o livro Dylan Goes Electric!, de Elijah Wald, título que já dá uma ideia do período coberto. Os personagens que entraram na vida de Dylan na época aparecem razoavelmente. Sabemos sobre eles o necessário para entender a relação com o cantor. O que Woody Guthrie tinha? Não sabemos. O importante é saber que foi um grande compositor e uma das maiores influências para Dylan.
Atuando, produzindo, cantando e tocando temos Timothée Chalamet, ator jovem que vem reunindo trabalhos expressivos e não esconde de ninguém que busca todos os prêmios que puder ganhar. Um dos fortes candidatos na festa de domingo, ele passa uma imagem bem adequada de Dylan, uma mistura de segurança com um certo “não me importo”. E não faz feio na voz, violão e gaita, que aprendeu em tempo recorde. Diz a lenda que ele aprendeu 40 músicas de Dylan, e os colegas que interpretam músicos (Edward Norton, Monica Barbaro e Holbrook) fizeram o mesmo com suas respectivas canções.
Em Johnny e June, Mangold elegeu para a vaga de vilão o pai de Johnny Cash, numa caracterização exagerada que certamente diminuiu a força do filme. Aqui, parece que quem faz esse papel é o próprio Dylan. Tratando todos com descaso, de amigos a amantes, e fazendo sempre o que quer, ele se mostra um verdadeiro babaca, e a produção não se furta a apresentar exatamente isso. Talentoso e cretino na mesma medida, e Chalamet abraça essa dualidade. O verdadeiro Dylan se encontrou com o diretor e anotou alguns comentários para seu intérprete, o que prova que ele estava ciente da forma como seria retratado. Talvez o passar dos anos fez Dylan ver os seus erros, passando a aceitá-los. Ou talvez ele simplesmente não se importe. Além de músicas fantásticas, ele originou um ótimo filme.

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